Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o episódio da compra do dossiê contra candidatos do PSDB.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre o episódio da compra do dossiê contra candidatos do PSDB.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Marco Maciel, Paulo Octávio, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 27/09/2006 - Página 29485
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PREJUIZO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), QUESTIONAMENTO, ORIGEM, DINHEIRO, EXPECTATIVA, RESULTADO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL.
  • DETALHAMENTO, HISTORIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, VINCULAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • PREVISÃO, ELEIÇÃO, CANDIDATO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, CULPA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PREJUIZO, CANDIDATURA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), MOTIVO, REINCIDENCIA, ERRO, ESCOLHA, ASSESSOR, ESPECIFICAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos às vésperas de mais um pleito nacional, e, como tem sido regra no Governo Lula, o Brasil é afrontado por mais um escândalo envolvendo petistas próximos ao Presidente da República.

Desta vez, Sr. Presidente, descobriu-se que membros de alto coturno do lulismo e do petismo tentaram comprar um falso dossiê contra as candidaturas de Geraldo Alckmin e José Serra. Ao ser pego em flagrante delito, o Presidente Lula se antecipou e tentou retirar a sua responsabilidade do crime. Escalou alguns dos envolvidos no delito para a condição de culpados. Mais uma vez, tenta iludir a população dizendo que não sabia de nada e, portanto, não tem qualquer responsabilidade no ilícito eleitoral.

Essa história de que o Presidente não sabia de nada é antiga. A Veja, revista semanal, publicou este quadro, que gostaria de mostrar a todos os Senadores, no qual o Presidente Lula está cercado de seus assessores.

O Presidente Lula, ontem, para falar das pessoas que se meteram nesses escândalos, além de chamá-los de aloprados, deu um exemplo bastante interessante. Ele disse: “Eu escolho as pessoas pensando que são boas e depois vejo que são ruins”. Depois comparou a situação com a de alguém que namora uma moça durante dez anos, depois se casa, e o casamento não dá certo. Aí verifica que efetivamente errou na escolha de sua esposa.

Bom, em primeiro lugar, o exemplo é mal colocado porque não deixa de ser um preconceito contra a mulher. Por que ele não disse o contrário, isto é, que uma mulher namora um homem tantos anos e depois vê que não era o marido ideal? Em primeiro lugar, é um preconceito contra a mulher, uma atitude machista. Em segundo lugar, no momento em que se escolhe um marido ou uma esposa, escolhe-se uma pessoa. E se o casamento não dá certo muitas vezes não é porque a mulher não presta, como o Presidente disse. Não é porque a mulher ou o marido não presta. Às vezes, incompatibilidade de gênio ou de atividades profissionais faz com que um casamento não dê certo. Então, o exemplo está muito mal colocado, aliás, como sempre.

No caso do Presidente Lula é diferente porque ele não escolheu uma pessoa; ele escolheu mais de trinta pessoas que estão diretamente envolvidas em todo esse processo de corrupção. Se fosse uma só, eu até concordaria com o Presidente Lula, porque todo mundo pode errar, mas a corrupção no Governo dele é sistêmica. É um sistema corrupto que tem de ser comandado pelo chefe.

Ele compara isso com um casamento, mas é completamente diferente. Essas pessoas aqui não saíram do Governo ou não foram denunciadas por causa de seu temperamento; todas elas foram denunciadas por cometerem crime, seja crime de corrupção, seja o crime de fazer dossiê falso. Enfim, todo tipo de crime que apareceu durante esse Governo.

Vou citar apenas alguns crimes que estão nessa matéria, mas existem muito mais. O Procurador-Geral da República citou, naquela denúncia que fez ao Supremo Tribunal Federal, mais de quarenta e chamou o Governo e o PT de uma sofisticada organização criminosa. Em vez de ser um partido, virou uma organização criminosa. Quem eram as pessoas citadas? Estão aqui os que foram citados. Qual a razão da citação?

Em primeiro lugar está José Dirceu, ex-Ministro da Casa Civil no Governo Lula, que é acusado de ser chefe de uma quadrilha especializada em desviar dinheiro público e comprar apoio político, o chamado mensalão.

Em segundo, Gilberto Carvalho, chefe do gabinete pessoal do Presidente Lula. Do que é acusado? Na CPI dos Bingos foi acusado pelos irmãos do prefeito assassinado Celso Daniel de participar do esquema de desvio de recursos de prefeituras petistas para financiar o caixa dois do partido e de ter aparecido na chamada operação abafa no caso Celso Daniel.

