Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre o processo eleitoral e seus resultados definitivos ou parciais. Cumprimentos à vitória do Professor Arnobio Marques e do Senador Tião Viana, que conseguiram a maioria dos votos do povo acreano.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexões sobre o processo eleitoral e seus resultados definitivos ou parciais. Cumprimentos à vitória do Professor Arnobio Marques e do Senador Tião Viana, que conseguiram a maioria dos votos do povo acreano.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2006 - Página 30007
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, RESULTADO, ELEIÇÕES, CONGRATULAÇÕES, CANDIDATO, PARTICIPAÇÃO, PROCESSO ELEITORAL, MANUTENÇÃO, DEMOCRACIA, ESPECIFICAÇÃO, VITORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESTADO DO ACRE (AC).
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PROCESSO ELEITORAL, DEFESA, COLIGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS).
  • DIVERGENCIA, ANALISE, ROBERTO SATURNINO, SENADOR, PROCESSO ELEITORAL, DEMONSTRAÇÃO, DIVISÃO, REGIÃO, BRASIL, ESCLARECIMENTOS, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FEDERALIZAÇÃO, FORMA, AQUISIÇÃO, VOTO, CONCESSÃO, BOLSA FAMILIA.
  • QUESTIONAMENTO, INJUSTIÇA, CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, PROCESSO ELEITORAL, POSTERIORIDADE, AFASTAMENTO, SOCIEDADE, EXERCICIO, POLITICA.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, caro amigo Senador Roberto Saturnino, Sr. Senador Heráclito Fortes, logicamente que o tema a ser abordado no dia de hoje não poderia ser outro a não ser o processo eleitoral, seus resultados definitivos ou parciais.

            Senador Saturnino, tempos atrás, em momentos como este, o açodamento levava-me a tecer considerações e oferecer conclusões que, por vezes, se mostravam lá na frente precipitadas e um pouco apressadas. Acho que o avançar da idade vai-nos mostrando que, apesar de aparentemente os fatos guardarem definitividade, por vezes não é exatamente isso que ocorre. Portanto, farei, sim, alguns comentários acerca do processo, mas me reservo para, numa maior reflexão, o direito de conversar e ouvir pessoas como V. Exª, tão ponderado, tão vivido e de larga vida pública.

            Mas há fatos ligados ao processo eleitoral que, não restam dúvidas, guardam uma carga de definitividade muito grande. Refiro-me aos resultados parciais.

            Aqui resgato o final da fala do Senador Heráclito, quando ele parabeniza todos que participaram do processo eleitoral. De fato, Senador Saturnino, creio que o resultado eleitoral pode ser adverso para a grande maioria, mas creio que todos saem vitoriosos nesse processo brasileiro, porquanto com as suas participações, mesmo com resultados negativos, contribuem enormemente para o aperfeiçoamento do processo democrático, da fixação daquilo que ansiamos. Que o Brasil se habitue, se acostume com a prática democrática, com a alternância de poder, sem sobressaltos, sem ameaças, sem insinuações de golpismo, seja lá com o que for.

            Portanto, quero aqui parabenizar todos aqueles, mulheres e homens, jovens e de maior idade, que se aventuraram no processo democrático de uma eleição e contribuíram, mais uma vez, enormemente para - como me referi há pouco - o aperfeiçoamento do processo democrático.

            Quero aqui, com a maior humildade e sinceridade, parabenizar, no meu Estado particularmente, a vitória do candidato do seu Partido, do PT, Professor Arnóbio Marques, que venceu as eleições por força da maioria dos votos dos acreanos, assim como o próprio Senador Tião Viana, que renovou o seu mandato, também com os votos da maioria do povo acreano.

            Mas, como dizia antes, quero me referir, com uma satisfação muito grande, ao prazer de ter participado desse processo eleitoral. O meu Partido fez uma coligação no Estado com o PPS. Tivemos um candidato, o ex-Deputado Federal Márcio Bittar, que concorreu ao governo do Estado. Guerreiro, cumpriu o seu papel com estoicismo, com brilhantismo, com garra; não colheu o resultado favorável.

            Temos de ter, Senador Saturnino, muito respeito e gratidão àqueles que nos vêem na perspectiva da pessoa pública que pode cumprir determinado papel em determinado momento histórico do nosso Estado ou do nosso País. Eu sempre tive lado, sempre escolhi lado. Eventualmente, posso sofrer conseqüências disso, mas nunca me omiti, nunca deixei de escolher meu lado no embate político, no meu Estado e no meu País.

