Discurso durante a 161ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as eleições de 2006 e a posição do PSOL. Agradecimentos ao povo brasileiro pela delicadeza e atenção com que S.Exa. foi cercada durante a campanha.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre as eleições de 2006 e a posição do PSOL. Agradecimentos ao povo brasileiro pela delicadeza e atenção com que S.Exa. foi cercada durante a campanha.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Antonio Carlos Valadares, Cristovam Buarque, Demóstenes Torres, Eduardo Suplicy, Efraim Morais, Flexa Ribeiro, Heráclito Fortes, José Jorge, Leonel Pavan, Marco Maciel, Romeu Tuma, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2006 - Página 30125
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • APOIO, AGILIZAÇÃO, VOTAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), REGULAMENTAÇÃO, ATIVIDADE, AGENTE DE SAUDE PUBLICA.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), ELEIÇÕES, CERTEZA, PREPARAÇÃO, ORADOR, EXERCICIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AGRADECIMENTO, RESPEITO, DECISÃO, ELEITOR, ESTADOS, JUSTIFICAÇÃO, ETICA, CAMPANHA ELEITORAL.
  • COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, ELEIÇÕES, PRETENSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), PERIODO, SEGUNDO TURNO, JUSTIFICAÇÃO, APOIO, CANDIDATO, IMPEDIMENTO, DIVISÃO, IDEOLOGIA, SUGESTÃO, IMPRENSA, PEDIDO, OPINIÃO, ELEITOR, ORADOR, AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • REGISTRO, OBRIGATORIEDADE, PRESTAÇÃO DE CONTAS, CAMPANHA ELEITORAL, HOMENAGEM, PRESENÇA, MULHER, GALERIA, SENADO.
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, CONTINUAÇÃO, APOIO, PRODUÇÃO AGRICOLA, ABASTECIMENTO, GENEROS ALIMENTICIOS, PROJETO, IRRIGAÇÃO, REGIÃO NORDESTE.
  • EXPECTATIVA, MELHORIA, SITUAÇÃO, BRASIL, AUMENTO, SOBERANIA, ETICA, IGUALDADE, TRANSFORMAÇÃO, SOCIALISMO, PAIS.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, primeiro, eu quero agradecer ao Senador Heráclito por ter disponibilizado a sua inscrição para que eu pudesse fazer uso da palavra. Quero também dizer ao Senador Tourinho, que mais uma vez cobrou a necessidade da agilidade da votação do projeto relacionado aos Agentes de Saúde, que pode contar com o meu empenho também, pois é uma causa absolutamente justa.

Mas é claro, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que vou falar sobre a campanha eleitoral.

Estão aqui a minha querida Deputada Luciana Genro e o meu querido Deputado Babá. Estivemos há pouco em uma reunião da Executiva do P-SOL para, de fato, reforçar, em função de algumas notinhas que saíram pela imprensa, o que já era nossa posição desde a apresentação de minha candidatura.

Senador Romeu Tuma, sabe V. Exª, como sabe a grande maioria dos Parlamentares da Casa, que, quando houve a decisão do P-SOL e a minha decisão de ser candidata à Presidência da República, eu me preparei para as duas possibilidades. Eu jamais seria candidata à Presidência da República se eu não me achasse preparada para assumir um cargo tão especial, tão precioso como o de Presidente da República. Igualmente, eu me senti absolutamente preparada para voltar à sala de aula se necessário fosse, e é o que vou fazer, embora vá continuar na militância política, na condução do P-SOL, na articulação com todos os movimentos sociais, como é minha obrigação fazer.

Eu quero dizer que respeito todas as decisões dos eleitores. Respeitar a gente tem de respeitar, eu só não posso ser demagoga e dizer que é sabedoria votar em mensaleiro, sanguessuga, trambiqueiro, ladrão de terno e gravata. Esse tipo de demagogia eu não faço. Eu respeito a decisão das urnas; é o povo brasileiro que decide. Nem sempre o povo tem o governo que merece - o povo brasileiro é tão bom que nem sempre merece seus governantes -, mas tem o que escolhe.

Quero agradecer de coração aos nossos eleitores. Eu respeito todos os eleitores de todos os candidatos à Presidência da República, os que votaram por convicção, por identidade, mas não os vendidos, não os que se venderam por cargos, prestígio ou poder. Eu não estou falando da pobreza, que conhece a dor de às vezes não ter o que pôr na mesa para alimentar o seu filho - esta é uma outra história. Estou falando de lideranças políticas que se vendem por cargos, prestígio e poder. Esses eu não respeito! Respeito, contudo, os eleitores de todos os candidatos que votaram porque queriam, porque acreditaram, porque tinham convicção. Esses eu respeito.

Quero fazer um agradecimento muito especial aos eleitores do P-SOL, do PSTU, do PCB, do PCR, da nossa frente de esquerda em todo o Brasil. Não foi uma coisa qualquer essa campanha. Senador Romeu Tuma, somente sendo uma sertaneja do interior das Alagoas para agüentar o que agüentei. Parece até que estou colando cada um dos meus pedacinhos agora. Aliás, era como se todos os dias eu estivesse toda quebrada, mas, no outro dia, tinha de colar cada um dos pedacinhos para renascer na luta, para sair pelos aeroportos do País ou pelas buraqueiras das estradas nos ônibus para fazer essa campanha eleitoral.

Por tudo isso, estou de cabeça erguida. Todos nós estamos de cabeça erguida. Não fizemos parte de nenhuma negociata, de nenhum balcão de negócios sujos, não traímos nossa classe de origem, não vendemos nossas convicções ideológicas, não vendemos a nossa alma e o nosso coração em troca das conveniências do poder.

O único detalhe que me causa uma certa frustração é não ter conseguido enfrentar o Lula em debate algum. Infelizmente, ele ficou sentadinho no seu troninho podre de corrupção, arrogância e covardia política. Não teve a coragem de ficar bem pertinho de mim para me enfrentar, embora tivesse a obrigação de ter ido ao debate. Isso faz parte do jogo político, e outras coisas virão à frente.

Quero agradecer de coração as flores, as orações, o carinho, os beijos e os abraços recebidos por onde andamos pelo Brasil. Tinha muita gente que me dizia: “Heloísa, você é nossa última esperança”, ou com Cesinha, ou com nossos Parlamentares, ou com nossos candidatos a Governador ou a Senador. No meu caso, a maioria das pessoas não me dizia somente isto: “Heloísa, você é nossa última esperança”; diziam assim: “Não desista. Tenha saúde. Tenha força. Se não der nesta, dará na próxima”.

Os nossos 6.575.393 votos vieram de pessoas que não foram atrás da falsa polarização plantada nos meios de comunicação e que não foram atrás do voto útil das pesquisas eleitorais. Foi por isso que eu disse que eles são mulheres e homens livres. A imprensa fala que eu liberei meus eleitores. Eu sou vaqueira para liberar gado? Os meus eleitores são livres! Mulheres e homens livres. Eles são tão livres, donos da sua alma, do seu coração e do seu voto que foram capazes de, apesar todos os obstáculos e turbulências, votar em mim. Então eu não tenho de liberar ninguém.

