Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Refuta as denúncias imputadas ao Presidente Lula na compra de dossiê.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Refuta as denúncias imputadas ao Presidente Lula na compra de dossiê.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Leonel Pavan, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2006 - Página 29303
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, ACUSAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RESPONSABILIDADE, AQUISIÇÃO, DOCUMENTAÇÃO, COMPROMETIMENTO, REPUTAÇÃO, JOSE SERRA, EX PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OPINIÃO, ORADOR, OBJETIVO, DENUNCIA, PREJUIZO, REELEIÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VITIMA, DISCRIMINAÇÃO, MOTIVO, INFERIORIDADE, NIVEL, ESCOLARIDADE, CLASSE SOCIAL, CHEFE DE ESTADO.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Até mesmo para fluir um pouco mais a tranqüilidade dos oradores na tribuna de hoje, evitei fazer os apartes, pois tinha de deixar as pessoas exporem livremente seus pensamentos sobre os episódios que tratamos no dia de hoje.

Trata-se de um caso realmente lamentável, abominável e repugnante. Ninguém, em sã consciência, deve concordar com o que aconteceu. Todos estamos chocados com esses fatos, Sr. Presidente. Entretanto, é natural, da tribuna do Parlamento, de um processo eleitoral, sempre tendermos a relacionar um fato qualquer com a disputa em curso.

Rememorando a História, o Brasil, de 1889 para cá, teve muitos momentos de regimes totalitários. No Brasil, de vez em quando, a democracia foi ferida mesmo nos momentos de maior tranqüilidade.

Em 1984, com a manifestação das Diretas Já, o Brasil inteiro foi às ruas e cantou o direito ao voto direto para prefeito, governador e, principalmente, para presidente da República.

Qual não foi a nossa surpresa, Sr. Presidente, que, quando estávamos na iminência de ganhar uma eleição no Brasil - depois de passarmos para o segundo turno e termos a honrada contribuição de Leonel Brizola, Mário Covas, uma série de personalidades, igrejas, movimento social, políticos, empresários -, naquele momento, o preconceito violento contra o Presidente Lula não permitiu que o debate fluísse no campo da democracia, e foi posta, como viés da derrota do Presidente Lula para Fernando Collor, a imagem de um fato muito pessoal de sua família.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Cavalcanti. Bloco/PRB - PB) - Senador Sibá Machado, interrompo V. Exª para prorrogar a sessão pelo prazo de 20 minutos, para que V. Exª conclua seu pronunciamento.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Então, se é para falar de vítimas de processos desse tipo, creio que nós temos autoridade para falar disso, Sr. Presidente. Puseram a imagem de Miriam Cordeiro, naquela época, para ferir o coração do Presidente Lula. E acredito que feriram.

Passado um tempo, nas eleições de 1998 - se não me falha a memória -, Roseana Sarney, então pré-candidata do PFL à Presidência da República, viveu um episódio como esse, em que foi imputado a ela um erro na condução de finanças de campanha. Foi posta imagem na televisão, pessoas sendo presas, dinheiro sendo mostrado, mas depois se revelou a inocência dela e até o dinheiro foi devolvido. Naquele momento, passava-se um cenário de que a culpa disso vinha de interesses eleitorais do PSDB, que não queria concorrência. Estava passando esse cenário. Víamos as imagens das notícias levando a esta relação: de que seria uma intolerância por parte do PSDB a uma concorrência que poderia ser muito forte.

            Depois, houve essa história do relatório Cayman, em que pessoas procuraram o PT para dizer que tinham um documento bombástico que ia ferir de morte a história de Mário Covas, de Fernando Henrique Cardoso, de José Serra, ou seja, das mais altas expressões do PSDB.

E qual foi a atitude do Presidente Lula naquele momento, Sr. Presidente? Mandou jogar no lixo aquele papel, por dois bons motivos: primeiro, porque na cabeça dele jamais passa a idéia de ganhar uma eleição com esses métodos. Jamais! Segundo, porque, se aquilo tivesse algum grau de verdade, por que não se foi de imediato ao órgão mais diretamente responsável, que era a Polícia Federal? Que se entregasse lá, e a Polícia tratasse do assunto. Então, aquilo se esgotou. E agora estamos com um episódio parecido com esses que já comentei.

