Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à figura do paraibano que, em 5 de outubro, completaria 114 anos, o jornalista Assis Chateaubriand Bandeira de Mello.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à figura do paraibano que, em 5 de outubro, completaria 114 anos, o jornalista Assis Chateaubriand Bandeira de Mello.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2006 - Página 29328
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), EX SENADOR, JORNALISTA, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CRIAÇÃO, JORNAL, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, INFORMAÇÃO, FORMAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.

O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, permitam-me rememorar, hoje, a figura de um paraibano que, em 5 de outubro próximo, completaria 114 anos. Ele trouxe o signo revolucionário daquele mês: revolucionário de 30 e revolucionário em todas as iniciativas do seu tempo - o jornalista Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.

O lugar, o cenário onde menos se avultou o prodígio de suas iniciativas, o seu arrojo, foi o desta Casa, que ocupou por dois mandatos, um pela Paraíba e outro pelo Maranhão, nos anos 50. É que já tinha as suas tribunas.

Seu teatro de guerra era o “O JORNAL”, multiplicado em dezenas de outros títulos e em emissoras de rádio e de TV por todo o Brasil, como se tomasse em seus ombros a obra da integração nacional que os outros meios comuns de civilização não haviam conseguido em séculos.

Seu contemporâneo e grande amigo, José Américo de Almeida, assim o definiu: “Tudo o que faz é loucura até ser feito”.

“Inquietava os amigos” - continua José Américo - “arrojava-se às empresas mais ousadas, quase sempre sem apoio material, sem nada de nada, dispondo apenas do fundo inesgotável de confiança em si próprio. Não lhe falassem no impossível, que não passava de um espantalho, atravessando no seu caminho, fácil de ser removido a pontapés”.

Num momento em que todas as iniciativas parece renderem-se à globalização, em que a auto-estima nacional se amofina, em que as decisões dos países centrais são recebidas como fatalismo, Assis Chateaubriand, um homem de direita acusado de entreguista, se vivo fosse, haveria de surgir como uma voz autônoma. Porque ninguém teve mais coragem de sustentar as suas convicções. E ninguém foi mais orgulhoso dos talentos de sua terra, do seu Brasil, do seu Nordeste, do que esse vulto internacional encourado de vaqueiro.

Quando recebeu a Ordem do Vaqueiro das mãos do prefeito de Jequié, Lomanto Júnior, no remoto ano de 1952, com a qual condecorou também a Rainha da Inglaterra, ele se definiu como um visionário “dos tabuleiros calcinados dos nossos sertões”.

Homem que sabia alternar a fúria das paixões com a poesia da alma romântica. Homem que se sentia à vontade no gibão de couro das caatingas nordestinas ou nos museus de arte nos centros maiores da civilização e da cultura brasileira.

Homem de ferro, de palavra tóxica, de temas explosivos e homem de São Francisco de Assis, pois nasceu em 5 de outubro, abriu postos de puericultura nos lugares mais ermos do Brasil. Também aprisionou beija-flores em viveiros ricamente cultivados, para lhes dar a ilusão da liberdade.

Biografado como gênio e demônio, como rei do Brasil, a sua legenda nunca se esgota.

A memória desse homem sempre nos vem à tona, a cada crise nova ou a cada falta de uma presença capaz de mobilizar homens e idéias, instituições e empresas por uma grande causa.

Nessa crise da aviação comercial, em que empresas-símbolo perdem asas, ouve-se a voz de Assis Chateaubriand. Deve muito a ele a aviação comercial, pois aquele paraibano, entre outras coisas, disseminou aeroclubes pelo Brasil afora, iniciativa que culminou com o apostolado do gaúcho porto-alegrense, Salgado Filho, em favor do “império do ar para os brasileiros”.

Instituiu a Campanha Nacional de Aviação e conseguiu a doação de 700 aviões “Paulistinha”, aeronave na qual tirei o meu brevê em 1965 e que ainda hoje voa pelos céus do Brasil.

A imprensa de Assis Chateaubriand antecipava-se a tudo isso. Não se limitava a informar, mas, sobretudo, a formar opiniões, a plantar idéias, a induzir os poderes da Nação, as lideranças nacionais e o próprio Estado a dar o salto que a modernidade exigia.

Mais uma vez, é José Américo quem dá este testemunho: “Fazia relações e, sem ser um aproveitador, metia na cabeça de amigos abastados, como forma de redistribuição da riqueza, que também tinham deveres. Se houve alguém capaz de arrancar dinheiro de um morto, ele fez mais difícil ainda: arrancou dinheiro dos ricos”.

Menino gago, emperrado, de pele e beiços de índio, reverteu tudo isso no mais ousado homem do seu tempo. Aos 16 anos, escrevia no mais tradicional jornal do Nordeste, o Diário de Pernambuco; aos 23, emulava com Sílvio Romero e José Veríssimo nas questões polêmicas da época. Nessa idade, conquista a cadeira de Direito Romano da Faculdade de Direito do Recife. Vai para o Rio, torna-se redator chefe do Jornal do Brasil, e logo depois segue para a Europa, onde viveu proveitosa experiência cultural e jornalística, que é reunida em seu primeiro livro, Alemanha. Ganha o mundo, é a expressão que melhor o define.

Em 1924, adquire O Jornal, que viria a ser o líder da cadeia Associada. Em 1928, lança O Cruzeiro, que, em 1952, num Brasil de meio século atrás, chegou a circular com 740 mil exemplares.

Pasmem, Srªs Senadoras e Srs. Senadores!

No Brasil de hoje, isso significaria uma circulação superior a dez milhões de exemplares, vendidos unicamente em bancas, sem contar com nenhuma assinatura.

Pioneiro em tudo, inaugura, em 18 de setembro de 1950 - há justamente 56 anos -, a primeira emissora de televisão da América Latina e a quarta do mundo: a TV Tupi, em São Paulo.

Em 21 de abril de 1960, inaugura, na mesma data em que a cidade de Brasília era inaugurada, o jornal Correio Braziliense e a TV Brasília.

Entre os inúmeros feitos e as inúmeras iniciativas, sugere a Marconi a iluminação do Corcovado no Rio de Janeiro.

Expande seu império de comunicação a todo o País, chegando a 99 empresas.

É nomeado Embaixador do Brasil na Grã-Bretanha. Marqueteiro nato, põe por toda Londres faixas em perfeito português: “Umbuzeiro saúda Chatô”, em uma referência à cidade em que nascera, na nossa Paraíba. É lógico, deixou atônita a platéia que buscava nos dicionários a tradução do texto.

Brasileiro como nenhum outro, aspergia “canela de pau” pelos salões da nossa Embaixada na Inglaterra, para que todos pudessem sentir o aroma do Brasil, que ele chamava de “cheiro do Brasil”.

Seu nacionalismo está permanentemente caracterizado ao nomear todas as suas empresas com palavras indígenas, tais como: Tupi, Tamoio, Guarani, Poti, Itacolomi, Piratini, Marajoara.

Gigante em todas as militâncias de sua vida, seu grande heroísmo foi no ato final. Privado das mãos, imobilizado pela trombose, escreve e atua até a última palavra do seu ser consciente.

A memória que ele nos deixou é um filão que nunca se esgota.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2006 - Página 29328