            Revelo aqui, mais uma vez, a minha satisfação, o meu prazer enorme de ter participado desse pleito. Portei-me com seriedade, com sinceridade, sem agredir ninguém, mas defendendo, com emoção até, a nossa coligação, o nosso candidato - repito - o ex-Deputado Federal Márcio Bittar. Empenhei-me na candidatura do companheiro Airton Rocha, que concorreu ao Senado e teve uma votação belíssima.

            Candidatos da nossa coligação que concorreram a cargos proporcionais, parabéns a todos, portanto. Creio que não podemos nos furtar a esse reconhecimento, a esse papel.

            Senador Saturnino, fico feliz em que V. Exª tenha permanecido no plenário. Ouvi atentamente o seu discurso, a sua análise acerca do que o processo eleitoral mostrou: uma divisão regional. E V. Exª não refutou uma expressão que o Senador Heráclito usou, quando o aparteou, de que o voto traçou a geografia da fome no nosso País.

            Acredito que há uma carga de verdade muito grande nessa análise. Como disse no princípio, sem a precipitação de querer ter isso como algo consolidado, vou ainda refletir muito sobre o que vem acontecendo e sobre o que aconteceu até o dia de ontem.

            Mas eu temo, Senador Saturnino... E aqui me permito respeitosamente divergir de V. Exª na análise que fez. Entendo que V. Exª está corretíssimo mostrando a imagem que nos foi oferecida pelo jornal O Globo do mapa onde o Presidente Lula teve a sua maior expressão eleitoral, onde o candidato Alckmin teve a sua maior expressão eleitoral - o senhor vê nisso a divisão do País. Considera inclusive o fato como algo perigoso, mas inserido no processo democrático. Tenho certeza absoluta de que vamos superar isso tudo.

            Eu, como dizia, Senador Roberto Saturnino, permito-me divergir parcialmente de V. Exª. Na verdade, o processo eleitoral brasileiro sempre teve uma participação muito grande daquilo que no País conhecemos ao longo dos tempos como a prática do coronelismo, que sempre se aproveitou da fome, da submissão, da subserviência, da dominação. O coronelismo sempre reinou em cima exatamente de problemas como esses, do investimento público rarefeito em determinadas regiões, da falta de atenção do poder público com determinadas regiões do ponto de vista de fazer algo que resulte na transformação da vida das pessoas, no incremento do processo de desenvolvimento nacional.

            O coronelismo sempre viveu disso. Temo que estejamos vivendo, Senador Roberto Saturnino, nesse processo a federalização do coronelismo. Creio que o que ocorreu foi isso. Confesso a V. Exª que fico absolutamente pesaroso, triste, quando vejo o Governo Federal enaltecendo e soltando foguetes diante da constatação de que aumentamos substancialmente o volume da oferta de bolsas-família, por exemplo.

            Digo a V. Exª que esse é um processo que nenhum candidato que venha a ser eleito e presida o Brasil nesses próximos quatro anos - e talvez até num período mais elástico - poderá se libertar dessa amarra com facilidade. Milhões e milhões de pessoas ainda se encontram abaixo da linha de pobreza, passando extrema dificuldade e necessidade, merecendo a parceria e a solidariedade - e delas carecendo - do poder público até onde ele possa adentrar a resolução e a solução de um problema dessa ordem.

            Creio que teremos motivo de festejar e de nos orgulhar quando pudermos anunciar que um número cada vez maior passou a não necessitar do Bolsa-Família, um número cada vez maior de famílias encontrou no mercado, na economia brasileira, a sua oportunidade de trabalhar, de ter uma atividade, de auferir renda e poder se sustentar e sustentar sua família.

