Discurso durante a 158ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de participação em audiência hoje, com o Presidente do Banco Central, acompanhado do Senador Tasso Jereissati, a fim de esclarecer a origem dos dólares do dossiê contra a candidatura Alckmin e Serra. Importância do debate que haverá hoje entre os candidatos à Presidência da República, na TV-Globo.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Registro de participação em audiência hoje, com o Presidente do Banco Central, acompanhado do Senador Tasso Jereissati, a fim de esclarecer a origem dos dólares do dossiê contra a candidatura Alckmin e Serra. Importância do debate que haverá hoje entre os candidatos à Presidência da República, na TV-Globo.
Aparteantes
Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2006 - Página 29641
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, AUDIENCIA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), OBJETIVO, OBTENÇÃO, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, DINHEIRO, UTILIZAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, ACUSAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • REPUDIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FALTA, ETICA, ATIVIDADE POLITICA, BRASIL, CRITICA, COORDENAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, ESPECIFICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, CANDIDATO, EXPECTATIVA, ORADOR, POPULAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, DESVIO, RECURSOS FINANCEIROS, APURAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA, REPASSE, RECURSOS, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).
  • CRITICA, POLICIA FEDERAL, ALEGAÇÕES, SUFICIENCIA, INFORMAÇÕES, IDENTIFICAÇÃO, ORIGEM, RECURSOS FINANCEIROS, CORRUPÇÃO, DEMORA, ESCLARECIMENTOS.
  • ACUSAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), DEFESA, ACUSADO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, IRREGULARIDADE, DIREÇÃO, BANCO DO BRASIL, FALSIDADE, INFORMAÇÕES, EXPECTATIVA, ESCLARECIMENTOS, SOCIEDADE.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tive o prazer de acompanhar, hoje, o Presidente do PSDB, Senador Tasso Jereissati, a uma audiência com o Presidente do Banco Central, ocasião em que fomos mostrar a preocupação de nossos partidos com a morosidade na apuração dos fatos graves que ocorreram, entre São Paulo e Mato Grosso, na confecção de um dossiê que visava tão-somente prejudicar as candidaturas, consolidadas, de José Serra e de Geraldo Alckmin.

            É lamentável que o Partido dos Trabalhadores tenha, em toda sua história, essa vocação de atuação em submundo, de convivência com dossiês e de expedientes que não dignificam a atividade política no Brasil. Se tem credibilidade ou não, o autor do famoso Dossiê Cayman relata, para uma revista que circulou esta semana, telefonemas recebidos de figuras importantes do Partido dos Trabalhadores, querendo tirar proveito daquela peça com o intuito de criar dificuldades em uma campanha eleitoral passada.

            Lamentavelmente, este episódio tem sido muito mal coordenado por parte do Governo no que diz respeito a uma apuração transparente. Informações distorcidas: o Ministro da Justiça diz uma coisa, seus subordinados outra, o Banco Central outra. O que nós temos aí é apenas a certeza de que são fatos criados artificialmente diante de algo grave com o único e exclusivo objetivo de transferir graves apurações do episódio para depois do dia 1º.

            Diante disso tudo, não é de se estranhar o estado emocional de Lula, demonstrado em suas aparições como Presidente da República nas televisões brasileiras e em solenidades das quais participa. Vê-se um homem nervoso, desligado daquilo que o cerca e completamente tomado pela angústia.

            O jornalista Tão Gomes, que tem toda uma vida dedicada ao jornalismo brasileiro, hoje, no seu blog, “BliG do Tão”, conta como foi decidida a presença de Lula no debate: votação.

            O João Santana é contra; o Luiz Dulci, cauteloso, contra; o Gilberto Carvalho, aquele que teve uma atuação brilhante lá no caso de Santo André, também contra. A decisão foi tomada por pressão do Ministro Fernando Haddad e do ex-Senador e candidato a Deputado Federal por Pernambuco, Carlos Wilson.