Delúbio Soares é o mais famoso. Ex-Secretário de Finanças do PT e tesoureiro da campanha presidencial de 2002, ele é acusado de ser o operador do mensalão.

Antonio Palocci, ex-Ministro da Fazenda, é acusado de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo e de coordenar um esquema de fraudes em contratos municipais quando prefeito.

Gedimar Pereira Passos, membro do Comitê de Campanha de Lula, subordinado a Jorge Lorenzetti, que é o diretor do Banco de Santa Catarina, terra da Senadora Ideli Salvatti, é acusado de ter comprado, em nome do PT, o dossiê contra os tucanos.

Expedito Afonso Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil, filiado ao PT, trabalhava na campanha de reeleição de Lula. De que é acusado? De ter confeccionado o dossiê e de tê-lo repassado à família Vedoim.

Hamilton Lacerda, ex-assessor de comunicação do candidato Aloizio Mercadante ao Governo paulista. De que é acusado? De ter contactado a revista ISTOÉ para que divulgasse o dossiê.

E assim por diante. Nem vou ler tudo para não me cansar.

Todas essas pessoas estão envolvidas. O que será que está acontecendo agora? Muitos deles são candidatos a Deputado Federal, a maioria por São Paulo. Não duvido de que todos se elejam porque com a estrutura financeira que têm por trás, na realidade, é muito fácil se eleger.

Se um partido e um governo dispõem de R$1.750.000,00 (um milhão setecentos e cinqüenta mil reais), em cash, Senador Heráclito Fortes, para comprar um dossiê falso, imagine a quantidade de dinheiro que essas pessoas têm para gastar nesse processo eleitoral!

Então, efetivamente, é uma situação que nos deixa muito preocupados. E, para que a eleição possa continuar na sua trilha normal, é absolutamente necessário que saibamos de onde veio esse dinheiro. Este senhor, Gedimar Pereira Passos, estava lá com o dinheiro - foi ele quem levou o dinheiro -, então ele sabe de quem recebeu esse dinheiro. Aí, dizem: “Não, a Polícia Federal está investigando”. Acho que, antes de a Polícia Federal investigar, o Presidente Lula deveria promover um churrasco na Granja do Torto ou lá no Palácio, chamar o Sr. Jorge Lorenzetti, que também sabe a origem desse dinheiro, e mandá-lo dizer de onde veio. É a maneira mais fácil de sabermos a origem desse dinheiro. Se ele realmente fizer isso, pelo menos, poderá ter uma desculpa para livrar a cara dele desse acontecimento. Se não fizer isso, é porque não quer que se saiba de onde veio o dinheiro.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador José Jorge, permita-me um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador Roberto Saturnino, com muito prazer.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador José Jorge, penso que o maior interessado nessa informação seja o próprio Presidente e nós do PT. Estou interessadíssimo em saber de onde veio esse dinheiro e quem foi o responsável por isso, mas - acredito que V. Exª concorda comigo - não eram cinco ou seis pessoas que sabiam, não; foi uma pessoa que obteve esse dinheiro e não falou com outras, porque esses assuntos ninguém comenta, ninguém diz que foi fulano que deu a “a”, “b” ou “c". Essas coisas realmente são conduzidas de uma forma muito reservada. Acho que foi um erro gritante, uma afronta ao próprio Presidente, que é a pessoa mais interessada. Eu também estou interessadíssimo. Aproveito para fazer um apelo à Polícia Federal, ao Dr. Paulo Lacerda, para que esclareça a questão o mais rapidamente possível, porque, enquanto não for esclarecida, é claro que pairarão suspeitas que, de uma forma ou de outra, atingirão o Presidente. É preciso que a Polícia Federal esclareça isso agora, hoje ou amanhã. Sei que isso é difícil, porque, pela informação que lemos no jornal de hoje, não foi descoberto saque de R$100 mil - esses saques são obrigatoriamente comunicados ao Banco Central. O valor da operação foi de R$1,7 milhão. Se não houve nenhum saque de R$100 mil, é porque foram feitos mais de 17 saques. Não é fácil identificar o banco e a pessoa, mas acredito que a polícia esteja trabalhando. Confio na Polícia Federal - já havia dito isso outro dia da tribuna. O PT, eu particular e pessoalmente e o Presidente Lula somos os maiores interessados em saber de onde vem esse dinheiro. E não em só saber, mas em mostrar à Nação, à opinião pública, a fim de que esse fato fique esclarecido. Agradeço o pronunciamento de V. Exª.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agradeço o aparte de V. Exª. Não tenho nenhuma razão para não achar que V. Exª não está efetivamente interessado. Conhecemos sua carreira e sabemos que V. Exª não é pessoa de se meter em coisas erradas. Agora, o Presidente Lula é diferente de V. Exª. Ele não precisa saber que a Polícia Federal descobriu de onde veio, basta chamar essas pessoas que são amigas dele. Por exemplo, foi o Jorge Lorenzetti quem mandou o Gedimar Pereira Passos comprar esse dossiê. O Gedimar foi pego com R$1,750 milhão. Ora, é aquela história: se ele foi pego com R$1,750 milhão, alguém deu a ele, esse dinheiro não caiu no colo dele sem ele saber de onde. O Jorge Lorenzetti, que era o chefe dele e foi quem o botou no comitê, também sabe de onde veio o dinheiro. Ora, o Jorge Lorenzetti é churrasqueiro do Presidente Lula. Então, o Presidente Lula não precisa da Polícia Federal para esclarecer. V. Exª precisa, eu preciso, aqui o Presidente precisa, todos nós precisamos, menos o Presidente Lula. O Presidente Lula pode chamar o Sr. Jorge Lorenzetti lá no gabinete dele e dizer: meu amigo, isso é uma questão de interesse nacional. Vocês estão colocando em risco uma eleição. Digam de onde veio esse dinheiro, eu não vou ficar com essa responsabilidade. Então, o Sr. Jorge Lorenzetti vai dizer: não, eu peguei esse dinheiro com fulano, Berzoini, ou seja lá quem for. Ele vai dizer quem deu o dinheiro a ele.

