Discurso durante a 161ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Agradecimentos à expressiva votação recebida do povo da Paraíba. Críticas à falta de preservação da impessoalidade contra sua candidatura como Senador pelo Estado da Paraíba, bem como ao massacre que sofreu por parte da imprensa.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Agradecimentos à expressiva votação recebida do povo da Paraíba. Críticas à falta de preservação da impessoalidade contra sua candidatura como Senador pelo Estado da Paraíba, bem como ao massacre que sofreu por parte da imprensa.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2006 - Página 30113
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, ELEITOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), VOTO, ELEIÇÕES, ORADOR, CANDIDATO, SENADOR, FRUSTRAÇÃO, VITORIA, ADVERSARIO, REGISTRO, DADOS.
  • DEFESA, AUSENCIA, PROVA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, FRAUDE, LICITAÇÃO, AMBULANCIA, COMENTARIO, CONTINUAÇÃO, TRABALHO, MELHORIA, SITUAÇÃO, ESTADO DA PARAIBA (PB).
  • CRITICA, IMPRENSA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PUBLICAÇÃO, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, ACUSAÇÃO, ORADOR, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, ENTREGA, FALSIDADE, INFORMAÇÕES, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, PROVOCAÇÃO, REDUÇÃO, PREFERENCIA, ELEITOR, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, ELEIÇÕES, ACUSADO, PERDA, REELEIÇÃO, SENADO.
  • REPUDIO, VITORIA, ADVERSARIO, PARTICIPAÇÃO, DESVIO, RECURSOS FINANCEIROS, PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de iniciar meu pronunciamento na tarde de hoje agradecendo ao povo da Paraíba a expressiva votação: quase um milhão de votos. Da outra vez, fui eleito por quinhentos mil votos, e, desta vez, foram 725.502 votos, ou seja, 44% dos votos válidos contra 48% dos que foram dados a meu adversário, uma diferença mínima.

Durante o tumultuado período que antecedeu as eleições - no meu caso pessoal, foi especificamente tumultuado e doloroso pelas enormes injustiças e traições que se interpuseram na minha candidatura -, tive a oportunidade de reafirmar, desta tribuna, inúmeras vezes, minha confiança no eleitorado paraibano. Dizia eu: “Conheço a Paraíba, e a Paraíba me conhece. O povo do meu Estado sabe da minha honestidade e da minha capacidade de trabalho. Conhece minha lealdade, como conheço a dele”. E, de modo geral, esse reconhecimento e essa lealdade se manifestaram na expressiva votação que recebi.

E é justamente a esses eleitores que continuaram me honrando com sua confiança que dirijo, nesta tarde, minhas palavras de gratidão, meu muito obrigado e meu eterno reconhecimento!

Nos últimos doze anos, Sr. Presidente, dediquei todas as horas e todos os dias, meses e anos da minha vida ao trabalho incansável em prol da Paraíba - isso me rendeu lá o apelido de trator - e dos paraibanos em geral. Trabalhei incansavelmente, muitas vezes com enormes sacrifícios pessoais. Não me arrependo um só instante dessa doação incondicional e irrestrita: mais tempo tivesse, mais vida tivesse, mais chance tivesse, e faria tudo de novo, de novo e de novo. Talvez, apenas fizesse diferente e substituísse algumas parcerias, sendo mais cuidadoso no estabelecimento das minhas relações de confiança. Todavia, em nada diminuiria minha disponibilidade em servir, prazerosamente, o povo do meu Estado.

Lamentavelmente, os mais de 700 mil votos recebidos não foram suficientes para garantir minha recondução ao terceiro mandato. E, nesta Casa, a maioria dos Senadores foi eleita com menos de 700 mil votos. São muitos votos! E isso não se deveu senão à conjunção de uma série de fatores exógenos à campanha, dentre os quais gostaria de ressaltar a pesada artilharia de alguns setores da imprensa - aqui, cito nominalmente a Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional, que decretou minha perda de mandato às vésperas do dia da eleição.

Ressalto também o triste papel desempenhado por alguns membros da CPMI que, deslumbrados com o poder conferido pela Constituição às Comissões Parlamentares de Inquérito - poder esse que defendo e defenderei sempre -, prestaram-se, em algumas ocasiões, a funcionar como um verdadeiro Tribunal do Santo Ofício.