Senador Cristovam Buarque, saúdo a presença de V. Exª. Eu dizia o quanto respeito todos os eleitores que votaram em todos os candidatos, mas estou fazendo um agradecimento especial aos nossos eleitores. Várias vezes, eu disse que os nossos eleitores são mulheres e homens livres. Todos os candidatos também acham isso a respeito do seu eleitor. É óbvio. Então eu não tenho de liberar eleitor nenhum. Eleitor vota do jeito que quer.

Eu sei que os meus eleitores remaram contra a correnteza, nadaram contra a maré do voto útil, da falsa polarização PT e PSDB e votaram na nossa candidatura. Então agradeço de coração a confiança em nós depositada e tenho certeza de que eles serão capazes de fazer aquilo que identificam como a melhor escolha para o Brasil.

O P-SOL, nosso Partido, tem uma posição política que eu vou anunciar. O P-SOL não está lavando as mãos nem está em cima do muro. Na história da humanidade, quem lavou as mãos como Pilatos não o fez para ficar do lado do fraco, mas para servir aos grandes. Então, isso não tem nada a ver conosco. Não estamos lavando as mãos. Quando Pilatos lavou as mãos, condenou Jesus para servir ao poder, porque não queria perder o cargo. É por isso que eu já disse aqui várias vezes, nos debates bíblicos, que pior do que Judas foi Pilatos. Judas se arrependeu, devolveu o dinheiro e se suicidou. Pilatos lavou as mãos, condenou um inocente e ficou lá no cargo, no poder.

Então não significa que estejamos em cima do muro. Nós estamos no chão. Não estamos em cima do muro. Estamos no chão, no combate, no campo de batalha, fazendo o que temos a obrigação de fazer, ou seja, dizendo que as duas candidaturas representam o mesmo projeto neoliberal e nós não vamos rasgar 12 anos de militância política em dois dias. Que conversa é essa?

Passei oito anos aqui, como Senadora, batendo de manhã, de tarde e de noite contra o Governo FHC. Passei quatro anos denunciando as gangues partidárias do Governo Lula. Como é que, agora, em dois dias, podemos dizer que vamos votar em alguém? Não podemos fazê-lo. No caso do P-SOL, isso não é possível. Os nossos eleitores - reiteramos - são mulheres e homens livres.

É por isso que dizia hoje, na reunião da Executiva - e foi uma decisão tomada por absoluto consenso - e eu disse isso antes de ser candidata. Iniciei a minha fala dizendo...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Senador Efraim, se V. Exª pudesse liberar o meu tempo, com todo respeito aos outros inscritos, até porque não foi cronometrado o tempo dos outros que falaram anteriormente.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - V. Exª terá o tempo que desejar para fazer o seu pronunciamento.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Muito obrigada, Senador.

Dizia no início que fiquei preparada para todas as possibilidades - todas. Aliás, desde que se iniciou a campanha, devolvi logo o apartamento do Senado. Fiz minha mudança, empacotei meus livros, minhas coisas. Um dos meus filhos foi para Alagoas, o outro ficou comigo aqui, morando num quarto e sala. Então já estava absolutamente preparada ou para ir para o Palácio do Planalto, enfrentar os sabotadores do desenvolvimento econômico, uma canalha que parasita os cofres públicos como se fosse uma caixinha de objetos pessoais, ou voltar para a sala de aula de cabeça erguida, comer pó de giz, no jargão dos professores, mas de cabeça erguida, porque estive aqui no centro do poder político e não vendi a minha alma, as minhas convicções; não traí a minha classe de origem, não traí a esquerda socialista democrática. E era isso que me dava força de andar por todo o Brasil, fazendo essa campanha eleitoral.

No P-SOL é diferente, porque partido tem posição. Dizíamos, desde o início, que todos os Parlamentares, todo o Diretório, toda a Executiva, que ninguém viesse plantar notinha na imprensa dizendo que pode apoiar Lula.

Não adianta o Sr. Guido Mantega ligar para Plínio de Arruda Sampaio fazendo jogo sorrateiro por trás porque Plínio é um homem de partido - depois me liga e diz o que aconteceu. Não adianta botar notinha na imprensa dizendo que apóia isso, apóia aquilo. O filiado do P-SOL, se ele estiver lá dentro, votando... alguns filiados do P-SOL dizem: “Se eu estiver lá, em frente à urna, eu posso votar no Lula?” Outro diz: “Eu posso votar no Alckmin?” Como confronto da traição da ex-esquerda partidária? Então esse negócio não conta. Nós não vamos controlar o voto individual; mas, publicamente, ninguém vai poder dar declaração para o Alckmin, nem para o Lula.

A Deputada Luciana Genro foi eleita - votação belíssima - teve 185.071 votos; ela não pode dar declaração. Tive, no Rio Grande, 439.959 votos; não posso. Em São Paulo, nosso Deputado Ivan Valente - estou falando os Deputados eleitos - teve 83 mil votos, eu tive 1,558 milhão; nem ele pode, nem eu posso. No Rio de Janeiro, o nosso Deputado Chico Alencar teve 119 mil votos, eu tive 1,425 milhão votos; nem ele pode, nem eu posso dar. É por isso que tenho dito várias vezes que tenho acompanhado pela imprensa as declarações do Alckmin e do Lula. Com relação ao Lula, não tem óleo de peroba que seja suficiente, porque ele disse que minha declaração foi muito sóbria. Os cabras que viviam plantando notinha safada, vagabunda na imprensa para aniquilar a minha honra como mulher, como mãe de família?... Que conversa ridícula é essa? Respeitem-me! O Alckmin disse que sou uma mulher coerente e corajosa. Está tudo muito bem, aceito o elogio dos dois. Mas não precisa ninguém nos procurar porque estou aqui dizendo: não precisam nos procurar.

Não é uma questão de falta de educação. Não é isso. Não precisam nos procurar. O P-SOL já tem uma posição; o P-SOL tem uma posição política. Então não nos procurem nem oficialmente. Estou dizendo isso com toda a delicadeza ao candidato Alckmin, ao Presidente do Partido, Senador Tasso. Sou a Presidenta do P-SOL e reflito a decisão majoritária do P-SOL. Portanto não precisam nos procurar porque já temos uma posição política.

Os meus amigos do PT que são honestos, socialistas, que não são corruptos, esses não vão me procurar, esses eu sei que não vão me procurar. Tenho amigos lá queridos, sou madrinha de vários filhinhos maravilhosos e queridos de muitos dirigentes ou filiados do PT; esses não vão me procurar porque já sabem o que penso, já sabem o que penso. E nenhum representante da gangue partidária também não vai me procurar porque já sabe o que penso. Não vou quebrar o septo nasal de ninguém que venha me procurar, não vou dar bofetada em ninguém, de jeito nenhum, porque sou uma moça muito delicada. Só peço que, por favor, não nos procurem. Temos uma definição. Vão conversar com nossos eleitores.