            No Nordeste, por exemplo, Senador Roberto Saturnino, não consta, salvo engano, investimento público, nesses últimos 3 ou 4 anos, que possa nos levar a afirmar que tais investimentos resultarão na indução do processo de desenvolvimento econômico. O Governo do Presidente Lula, na minha modesta opinião, equivocadamente assentou e tem como grande referência do seu Governo o Bolsa-Família, que assumiu o caráter cada vez mais assistencialista, meramente assistencialista. Isso me leva àquela afirmação que fiz há pouco de que, na verdade, o que se verifica hoje no nosso País é que o coronelismo se federalizou. É exatamente isso, porque esse é o programa que vive da fome, da necessidade das pessoas, da fragilidade de milhões e milhões de pessoas e de famílias que reclamam e clamam e anseiam por investimento público, pela intervenção do poder público como parceiro na criação de condições melhores, satisfatórias, que possam fazer a economia crescer, florescer e acolher cada vez mais um número maior de pessoas no seu seio.

            Milhões e milhões de pais e de mães de família que hoje recebem o chamado Bolsa-Família, se tivessem na sua frente duas opções, o Bolsa-Família e um trabalho para se manter e sustentar sua família, eu não tenho dúvidas da escolha que seria feita. Não tenho dúvidas!

            Portanto, Senador Saturnino, como eu disse, com todo o respeito, divirjo parcialmente de V. Exª. Acho que esse mapa que surgiu do processo eleitoral no nosso País reflete algo muito mais preocupante. É o neocoronelismo que se está verificando e aperfeiçoando-se em nosso País, desta feita não mais pela prática dos pequenos coronéis dos grotões brasileiros, mas agora de uma instituição como o Governo Federal.

            É lastimável. Tenho sérias preocupações a esse respeito. A minha constatação é a de que o Nordeste, em peso, vota no Presidente Lula, sendo o alvo prioritário e principal do programa meramente assistencialista, que talvez seja a única plataforma do Governo Lula lastimavelmente.

            Sempre tive tanta esperança no Presidente Lula! Votei quatro, cinco vezes nele, talvez como V. Exª e milhões de brasileiros. Ao assumir o Governo, não esperava que ele fizesse, coordenasse ou promovesse uma revolução em nosso País, mas que a sua participação significasse a possibilidade de voltarmos a atenção para aqueles que praticamente nada tem, que voltasse a sua atenção para a descontração da riqueza, não somente fazendo uma transferência de renda que não gera as condições para que as pessoas cresçam, desenvolvam-se e possam participar ativamente da economia do nosso País; pelo contrário, criam uma dependência, criam um vício cada vez mais difícil de ser estancado, cada vez mais difícil de ser retirado do cenário brasileiro.

            Portanto, ofereço modestamente essas reflexões à Casa e ao povo brasileiro, na perspectiva do segundo turno do processo eleitoral.

            Senador Saturnino, V. Exª citou a eleição em Roraima como algo que destoou desse quadro que foi adredemente desenhado pelo processo eleitoral. O meu Estado também não fugiu à regra; lá o povo acreano elegeu regionalmente o professor Arnóbio Marques, reelegeu o Senador Tião Viana, mas, com a outra mão, concedeu ao candidato Alckmin a grande maioria dos votos depositados nas urnas. Esse fato me levará a refletir, a pensar muito no que está acontecendo, não só no Acre como em todo o nosso País.

            Eu vou me preparar, como V. Exª cobrou desta tribuna e como todos farão, aliás, para que possamos travar um debate elevado, um debate que faça com que o povo brasileiro participe da reflexão, da formulação e da execução das políticas públicas.

            O povo brasileiro, via de regra, é chamado a participar do processo eleitoral e, em seguida, é afastado completamente da parceria, da execução das políticas, que normalmente acabam sendo depositadas na mão de poucas pessoas, as quais, em suma, decidem a vida de milhões de brasileiros.

            Quero aqui, mais uma vez, saudar o processo democrático, parabenizar a todos os que participaram como candidatos desse processo difícil, a grande maioria sem condições de participar de um processo eleitoral, mas, mesmo assim, com estoicismo, com coragem, dando a sua participação, a colaboração indispensável ao aprimoramento da democracia brasileira. Parabenizo, sobretudo, aqueles que tiveram a oportunidade de colher regionalmente do povo brasileiro mandatos executivos e legislativos.

            Quero aqui saudar a todos, parabenizar a todos e torcer para que, nesses próximos vinte e tantos dias, possamos ter um processo eleitoral em segundo turno do qual o povo brasileiro poderá se orgulhar de ter participado. E todos poderemos voltar às nossas atividades normais com a consciência tranqüila de que demos a nossa efetiva contribuição.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2006 - Página 30007