Então, o Presidente Lula, pelos trinta anos que tem de amizade, tem condições de fazer isso, V. Exª não, eu concordo. V. Exª tem que aguardar pela Polícia Federal, mas o Presidente Lula, não.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador José Jorge, não é todo mundo que tem caráter e confessa isso. Muitas pessoas acham que podem sair ilesas desse processo. Estão completamente enganadas porque não vão sair, mas acham que podem sair. Então, mentem, inclusive para o Presidente.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Será?

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - É, mas quem não tem caráter...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Mas, Senador, esse Jorge Lorenzetti é amigo do Presidente há mais de trinta anos.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador, eu não estou inculpando ninguém, eu não estou me referindo...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sim, mas foi ele quem mandou o Gedimar. São os dois personagens no episódio do dinheiro.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Eu sei, mas quem trouxe o dinheiro, quem conseguiu o dinheiro, eu não sei e não quero inculpar ninguém. Essa pessoa tinha de ter a grandeza e o caráter de assumir isso, porque vai ser apanhada, vai ser pega, certamente. Então, por que não confessar a origem do dinheiro e mostrar tudo em pratos limpos? Acho que isso era um dever de grandeza, de caráter. Mas, infelizmente, nem todas as pessoas têm grandeza e caráter.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Eu acho que o Presidente Lula conseguiria isso se realmente estivesse interessado. Eu tenho de discordar de V. Exª. O Presidente Lula quer que nós creiamos...