Tive, e agradeço de coração, 6.575.393 votos livres! E não tínhamos nenhum adesivo para dar, nenhum adesivo. Havia um monte de gente que vinha atrás: “Me dá um adesivo, Heloísa”. Eu dizia: Ô, meu filho... Morria de vergonha, não tinha adesivo. Quantas vezes viajamos pelo Estado com o Chico dirigindo ou o Ivan, todo mundo, Luciana... Todo mundo. Um ficava na casa do outro, não tínhamos nada. Aliás nosso programa de televisão ficou parado por duas semanas porque não tínhamos dinheiro para pagar. Então, fizemos uma campanha limpa, simples, o exagero da humildade. Parecia até masoquismo da nossa parte fazer uma campanha como aquela. Mas estamos felizes, profundamente agradecidos ao povo brasileiro. Agradeço mais uma vez o carinho, a generosidade, as orações, as flores.

Agradeço, ainda, as centenas de blusinhas brancas que recebi. Todo mundo falava das minhas blusinhas brancas, mas todo mundo me dava blusinha branca. Sou uma boa costureira e vi muitas boas costureiras no Brasil, porque elas viam a foto da camisa e faziam outra igualzinha, porque sabiam que era o modelito que eu gostava. Então, tenho mais de trezentas blusinhas, todas branquinhas. Quero agradecer a todas de todo o coração.

Não adianta ficar jogando na imprensa que um diz que vai votar no Lula e outro diz que vai votar no Alckmin. Não vão dividir o P-SOL. Não fiquem fazendo esse tipo de jogo na imprensa contra o P-SOL. Vão dialogar com os nossos eleitores, que são muitos. Nós apresentamos várias propostas na área do desenvolvimento econômico, e talvez apenas essa candidata tenha sido obrigada a detalhar seus projetos. Temos propostas para a meta de crescimento, para o controle da inflação, para a taxa de juros, com a indicação da fonte dos recursos para o saneamento, para o transporte, para a educação, para a saúde, para a segurança pública. Talvez tenha sido a única candidata obrigada a detalhar de onde viria cada real para cada ação de Governo que seria feita porque estávamos enfrentando a verborragia neoliberal, a verborragia do pensamento único. Tivemos que agüentar aquelas figuras com a maior cara de conteúdo para repetir a mesma farsa técnica e fraude política da verborragia neoliberal. Essa não foi uma tarefa fácil; foi uma tarefa muito difícil.

É por isso que também quero agradecer todos os votos que tivemos em cada Estado. Em todos os Estados a nossa Frente teve votos. Vou falar dos candidatos a Governador e da candidatura presidencial, porque não vai dar tempo de falar de todas as candidaturas. É claro que agradecemos os votos e sentimos a não reeleição do João Alfredo, da Maninha, do Fantasini e do Babá, quatro guerreiros socialistas que muito honraram o Parlamento e o povo brasileiro. Alguns dos nossos Deputados Estaduais não foram reeleitos; outros foram. Então, agradecemos muito os votos que tivemos.

No Acre, o Zé Wilson teve 1.068 votos, e eu tive 13.082 votos. Na minha Alagoas... Deus do céu! Foi duro lá em Alagoas! Alguns eleitores do Lula foram implacáveis. Pensem numa gente vagabunda! Eles saíram por aí, dizendo que eu iria acabar com o Bolsa-Família em cada Município brasileiro, em cada localidade da periferia de Alagoas e das cidades do interior. Era um tumulto! Foi um tumulto que eles fizeram na minha querida Alagoas!

Então, quero agradecer de coração os 51.680 votos que o Ricardo teve e os 178.560 votos que eu tive. Quero agradecer os 9.008 votos que foram dados ao Clécio e os quase 30.000 que me foram dados no Amapá. Quero agradecer ao povo do Amazonas, que deu ao Herbert 6.195 votos e a mim 90.500 votos; à Bahia, que deu ao Hilton 38.870 e a mim 276.325 votos; ao Ceará, que deu 106.184 votos ao Renato e me deu quase 149.000 votos; ao Distrito Federal os 55.898 dados ao nosso Toninho e 165.420 a mim; ao Espírito Santo, 11.878 votos dados ao Professor Daniel e 107.172 dados à nossa candidatura; a Goiás, 13.318 votos dados ao Elias 179.102 a mim; ao Maranhão 6.159 votos para o Saturnino e 80.749 para a nossa candidatura presidencial; ao Mato Grosso, 31.336 votos para o Mauro e 59.201 para a nossa candidatura; ao Mato Grosso do Sul, 6.282 votos para o Carlito e 68.112 para a candidatura nacional; a Minas Gerais 60.145 para Vanessa Portugal e 579.920 para mim; ao Pará 131.088 o Edmilson e 149.278 para a nossa candidatura presidencial; à Paraíba 22.949 para o David Lobão e 80.351 para a nossa candidatura; ao Paraná 14.914 para o Luiz Felipe e 301.688 para a nossa candidatura presidencial; a Pernambuco 26.786 votos para o candidato a Governador - o Edílson -, 8.718 para a Kátia e quase 158.000 para a candidatura presidencial; ao Piauí 6.920 votos para a Edna e quase 39.000 para a nossa candidatura presidencial; ao Rio de Janeiro 118.936 para o nosso companheiros Milton Temer e 1.426.000 para a nossa candidatura presidencial - aliás, no Rio de Janeiro foi a nossa maior votação proporcional; ao Rio Grande do Norte 14.172 votos para o Sandro Pimentel e 81.185 para a nossa candidatura presidencial; ao Rio Grande do Sul 68.676 para o nosso Robertinho Robaina, 439.959 para a nossa candidatura presidencial; a Rondônia 7.984 para o Adilson e quase 41.000 para a nossa candidatura presidencial; a Roraima 2.755 votos para a Almira e 22.034 para a nossa candidatura presidencial; a Santa Catarina 17.637 para o João Fachini e 220.431 para a nossa candidatura presidencial; a São Paulo, 532.470 para o Plínio e 1.558.639 para a nossa candidatura presidencial. Em Sergipe a candidatura do companheiro do PSTU foi impugnada, mas Sergipe deu quase 63.000 votos para a candidatura presidencial; no Tocantins houve 1.622 votos para o Professor Elísio e quase 16.000 votos para a nossa candidatura presidencial.

