Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Observação sobre a facilidade que tem o PT de se metamorfosear. Comentários sobre o resultado das eleições de ontem e desejo de que o período que antecede o segundo turno seja pleno de debates, para o fortalecimento da democracia brasileira. Cumprimentos pelo comportamento elegante do Senador Aloízio Mercadante.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Observação sobre a facilidade que tem o PT de se metamorfosear. Comentários sobre o resultado das eleições de ontem e desejo de que o período que antecede o segundo turno seja pleno de debates, para o fortalecimento da democracia brasileira. Cumprimentos pelo comportamento elegante do Senador Aloízio Mercadante.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2006 - Página 30005
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, COMPORTAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REGISTRO, CONTRADIÇÃO, DOUTRINA, IDEOLOGIA, ATUAÇÃO, ATENDIMENTO, EXIGENCIA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), BANQUEIRO, BRASIL, JUSTIFICAÇÃO, APOIO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ELOGIO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DETERMINAÇÃO, COMBATE, ADVERSARIO, JUSTIFICAÇÃO, RESULTADO, ELEIÇÕES, REALIZAÇÃO, SEGUNDO TURNO, CULPA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • DENUNCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, LIGAÇÃO, OPOSIÇÃO, INFLUENCIA, RESULTADO, INVESTIGAÇÃO, PREJUIZO, GOVERNO FEDERAL.
  • ACUSAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, ABSOLVIÇÃO, REU, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPRENSA, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL.
  • REGISTRO, AUSENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, CANDIDATO, TELEVISÃO, NEGAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO, DESRESPEITO, ELEITOR, IMPRENSA, INFLUENCIA, RESULTADO, ELEIÇÕES.
  • EXPECTATIVA, APRESENTAÇÃO, DEBATE, ESCLARECIMENTOS, PROPOSTA, PERIODO, SEGUNDO TURNO, OBJETIVO, GARANTIA, RESPEITO, DEMOCRACIA, CONGRATULAÇÕES, PARTICIPAÇÃO, CANDIDATO, VITORIA, ESTADOS, ELEIÇÕES.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar o assunto, que diz respeito ao resultado da eleição de ontem em todo o Brasil, quero aqui fazer uma pequena observação sobre a facilidade que tem o Partido dos Trabalhadores de se metamorfosear.

            O Partido dos Trabalhadores combatia no passado a corrupção. Envolveu-se no mais profundo cenário policialesco de que já se teve notícia na história política deste País. O Partido dos Trabalhadores dizia, quando era Oposição, que os partidos no poder se sustentavam com o voto de cabresto, com o voto dos grotões.

            Agora, o Partido dos Trabalhadores se vangloria do fato de ser vitorioso onde houver grotão; onde há liberdade, ele é derrotado. É realmente uma capacidade fantástica de metamorfosear-se.

            Vejamos: o Partido dos Trabalhadores combatia o Fundo Monetário Internacional, acusando os governos de então de serem os grandes responsáveis pelo estado social em que o Brasil se encontrava, uma vez que tudo que se arrecadava destinava-se ao pagamento de dívidas. Hoje, o Partido dos Trabalhadores priorizou exatamente as dívidas com o FMI, antecipando pagamentos para atender o então inimigo número um, que era o Fundo Monetário Internacional.

            O Partido dos Trabalhadores se queixava de que o grande mal era exatamente a ida de toda a riqueza da Pátria para os banqueiros. Eram os juros altos os responsáveis por todos os males. Nadou três anos e oito meses com os banqueiros, permitindo que, nesta quadra da vida pública brasileira, essa categoria auferisse os maiores lucros de toda a história do Brasil.

            Nunca banqueiro ganhou tanto nesta Pátria como nos últimos três anos. Daí por que se justificar a tendência da grande maioria dos banqueiros em apoiar o atual Governo e ajudá-lo inclusive nas campanhas.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria, aqui e agora, de parabenizar um brasileiro com quem tive a oportunidade de conviver na Assembléia Nacional Constituinte e com quem, depois tomarmos rumos diferentes, voltei a conviver agora neste período de eleição e de campanha. Refiro-me ao brasileiro Geraldo Alckmin, que, determinado, humilde, percorreu este País enfrentando dificuldades, enfrentando a arrogância e a prepotência do Governo comandado pelo Partido dos Trabalhadores, mas que acredita, acima de tudo, na lucidez e determinação do povo brasileiro.

            Geraldo Alckmin sai deste embate político extremamente fortalecido, graças à capacidade de costurar alianças e, acima de tudo, de harmonizar convivência de contrários, fazendo com que sua ida para o segundo turno das eleições se transformasse num fato de repercussão não só interna, mas também externa.

            É evidente, Senador Saturnino, que essa vitória alcançada ontem nas urnas não deve somente aos méritos e à luta da Oposição; mas se deve principalmente aos erros cometidos pelo Governo ao longo do tempo.