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador José Jorge, concede-me um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Ouço o aparte do Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senador José Jorge, eu gostaria de dizer que V. Exª hoje faz, como tem feito habitualmente, um discurso muito importante e se sobressai pela lucidez da análise. Os fatos são do conhecimento público, são graves e ocorrem no momento em que nos preparamos para uma eleição presidencial, na qual o PT apresenta como seu candidato o atual Presidente da República. Daí por que concordo com V. Exª, como também o Senador Roberto Saturnino, quando pede pressa nas apurações. É necessário que o eleitor ao votar tenha essas dúvidas esclarecidas. Acho que o próprio Presidente Lula deveria ser o primeiro interessado a que isso ficasse logo apurado. Estamos a poucas horas - podemos dizer - das eleições. A campanha eleitoral termina na quinta-feira. Então, estamos a sessenta horas, ou a menos do que isso, da conclusão da campanha eleitoral. Dessa forma, associo-me a V. Exª nessa busca da rápida apuração, para que ao final a politizada sociedade brasileira, o segundo maior colégio eleitoral do mundo ocidental - 125 milhões de eleitores -, seja esclarecida desses fatos. Do contrário, a candidatura do Presidente Lula e seu Partido também serão, a meu ver, penalizados porque o eleitor brasileiro não aceita desvios éticos nem condutas não compatíveis com as tradições republicanas. Era esse meu rápido aparte a V. Exª.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agradeço a V. Exª que, como sempre, traz uma palavra ponderada, porém firme.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte, Senador José Jorge?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, a coisa de que tenho mais pavor na vida é de quem se apropria da obra alheia, do sucesso alheio em proveito próprio, aliás, coisa que o PT tem feito muito. Programas do Fernando Henrique, como o Bolsa-Família, ele muda de nome, bota botox e faz como se fosse dele; as obras de Tucuruí, como se fossem dele, e por aí afora. Eu não quero cair nesse erro e quero atribuir o sucesso do aparte que vou lhe dar agora à divulgação, em tempo real, que a TV Senado nos proporciona. O Brasil todo está nos ouvindo. Quero elogiar o Estado de Santa Catarina por ser um dos mais politizados do País. Santa Catarina parece que assiste todo dia à TV Senado - vai ver que com muito orgulho - para ver a atuação da Líder do PT na tribuna deste Senado. Recebo agora um telefonema de uma pessoa de lá, que me faz um alerta. E não há nenhum mal nisso, é uma questão de opção, só lhe tira a isenção no caso, Senadora Ideli. O Dr. Dalmo Dallari é doador da campanha atual para o PT. Vou repetir: O Dr. Dalmo Dallari, jurista de renome nacional, fez doações para a campanha do PT, além de ter dado depoimentos. É brilhante, respeitado, mas neste caso não é isento, porque, como todos nós, tem direito a suas paixões. Daí por que eu queria apenas mostrar ao País que algumas citações feitas aqui não engrandecem quem cita nem tampouco o citado. A biografia do Dr. Dalmo poderia ter sido respeitada, com a omissão desse seu depoimento, naturalmente feito para atender solicitação dos que lhe são próximos, o que mostra que ele é um homem, acima de tudo, voltado para a família. Mas, Senador José Jorge, parabenizo V. Exª por este pronunciamento e quero mostrar apenas uma questão interessante: o PT trabalha com duas velocidades, a máxima e a mínima. A resposta da Polícia Federal com relação ao dossiê, que foi dada com pressa e anunciada com mais pressa ainda pelo Governo, não é a mesma resposta que toda a Nação quer saber sobre de onde veio o dinheiro, onde está o dinheiro - já se diz por aí que há muito mais do que isso, eu quero crer que sim. Por outro lado, é apenas uma opinião de um técnico da Polícia Federal, não significa que seja uma sentença final. O Tribunal pode requisitar outras firmas especializadas para verificar a autenticidade ou não, a veracidade ou não dos grampos. Quero apenas fazer esse registro para mostrar que a rapidez com que o PT divulga um fato é diametralmente diferente da rapidez com que ele não quer que alguns fatos sejam divulgados. Acho que o Sr. Lorenzetti, que é o bisbilhoteiro do momento, está na obrigação de, pelo menos para aquelas pessoas que lhe são mais próximas, prestar alguns esclarecimentos sobre todo esse episódio que ele viveu, e não só estimulou. Por outro lado, o Sr. Lorenzetti foi altamente desleal com a sua correligionária e companheira. Devia ter prevenido as ligações sentimentais e pessoais do Sr. Dalmo Dallari para que não caísse na esparrela de uma citação tão inoportuna como a feita nessa tarde. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado Senador.

Vou continuar o meu pronunciamento.

Resolvi traduzir este dinheiro: R$1,75 milhão. Muitas pessoas não têm idéia de que volume é esse. Uma pessoa que ganhasse salário mínimo, Sr. Presidente, para juntar esse dinheiro, mesmo que não gastasse nada, demoraria 400 anos - praticamente a idade do Brasil. Isso daria para construir mil casas populares de R$17 mil cada. Daria para comprar milhares de carros zero quilômetro. Quer dizer, é muito dinheiro. E nós todos sabemos que, hoje em dia, para se tirar R$10 mil no banco, tem que se dizer para quem vai, tudo por cheque nominal. E esse pessoal conseguiu juntar R$1,7 milhão e não diz de onde veio. Então, isso é que é uma coisa grave. Não é crível que tanto dinheiro possa trafegar por uma campanha eleitoral sem que o candidato seja informado e se responsabilize por sua utilização.