Por tudo isso, discordo veementemente do que ouvi na tarde de hoje em todos os pronunciamentos, que tentaram imputar a responsabilidade de um episódio desses ao Presidente da República. Por tudo que já falei, vamos ser agora frios na avaliação. Vamos falar agora de uma forma eleitoral.

O Presidente Lula, por todos os números da pesquisa, conta com a possibilidade de vencer as eleições em primeiro turno. Faltam duas semanas, Sr. Presidente, para o dia 1º de outubro - isso, contando do dia do fato. Em sã consciência, é possível imaginar que alguém nessas condições vai ainda querer arranjar encrenca pela frente, quando, na sua consciência, uma situação dessas é impensável? E ainda usar de um artifício do qual ele foi vítima, em 1989, e com o qual tentaram vitimar de novo outras pessoas, em 1998?

Na época, a posição dele foi muito clara.

Queria aqui apenas separar a emoção do fato. Nós temos um fato e temos uma emoção. Não posso aqui concordar com o fato de quererem imputar ao Presidente Lula uma situação como essa, porque, para mim, quem diz isso também está com pensamentos eleitorais e, portanto, não está sendo verdadeiro na hora de querer a apuração. É isso que quero defender aqui, em nome do Presidente Lula, a quem quero honrar. Quero honrar o seu nome, honrar a sua história, honrar a dedicação que tem tido pelo País.

Quer dizer agora que o maluco... Sei lá o que passou na cabeça de uma pessoa para ter tido a idéia de jerico - lá no Acre, dizemos isso, quando uma pessoa tem uma idéia dessas - de querer conversar com alguém que está sob delação premiada, que deveria estar contribuindo com a Justiça, que deveria estar contribuindo com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, a CPMI dos Sanguessugas, que deveria estar contribuindo com o trabalho da Polícia Federal, com o trabalho do Ministério Público, e para quem o Presidente da CPI, o nosso querido Deputado Antonio Carlos Biscaia, teria dito, da última vez em que ele esteve aqui no Senado, na Comissão...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Vou ouvi-lo já. Vou apenas concluir.

O Deputado Antonio Carlos Biscaia teria dito a ele: “O senhor ainda tem algo mais a dizer? O senhor ainda tem mais alguma coisa que precisa colocar para o conhecimento desta Comissão?”. “Não, não tenho mais nada.” Uma semaninha depois, aparece o Sr. Vedoin, numa revista de circulação nacional, dando entrevista, querendo fazer ilações com relação a mais um Senador da Casa e contra o Governador do Estado do Mato Grosso. O Deputado Gabeira, que é o Sub-Relator, responsável para tratar do fato, viu que não havia absolutamente nenhuma consistência naquela entrevista e encerrou o assunto ali mesmo. Disse que não precisava trazer para cá porque o assunto não se configurava.

Se fosse para estarmos atrás de firula política, Sr. Presidente, eu diria que pelo fato de o nome da pessoa ter sido citado, ela deveria depor na CPI, e seria a hora de ver tudo pegar fogo. Mas não podemos tratar as questões dessa maneira.

Então, peço um pouco de tranqüilidade para tratarmos de dois episódios. Primeiro, há um fato que precisa ser investigado e pessoas devem responder por ele. Não importa onde tenha trabalhado, com quem tenha convivido, sua história ou militância política, essa pessoa deve responder pelo que fez, porque cometeu crime eleitoral e contra a pessoa humana. É um crime que, se não configura crime hediondo, penso que deveria.

Em relação a um crime como esse não deve haver a menor ressalva ou tolerância. Esse artifício, nós temos de varrê-lo Brasil. Esse artifício de se tentar desmoralizar a pessoa do concorrente, nós não aceitamos, inclusive porque já fomos vítimas dele, assim como quiseram fazer com os próprios Presidentes Fernando Henrique e Lula.