            O mais grave, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é que, nas ponderações feitas para convencer o Presidente da República a comparecer ao debate, em nenhum momento se fala da importância do Chefe maior da Nação mostrar ao Brasil os seus quatro anos de Governo; de mostrar ao Brasil, de maneira firme, que não teve participação direta nos episódios. Acima de tudo, fazer com que Sua Excelência tenha uma participação de acordo com o cargo que ocupa.

            E aí começam a fazer ilações, aquelas suposições - “Se alguém pergunta o quê, o que é que vai responder”; começam a criticar o Cristovam, dizendo que o ex-Governador do Distrito Federal e ex-Ministro de Lula tem um discurso monotemático e uma força de oratória de segunda categoria. São os conselheiros do Presidente da República.

            Imagine, Senador Marco Maciel, com um conselheiro desses, onde é que o Presidente vai parar. É o primeiro conselho.

            E aí vai: “O Geraldo é um candidato de tantas falhas, e, quando o assunto for segurança, as propostas dele fazem lembrar o Paulo Maluf”. Em que Geraldo Alckmin pode se parecer com Paulo Maluf? Quer dizer, é o nível da assessoria do Presidente da República e a molecagem a que estão tentando levar o Chefe da Nação, hoje à noite.

            Falam aqui de um possível encontro com Heloísa Helena. Mas, em respeito à colega, não vou tratar desse assunto.

            E aí dão mais uma sugestão:

“Vá ao debate, candidato Lula. E se Alckmin resolver baixar o nível, perguntando como o presidente não sabia o que estava acontecendo no gabinete ao lado do seu, responda, distraído - vamos observar se o Presidente vai cumprir a orientação dessa sua nova equipe: Geraldo (chame ele sempre de Geraldo), e você que não sabia o que estava acontecendo dentro do seu guarda-roupa.

As deduções, as insinuações, as maldades inevitáveis ficam por conta do telespectador.”

            Conselhos que serão dados ou que foram dados ao Sr. Alckmin.

            Nós, da Oposição, temos evitado tratar de assunto dessa natureza, até porque família, para quem preza, para quem tem apreço, é sempre preferível deixar fora dessas questões.

            Geralmente, dentro de guarda-roupa tem um cofre. A roupa é mais exposta, senhores conselheiros. E dentro do cofre tem dinheiro. E se o Sr. Geraldo Alckmin perguntar ao Presidente Lula onde o seu filho colocou o dinheirão que recebeu da sua empresa?

            Que tipo de debate querem levar nesta noite? Acho que não é o melhor caminho. Acho que esse não é o melhor caminho! Não foi assim que a Oposição procedeu, nem nesse caso, nem em rastreamento de contas de familiares de autoridades do Brasil no exterior. Mas esse assunto pode ser tratado. Foi bom porque os que têm responsabilidade com a candidatura de S. Exª o ex-Governador de São Paulo terão agora que municiá-lo de documentos.

            Só acho que o Presidente Lula não está bem assessorado com esse tipo de conselho. Vejam bem, o Ministro da Educação do Brasil, responsável pelo destino de jovens, pelo futuro deste País, aconselhar o Presidente da República a atitudes dessa natureza!

            Infelizmente, falta ao Presidente da República autoridade para pôr para fora de uma sala quem lhe dá conselhos como esse. Acho que o Sr. João Santana tem muito mais autoridade e propriedade para ditar comportamentos do que essas maluquices. Aliás, Presidente Lula, pode perguntar episódios envolvendo os que estão na roda. Só lamento. E aqui quero fazê-lo por dever de justiça: pelo que conheço de Luiz Dulci, não acredito, pela sua formação, que tenha concordado com esse tipo de molecagem preparada.

            Senador Marco Maciel, Senador Tasso Jereissati, V. Exª que entra no plenário agora, estou lendo o roteiro, o script que alguns amigos do Presidente Lula lhe prepararam para o debate de hoje; foi por isso que ele criou coragem para ir ao debate. O que sabemos é que o Presidente Lula se fragiliza com questões dessa natureza.

            Em 1989, naquele famoso debate com o Presidente Collor, ao então candidato lhe perguntar pelo três em um, que até hoje eu não sei o que é, Sua Excelência exasperou-se, ficou nervoso. E a Nação toda reprovou a utilização de episódios pessoais, de episódios familiares em debate. Se o Lula ao longo da vida se queixou - e se queixa desse fato -, como é que seus assessores agora querem aconselhá-lo a entrar exatamente em questões pessoais, em questões familiares?