Sr. Presidente Senador Efraim Morais, agradeço de coração a V. Exª a generosidade com o tempo e ao Senador Heráclito Fortes a disposição de ceder-me o seu tempo e quero, antes de encerrar, passar a palavra ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP)- Senadora Heloísa Helena, quero cumprimentá-la pela extraordinária jornada que V. Exª teve como fundadora do P-SOL. V. Exª realizou algo que parecia extremamente difícil: em alguns meses, organizar um partido e chamar tantas pessoas em praticamente todos os Estados do Brasil, que, com entusiasmo, abraçaram as causas do socialismo, da liberdade, e que também abraçaram os objetivos tão assertivos de V. Exª no que diz respeito à defesa da ética na política. V. Exª tantas vezes tratou desse tema como um dos aspectos fundamentais, porque queria, sobretudo aqui no Congresso Nacional, que os representantes do povo - sejam Deputados Federais ou Senadores - tivessem um comportamento que jamais fosse caracterizado pela votação de matéria que não significasse a sua visão de defesa do interesse público, a votação de matéria em troca de distribuição de recursos, de designação de pessoas, de liberação de recursos, ou de outros benefícios que envolvessem a quebra do decoro parlamentar, como infelizmente em alguns momentos da história do Congresso, não apenas nesta gestão, mas em outras também, infelizmente aconteceu.

Eu gostaria de lhe dizer que hoje estou feliz pela notícia de que o Presidente Lula resolveu participar de debates com o candidato Geraldo Alckmin. Tornei isso público e recomendei fortemente ao Presidente Lula...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Sou testemunha.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...que comparecesse ao debate. E o fiz a todos aqueles que foram convidados - V. Exª e os demais candidatos - para que fossem à Rede Bandeirantes, à TV Gazeta, à CBN e à Rede Globo de Televisão. Disse-lhe que, tanto eu quanto ele - Sua Excelência mesmo tem reconhecido - fomos críticos do direito de reeleição. Não há dúvida de que o Presidente, no exercício do cargo, tem algumas vantagens em relação aos demais competidores, e o fato de ele aceitar comparecer ao debate com os demais candidatos e dizer que, em pelo menos uma ocasião, gostaria de dar oportunidades iguais a todos, seria um ponto muito positivo para ele, e seria reconhecido por isso. Em segundo lugar, se ele fosse, estaria também em São Paulo, dando o apoio, como tantas vezes expressou, ao nosso colega Senador Aloizio Mercadante. Ponderei com Sua Excelência que a melhor maneira de ajudar o Senador Aloizio Mercadante era participando do debate. Na verdade, quando sinalizou que poderia fazê-lo, fez com que - tenho certeza - José Serra comparecesse ao debate na terça-feira, antes daquela quinta-feira, pois teria ficado mal o Presidente comparecer e ele não. Finalmente, houve ainda um outro argumento. Na conversa com o Presidente - ele refletia muito se iria ou não -, havia o argumento de que, afinal, alguns dos seus adversários poderiam colocar não apenas críticas, mas, muitas vezes, uma adjetivação ofensiva, que poderia ser considerada uma agressão à figura do Presidente ou à instituição Presidência da República. Eu ponderei com o Presidente: “olha, Presidente, se porventura ocorrer qualquer ofensa a Vossa Excelência, eu acredito que, na verdade, quem o estiver ofendendo é que acabará perdendo, porque o povo não gosta da ofensa.” Como o Presidente tem muita certeza dos aspectos positivos do seu Governo - e V. Exª sabe que eu tenho ressaltado esses aspectos -, ele teria muitas formas de responder. Mesmo se todos - o Senador Cristovam Buarque, V. Exª, Senadora Heloísa Helena, ou o ex-Governador Geraldo Alckmin - utilizassem três quartos do tempo para daí chegar a vez dele, e só então falar, ainda assim a atenção que adviria, depois das críticas dos três, seria de tal ordem que, ao falar, teria tamanha atenção da opinião pública que, eu acho, daria a volta por cima. Esses foram alguns dos argumentos que coloquei. Quero transmitir a V. Exª que ele estava propenso a aceitar. Na última hora, alguma coisa aconteceu na conversa dele com a sua alma, com a Marisa, e ele acabou não indo.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Senador Eduardo Suplicy, peço a V. Exª que conclua. Já tem oito minutos o seu aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas não é todo dia que eu aqui converso com a Senadora Heloísa Helena.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Mas não é todo o dia que eu estou na Presidência.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Fazia tempo que eu não a encontrava, e como tenho por ela um certo...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - É amor. É amor.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não!

A SRª HELOISA HELENA (P-SOL - AL) - É amor. Mas eu só deixo ele amar a namorada dele.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Já estou concluindo. Espero que o debate agora seja um serviço à democracia. Quero muito respeitar a posição de V. Exª e de todos os seus eleitores e filiados pela decisão que vão tomar no segundo turno. Eu, V. Exª sabe, votarei no Presidente Lula, mas respeitarei a decisão que cada um do P-Sol tomar.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª, Senador Suplicy. Sabem todos que tenho o maior carinho e afeto por V. Exª, uma pessoa que sempre esteve a meu lado. Em momentos muito difíceis de nossas vidas particulares, estivemos um ao lado do outro. E tenho todo o respeito pelo nosso querido companheiro Mancha, que foi lá bravamente tentar... Sabe V. Exª o quanto lhe tenho de carinho e de respeito.

Não sei de onde veio essa história de ofensa pessoal. Também não gosto muito dessas coisas. Sou do interior, e, no interior, há um dito: “Quem não deve não teme, nem treme”. Então, não sei sobre esse negócio de a instituição Presidência da República ser respeitada. Respeito o Presidente da República como respeito o mais simples catador de lixo. Aliás, o catador de lixo eu tenho a obrigação de respeitar mais.

Os Senadores Wellington e Arthur Virgílio ficam danados comigo quando digo isso. No dia em que quiser brigar com alguém, não poderei brigar com alguém menor do que eu. Para ser corajosa, tenho de pegar uma briga com o Wellington, que é grandão e que quebra logo meu braço - e não deixo quebrá-lo, viu? -, ou com o Arthur Virgílio, que é faixa preta em jiu-jítsu. Então, gosto logo de pegar briga com gente grande, não pego briga com gente pequena. Sei que ele não vai quebrar meu braço. Deus do céu! Ele é tão carinhoso comigo! Não digo isso, não. Estou dizendo isso por causa do tamanho dele. Ele dá dois de mim. Por isso, estou dizendo sobre essa história, Senador Wellington.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Eu sei, Senadora. V. Exª sabe o carinho que tenho pela sua pessoa. Eu jamais faria isso. V. Exª sabe que tenho um filho de dezesseis anos que tirou o título de eleitor somente para votar em V. Exª. Coloquei V. Exª ao telefone com ele. Tentei convencê-lo, mas não houve jeito: o voto dele foi para V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Eu sabia disso. Não disse nada para não constranger ninguém.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Ele, como devem ser seus eleitores, é firme, não muda de opinião de jeito nenhum. Foi até o final e colocou na urna o voto em V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Tenha certeza de que é por pessoas como ele e por outras pessoas aqui... Não vou citar o nome de cada uma. Sei que “perderam os votos nas suas próprias casas”. Agradeço às crianças, pelo amor despretensioso; à juventude, pela alegria rebelde; às poderosas mulheres brasileiras; aos homens solidários e aos idosos. Olha, era um misto!