Ouço com atenção o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Sibá, ainda há pouco, precisei dar uma entrevista ali, pois o Líder do seu Partido na Câmara ainda falava em convocar Serra à CPI, porque ele cria que Serra estava no mesmo pé dos sanguessugas, o que me parece uma nítida apelação. Perguntou-me o repórter: “Se a opinião do Vedoin vale para uma pessoa, por que não vale para outra?”. O Vedoin não é árbitro de ninguém. O Vedoin, bandido como é, vale quando tem indícios, quando tem provas, quando tem algo coerente. Senão, ele pode falar de mim, do Presidente da Mesa, de V. Exª. Parece-me até que ele vira um super-homem, alguém com superpoderes. No caso do Serra, não havia nada. Só havia mesmo a vontade, por parte de alguns sectários - e V. Exª não se inclui entre eles -, de equiparar o Serra ao Ministro indiciado por formação de quadrilha em Pernambuco, Humberto Costa. Serra não tinha nada a ver com aquilo. Mas o que me parece estranho é que a pessoa pode até ser maluca - acredito que foi maluquice, sim, pois, para fazer aquilo, tem que ser maluca -, mas ela não fez nada sozinha. E onde é que um maluco assim arranja 1,7 milhão... São dólares ou reais?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - A imprensa fala em reais.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quem põe nas mãos de um maluco desses R$ 1,7 milhão para ele tomar esse gesto tresloucado, esse gesto absurdo, aberrante, enfim? Tudo isso nos faz crer - e aí vem o meu problema - que ou o Presidente é muito ingênuo e se cerca muito de pessoas que são inconvenientes, ou ele não é nada ingênuo e se cerca de pessoas que seguem as ordens dele. Ele não escapa, não há uma terceira hipótese, porque se faz um leque. Agora mesmo, foi o tal Bargas que falou que o Berzoini tinha a ver com o caso. O Bargas recebeu anistia há pouco tempo - R$ 1 milhão - e é casado com a Mônica, assessora de confiança do Presidente. Logo, é a copa e a cozinha que estão envolvidas. Isso tudo é muito escandaloso, é muito complicado e tem a ver com o resultado eleitoral, sim. Digamos que o maluco estivesse agindo sozinho e pensasse que, com isso, iria fazer com que o Presidente ganhasse no primeiro turno ou que, com isso, impediria que o Serra ganhasse no segundo turno. Mas não agiu sozinho o maluco, que mais tem uma cara de leão-de-chácara. Ele é alguém que me parece muito pau-mandado, aquele que vai lá e faz. E nós temos que descobrir quem mandou, porque o tratamento que ele recebeu foi diferente: ele chegou bonitão, sem nenhuma algema, não houve aquela coisa espetacular de fotografia, chegou direitinho, como se fosse um de nós visitando a Polícia Federal para dar um abraço no Superintendente, para parabenizá-lo pelo belo gesto de desbaratar uma quadrilha de traficantes. Enfim, ele entrou sem constrangimento. A minha pergunta é: de onde vem esse dinheiro? Qual a origem desse dinheiro? É isso que tem que ser esclarecido. A partir daí, vamos ter as respostas todas.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Arthur Virgílio, a preocupação de V. Exª é exatamente o tema do segundo momento da minha fala. Antecipadamente, agradeço a V. Exª pelo aparte. Porém, antes de comentá-lo, ouço o Senador Roberto Saturnino. Em seguida, farei comentário também sobre o aparte do Senador Roberto Saturnino.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Sibá Machado, é claro que este assunto tem responsáveis que serão mostrados à sociedade. Repito o que disse da tribuna há pouco: confio plenamente na Polícia Federal e no Ministro da Justiça. Agora, querer levar este assunto para a responsabilidade do Presidente... Estou aqui desde as 14 horas e escutei todos os discursos da Oposição, sempre muito duros - a meu juízo, excessivamente duros - e que não engrandecem, mas apequenam quem usou os termos. Apesar de duros, nenhum deles colocou em dúvida a inteligência do Presidente Lula. Ninguém chamou o Presidente Lula de estúpido, de idiota, de burro. Determinar, saber, concordar com uma operação a 15 dias de uma eleição em que a probabilidade de vitória é muito grande?... Permitir uma operação de compra de dossiê? De quem? Do Sr. Vedoin? Depois de tudo que aconteceu? Disse da tribuna que isso é a estupidez insuperável, é a burrice astronômica. E nenhum dos Senadores da Oposição atribui essa qualificação ao Presidente Lula. A lógica mostra isso. Então, o aparte é para reforçar o que V. Exª diz no seu pronunciamento e acho que todos os brasileiros, imediatamente, compreendem. Mas o fato é gravíssimo, tem que ser apurado, vai ser apurado, e nós vamos presenciar isso de uma forma que vai consagrar a administração do Presidente e do Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do Diretor-Geral da Polícia Federal, Dr. Paulo Lacerda.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco PT - AC) - Muito obrigado, Senador Roberto Saturnino. Incorporo as palavras de V. Exª ao meu pronunciamento e quero dizer da admiração que tenho por V. Exª, que é um testemunho vivo de boa parte da história do Brasil, principalmente nesta segunda metade do século XX, estando presente a muitos dos episódios que aconteceram, tendo, portanto, autoridade máxima para tratar sobre eles. Eu até procuro aprender muito com V. Exª sobre essa fase da história do Brasil.