            Meu avô, que viveu, Senador Tasso, até os 96 anos e tinha sabedoria popular, dizia sempre que “quem não pode com o pote não pega na rodilha”. O Brasil quer saber do dinheiro público que está sendo desviado. O Brasil quer saber das apurações feitas na Operação Sanguessuga. O Brasil quer saber de doações que só aparecem quando há um desencontro de quadrilha, e a denúncia faz com que todos sejam flagrados em um quarto de hotel em São Paulo, literalmente com a mão na massa.

            É preciso que se explique detalhadamente a origem desse dinheiro. É bom que o Brasil todo se lembre que o PT e as pessoas de sua liderança criaram a CPI do Banestado para investigar fluxo de recursos que entravam e saíam de maneira ilegal de nosso País, e que isso já custou muitas dores de cabeça ao Partido dos Trabalhadores.

            Se o Presidente da República vai com esse espírito para o debate, terá uma grande decepção. Lamentavelmente não vi aqui neste comitê, neste politburo a presença do ex-Ministro e agora coordenador de campanha Marco Aurélio, diplomata, homem de hábitos finos, que sabe o que é bom, usa roupas de grife, sapato italiano, óculos de tartaruga e, acima de tudo, tem preocupação de mostrar à Nação que pelo menos alguém do PT tem vocação para lorde, pela sua postura e elegância. Imagino o seu constrangimento em participar dessa roda. Não vi o seu nome citado. Tenho certeza... Pode ser que eu esteja enganado, nos enganamos tanto com algumas figuras do PT que prometeram a salvação da alma e que estão procedendo exatamente de outra maneira.

            Dito tudo isso, há uma coisa mais grave. Meu caro Fonseca, decano deste comitê: quem foi que contou sobre a reunião secreta do Presidente para um blog? Isso mostra que o Palácio do Planalto é uma tábua de pirulito! Ninguém consegue conversar naquele Palácio. Isso é um tiro no pé. O Presidente conversa de maneira reservada sobre estratégias do seu encontro de hoje à noite e, às 11 horas e 14 minutos, o sempre bem informado Tão Gomes Pinto escreveu no seu blog matéria com o título: “Urgente! Lula vai ao debate na Globo” e coloca este roteiro de pastelão mexicano de filme de terceira categoria. Eu lamento, mas esse é o Presidente que temos.

            Senador Tasso Jereissati, espero que tenhamos a oportunidade de assistir hoje ao debate que a Nação quer ver, com os candidatos mostrando propostas, prestando conta de suas responsabilidades e esclarecendo questões à Nação.

            Neste momento, há muitos brasileiros que ainda querem definir em quem votar, pois estão em dúvida. Para votar em um candidato envolvido nesse esquema de denúncia permanente - até agora, a sua única arma foi dizer que não sabia de nada -, é preciso que seja dada uma resposta objetiva, convincente e forte à Nação. Daí por que lamento que Sua Excelência tenha faltado a outros debates, porque perdeu várias oportunidades de prestar esclarecimentos à Nação.

            Aliás, retifico o que disse: se tivesse ido aos debates anteriores e justificado os escândalos passados, o Presidente ia ter que, neste debate agora, justificar e esclarecer os escândalos novos. A capacidade do PT de produzir escândalos no atual Governo é muito maior que a capacidade da Oposição de apurá-los. Vejam que o escândalo das cartilhas, que é um gravíssimo caso de desvio de recursos, foi colocado de lado, embora o Tribunal de Contas esteja apurando. Há pelo menos uma centena de escândalos - na maioria, envolvendo recursos públicos - que os órgãos competentes estão apurando e estão sendo atropelados por escândalos novos, o que mostra a infinita capacidade do atual Governo de conviver com fatos dessa natureza.