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Heloísa Helena, queria apenas parabenizar o filho do Senador Wellington Salgado de Oliveira por ter mais visão do que o pai.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Não persigam ninguém, pelo amor de Deus! Era a criança que chegava para mim e denunciava o pai...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senadora, a família do Senador está melhorando.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - A criança denunciava logo o pai e a mãe, dizendo assim: “Queria que meu pai e minha mãe votassem em você, mas eles estão querendo votar em não sei quem”. A meninada denunciava logo.

E também havia as pessoas de muita idade. Foi algo muito interessante. As nossas idéias, às vezes, levantam preocupações em relação às pessoas mais vividas, por assim dizer. Foi muito bonito. As pessoas de muita idade, de oitenta anos, de noventa anos, diziam que iriam lá. Abraçavam-me com carinho, como um pai e uma mãe abraçam seus filhos queridos.

Então, só tenho a agradecer muito, muito, muito ao povo brasileiro pela generosidade e pela delicadeza.

Concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senadora Heloísa Helena, quero parabenizá-la pela sua luta. Vinha-me dirigindo ao plenário e escutava o pronunciamento de V. Exª pelo rádio do carro. V. Exª deu demonstração da luta que enfrentou ao longo dessa batalha, defendendo suas idéias, seus princípios. Tenho absoluta certeza de que o Brasil, assim como o filho do Senador Wellington, reconhece essa pureza de intenções de V. Exª e a força da brava nordestina das Alagoas em enfrentar essa batalha eleitoral. Tenho absoluta certeza, Senadora Heloísa Helena, de que estaremos juntos no segundo turno. V. Exª que vai nos ajudar a retirar da Presidência...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Estaremos juntos só no Círio de Nazaré, na corda do Círio de Nazaré, com Babá, com Edmilson.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Vamos juntos no segundo turno, para chegarmos à vitória do Brasil com o futuro Presidente Alckmin. Por último, renovo o convite a V. Exª que tem o compromisso, não comigo, mas muito mais com a Santa, de estar, no próximo domingo, no Círio de Nazaré, em Belém. Estamos aguardando a sua ida para que a possamos receber.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Vamos lá ao Círio conseguir força. No ano que vem, seja Alckmin, seja Lula, estaremos no campo de batalha. Se alguém quiser tirar um único direito dos trabalhadores, décimo terceiro, salário-maternidade, outras coisas mais como se anuncia na Previdência ou quanto a direitos trabalhistas, vamos estar no campo de batalha, no Parlamento, nas ruas deste Brasil, fazendo a resistência democrática.

Ouço o Senador José Jorge, depois o Senador Cristovam e o Senador Tuma.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senadora Heloísa Helena, congratulo-me com V. Exª pela bela campanha que fez. Como candidato a Vice-Presidente na chapa do Presidente Geraldo Alckmin, tive oportunidade de assistir a muitos debates de que V. Exª participou e até de debater uma vez com V. Exª em Maceió, substituindo o Presidente Geraldo Alckmin. Em todas as suas aparições nas ruas, na televisão e nos debates, pude verificar o alto nível da campanha realizada por V. Exª. Foi uma campanha crítica simples e pobre, mas feita com muita energia e muita competência. Nesses quatro anos, tive oportunidade de participar, conjuntamente com V. Exª, da Oposição ao Governo Lula. Votamos juntos muitas vezes e tivemos muitas idéias conjuntas. Relatei muitos projetos a que V. Exª deu grande contribuição e colaboração. Tenho a certeza de que a campanha de V. Exª revelou ao Brasil uma nova liderança. Por mais que V. Exª apareça nos debates do Senado, esta Casa não tem a mídia de uma campanha presidencial. Toda vez que um país como o Brasil revela uma liderança nova significa que nossa democracia está-se consolidando. Não é fácil haver uma liderança nacional. Poucas pessoas são conhecidas e podem ser reconhecidas ao chegar a qualquer Estado do Brasil. Hoje, no Brasil inteiro, todos sabem quem é Heloísa Helena, conhecem seu discurso e têm admiração pelo trabalho que V. Exª realizou. Infelizmente, na minha casa, nenhum filho meu votou em V. Exª. Mas quem sabe, no futuro, votarão.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - V. Exª não deixou nem que me escutassem.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Quero parabenizar V. Exª e dizer-lhe que prestou um grande trabalho ao seu Partido, um Partido novo. Principalmente, V. Exª prestou um grande trabalho ao Brasil. Meus parabéns. Um beijo e um abraço.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço-lhe, Senador José Jorge, a delicadeza, a generosidade das palavras de V. Exª.

Concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora Heloísa Helena, quero dizer-lhe duas coisas. Primeiramente, quero falar do meu orgulho de ter participado desse périplo terrestre. Quantas vezes a encontrei no aeroporto! Íamos um para um lado e o outro para o outro. Nós dois conversávamos. Algumas vezes aconteceu. Tenho orgulho de ter estado ao seu lado, embora estivéssemos disputando os mesmos eleitores. A segunda coisa a dizer - lamentando dedurar o Senador Heráclito Fortes - é que este Senado vai ficar menor sem a sua presença, no próximo ano. Não há dúvida de que sua presença aqui vai fazer muita falta, não só para nós que temos por V. Exª carinho, respeito, também ao povo brasileiro. Espero até que sua falta aqui não nós leve a uma queda de audiência da TV Senado, o que não é impossível. Meu orgulho é o de ter feito parte desse pedacinho da história juntamente com V. Exª e de ter, durante todos esses anos, ouvido sua voz combativa, que o Brasil precisa ver continuar.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço, de coração, Senador Cristovam Buarque, a delicadeza de V. Exª, que, no último debate, fez um gesto de solidariedade muito precioso e muito especial em relação a mim e ao caso do meu filho. Agradeço a V. Exª.