Em artigo no jornal O Estado de S. Paulo de hoje, o economista Gustavo Ioschpe foi muito feliz ao examinar o que Lula quer fazer crer sua inocência em mais este escândalo:

Assim como no Direito vale a máxima de que ignorantia juris non excusat - o desconhecimento da lei não é desculpa para inocentar o criminoso - em qualquer organização vale o princípio de que o desconhecimento do chefe não o desculpa dos erros dos subalternos. Lula é culpado pelo dossiê porque escolheu Berzoini para seu chefe de campanha. Ponto.

E assim tem de ser, especialmente quando se trata da Presidência, porque senão todo governante diria a seus subordinados: “Façam todas as loucuras que vocês acharem importantes para o meu mandato, mas não me contem”. [“Fiquem calados. Eu não preciso saber”]. Se um Presidente pudesse se eximir da responsabilidade dessa maneira, não só teríamos dossiês e mensalões, como talvez coisa muito mais séria. Se o Presidente é inimputável pela ação de seus subordinados, talvez tenhamos amanhã o Exército invadindo a Argentina ou testando uma bomba atômica, a Fazenda atrelando o real ao dólar, e a Polícia Federal abrindo as fronteiras. Enfim, ou os chefes têm responsabilidade sobre a ação dos seus subordinados ou não são chefes.

            Na realidade, o Presidente Lula tem responsabilidade, porque ele é quem escolhe. E não é o primeiro caso. Já são de trinta a quarenta pessoas escolhidas por ele que fazem isso.

É muito fácil eu chegar ao meu gabinete e dizer: “Vocês podem fazer tudo o que quiserem de errado. Apenas não me digam. Vão fazendo calados, para que amanhã eu também não possa ser culpado”. Lógico que o culpado sou eu, se fazem algo errado.

O Presidente Lula continua tentando interpretar o seu melhor personagem: o de vítima. Vítima do PT, da imprensa e das elites.

Até a imprensa, antiga aliada de Lula e do PT, hoje é acusada de “partidária” e de não fazer uma “cobertura republicana”.

A última edição do boletim eletrônico do PT, intitulado Força do povo, fraqueza da mídia, afirma que a mídia “continua elitista e não aceita que o povo seja capaz de pensar sem depender da intermediação dos autoproclamados formadores de opinião”.

Antes de criticar os meios de comunicação, Lula e o PT deveriam lembrar que a mídia foi o meio usado por eles para crescerem.

É preciso destacar ainda que o episódio da compra do dossiê contra os candidatos do PSDB foi criado por integrantes do Partido de Lula e do Governo e da coordenação da campanha, e não por jornalistas ou pela Oposição.

Ora, se houve um evento, Senador Jorge Bornhausen e Senador Marco Maciel, do qual a Oposição e a mídia não tiveram nenhuma participação foi a criação desse dossiê. Isso foi criado dentro do Palácio do Planalto, dentro da campanha de Lula e dentro do PT. E foi descoberto. Quer dizer, a única coisa de errado que aparentemente o Presidente Lula está achando desse dossiê é ter sido descoberto. Por isso, ele diz que eles são burros. Mas como? Isso não é inteligência. Isso é burrice. E por quê? Porque foi descoberto. Certamente, se não fosse descoberto, eles ficariam muito felizes.

O jornal O Globo, ao comentar o assunto, citou o Deputado Federal Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais, para quem “estamos cuspindo na rotativa que comemos. O PT é um produto da imprensa. A imprensa sempre ampliou a nossa voz e a nossa luta”.

O jornalista Alberto Dines, editor do Observatório da Imprensa, afirma que o discurso de Lula e de seu Partido, nos últimos tempos, está “esquizofrênico”. A mídia tirou o PT e o Presidente Lula da obscuridade.

Ainda segundo Dines:

Lula não tem equilíbrio suficiente para conduzir momentos de crise: o Lula está melando o jogo, porque é árbitro engajado. Ele não tem equilíbrio para ser árbitro. Por mais que queira separar do Hugo Chávez, ele é igual ao Chávez.

Isso não sou eu que estou dizendo, não. É o Dines. Eu concordo, mas não sou eu que estou dizendo.