            Lembro que, no caso José Dirceu, o Presidente disse que colocava a mão no fogo; no caso do Genuíno, também colocava a mão no fogo. Ou essa mão é de amianto, ou ele está pondo a mão no fogo de mentirinha, pois não há mão que resista a tanta prova dessa natureza.

            Senador Marco Maciel, o debate de hoje, pelo respeito aos eleitores brasileiros, no meu modo de ver, será marcante para que o eleitor tenha mais oportunidade de realmente saber em quem vota. Se eu pudesse dar um conselho ao Presidente da República, eu lhe diria: jogue as sugestões desses seus companheiros de politburo no lixo, porque estão mostrando que não querem bem nenhum a esse Presidente da República, pois conselho dessa natureza é muito bom para dar a inimigo, Senador Tasso Jereissati.

            Imagino o Presidente seguindo essa cartilha dada por esses companheiros que lhe aconselharam e que foram vencedores na decisão tomada por Sua Excelência. O que me deixa triste, Senador Tasso Jereissati, é ver que o Presidente está indo ao debate não por convicção, não por vontade de mostrar ao País suas propostas nem tampouco para esclarecer fatos. É porque sua turma quer e a turma do Lula quando quer fala mais forte do que o Presidente.

            Concedo um aparte ao Senador Tasso Jereissati.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Presidente Marco Maciel, Senador Heráclito Fortes, dentro do tema de que V. Exª está tratando, gostaria de comunicar que recebemos do advogado da coligação a confirmação de que deu entrada a pedido de informações no Banco Central para quebra de sigilo das instituições e das pessoas envolvidas na trilha de parte dos dólares encontrados junto com os membros do PT em um hotel de São Paulo. Esse pedido foi encaminhado ao Corregedor-Geral do TSE, Ministro César Rocha, e estamos na expectativa de que esse pedido seja acatado amanhã. Por que isso? Porque, de manhã, Presidente Marco Maciel, em companhia do Senador Heráclito Fortes, estivemos no Banco Central, que, para nossa grande surpresa, nos informou que a Polícia Federal e o Ministério da Justiça não tinham solicitado nenhum tipo de informação, até o presente momento, sobre esse escândalo que deixou o País perplexo. E, ao mesmo tempo, nos informou que, se a Polícia Federal sabe que existe um banco que foi o receptor de notas de dólares seriadas dos Estados Unidos, o rastreamento, a partir do banco e dessas notas, poderia ser feito com a maior eficiência e rapidez pelo Banco Central. Ao ser questionado por que não tinha feito ainda, ele disse que não o fez porque o Banco Central, constitucionalmente, é obrigado ao sigilo bancário e só pode quebrá-lo sob provocação judicial, o que não tinha ocorrido até aquele momento. Como sempre, fomos informados de que a Polícia Federal e o Ministério da Justiça estariam fazendo o maior esforço possível para explicar à Nação de onde veio e de quem era esse dinheiro, e ficamos realmente muito surpresos com a notícia dada pelo Banco Central. Assim, estamos apresentando ao TSE esse pedido de informações e de quebra de sigilo bancário, na expectativa e na esperança de que, pelo menos, possa ser identificado o dono dessa parte seriada do dinheiro, que é dinheiro novo, que está com cinta e com fita. Os outros dólares que não têm essa característica provavelmente são ilegais. Todos são ilegais, ou seja, é clandestino o outro, porque não tem entrada registrada no País. De qualquer maneira, Senador Heráclito Fortes, ainda resta a expectativa de que o Presidente da República hoje à noite possa esclarecer essa enorme questão que paira sobre os ombros dele. Porque mesmo para a saúde da sua eventual e pouco provável vitória no primeiro turno - se vier a ganhar, no que não acredito - será importante que antes das eleições ele esclareça à Nação se esses recursos resultam ou não de lavagem de dinheiro de tráfico de drogas e de armas ou de outro tipo de crime, ou se foram desviados dos cofres públicos, ou ainda se esse dinheiro realmente tem origem e estava nas mãos dos seus companheiros mais íntimos ou na mão do presidente do seu próprio partido, que, como ele mesmo disse, os comanda. Portanto, não há o que a Nação ficar temendo nem há o que esconder. Isso é fundamental, Senador Heráclito Fortes, Presidente Marco Maciel, para que o País possa respirar aliviado já no dia da eleição. Como votar num Presidente da República sobre o qual existe a suspeita de que estaria envolvido com o uso, na sua campanha, de dinheiro escuso, dinheiro vivo que ninguém sabe a origem e que pode ter até origem no tráfico de entorpecentes, por exemplo? Como votar com essa enorme dúvida na cabeça, na mente, na consciência dos eleitores? Essa, portanto, é uma medida que estamos tomando, na expectativa de que, pelo menos, parte disso venha a ser esclarecido, e que o Brasil possa votar mais consciente no domingo, sabendo realmente a profundidade dessa ilicitude e quem está realmente envolvido, até que profundidade cada uma das pessoas do círculo íntimo do Presidente da República está envolvida nesse crime. É essa a informação que eu queria dar aqui a V. Exª em relação ao próprio roteiro que V. Exª leu, preparado pelos assessores, sempre nesse clima de desrespeito, não explicando as coisas, não respondendo sobre os problemas mais graves. Não responderam à questão da cartilha, nunca deram explicação clara sobre o relacionamento com o Marcos Valério e em nome de quem o Sr. Delúbio agia. Mas, a grande pergunta que vai estar no ar, nesta noite, no debate é a questão, novamente, do dinheiro na mala, na mão do círculo íntimo do Presidente da República, comandado pelo próprio Presidente do PT. Essa vai ser a grande questão. Podem tentar agredir, ser irônicos até em relação aos outros candidatos, mas essa pergunta, não adianta, vai estar na mente de todo cidadão brasileiro, de todo eleitor brasileiro.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem razão. Alguma coisa deve estar acontecendo nessas investigações. Não sei se pressão, excesso de reuniões madrugada adentro... Mas uma coisa está deixando-me intrigado, Senador Tasso. O Diretor da Polícia Federal, Dr. Lacerda, é sempre um homem equilibrado, discreto, de poucas declarações. E vejo uma declaração aqui que estou achando ainda que possa ser desencontro entre as afirmativas e o que está colocado. Se bem que a matéria tem assinatura de renomado jornalista:

O Diretor da Polícia Federal, Dr. Paulo Lacerda, argumentou que buscar informações no Banco Central, neste momento, é irrelevante. Ele disse que a PF já tem todas as informações necessárias para rastrear o dinheiro com base no que foi passado por autoridades americanas. O que a PF podia colher no Banco Central, o Coafi já colheu e encaminhou à PF.

            Veja bem, Senador Tasso, um pouco diferente do que ouvimos hoje no Banco Central:

‘Os dois parlamentares estão fazendo campanha’, disse, referindo-se às declarações dadas mais cedo pelo Presidente do PSDB, Tasso Jereissati e pelo Senador Heráclito Fortes. Se eles têm alguma informação sobre a investigação, que digam o que sabem e que a Polícia Federal não sabe ainda.

            Ora, caro Diretor-Geral, Dr. Paulo Lacerda, homem que respeito tanto, que teve uma passagem muito cordial pelo Senado da República, quero apenas, de antemão, que V. Sª releve se, na realidade, essas informações não forem suas. Não cabem ao Senado da República as investigações, mas exatamente à Polícia Federal, enquanto republicana. O que não pode é a Polícia Federal apurar fatos, tê-los em mãos, como as declarações aqui prestadas por V. Sª, e não torná-los públicos no momento em que toda a Nação estranha. Não gostaria de acusar ninguém, mas acho eu que a Polícia Federal prestava um serviço mais importante à Nação. Não ficaria sob a dúvida de ser manipulada, não pelo Dr. Paulo Lacerda, mas pelo Ministro da Justiça.

            O Ministro da Justiça, é bom que o Brasil saiba, de dia é Ministro da Justiça, de noite é garoto-propaganda do candidato do PT a Governador de São Paulo. Não podemos tapar o sol com a peneira. Deu declarações para um programa eleitoral de um partido. É exatamente o Ministro que tem sob o seu comando a Polícia Federal.