Alguns Parlamentares, como o Relator, Senador Amir Lando - que obteve 40 mil votos -, e o Presidente, Deputado Antonio Carlos Biscaia - que, aliás, não se reelegeu -, converteram-se em Savonarolas modernos, sempre dispostos a passar aos jornais e às tevês informações parciais, inverídicas e descontextualizadas, com vistas a alimentar o sensacionalismo que condena e sentencia antes mesmo do julgamento.

Exemplifico o raciocínio: no dia marcado para a leitura do parecer do Relator no Conselho de Ética do Senado, quando a falta de quorum impediu a apreciação do referido parecer, o que, para mim, era prejudicial, já que eu tinha todo o interesse em ir para a campanha com a situação esclarecida, o que aconteceu? A Rede Globo de Televisão, ao informar, em horário nobre, para 95% dos lares brasileiros (aí incluídos os lares paraibanos) que a votação não pôde ser realizada, escamoteou o fato de que o parecer não foi sequer lido e de que nem foi dada publicidade do seu conteúdo, a pedido do Relator, e destacou como manchete, alto e bom som, que o parecer de Jefferson Péres pediria minha cassação.

Esse Jornal Nacional, gravado no meu Estado, passou, na última sexta-feira, umas vinte vezes, o que fez com que eu, que estava seis pontos à frente, despencasse para quatro pontos atrás no resultado da eleição.

Agradeço muito a eles pelo trabalho que fizeram. Quanto a mim, havia uma dúvida em relação a R$200 mil, em dois anos, que um assessor meu teria pegado - e eu teria ficado com uma parte. E eles conseguiram eleger um Senador que levou, comprovadamente, R$100 milhões da Prefeitura de João Pessoa - isso em um terço dos processos; ainda faltam dois terços. Então, eles realmente foram os eleitores desse cidadão, que vai dar muito que falar aqui, no Senado Federal, com toda certeza.

Com base em que eles veicularam tal notícia? Na hora seguinte, telefonei ao Relator e perguntei: “O senhor disse isso?” Ele respondeu: “Não, não disse”. Liguei, então, para o Sr. Ali Kamel, do Jornal Nacional, e perguntei: “O Relator disse que não falou isso. Como é que os senhores veicularam?”. E a resposta foi: “Vamos mandar ouvi-lo de novo”. Não o fizeram. Então, veicularam uma inverdade, que me prejudicou enormemente, e nós não deveríamos consentir que a lei permitisse uma coisa como essa.

Não entendi por que a imparcialidade não foi preservada. Não entendi por que, às vésperas da eleição, eles fizeram isso. Foi uma opção.

Essa, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi a pá de cal que pretenderam jogar sobre minha candidatura. Era uma candidatura que tinha tudo para ser vitoriosa, uma vez que lastreada num trabalho árduo e contínuo, amadurecido em doze anos de mandato nesta Casa e, ainda, numa gestão operosa e bem-sucedida no Ministério da Integração Nacional.

O poder da mídia não pode e não deve ser menosprezado nos países desenvolvidos e, mais ainda, em sociedades tão carentes e desiguais como a brasileira.

Não perdi apenas as eleições - eu as perdi, como eu disse, por poucos votos -; perdi, primeiro, a guerra de comunicação que se travou contra minha candidatura.

Falei aqui sobre a Agenda Sete. Disseram-me que eu teria enfrentado uma Agenda Sete e que eu era o peixe graúdo. Mas fui escolhido para ser massacrado pela imprensa nacional.

Nessa guerra suja, os meios de comunicação, convenientemente, esqueceram-se de que meu adversário não tinha, como não tem, condições morais, éticas, intelectuais e legais para representar o povo paraibano. Elegeram-no; agora, que o embalem!

Esqueceram, convenientemente, repito, tratar-se de alguém julgado e condenado a ressarcir os cofres públicos por desvio de recursos na Operação Confraria, recursos esses que, hoje, certamente, fazem falta nas escolas, nos hospitais e na mesa dos paraibanos.

Desde maio, por 139 dias, fui massacrado diariamente pelos principais jornais e televisões do País, e, é claro, esse massacre se refletiu nas urnas.

No calvário que experimentei desde então, não faltaram traições de antigos companheiros e também de lideranças jovens que ajudei a projetar no cenário político paraibano.

Entretanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mesmo ferido na minha honra e nos meus princípios, escolhi continuar na campanha, apoiado pela certeza da minha inocência e pela solidez dos vínculos que estabeleci com a Paraíba nesses muitos anos de lutas vitoriosas e de trabalho operoso e constante no Senado Federal.