O diretor da redação do jornal O Estado de S. Paulo pergunta:

Se o próprio presidente diz que os assessores que provocaram esse último escândalo são “aloprados”, o que deveria a imprensa fazer? Tanto o presidente da República como seu Partido tentam acusar a imprensa de “ataques e manobras”, atribuindo-lhes até preconceito de classe, quando na verdade os atores do escândalo são todos membros do Partido, comandados por seu próprio presidente, que foi afastado do comando da campanha.

Há outra coisa interessante: o Deputado Ricardo Berzoini foi afastado da campanha do Presidente Lula, mas não foi afastado da Presidência do PT. Então, é o seguinte: para comandar a campanha do Presidente Lula, não pode fazer dossiê. Quer dizer, uma pessoa que fez ou comandou um dossiê não pode comandar a campanha do Presidente Lula, mas pode comandar o PT. Quer dizer, o presidente é acusado - acusado, não; praticamente é réu confesso - de ter participado do dossiê e não pode coordenar a campanha do Presidente Lula (talvez porque tire voto, não sei bem o porquê), mas ele pode presidir um dos maiores Partidos do Brasil, sem ter a credibilidade necessária.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, o PT inovou, pelo menos nesta eleição, e oficializou a sua Inteligência, embora saibamos que é antiga essa Inteligência montada e de investigação no PT - inteligência de bisbilhotagem, não aquela mental. Ora, quando se monta uma Inteligência, é para proteger e ajudar o candidato a Presidente da República: quem é que foi desleal com quem? A partir do momento em que esse plano mágico foi montado, não comunicaram ao Presidente?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Claro que comunicaram.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Aí é que é preciso... É isso que a Nação quer saber: traíram o Presidente, ou o Presidente traiu a Nação ao dizer que não sabia? Será possível que traíram o Presidente da República, teoricamente o grande beneficiado dessa manobra, manobra corajosa, manobra audaciosa, que foi desde invasão de sigilo no Banco do Brasil até uso de servidores em horário de expediente, contrariando a lei eleitoral? E aí fica o PT com raiva do Ministro Marco Aurélio, que quer cumprir a lei. Traíram quem? Isso é que é preciso que fique claro. Foi uma operação que o Presidente não sabia. E agora? Nós, que não temos Abin, que não temos Inteligência, sabíamos, desde o início da semana, que o PT, para tentar deslocar o escândalo do seu foco, ia acusar o Berzoini. Será que só Berzoini não sabia que ia ser o grande acusado? Isso é um pastelão mexicano da pior espécie, Senador. Isso não engana menino. É aquela história: “Olha, tu metes a cabeça na areia, eu atravesso e depois te puxo”, e o “cara” faz com toda a segurança, porque ele já fez com os outros. Os envolvidos nos escândalos passados já estão todos sendo perdoados nos palanques pelo Presidente da República, e os que não foram envolvidos nos escândalos do PT, mas que participaram de escândalos nacionais estão sendo chamados para o PT, para o palanque do PT, como quem diz: “vem para cá que aqui é o nosso lugar, aqui temos uma linguagem comum”. Esse é o fato. Fora isso não há discussão, Senador. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador.

Continuo o meu pronunciamento.

Para o Deputado Chico Alencar, ex-petista, “o problema é que o Lula, para justificar seus erros, infantiliza o povo. Ele está propondo que o povo não leia mais nada, que só escute a voz dele. É um quê de absolutismo. Para ele, como na época do Brasil absolutista, imprensa boa é imprensa oficial”.

A imprensa livre o Governo Lula não consegue controlar, apesar de ter tentado fazê-lo algumas vezes, como quando tentou expulsar do Brasil o correspondente do jornal The New York Times ou quando propôs a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Agora, nas áreas onde o PT já colocou as mãos, é difícil garantir a lisura das instituições neste momento em que o poder vai-se esvaindo pelos dedos das mãos.

A postura de segmentos da Polícia Federal nesse episódio do escândalo do dossiê demonstra que interesses subalternos parecem falar mais alto. Por que não divulgar a foto do dinheiro? Sempre a Polícia Federal divulgou fotos dos presos, dos dinheiros, dos dossiês. Desta vez, até divulgaram a foto do dossiê falso, mas não divulgaram a foto do dinheiro, porque sabem que foto de dinheiro marca, é forte. E ela deveria ser divulgada.