            Aliás, o Governo subestimou o destino, a sorte e chutou, como se diz na gíria carioca, o azar. Eles foram avisados há um ano e meio que dinheiro escuso transitando de maneira pouco clara para dar suporte a campanhas políticas, por meio de caixa dois, não era o melhor caminho; que a confecção de dossiês era reprovável. Mas insistiu no tema.

            Lamentavelmente os Líderes do Governo não estão aqui. Eu tenho muita vontade de saber, hoje, o humor deles com relação ao que acham da Polícia Federal porque, quando essa apura o que é do seu interesse, o Governo a exalta como republicana; quando apura algo que o contraria e atinge os seus objetivos, ela passa a ter ligações com a Oposição. Aliás, o PT, quando Oposição, vangloriava-se muito do Ministério Público, em que vários procuradores se notabilizaram por cumprir o seu papel. Mas, a partir do momento em que, de maneira leviana e indevida, a Oposição fazia exaltação dos seus papéis e dava ao conteúdo do discurso uma certa intimidade com o magistrado, passava a impressão para a opinião pública de que havia uma ligação até de natureza ideológica. Acusou os que atuavam nessa área da Justiça brasileira por não atenderem aos seus interesses, e chamou um ex-Procurador da República de “engavetador-mor”.

            Ora, o mesmo PT que fez acusações dessa natureza queria agora, e tentou por todos os meios, que se engavetassem fatos que a Nação Brasileira queria ver esclarecidos. Não se admitia, por exemplo, que o dinheiro apreendido na madrugada friorenta de São Paulo na mão de assessores de campanha do Sr. Lula fossem fotografados e mostrados ao povo.

            Comemorou, em episódios passados, fatos que foram publicados da mesma maneira; daí por que é inaceitável e inadmissível, Sr. Presidente, que o Governo não tenha tido a humildade de tomar decisões quando esses fatos se deram já nos seus nascedouros.

            Senador Geraldo Mesquita, se o Partido dos Trabalhadores, em vez de evitar a CPI do caso Waldomiro, tivesse feito a apuração original, a apuração inicial dos fatos e tivesse punido os culpados na origem, teria inibido outros militantes de percorrer aquele caminho.

            Mas não. Passou a dar proteção, guarida a todos os que, no correr desses três anos e meio, foram se envolvendo em questões pouco claras.

                   Os que foram condenados em CPIs e tiveram os seus mandatos cassados ou os que renunciaram foram absolvidos e reintegrados ao palanque do candidato a Presidente da República. O Presidente chegou ao ponto de, em praça pública, beijar a mão de alguns correligionários novos que criticou durante a vida pública inteira, mas que passaram a ter grandes virtudes pelo simples fato de apoiá-lo. Aquela censura ética que o PT tanto prezava, aquela dureza na admissão de pessoas em seus quadros, aquelas restrições que fazia para pelo menos conviver, não só sob o teto do Congresso Nacional, mas também nas praças públicas, foram por água abaixo. E aí tudo passou a valer, desde que servisse para que o Partido atingisse um objetivo, qual seja, o de se perpetuar no poder. Subestimou o senso crítico do povo brasileiro, observador silencioso, mas atento a tudo o que aconteceu no período em que o Partido está no poder. Mas esses fatos foram se agravando nos últimos meses.

            É lamentável que tudo isso tenha acontecido envolvendo exatamente um trabalhador que, ao assumir a Presidência da República, empolgou o mundo pelas circunstâncias de sua ascensão ao poder e termina o seu mandato com a indiferença mundial, não só por não ter cumprido as metas prometidas, mas também, e principalmente, pelos fatos diariamente noticiados pela imprensa internacional e por ter se deixado carregar numa enxurrada de corrupção nunca vista, pelo menos nos últimos 50 anos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o resultado de ontem, em todo o Brasil, mostra que a Oposição teve grandes vitórias e amargou grandes derrotas. Esse retrato natural, que só a democracia possibilita, exige o reconhecimento e a humildade dos que perderam, mas exige, acima de tudo, a humildade dos que ganharam. A transitoriedade da vitória não permite - nem é boa conselheira - o orgulho e a soberba.

            Talvez, Senador Roberto Saturnino, os votos dados à legenda do Partido de V. Exª sejam um aviso dos eleitores do Rio de Janeiro ao Partido dos Trabalhadores de que nem tudo está perdido, mas de que, se não mudarem o caminho, não terão mais votos.

            V. Exª me chamou a atenção para um fato que eu não tinha percebido ainda: a clareza com que o povo do seu Estado vota. É esse sinal pedagógico que nos alenta a continuar na vida pública. Penso até, Senador Geraldo Mesquita Júnior, que devemos fazer o levantamento para ver o que aconteceu no Brasil inteiro. Em vez da arrogância e da prepotência com que alguns membros do partido do Presidente Lula têm procurado justificar o resultado de ontem, eles deveriam vestir as sandálias da humildade, tão citadas aqui pela Senadora Heloísa Helena, e procurar ver, de maneira muito clara, o que aconteceu e o que as urnas brasileiras apontaram.