Indago se o Senador Leonel Pavan deseja me apartear.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Sibá Machado, primeiramente, volto a dizer que V. Exª, que substitui o Líder do Governo, faz um trabalho brilhante, um trabalho que todos nós respeitamos. Há pouco, usei a tribuna para reclamar sobre a atitude da Senadora Ideli Salvatti, que, em Santa Catarina, na sua campanha, tem usado programas de rádio para dizer inverdades referentes à Comissão de Orçamento, tanto que a Justiça deu direito de resposta para nós no horário eleitoral, durante o programa do PT. Ela falou que eu não me encontrava presente e que por isso o Orçamento não foi votado, o que não é verdade. Aqui no Senado Federal, estava havendo sessões deliberativas, assim como na Câmara. V. Exª sabe que, quando são realizadas sessões deliberativas, não pode haver Comissões. A votação foi transferida para o dia 4. Usei a tribuna, até com certa contundência, para questionar o que a Senadora andou dizendo em Santa Catarina. E não fiz referência sobre nada do que aconteceu nesses últimos episódios que envolvem pessoas ligadas ao Governo em relação a essa compra de dossiês. Mas, Senador Sibá Machado, é inegável que ela existiu.

A Oposição está fazendo seu papel. Uma vez foi o José Dirceu, outra vez foi o Waldomiro Diniz, agora é o Freud. Todos trabalham exatamente no prédio em que trabalha o Presidente, no Palácio. Então, se existe isso, já noticiado pela imprensa, nós não poderíamos nos calar aqui. Assim, não dá para criticar o que a Oposição está levantando, até porque, se existe alguém que fala um pouco mais, é porque aprendeu na escola do PT. O PT fez isso anos e anos, denunciando e defendendo a liberdade de expressão, defendendo da tribuna, tribuna popular. Não podemos deixar de falar sobre essas pessoas reconhecidamente envolvidas. Nós não temos preconceito contra o Lula. Eu já votei no Lula! O nosso preconceito é outro: contra tudo isso que aí está. Este é o nosso preconceito: contra pessoas ligadas ao Governo, que integram o Governo, amigas do Presidente, íntimas dele, pois são pessoas que viajam juntas, e que traem o próprio Presidente. Ora, não dá para ter um Presidente que nunca viu, que nunca soube, que não vê nada, não ouve nada, não sabe de nada. Ora, que amigos são esses? Se a pessoa tivesse algum envolvimento pessoal relativo a outras coisas, tudo bem. Se a pessoa fosse um bandido, o Presidente não poderia saber. Mas são todos envolvimentos dentro do Governo, de interesses do Governo: pega propina, passa para projeto, facilita a licitação, compra dossiê para prejudicar candidato. Não é uma pessoa que está lá e que está envolvida em ato de bandidagem, por questão pessoal, dentro da própria família. Não, são coisas que envolvem dinheiro público. É por isso que estamos falando. Senador Sibá, aqui tenho notícia que saiu no site Último Segundo: “A Justiça decretou hoje a prisão preventiva do ex-ministro Antonio Palocci e de outros nove acusados da Máfia do Lixo, segundo informou a Rádio CBN. O grupo é acusado de superfaturamento no sistema de limpeza de Ribeirão Preto de 2001 a 2004, esquema conhecido como Máfia do Lixo. Segundo informado pelo delegado responsável, a prisão de Palocci não será possível neste momento, pois ele concorre a deputado federal e por isso está protegido pela lei”. Ora, precisamos falar isso porque há uma determinação judicial. É notícia de agora. Não tenho absolutamente nada contra o Ministro Márcio Thomaz Bastos, que acho que faz um papel brilhante e conduz a Polícia Federal de forma até brilhante, pois está investigando. Porém, não se pode julgar que todos aqui criticam a Polícia Federal. Eu defendo a Polícia Federal, acho que faz brilhante trabalho, acho que é uma instituição que merece respeito do Congresso Nacional, da sociedade brasileira, porque ela não deve ter cor partidária e não a tem. Ora, é inegável que tudo o que está acontecendo não dá para esconder. As coisas realmente estão acontecendo. Portanto, V. Exª, como Líder, deve ter esse papel, deve defender, e nós entendemos. Nós, como Oposição - V. Exª é do Governo, nós somos da Oposição -, temos que alertar não somente isso, não somente atos de corrupção, porque, quando não se atendem os Estados, se está prejudicando a sociedade. Quando o Governo não envia recursos constitucionais, quando não destina verbas orçamentárias, quando discrimina prefeitos e governadores, porque não são da sua base de apoio, isso também é falta de ética, isso também é falta de respeito com a sociedade brasileira. Muitas vezes tem ocorrido isso com o meu Estado de Santa Catarina. O Governo do Lula tem discriminado o Estado de Santa Catarina. A corrupção é uma discriminação contra o Brasil. Não liberar os recursos constitucionais de direito é uma discriminação contra o meu Estado.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Cavalcanti. Bloco/PRB - PB) - Senador Sibá Machado, V. Exª tem três minutos para concluir o seu pronunciamento.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, me conceda cinco minutos para que eu conclua o meu pensamento. A tarde de hoje merece.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Cavalcanti. Bloco/PRB - PB) - Concedidos.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Leonel Pavan, semana passada, tive oportunidade de tratar um pouco do assunto com o Senador Heráclito Fortes. Discordo veementemente de que o Governo tratou dessa maneira. Se assim fosse, isso era corriqueiro nesta Casa com os governos anteriores também.