Quando todo o País pergunta de onde vieram os R$1,7 milhão, a Polícia Federal sinaliza que só deve revelar a fonte do dinheiro depois do primeiro turno da eleição. Isso o Brasil não entende, porque, para identificar o depósito de míseros R$25 mil do caseiro, o Coaf, o Banco Central, a Caixa Econômica Federal e a Polícia Federal foram ágeis. Num instante descobriram a questão do caseiro. Agora, quando a Nação precisa saber quem são os corruptores envolvendo o Partido de Lula, as autoridades policiais não conseguem dar uma resposta.

O Globo expressou a seguinte opinião:

Se houver na Polícia Federal quem esteja trabalhando nas investigações do ‘dossiêgate’ numa velocidade, digamos, pouco republicana, para proteger o PT e Lula a poucos dias do primeiro turno, arma-se nova trapalhada. Pois, se vier o segundo turno, a manobra não só terá sido inócua como ficará evidente e aumentará o poder de fogo da oposição. Ela será a operação tabajara II.

Eu gostaria de destacar que, antes mesmo do pleito, algumas das mentiras eleitorais de Lula estão se esvaindo. Na campanha, por exemplo, Lula promete crescimento econômico. E segue-se uma série de questões que peço que sejam consideradas lidas.

Termino dizendo algo muito simples: temos o direito de saber, até o dia das eleições, quem foi que conseguiu essa importância de R$1,7 milhão. Acredito que a Polícia Federal não seja a principal responsável para responder a isso. O principal responsável é o Presidente Lula. Esses amigos do Presidente Lula que montaram essa operação e que foram presos com o dinheiro, principalmente o tal do Lorenzetti e o agente do comitê central, sabem quem foi que conseguiu o dinheiro. Se eles sabem, basta que o Presidente Lula os chame ao Palácio do Planalto e diga: “Vamos dizer isso à Nação, para que possamos nos apresentar de cara limpa. Cometemos uma irregularidade, mas vamos divulgar essa informação e esperar que o povo vote”. Essa seria a atitude correta que o Presidente Lula deveria tomar.

Queremos que o Presidente Lula diga de onde veio esse dinheiro. Se ele não disser, em minha opinião, o dinheiro veio da mão dele.

É assim que encerro, Sr. Presidente.

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Senador José Jorge, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não.

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Há pouco, em conversa com a imprensa, os jornalistas comentavam a declaração do Senador Romeu Tuma, estranhando o comportamento da Polícia Federal nesse episódio. Realmente, o caso está mal contado, mal explicado, como V. Exª aborda, com muita competência, em seu pronunciamento. A V. Exª, que é candidato a Vice-Presidente da República, deixo bem claro que a Nação brasileira precisa de uma resposta, e nada melhor do que a resposta do segundo turno, porque, efetivamente, nestes quatro dias que faltam para as eleições, não teremos a resposta às suas indagações. Todavia, se tivermos a oportunidade do segundo turno, para que o Presidente Lula compareça aos debates e exponha suas propostas - como já vem fazendo o candidato que V. Exª acompanha, Geraldo Alckmin -, aí sim, o Brasil vai poder julgar qual é o governo que quer para os próximos quatro anos. Cumprimento V. Exª pelo discurso que profere e reitero que o Brasil precisa do segundo turno. É imprescindível dispormos de tempo para resolver essa questão do dossiê e para que a população possa conhecer melhor os candidatos, até porque o candidato que está na frente, de acordo com as pesquisas, não foi a nenhum debate nem apresentou uma só proposta de governo para os próximos quatro anos. Por isso, é importantíssimo para o futuro da Nação brasileira que haja o segundo turno.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Senador Paulo Octávio, agradeço-lhe o aparte. V. Exª tem absoluta razão. O segundo turno nos dará a possibilidade de discutirmos isso de forma mais clara e objetiva, para que a população vote corretamente. Sempre digo que, lá em Pernambuco, chamamos o Horário Eleitoral Gratuito de guia eleitoral, ao contrário do resto do Brasil, que o chama de programa eleitoral. Por quê? Porque o Horário Eleitoral Gratuito é um guia para que o eleitor escolha seus candidatos.

            Precisamos do segundo turno para que possamos ter, não só a continuidade dos programas eleitorais, mas, principalmente, os debates entre os dois candidatos escolhidos. Aí, sim, todas essas questões aparecerão e, se ficarem efetivamente esclarecidas, cada um pode votar no seu candidato original.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/09/2006 - Página 29485