            A ausência, Senador Roberto Saturnino, do Presidente Lula no debate da TV Globo foi justificável, não pelo fato em si, mas pelas circunstâncias. O Presidente tinha todo o direito de não ir àquele debate - o argumento maior era o de que já tinha faltado ao debate em outras emissoras -, mas não podia dizer que faltou ao debate porque ia a um comício na sua cidade de origem política, no ABC, e que isso era mais importante.

            Ora, por maior que fosse a quantidade de pessoas naquela praça, ele estaria falando apenas para São Paulo, enquanto no debate ele estaria falando para o Brasil. Isso foi um desrespeito inclusive com os seus eleitores e admiradores nos grotões que V. Exª tanto exaltou, que queriam que, naquela oportunidade, o Presidente da República lhes desse exatamente aquela palavra de confiança e a certeza de que ele não tinha nenhum envolvimento com a operação do dossiê de Mato Grosso.

            O Presidente de República, ao faltar ao debate, após mandar seu batalhão precursor fazer varrições de segurança nas dependências da Rede Globo e enviar o nome dos convidados que o acompanhariam, frustrou a Nação. Ao agredir o programa, colocando em dúvida a condução de seu mediador, cometeu um ato de desrespeito para com a imprensa brasileira.

            Senador Roberto Saturnino, nunca vi neste País alguém tão protegido e tão admirado pela imprensa brasileira ao longo dos anos. Mas, aos poucos, de desfeita em desfeita, de agressão em agressão, de desrespeito em desrespeito, foi perdendo essa grande riqueza, esse grande tesouro que era a admiração e a idolatria da nossa imprensa pela sua história, pela sua luta, pela sua glória. O desrespeito cometido contra a imprensa, a meu ver, foi fatal para Sua Excelência. Talvez fosse menos constrangedor Lula ter de enfrentar Cristovam Buarque ou Heloísa Helena, companheiros de luta de quem ele se afastou sem lhes dar esclarecimentos e sem apresentar justificativas à Nação sobre o fato. Talvez isso fosse melhor do que a ausência naquelas circunstâncias. A partir de então, o que se viu foi o brasileiro começar a definir o seu voto.

            Senador Geraldo Mesquita Júnior, podemos observar que o que mais modificou o resultado de ontem foi a movimentação do eleitor indeciso, que espera até o último momento fatos que o levem às urnas com a convicção de que escolherá o melhor para o País.

            Gostaria de finalizar, Senador Roberto Saturnino, dizendo que concordo em gênero, número e grau com o que V. Exª disse há poucos minutos desta tribuna. Esperamos que este período até o segundo turno, tendo em vista os debates que serão travados nas televisões brasileiras, sirva para todos nós como esclarecimento, que cada candidato mostre as suas propostas e preste contas à Nação do que fez, do que deixou de fazer ou do que fará pelo Brasil.

            Acho que o segundo turno, em que não há mais nenhuma justificativa para ausência em eventos como esse, será engrandecedor para a democracia brasileira.

            Dou os parabéns aos que ontem foram vitoriosos em seus Estados. Também dou os parabéns aos que lutaram e não conseguiram êxito nas urnas, mas que deram uma colaboração efetiva para o fortalecimento da democracia brasileira.

            No Estado do Piauí, reconheço a vitória do Governador Wellington Dias, reeleito, e do Senador João Vicente Claudino, desejando que ambos cumpram, com afinco e, acima de tudo, em defesa do Piauí, os mandatos conquistados ontem nas urnas. Sr. Governador, fique certo de que continuaremos em trincheiras opostas, mas, todas as vezes em que o interesse e o bem comum do Estado do Piauí estiverem em jogo, estaremos juntos.

            Deixo aqui um abraço muito especial ao Senador Aloizio Mercadante, derrotado ontem por um dos maiores brasileiros desta geração, José Serra. O Senador soube comportar-se de maneira elegante, principalmente no momento em que se viu envolvido por assessores no episódio triste do dossiê.

            Tenho divergências pontuais com o Senador Aloizio Mercadante, mas, nem de longe, passa-me o sentimento de que S. Exª tenha ligações diretas com esse episódio. O pecado é o pecado da companhia, o pecado de quem o cerca, e talvez, por isso, tenha pago esse preço. De qualquer maneira, temos a certeza de que, nos próximos quatro anos, o Senado da República, contando com seu concurso, terá a oportunidade de presenciar grandes debates.

            O meu último abraço é para o Senador eleito por Santa Catarina, Raimundo Colombo. Com sua eleição, vamos ter a garantia de que uma ameaça feita certa vez, na tribuna desta Casa, não se consumará, e o Senado da República permanecerá tendo em seus quadros representantes que melhorarão seu nível, que colaborarão para o aperfeiçoamento da democracia, e não para a sua degradação.

            Muito obrigado.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2006 - Página 30005