            Daí por que é um direito sagrado que a Oposição tem de colocar sob suspeita a demora em esclarecer alguns fatos. Fazer campanha, Dr. Paulo, faz parte da democracia e do regime em que vivemos. E estamos, aliás, em temporada de campanha. Se episódio dessa natureza não nos tivesse atrapalhado, não estaríamos aqui, Senador Tasso, no plenário do Senado; talvez estivéssemos nas nossas bases ou acompanhando o nosso candidato a Presidente da República. Mas a responsabilidade com esses fatos, ao vermos que o dinheiro público está sendo jogado pelo ralo, para a compra e a montagem de dossiês, faz-nos pedir os devidos esclarecimentos. E, por confiar que a Polícia Federal, republicana, tem o dever de apurar tudo e de deixar claro, é que estamos nessa luta.

            Há um desencontro de informações. Ora o dinheiro é seriado, ora não é; ora o dinheiro chegou do estrangeiro de maneira legal, ora não chegou. Esse conflito de informações sobre um fato grave é que nos deixa de cabelo em pé. De forma que não se presta serviço algum ao País dessa maneira.

            Acho o Ministro Márcio Thomaz Bastos o mais competente Ministro do atual Governo. Criminalista, ele vem sugerindo, ora como Ministro, ora como conselheiro, a seus colegas de escritório e estagiários que façam a defesa dos criminosos e dos bandidos que fazem parte deste Governo. Isso é que é preciso que fique bem claro.

            Não é com esse tipo de insinuação que vamos recuar, nem tampouco nos amedrontar. Cada um tem uma missão, cada um tem um dever, e seria bom que todos cumprissem com o seu dever por responsabilidade.

            Se o Presidente da República tivesse a responsabilidade de presidir o País, não permitindo a convivência com bandidos, não permitindo os Waldomiros, os Delúbios Soares, não permitindo a convivência do seu Palácio com a prática de jogos... Porque tudo isso começou, Senador Marco Maciel, com a negociação de membros do seu Governo e a máfia do jogo do bicho. Quem não se lembra disso? Tudo começou com empréstimos no submundo para sustentar as atividades pouco republicanas do Partido dos Trabalhadores. Quem não sabe disso? E temos o direito de ter angústia, porque nada disso foi apurado. Quantos processos envolvendo pessoas neste Governo estão engavetados? E o que vemos hoje? No seu Ceará, o Lula se abraçando com o homem da cueca e querendo transformá-lo no mais votado.

            Em São Paulo, com os cassados e com os que renunciaram, e pelo Brasil afora. Aí, quando surge nova gangue, vai para a televisão e diz: “Tenham paciência com esses meninos. Os meninos erraram”. É por isso que peço ao Presidente Lula, insistentemente: pegue esses seus “meninos” e mande-os para a Febem, porque, senão, vão fazer parte do crime organizado quando crescerem, vão assaltar bancos e traficar armas.

            Não é motivo de brincadeira o que estamos tratando aqui, porque isso é apenas o que chegou ao nosso conhecimento. E o que não chegou?

            Pergunto ao Senador Tasso: de onde está saindo recurso para essa campanha milionária que o PT faz pelo Brasil inteiro?

            Houve decisão da Justiça envolvendo o meu Estado, o Piauí, do Tribunal de Contas da União, suspendendo liberação de recurso feita de maneira ilegal. Houve escândalos por todo o Brasil. O Tribunal de Contas mandou suspender mais de 90 obras por irregularidades. E não querem que tomemos providências e procuremos o Banco Central.

            O que nos levou ao Banco Central hoje? A falta de clareza com que os fatos estão sendo apurados, essa vontade de deixar o tempo passar e deixar tudo para depois do segundo turno. Não aceitamos isso.

            Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati, com a maior alegria.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Heráclito Fortes, pedi a V. Exª novo aparte porque estou lendo, agora, a declaração feita pelo Dr. Paulo Lacerda, Superintendente da Polícia Federal, a qual lamento profundamente. Diz ele que estamos em campanha e faz uma certa ironia em torno disso. Primeiramente, Presidente Marco Maciel, a Polícia Federal é uma instituição que respeito profundamente. Tenho a maior admiração pelo trabalho que ela tem feito neste País, nos últimos anos. É uma instituição que merece sempre o nosso carinho e que deve ser protegida de más influências o máximo possível, para que mantenha a sua independência e cumpra os seus deveres. Tenho certeza de que esse é o sentimento da maioria dos seus servidores. No entanto, ultimamente, tem ocorrido o aparelhamento de quase tudo no Brasil. Quem não admira o Banco do Brasil neste País? Quem não zela pelo Banco do Brasil profundamente? Mas estamos vendo o Banco do Brasil ser aparelhado. Aliás, hoje, levamos ao Presidente do Banco Central a nossa preocupação também com o Banco do Brasil. Presidente Marco Maciel, no sistema financeiro de livre mercado, o maior banco do País ter como diretor de análise e risco de crédito uma pessoa que pertence ao serviço de espionagem de um Partido político é algo muito grave. Muito, muito grave! Esse é um dos maiores casos de intromissão do poder no aparelho do Estado e na vida privada do cidadão brasileiro. Lembro que a diretoria de análise de crédito e de risco detém informação a respeito das empresas e das pessoas, e o seu diretor pertence ao serviço de espionagem do PT. Por outro lado, falo do maior banco do Brasil, vital para o sistema financeiro brasileiro e interligado a todos os outros bancos. Olhem bem a gravidade. A meu ver, aí o Banco Central falhou. Esse caso, especificamente, merecia do Banco Central uma intervenção rápida, que já teria acontecido no caso de qualquer outro banco. O Banco do Brasil, com todo o respeito que temos por ele, hoje está sendo aparelhado. Pela Polícia Federal, nosso respeito é o mesmo. Não tenho o prazer de conhecer tão bem o Superintendente Paulo Lacerda, Senador Heráclito, mas, desculpe-me, para mim ele está sob suspeita. Sei que a Polícia Federal não esconderia essa informação do País. Hoje, tivemos a confirmação de que para se conhecer a origem das moedas lacradas basta pedir essa informação à Casa da Moeda americana e ela será dada em horas. Então, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça já poderiam ter essa informação um dia depois de ter sido encontrado o dinheiro. Soubemos hoje que, de posse da informação do banco que recebeu essas cédulas, ainda cintadas, é facílimo se fazer o rastreamento desse dinheiro, mas o Banco Central sequer foi consultado sobre isso. Portanto, o Sr. Paulo Lacerda também está sob suspeita. Ele estranha que V. Exª e eu estejamos em campanha, mas esse é nosso papel, isso faz parte de nossa vida, de nossa obrigação.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Até porque o Brasil não vive numa ditadura; aqui há eleição.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O Brasil não quer ditadura e estamos em campanha. Estranho é o Superintendente da Polícia Federal estar participando de campanha. Isso é estranho. E peço que, independentemente do resultado das eleições, revejamos o seu papel, porque, quando ele faz uma declaração como essa, transforma-se num homem que, com uma grande dose de ironia, responde a dois políticos e faz campanha para o seu candidato, o Presidente, a quem serve neste momento. Isso também é sério. Portanto, Sr. Paulo Lacerda, se a questão da origem e da propriedade desse dinheiro não for resolvida até as eleições, não será por incompetência da Polícia Federal, mas por uma manobra propositada sua, a mando de não sei quem. O senhor, com certeza, está envolvido nisso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Tasso Jereissati, é muito oportuno e uma feliz coincidência que estejam nas galerias da Casa estudantes da PUC de Betim, Minas Gerais. Evidentemente, deve haver estudantes que seguirão as várias especialidades do Direito. Aqueles que quiserem ser criminalistas têm um prato cheio no atual Governo.

            Quero que vocês entendam que o Sr. Expedito é o responsável, no Banco do Brasil, pela área de risco. Ora, como tal e com a autoridade de diretor do Banco do Brasil, pode telefonar para qualquer entidade bancária brasileira e pedir informação sua, minha ou de quem quiser. Sob qual argumento? “Fulano de tal quer fazer uma operação no Banco do Brasil e quero saber como é a sua ficha.” Qualquer entidade colocará as informações, por dever profissional, ao seu alcance. O mesmo Sr. Expedito colhe as informações sigilosas do tal serviço de avaliação de risco da campanha do Partido dos Trabalhadores - nem com isso tiveram cuidado.