Concedo um aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senadora Heloísa Helena, espero que o sol brilhe para todos nós no dia 29 - esse sol que V. Exª tão bem soube conduzir por meio dos girassóis que recebia durante sua campanha. Aquele buquê de girassóis fazia acompanhamento ao sol, porque o girassol acompanha o sol, uma vez que ele gira conforme o sol vai se posicionando no universo. E ele vai brilhar permanentemente para V. Exª. Mesmo que, durante o próximo mandato, V. Exª não esteja presente, aqui haverá dezenas de ouvidos com o coração pronto para atender a qualquer reivindicação ou a qualquer posição que V. Exª queira tomar neste plenário. Agora, vou fazer uma traição a mim mesmo. A Senadora sabe a admiração e o carinho que tenho por V. Exª e conhece os compromissos políticos que temos em relação ao Partido a que pertencemos. Minha sogra, que tem 92 anos, quis votar, por causa dos dois meninos, netos dela e meus filhos, Romeu Júnior e Robson. Porém, ela disse: “Eu quero votar também naquela moça de branco, que é sua colega”.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - É uma fofa.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Então, houve respeito à vontade dela, que ela deve ter realizado. Eu não a acompanhei, mas a Zilda a acompanhou à cabine, pela dificuldade dela em subir dois lances de degraus no local de votação. Então, veja que há representação de V. Exª na família. Espero que o meu Partido não me puna por eu não ter conseguido mais um voto. Ela tinha a certeza de que sabia o que estava querendo, porque acompanha de perto por esta televisão, como diz o Senador Cristovam Buarque. O Senador Heráclito Fortes está certo. Vamos sentir de repente a falta de uma voz que ecoa em todo o País, pela voluntariedade, pela coragem, pela força espiritual que V. Exª tem. Tantas vezes, leu e comentou aqui a Bíblia para nós. Hoje, o Senador Ramez Tebet se despediu de V. Exª com o coração partido. Não quero fazê-lo, pois tenho certeza de que continuaremos ligados por todo o esforço da luta social que V. Exª envida. Que Deus a abençoe. Teve um valor imenso sua participação nesta campanha.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço-lhe de coração, Senador Romeu Tuma. Tantas vezes choramos juntos neste plenário, debatendo temas relacionados com a criança, juntamente com as Senadoras Patrícia Saboya Gomes, Iris de Araújo e Lúcia Vânia. E o fizemos em tantos momentos.

Antes de encerrar, vou conceder um aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senadora Heloísa Helena, já começamos a buscar seus votos. Eu teria inúmeras pessoas a citar que votaram em V. Exª e que agora irão votar no candidato Geraldo Alckmin, a exemplo da mãe e da avó do Senador Romeu Tuma.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Isso é um absurdo!

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - A exemplo da sogra do Senador Romeu Tuma. Mãe, avó, sogra... Como a sogra do Senador Romeu Tuma, que votou na Senadora Heloísa Helena e que, no 2º turno, vai votar no candidato Geraldo Alckmin.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Eu vou ligar para ela.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Para orientá-la a votar no número 45, certamente vai ligar. Senadora Heloísa Helena, talvez eu não esteja aqui no ano que vem, porque pretendo eleger-me, juntamente com Luiz Henrique da Silveira, em Santa Catarina. Mas, com certeza absoluta, V. Exª fará muita falta a este Congresso e ao Brasil, pelos seus conselhos, pela sua garra e determinação. Não se curvou à pressão do Palácio, do Governo, do PT e do Presidente Lula; manteve coerência, do começo ao fim; valorizou os poucos debates que houve nessa eleição. Talvez a eleição tivesse sido diferente se o atual Presidente da República fosse debater as idéias com V. Exª, com Geraldo Alckmin, com outras pessoas que tinham o mesmo propósito e com o Senador Cristovam, que tinha o discurso educação. Seria importante discutir com o Lula a educação do País, mas ele não foi. V. Exª vai deixar aqui saudade. E, lamentavelmente, V. Exª, que contestou tanto o Governo Lula, deixará a sua cadeira para Collor de Mello, que é da sua terra e está apoiando Lula. Veja bem, Senadora Heloísa Helena, V. Exª foi expulsa do PT por questionar, contestar, ser dura por causa da mudança ética, da mudança do patrimônio que tinha o PT - justamente por condenar o Collor no passado, tinha um patrimônio forte. E hoje o Collor e o Lula estão juntos. Juntos, Senadora Heloísa Helena! Aquela sua cadeira ali na frente vai deixar muitas saudades. Felizmente o Brasil vai eleger Geraldo Alckmin, e nós vamos poder continuar discutindo coisas boas para o Brasil, coisas boas que V. Exª nos ensinou e vai continuar nos ensinando, bem como ensinando aos pequenos, lá em Alagoas, em sala de aula, mostrando os rumos que devem seguir. V. Exª está apenas iniciando a sua vida política, e mais de seis milhões de brasileiros optaram pela sua pessoa, por tudo que fez aqui no Senado Federal, pela sua coerência. Agora, esperamos que Alagoas, que sempre teve por V. Exª carinho especial, procure observar agora: Collor defendendo Lula; jamais Heloísa Helena! Jamais Heloísa Helena faria a mesma coisa. Gostaria imensamente de ter Heloísa Helena defendendo as suas idéias e Geraldo Alckmin, que vai governar este Brasil.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senadora, vamos homenagear a torcida presente nas galerias?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - As flores! Mulheres poderosas! Mulheres poderosas!

(Manifestação nas galerias.)

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Sabe o que era o pior, Senador Pavan? O pior era ouvir, quando eu chegava às periferias, as pessoas dizerem assim: “Ah, Heloísa... Vou votar nele porque o outro roubou mais do que ele e está lá no Palácio do Planalto”. Imagine-me tendo que ouvir isso. É duro, é duro!

Concedo um aparte ao Senador Antero e, depois, ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senadora Heloísa Helena, quero dizer que V. Exª cumpriu a sua missão. No momento em que a Esquerda ficava preocupada - morreu a Esquerda? -, o nascimento do P-SOL e a candidatura de V. Exª vieram para afirmar: Viva a Esquerda! A Esquerda não morreu! O desastre do Governo Lula não poderia ter acontecido; ele poderia ter errado em outro ponto, não no que errou. A punição, inclusive, a V. Exª, a punição à coerência, a punição por V. Exª respeitar o Estatuto do Partido ao qual era filiada, essas punições todas não sairão da alma do povo brasileiro. Compreendo o gesto de V. Exª. Acredito que o gesto de V. Exª de disputar a Presidência da República é o gesto de não deixar morrer a idéia do socialismo democrático; é o gesto de manter viva uma convicção que V. Exª traz na sua consciência e no seu coração, porque só morre o ideal pelo qual ninguém luta. Quero parabenizar, portanto, a campanha de V. Exª. Lamento as explicações dadas pelo Planalto, afirmando que agora vai ao debate - parece até que o medo de agressões poderia vir de V. Exª ou do Senador Cristovam. Receba meus cumprimentos. Tenho certeza absoluta de que V. Exª sairá da tribuna do Senado, mas vai assumir uma das funções mais relevantes do País, que é a cátedra, tão bem valorizada pela tribuna exercida por um concorrente de V. Exª, o Senador Cristovam Buarque. Vejo que V. Exª vai continuar contribuindo com o Brasil na cátedra, usando outras tribunas e outras cátedras para ajudar o povo brasileiro. Parabéns a V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª, Senador Antero Paes de Barros, a delicadeza de V. Exª. É isso mesmo. Cada vez que eu andava, nessa campanha eleitoral, eu pensava: se eu estiver no Palácio do Planalto, estarei feliz; se eu estiver em sala de aula, voltando para Alagoas, vou voltar de cabeça erguida. Era como dizer assim: estou honrando os meus ancestrais negros, índios e brancos imigrantes, aos militantes da Esquerda socialista e democrática que não se venderam; honrando essas pessoas que estavam lá, como o César Benjamin, que, com 16 anos, estava sendo torturado nos porões da Ditadura e que hoje defende, sem nenhum rancor, sem mágoa, as Forças Armadas, a soberania nacional, a construção de uma pátria maravilhosa. São essas coisas que, realmente, nos motivam a continuar caminhando.

Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes e, depois, ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora, Heloísa Helena, prepare o seu coração, porque, de agora em diante, V. Exª terá sempre o reconhecimento de seus colegas e do Brasil inteiro pelas ruas onde passar. V. Exª conseguiu uma unanimidade nas ruas brasileiras. Talvez não o tenha sido em votos, mas V. Exª plantou uma chama e marcou uma posição, juntamente com o nosso Colega Cristovam Buarque, que ficará Brasil afora por muito tempo. V. Exª está vendo aqui o seu fã clube: há os dissimulados e os diretos; os que dizem que o filho não atendeu e os que botam a sogra na história. Mas o que há, na realidade, sempre, em cada um de nós, é o desejo de poder votar na sua causa e, principalmente, na figura de Heloísa Helena, que se consagrou no Brasil, marcando as suas posições, sendo dura quando precisava sê-lo e sendo afetuosa quando se fazia necessário. Dessa forma, V. Exª pode orgulhar-se de ter tido neste Senado da República uma das melhores presenças nos últimos anos. Fico muito feliz, porque acabo de receber um telefonema do Deputado Paulo Delgado exatamente quando ia pedir a atenção de V. Exª e de todos os Senadores para um artigo que ele escreve e que está na coluna do Noblat. O artigo foi postado às 17 horas sob o título: “Essa Foi a Eleição da Devassidão”. Ele mostra exatamente o PT naquela base do “quem te viu e quem te vê”. Trata-se de um artigo que merece a reflexão de todos os brasileiros. Fico muito feliz com essa coincidência e quero dizer a V. Exª que estaremos todos aqui, até o final do seu mandato, homenageando-a, representando aqui o desejo do Brasil. Quero até lembrar um espetáculo que vemos muito nas praias do Rio de Janeiro: o da baleia que, perdida, a procura de águas mais quentes, aproxima-se da costa, chega em frente à praia e sabe que não volta mais. Outro dia eu estava lendo alguma coisa sobre isso. Quando as baleias sabem que têm as suas horas e os seus dias contados, ficam num verdadeiro diálogo imaginário com a praia, com os banhistas que as aplaudem. Os banhistas ficam horas e horas aplaudindo as evoluções que as baleias fazem até o mergulho definitivo. V. Exª será aquela que vai desaparecer deste Senado, mas vai aparecer para o Brasil pelo seu exemplo. Algo me diz que em breve V. Exª voltará a esta Casa. Parabéns!

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço de coração a V. Exª, Senador Heráclito Fortes.

Concedo um aparte ao Senador Efraim Morais.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senadora Heloisa Helena, quero, inicialmente, parabenizá-la pela forma transparente e ética com que V. Exª disputou a Presidência da República. Sabíamos - e V. Exª tinha conhecimento - que V. Exª dificilmente chegaria à Presidência da República. Mas V. Exª e o seu Partido, juntamente com o Senador Cristovam Buarque, são os grandes responsáveis pelo que o Brasil vive hoje, com o aperfeiçoamento da democracia, com o direito de escolha. Em função da presença de V. Exª nessa eleição é que teremos o segundo turno. Se V. Exª não tivesse sido candidata à Presidência da República, nós, com certeza, não teríamos o segundo turno. É por causa dessa posição de V. Exª que não vi hoje, sinceramente, aquela arrogância do PT, que gritava com todos nós. Vi Senadoras e Senadores do PT com tanta humildade que estranhei no momento. Antes das eleições, passei algumas vezes pelo Plenário e vi que não era possível ficar. Era muita arrogância: diziam que eram os donos do mundo, que iam fazer isso, aquilo e aquilo outro, desrespeitando, inclusive, o direito ao voto secreto. O brasileiro foi às urnas no dia 1º de outubro, ele e sua consciência, e Deus presenciou a sua posição. Então, vejo que V. Exª deu uma lição a muita gente. Primeiro, deixou muita gente humilde, acabou com a arrogância de muita gente. Eu gostaria de fazer um registro: V. Exª deixou nesta Casa - infelizmente, pude estar com V. Exª aqui por apenas quatro anos - uma aula de coerência. V. Exª trata bem a todos em todos os momentos. Aqueles que não a conhecem, que só a vêem na tribuna, não sabem quem é V. Exª: uma Senadora, uma mulher, uma cidadã brasileira, amiga, conselheira, doce, carinhosa. Enfim, V. Exª é tudo que pode a mulher brasileira querer ser fora da tribuna. Nós aprendemos isso. V. Exª faz tudo com ética, respeita aquilo que está escrito no estatuto do Partido de V. Exª e aquilo que tomou como exemplo de vida. Então, quero parabenizá-la por tudo isso. Mas quero parabenizá-la principalmente pela coragem de ter esse sentimento da necessidade de contribuir com este País. V. Exª deu uma contribuição extraordinária a este País quando aceitou disputar a Presidência, pois tinha a chance de voltar a esta Casa se disputasse o Senado, e, com certeza, voltaria para cá. No entanto, V. Exª preferiu dar sua contribuição como mulher, como política, enfim, pensando no Brasil. Eu diria que essa coragem incomodou muita gente neste País. Muitas pessoas aqui declararam o voto da esposa, do filho, da filha, da sogra, no caso do Senador Romeu Tuma. Eu diria a V. Exª que são exatamente essas pessoas que entenderam a coragem de V. Exª e que entenderam que o Presidente Lula deveria vir ao tribunal do povo, que seria o debate, porque ele fugiu, ele correu, não teve a coragem, como teve V. Exª, de simplesmente debater, de explicar ao povo os escândalos deste País. Falo em explicar os escândalos porque o PT não tem proposta. Passaram-se quatro anos e não temos, não encontramos, não vimos propostas do PT. Então, devo dizer que V. Exª contribuiu e que estará escrito na história deste País que, graças à coragem de V. Exª, milhões de pessoas votaram em V. Exª, porque são as mesmas pessoas que queriam o segundo turno. Não vou dizer aqui que quero contar com V. Exª, que já declarou a posição do seu Partido. Mas esses milhões de brasileiros que votaram em Heloísa Helena, em Cristovam Buarque e nos demais candidatos à Presidente da República são os mesmos que, como eu, desejavam esse momento democrático do segundo turno, onde poderemos discutir as idéias. Acho que o povo é sábio e saberá escolher. O Presidente da República teve uma grande oportunidade e não soube aproveitá-la. Lutou por tanto tempo, prometeu tanto, mentiu tanto, enganou o povo brasileiro... Oportunidade era na base da pressão, da mentira, dos dossiês, para tentar ganhar a eleição no primeiro turno. Não ganhou e não vai ganhar, porque quem vai decidir é o povo brasileiro, o mesmo povo que acredita em Heloísa Helena, que acreditou em Cristovam Buarque e que acredita num Brasil melhor. Portanto, deixo aqui o meu abraço, os meus parabéns e digo para aqueles que não têm oportunidade de conviver com V. Exª fora da tribuna que V. Exª é uma pessoa admirável e de quem o Brasil tanto precisa, assim como precisa do Partido de V. Exª. Parabéns, Senadora! Estaremos sempre torcendo para que você continue sendo a nossa Heloísa Helena.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço, Senador Efraim Morais, a generosidade das suas palavras e mando um abraço à sua esposa, Ângela, uma pessoa que sempre foi absolutamente delicada e generosa com todos nós.