Muitas vezes, estive quase sozinho, mas não vacilei, não esmoreci e, nesse quase um milhão de votos, reconheço uma campanha vitoriosa. Aliás, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é bom que fique registrado que não apenas eu a reconheço como vitoriosa. Numa triste ironia do destino, foi justamente a Rede Globo de Televisão que primeiro fez esse reconhecimento público, quando, em programa na Globo News, no debate entre cientistas políticos e jornalistas que acompanhavam as apurações, respondendo à ponderação da cientista Lúcia Hipólito, a jornalista Cristina Lobo enfatizou o aspecto vitorioso da minha campanha, comentando que, apesar das dificuldades decorrentes do suposto envolvimento do meu nome no episódio das sanguessugas, o povo da Paraíba escolheu consagrar 44% dos seus votos - expressivo percentual - ao meu nome. E fiquei muito grato por isso.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Ney Suassuna, permite-me V. Exª um ligeiro aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pois não, nobre Senador.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Ney Suassuna, tive a oportunidade de dizer, há pouco, que considero que V. Exª foi condenado antes de ser julgado. Desde que cheguei a esta Casa, pude testemunhar seu comportamento, sua postura alegre e atenciosa. Quantos e quantos convites para seus saraus, para jantares na sua casa! V. Exª sabe que jamais participei de nenhum deles, mas sua gentileza sempre se fez presente, no sentido de renovar o convite, mesmo o Geraldo nunca comparecendo. Não gostaria de perder esta oportunidade de dizer a V. Exª que tenho a impressão de que muitos ou alguns - não vou generalizar - dos que costumavam freqüentar seu apartamento, sua casa, seus saraus, talvez, hoje, por mera covardia, virem-lhe as costas e não mais aceitem o convite que V. Exª sempre fez com tanta gentileza. Quero dizer a V. Exª que não faz parte do meu caráter a covardia. Nesta oportunidade, quero, de forma mais intensa inclusive, renovar o apreço e a amizade pessoal que tenho por V. Exª, mais ainda neste momento. Quero fazer isso publicamente. Eu seria covarde se não o fizesse. Repito: mesmo não privando intensamente da relação pessoal, da camaradagem que V. Exª estendeu sempre a todos nós, seus Colegas, mesmo não praticando isso intensamente, não gostaria de perder esta oportunidade de, neste momento, reiterar, de forma intensa, que V. Exª conta, mais ainda agora, com minha amizade pessoal acima de qualquer coisa. Era o que gostaria de deixar registrado.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito obrigado, amigo! Agradeço-lhe muito.

Vou concluir, Sr. Presidente.

Por que vitoriosa a campanha? Porque, malgrado a desigualdade das ferramentas empregadas pelas partes - de um lado, todo o poder da mídia, a precipitação dos juízos de valor irresponsavelmente expendidos quase que diariamente para tentarem me fazer sangrar em praça pública; e, de outro, a visita aos eleitores, as carreatas, os comícios e a minha biografia de trabalho e de dedicação à causa da Paraíba -, obtive, quase sozinho, apoiado por uma pequena e leal Armada Brancaleone, essa magnífica votação.

A esses incansáveis, leais e obstinados companheiros, também manifesto minha gratidão.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não me sinto derrotado e não poderia, de maneira alguma, deixar de vir a esta tribuna para agradecer, comovido e emocionado, àqueles que não hesitaram em me confiar, mais uma vez, seu voto.

Continuarei trabalhando, até o último dia desta Legislatura, com o melhor das minhas forças, para retribuir essa confiança de expressiva parte do povo paraibano.

Estou certo de que os laços mútuos de lealdade e de admiração que se estabeleceram nessa longa convivência estarão definitivamente presentes em nossas vidas, não apenas em nossa memória política, mas, sobretudo, em nossas memórias afetivas.

Razões circunstanciais próprias do processo político não podem apagar os vínculos sólidos de confiança em mão dupla entre mim e a Paraíba, forjados numa existência inteira de dedicação à causa do meu povo, o povo paraibano.

Estou certo de que, nesses doze anos de Senado, inscrevi, indelevelmente, com coragem, com honestidade, com ética e com honradez, meu nome na história do glorioso Estado paraibano. E o fiz de maneira duradoura.

Encontro-me entre os paraibanos que se dedicaram e que continuam a dedicar-se à construção de uma Paraíba mais igual, mais justa, mais desenvolvida, mais humana, mais fraterna e mais feliz.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2006 - Página 30113