Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Refuta as acusações feitas pelos pronunciamentos oposicionistas ao Presidente Lula. Confiança na apuração, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, das denúncias da compra de dossiê pelo PT.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Refuta as acusações feitas pelos pronunciamentos oposicionistas ao Presidente Lula. Confiança na apuração, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, das denúncias da compra de dossiê pelo PT.
Aparteantes
Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2006 - Página 29301
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO POLITICA, PAIS, JUSTIFICAÇÃO, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCONTRO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DEBATE, AGRAVAÇÃO, VIOLENCIA.
  • REGISTRO, CONFIANÇA, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, APURAÇÃO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, SUSPEIÇÃO, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, FALTA, OPOSIÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ).

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu nem vou usar os 20 minutos de que disponho. Estou aqui desde 14 horas. Há quatro horas que estou aqui escutando os pronunciamentos dos Senadores do PSDB e do PFL fazendo acusações, e escutando com paciência e com muita contrariedade no que diz respeito a certos termos e a certas formas que são usadas, pretendendo atingir a figura do Presidente da República. Acho que esses termos e essas formas não engrandecem os que as usam. Ao contrário, apequenam aqueles que falam dessa maneira, pretendendo, com isso, impressionar a opinião pública e expressar a gravidade do fato.

A situação é grave, sim. Não quero negar. Absolutamente.

Farei um pronunciamento muito curto e conciso, lamentando apenas que a Oposição não esteja presente. Depois de nós escutarmos, durante quatro horas, os seus discursos, as suas acusações, as suas diatribes, agora não estão presentes para escutar aquilo que nós queremos dizer.

E o que quero dizer, Sr. Presidente, é muito breve. Primeiro, o Presidente Lula não está no Brasil neste momento, que é grave, porque ele está exercendo uma missão da maior importância, a mais elevada missão de representação do Brasil no cenário internacional, que é usar a tribuna da ONU - Organização das Nações Unidas -, para falar ao mundo que esta situação de desigualdade entre as Nações gera tensão e violência, como tem ocorrido; que esta situação é extremamente grave, que é, na verdade, insustentável. É preciso que os Líderes dos Países ricos tomem consciência desta realidade e da sua gravidade.

O Presidente Lula está dizendo isso ao mundo. E não é a primeira vez. Pelo fato de dizer isso com tanta convicção, mostrando tantas evidências, ele conquistou uma liderança que nenhum Presidente do Brasil havia desfrutado. E exatamente por representar o que ele representa: a luta pela justiça social, que, aliás, o seu Governo está tentando realizar também internamente no Brasil.

Sr. Presidente, tenho a certeza, a convicção de que o Ministério Público e a Polícia Federal - mais especialmente, neste momento, a Polícia Federal do Governo do Presidente Lula e a Polícia Federal, a do Ministro Thomas Bastos, a Polícia Federal do Dr. Paulo Lacerda - não precisam da presença nem da ordem do Presidente para cumprir a sua missão, que é a de apurar esses fatos, essas denúncias, que são graves, sim, e apurar na sua inteireza, incluindo a origem do dinheiro e tudo o que hoje foi referido aqui pelos discursos oposicionistas.

A Polícia Federal está apurando e vai chegar a uma conclusão. Confio inteiramente nisso. E não acredito que Márcio Thomaz Bastos e Paulo Lacerda não confirmem a dignidade e a respeitabilidade que sempre tiveram diante da Nação. Eles têm uma missão pública a cumprir, e o Presidente Lula jamais pensaria em obstá-los de alguma forma, por alguma tentativa, por meio de “manobras de despistamento” - de acordo com a expressão que foi usada aqui.

Eu não me confundo, absolutamente, com pessoas que usam de “manobras de despistamento”. E digo isso com muita firmeza porque tenho uma história política que confirma isso, uma biografia pública que confirma isso. “Manobras de despistamento”, eu não as farei nunca; eu não as faria nunca. E tenho certeza de que o Presidente Lula também não as fará. E o Ministro Thomaz Bastos e o Delegado Paulo Lacerda, que têm a responsabilidade direta, jamais aceitariam que isso fosse feito.

Tudo vai ser apurado, tudo vai ser mostrado à Nação, envolva quem envolver, a grandeza de quem envolver, de um lado ou de outro. De um lado e de outro! Isso é o que nós queremos. Isso é o que os brasileiros querem, é o que a Nação brasileira quer. E eu confio.

            Sr. Presidente, esperei todo esse tempo, com paciência e com certa indignação, pelos termos que ouvi, essencialmente para dizer que confio na Polícia Federal e na apuração dos fatos com isenção e com inteireza, envolvendo quem quer que seja nesse episódio infeliz.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Eu já darei o aparte a V. Exª, Senador Pavan.