Foi acusado o Presidente Fernando Henrique Cardoso de só atender sua base na hora de liberação de emendas. Foi acusado o Presidente Fernando Henrique Cardoso naquela história da emenda da reeleição. Foi acusado o Presidente Fernando Henrique Cardoso no caso das privatizações e assim por diante. Tratei disso também politicamente. Isso faz parte do debate político, e estou enfrentando dessa maneira. Entendo assim.

Sempre que a Oposição trata, no Senado ou em qualquer outro ambiente, de qualquer relação de envolvimento do Presidente da República, considero o fato normal, porque também o fazíamos nos debate entre Situação e Oposição.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Nós condenávamos isso. Não se pode fazê-lo só porque foi feito no passado. Um erro não justifica o outro.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Ouça o que quero reportar a V. Exª: muitas vezes, o tratamento dado aqui é preconceituoso. Vou citar alguns fatos. Hoje, falou-se aqui da escolaridade do Presidente. Está aqui a foto. Isso é preconceito, Senador Leonel Pavan. É preconceito. Como uma pessoa sentaria na cadeira de Presidente da República se não tivesse condições para tal? Volto a dizer: a inteligência independe da inteligência. Considero o Presidente Lula, em muitas das ações realizadas em seu Governo, anos-luz à frente dos investimentos do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - O Senador Arthur Virgílio só suscitou o assunto porque foi o Presidente Lula que dizia que não gostava de ler.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - A leitura empírica também vale, a visão de mundo...

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Lula disse uma vez que não gostava de ler.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Leonel Pavan, a forma como o assunto é tratado aqui é preconceituosa.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Não houve preconceito.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - É para atingir a índole da pessoa.

Sofri muito na minha vida também, porque acho que quase todos nós tivemos uma história parecida, os que vieram da base, para enfrentar essas adversidades. Durante muitos anos da minha vida, às 7 horas da manhã, eu tinha que estar no posto de trabalho. Saía às 17 horas e 30 minutos, 17 horas e 40 minutos, e às 18 horas e 30 minutos deveria estar na porta da escola. Saía entre 22 horas, 22 horas e 30 minutos ou 23 horas, dependendo do dia, de segunda a sexta-feira. Eu era meio que uma máquina ali naquela hora para poder trabalhar. Entre a escola e a sobrevivência, acabei optando pela sobrevivência e fiquei 20 anos fora do banco de escola, porque tinha que comer. Eu tinha que comer! A facilidade da leitura, da publicação de livros, de conhecer o mundo não é para todo mundo. Não tem jeito.