            O Sr. Lorenzetti - que, para mim, nunca passou de um chuveiro que dá choque quando mal-instalado - é o diretor do Banco do Estado de Santa Catarina. Sua especialidade anterior era ser farmacêutico e churrasqueiro do Presidente da República. Foi colocado numa função semelhante.

            O Banco do Brasil já teve episódios anteriores de diretores também afastados por bisbilhotar a vida alheia. No entanto, o mais grave é o cinismo das informações.

            Depois do 11 de setembro, não se tira, em nenhuma instituição bancária americana, nenhum valor acima de US$10 mil sem se preencher um formulário imenso. Nesse formulário, quando o dinheiro é seriado, com aquela cinta do Banco Central - portanto sem necessidade de conferência -, o banco coloca o número da primeira e da última nota e diz a quem foi entregue. A tecnologia moderna faz com que o sujeito seja fotografado.

            Pois bem, quando o dinheiro já foi movimentado, eles, por amostragem, tiram a numeração de dez ou de vinte, dependendo do valor a ser sacado, e colocam, embaixo, que entregaram ao portador Fulano de Tal a quantia tal, em cujo montante encontram-se as cédulas tais, tais e tais, para facilitar rastreamento.

            O Banco Central não sabe como esse dinheiro entrou no Brasil. Um joga para a Coafi, outro joga para a Polícia Federal. E o Banco Central não sabe para que a Diretoria Internacional e por que o Banco Central é o guardião da moeda no Brasil!

            Qualquer um dos senhores, se chegar aqui no caixa automático e for tirar dinheiro para comprar pipoca ou tomar sorvete, verá que há uma máquina fotográfica automática que registra a sua fisionomia, para evitar que se esteja sendo, naquele momento, coagido por seqüestro ou por outra maneira qualquer. Qual é o espírito? Fotografar quem retira e, eventualmente, quem está ao lado. E tem-se desvendado uma série de seqüestros e saques misteriosos pelo Brasil afora.

            Se formos a uma agência bancária, eles fotografam e filmam da hora da chegada à hora da saída. Quando se pede um valor alto, o caixa, ao se dirigir ao local onde está a quantia, aciona um dispositivo, e o circuito interno começa a acompanhá-lo exatamente para protegê-lo no caso de seqüestro. Nesse caso, ninguém sabe, ninguém viu.

            Ora! É uma brincadeira, Senador Marco Maciel. O que se está fazendo é uma brincadeira muito parecida com o episódio do dólar na cueca em São Paulo, um produto da venda de verduras na Ceasa. Um mês depois, aperta-se daqui, aperta-se dali, e sabe-se a realidade dos fatos.

            Quem se esqueceu do episódio do dinheiro de Cuba? Não foi uísque. “Pegamos as garrafas de uísque, saímos de Brasília e levamos para São Paulo. Chegamos em São Paulo, e não tinha combustível no aeroporto de Campinas.” Imaginem! O aeroporto internacional de Campinas não ter combustível para avião. “E fomos para Amarais” - um aeroporto de ultraleve e de aviões de pequeno porte.

            Ora, era muito mais barato comprar as três caixas de uísque em Campinas e poupar a gasolina, o tempo e os custos do avião.

            Eram dólares! São essas coisas que o Brasil todo quer saber. Infelizmente, estamos às vésperas de uma eleição. Mas estamos com esses assuntos atrasados, porque o Governo não se interessa, não quer ou não deve apurá-lo.

            Portanto, Sr. Presidente, desejo muita felicidade ao Presidente Lula hoje no debate, mas que ele leve fatos concretos sobre a sua administração, sobre os seus amigos, sobre quem o cerca e tenha muito cuidado com quem o acompanha, inclusive hoje no debate, porque o público de hoje pode ser um grande fiel de amanhã.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2006 - Página 29641