Confio, mas, ao mesmo tempo, fico estupefato com a hipótese de ter partido de algum setor do PT, de algum setor ligado ao Governo, essa idéia absurda de comprar um dossiê do Sr. Vedoin, depois de tudo o que aconteceu. O Sr. Vedoin merece alguma confiabilidade, para se adquirir dele um dossiê, meu Deus do céu, por R$ 1,7 milhão? Isso é o absurdo dos absurdos! É a estupidez astronômica! É a estupidez insuperável! Não posso acreditar! Fico perplexo, ansioso pela revelação das responsabilidades deste fato, que é grave, sim, num momento decisivo da história do Brasil.

Sr. Presidente, como a estupidez humana existe, que seja revelada na sua inteireza, com todas as responsabilidades. Não haverá “manobra de despistamento”. Não apenas eu jamais disso participaria, mas também o Presidente Lula não participaria, nem ninguém do seu Governo, inclusive o Ministro da Justiça. Nenhum de nós se enveredaria por esse caminho, o que seria realmente o desastre completo.

Agradeço aos Senadores Sérgio Guerra e Leonel Pavan, da Oposição, pela presença. Tive paciência de esperar quatro horas para manifestar-me.

Ouço, com atenção, o Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Roberto Saturnino, tenho uma admiração muito grande por V. Exª, desde a época em que nós dois pertencíamos ao PDT. V. Exª tem uma biografia que todos nós admiramos, um currículo de vida pública fantástico. É um homem que luta e que defende, com muita determinação e garra, suas idéias. Contudo, sei que não é fácil defender o atual Governo; é difícil.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Agradeço a referência de V. Exª, sinceramente.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Admiramos V. Exª. O que a Oposição disse aqui hoje não foi nada do que estamos vendo e ouvindo na televisão, tanto é que, da Base do Governo, apenas está presente V. Exª e o Senador Sibá Machado. Durante a tarde toda, não surgiu outro Senador da Base do Governo para defendê-lo. Então, cumprimento o Senador Sibá Machado, que é Líder do Governo hoje, e V. Exª, a quem admiramos. São duas pessoas que admiramos. O Senador Sérgio Guerra usou a tribuna e fez as referências elogiosas ao Senador Sibá Machado e a V. Exª. E também quero, da mesma forma, tecer minha admiração. O Senador Sibá Machado é uma revelação aqui no Senado. V. Exª já é um dos homens mais experientes da vida pública do Brasil. Agora, o Senador Sérgio Guerra não saiu daqui.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Estou acabando de agradecer a presença dele aqui.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - E ele é o Líder da Minoria, e eu sou o vice-Líder do PSDB. Temos condições de falar em nome do nosso Partido. Não vi, Senador Roberto Saturnino, ninguém aqui fazer críticas à Polícia Federal. Ouvi apenas elogios. O que ouvimos aqui foi referente ao Ministro Márcio Thomaz Bastos, não à Polícia Federal. Por diversas vezes, assomei à tribuna, nestes longos três anos e meio, elogiando a Polícia Federal, seja Governo do PT, do PSDB, do PFL ou de qualquer Partido. A Polícia Federal é uma instituição que merece respeito de todos. A Polícia prende até Polícia. Muitos integrantes da Polícia Federal que não tiveram conduta exemplar foram presos. Então, quero aqui reafirmar toda a nossa admiração pela Polícia Federal. Ela não está vendo cor partidária. De todos que aqui falaram até agora, não ouvi ninguém tecer denúncias a essa instituição, que merece o nosso respeito. E estou ouvindo, com muita atenção, o pronunciamento que V. Exª faz com base, com conhecimento. Mas não é possível tapar o sol com a peneira. Aconteceu. Aconteceu mesmo; há réu confesso. Há pessoas que assumem. Há pessoas do PT falando, Senador Roberto Saturnino, pessoas que são integrantes do PT. Esse próprio que saiu - esqueço o nome dele - admite que teve relação com as pessoas que foram presas. Esta é a Casa do povo, e temos que apresentar isso à opinião pública. E hoje, à noite, vai continuar; amanhã, mais ainda, porque as coisas estão acontecendo, e muitos fatos ainda precisam ser apurados. Cumprimento V. Exª, uma pessoa séria que todos nós admiramos. Defender o Lula até pode ser fácil, mas defender o seu Governo é difícil.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Obrigado, Senador Leonel Pavan. Agradeço o aparte, as referências e também a atenção de V. Exª, de estar aqui, debatendo conosco na tribuna.

V. Exª ressalta o que realmente aconteceu durante todos os pronunciamentos, quer dizer, há um respeito pela Polícia Federal. Mas foi apresentada uma desconfiança, em vários momentos, em relação ao Ministro da Justiça, que, afinal de contas, é o Chefe da Polícia Federal. E quero aqui afirmar a minha confiança total no Sr. Ministro Thomaz Bastos. Esse homem jamais cometerá a indignidade de uma “manobra de despistamento” para dificultar ou distorcer as apurações da Polícia Federal.

Sr. Presidente, a essência do meu pronunciamento é esta; fiquei aqui durante quatro horas e estou falando há dez minutos, no fundo, para dizer isto: confio que essas coisas serão apuradas e que os responsáveis serão mostrados, exibidos à Nação na sua inteireza, seja quem for, de um lado ou de outro.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2006 - Página 29301