Agora, independentemente disso, amar este País, gostar dele, conhecê-lo, ter andado pelo Brasil de ponta a ponta, como o Presidente Lula, ao longo de sua história... Ele estava nos principais episódios da reconstrução da democracia nacional, conhece o Brasil, tendo ou não lido os manuais de Montesquieu, de Rousseau, de Marx, seja lá de quem for. O Presidente Lula conhece o Brasil, conhece o mundo e discute sociedade com Tony Blair, com George Bush. Com quem quer que seja colocado à sua frente ele discute.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Sibá Machado, este debate é importante, e V. Exª deve ser o último orador de hoje. Quero, mais uma vez, defender o Senador Arthur Virgílio. O Arthur não fez referência negativa ao que estava lendo. Recentemente, a imprensa noticiou que o Presidente Lula não tinha vocação para leitura. Então, é apenas uma brincadeira nossa.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Ele está sendo sincero.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - O Lula realmente viajou mesmo, viajou o mundo - isso sabemos - viajou o mundo, viajou o Brasil. Quando o Fernando Henrique Cardoso era Presidente, o PT falava muito de “Viajando Henrique Cardoso”. Não era isso que dizia o PT? Só que o Fernando Henrique Cardoso viajou bem menos em oito anos que o Lula em três anos e meio. Bem menos. Mas tudo bem. As viagens podem ser para o bem do Brasil, e não estamos usando isso na campanha. Não estamos, não. Mas, quanto ao preconceito, sabe o que é preconceito? É quando se verificam os Estados que têm liberação de recursos e se encontra o Acre...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Tratado da mesma maneira que os demais Estados.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Não. Santa Catarina recebeu três vezes menos que o Acre. O meu Estado foi discriminado pelo Governo.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não, nossa expectativa de receita da União era de R$200 milhões; conseguimos R$89 milhões só, muito abaixo do que era esperado.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Com todo o respeito ao Acre, ao seu trabalho, à sua liderança, houve, sim, discriminação. Eu não consegui liberar, por exemplo, 80% das minhas emendas, não as outras.

O SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Esse problema também é meu, Senador. Eu me sinto uma pessoa contribuindo com o Governo e não o faço por emenda, mas por convicção ideológica, por simpatia e tudo o mais. Estou dizendo a V. Exª que tratei deste assunto com o Senador Heráclito Fortes e deixei muito claro: o Governo teve tratamento único. Se alguém pudesse reclamar de emendas, deveria ser eu, porque não recebi as minhas também; não foram liberadas. O tratamento deve ser igual.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Mas não é igual. No Acre, o Governador é do PT.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - SC) - Com as emendas de Bancada e de governos de Estado, o tratamento é o mesmo.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Cavalcanti. Bloco/PRB - PB) - Senador Sibá, o aparte é concessão sua. V. Exª está perdendo tempo, que se está esgotando.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, deixe-me concluir, porque V. Exª tem sido tolerante comigo.

Sr. Presidente, esse episódio é um crime e deve investigado e punido. Não se deve ter moleza. O Sr. Luiz Antônio Vedoin, seu pai, Darci Vedoin, a família toda, todas essas pessoas mentiram mais uma vez à CPMI, quando diziam que não havia nada. Num outro momento, tentaram fazer ilações sobre pessoas, contra as quais, depois, a CPI constatou que também não havia nada.

Sobre os documentos apresentados, a imprensa está a nos dizer que não continham nada, que o disquete está em branco. Quanto às fotografias, o Brasil inteiro já tem conhecimento delas, e as fitas que apresentaram não acrescentam absolutamente nada.

Realmente, interessa a todos nós, Sr. Presidente, a apuração desses fatos.

Segunda questão: não vamos aceitar calados que seja feita qualquer ilação sobre a pessoa do Presidente da República, que foi vítima dessas coisas num passado muito recente.

Por último, quero dizer a V. Exª que talvez os números tenham mexido um pouco com a cabeça das pessoas. Eu sou uma pessoa que tem evitado muito tratar de questões eleitorais com base em pesquisa. Não o faço porque, no dia de amanhã, ninguém sabe o que pode acontecer. Tudo pode acontecer. Agora o nosso trabalho é para garantir, sim, uma reeleição do Presidente Lula em primeiro turno. Por quê? Porque o Presidente Lula já está se preparando para, num segundo mandato, chamar a Nação brasileira para caminhar, daqui para frente, de mãos dadas, numa concertação nacional, como fez o Chile, para que, até 2022, o nosso País seja um dos mais brilhantes países do mundo no campo da solidariedade entre os povos, da economia, da tecnologia e principalmente da distribuição de renda entre todos os moradores do nosso País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2006 - Página 29303