Concedo um aparte ao Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senadora Heloísa Helena, V. Exª, nesta Casa, tem sido um exemplo marcante de coerência, de presença nas Comissões e no Plenário. V. Exª, com a sua palavra, com a sua coragem, tem demonstrado ao Brasil que foi e é uma Senadora eleita por Alagoas e que honra muito o seu Estado e o Brasil com a sua atuação. Tenho certeza absoluta de que o seu Estado sentirá a sua falta. Sei que V. Exª se submeteu a esse sacrifício porque queria plantar uma semente. E essa semente, de acordo com...

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Desculpe-me, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - ... o seu ideal, haverá de ganhar bons frutos, porque a sua pregação é baseada no ideal de bem servir ao seu Estado e ao nosso País. V. Exª renunciou à possibilidade de uma cadeira no Senado justamente para fazer a sua pregação como uma pessoa que tem uma causa a defender, o que é muito raro em nosso País. Geralmente, a pessoa se candidata a um cargo para o qual tem amplas possibilidades de se eleger e não quer assumir qualquer risco. V. Exª sabia o risco que estava assumindo, mas tinha um dever a cumprir, tinha uma causa a defender, tinha uma bandeira a levantar. Por isso, admiro V. Exª no âmbito da política brasileira.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Afinal, Sr. Presidente... Infelizmente, todos os oradores tiveram mais tempo. Mas já vou encerrar, Senadora.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Estou prorrogando, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Agradeço, Sr. Presidente, essa prorrogação, cujo aviso apita a toda hora.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Mas, infelizmente, é o sistema.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Impede o meu raciocínio.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Quando V. Exª for Presidente, vou propor a modificação do sistema.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Agradeço a V. Exª, de qualquer forma. Senadora Heloísa Helena, os produtores rurais vão sentir a sua falta. Não tenho a capacidade de V. Exª, o voluntarismo de V. Exª, mas procurarei, de acordo com as minhas possibilidades, continuar a nossa luta em favor dos produtores rurais, da resolução dos seus problemas de endividamento, da igualdade de condições para todos. Finalmente, que as eleições no futuro possam ser mais transparentes, mais igualitárias. Que haja o financiamento público de campanha, que haja uma reforma partidária que permita que todos tenham o direito de falar na televisão sem qualquer preconceito ou discriminação. Acho que o Brasil fez uma reforma muito reduzida, muito limitada, e essa reforma que fizemos em cima da eleição não traduziu o desejo de todos nós que compomos o Senado Federal, pois os partidos políticos ainda continuam sem aquela representatividade, e muitas pessoas que escorregaram na corrupção, na fraude eleitoral, voltaram à Câmara dos Deputados, ao Congresso Nacional. Isso ocorre devido a uma legislação permissiva, uma legislação que permite que pessoas não comprometidas com a democracia, com a seriedade, com a lisura das eleições ainda voltem ao Congresso Nacional. Por isso, meus parabéns. Trago a minha admiração, o meu gesto de amizade, de solidariedade e o meu agradecimento, porque V. Exª teve, na minha eleição de Senador, uma participação, mesmo que pequena. V. Exª foi a Sergipe e lá pediu voto para o Senador Valadares. Eu não fiz isso por V. Exª naquela eleição nem o fiz agora, mas lhe devo essa obrigação e, de público, externo o meu agradecimento.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª, de coração, a delicadeza das palavras. Continuaremos firmes. Sei que, junto com o Deputado João Fontes, que não teve oportunidade de se reeleger, estaremos defendendo, com V. Exª também, as questões relacionadas aos produtores rurais, à agricultura familiar, ao médio e produtor rural, as questões relacionadas à revitalização do nosso rio São Francisco, às alternativas de abastecimento humano e animal, os projetos de irrigação para todo o Nordeste, não apenas a bacia hidrográfica, mas para o Nordeste setentrional.

Foi um momento muito importante. Algumas pessoas plantavam notinhas medíocres, Senador Romeu Tuma, dizendo que o debate foi apenas em torno da ética, mas não o foi, embora o debate sobre a ética seja importante, porque cada vez que uma personalidade pública rouba os cofres do povo brasileiro, vai uma menininha para a rua vender o corpo por um prato de comida, vai um menino ser “olheiro”, “falcão”, “avião”, “estica” do narcotráfico. Então, não é uma coisa qualquer, temos de falar sobre isso mesmo.

Tivemos a oportunidade de trabalhar detalhadamente todas as alternativas para o Brasil, tudo: saneamento básico, habitação popular, investimentos na agricultura, relações comerciais internacionais, metas de crescimento econômico, tudo, tudo, tudo. Só não viu quem não quis ou quem, nos nossos 40 segundos de televisão, não teve a oportunidade de ver.

Agradeço, de coração, a V. Exª o aparte.

Concedo o aparte ao Senador Demóstenes Torres .

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senadora Heloísa Helena, não estamos fazendo a despedida de V. Exª do Senado Federal, porque queremos ter tempo suficiente para falar em sua homenagem. V. Exª é um dos grandes vultos da República e engrandece o Senado. Temos concepções de Estado absolutamente diferentes - penso de uma forma e V. Exª, de outra. Mas reconheço que V. Exª faz um debate civilizado e com conhecimento. É uma mulher estudiosa, preparada e extremamente leal. Essa lealdade se reveste, inclusive, no linguajar apropriado de que V. Exª se utiliza para debater suas idéias. Aqui, falamos para um grande número de goianos que são estudantes de Direito da Faculdade Anhanguera, da Universidade Anhanguera de Goiânia. Todos são admiradores de V. Exª - tenho certeza disso. Muitos podem até não lhe ter depositado o voto - que é o meu caso. Sou um homem partidário, votei no meu candidato a Presidente, Geraldo Alckmin, mas tenho que reconhecer que V. Exª fez o debate maior, fez o debate engrandecido, o debate de que o Brasil precisa, o debate da ética, o debate da decência, o debate daqueles que não se refugiam debaixo do tapete. No Brasil, depois que o Duda Mendonça inventou aquela história - para eleger o Paulo Maluf - de que não se pode falar sobre roubo, tudo virou denuncismo. O ladrão pode roubar, mas não se pode falar que ele roubou. Essa hipocrisia V. Exª não tem. V. Exª também foi muito além do debate sobre a ética, foi muito além do debate sobre a honradez, que, como V. Exª mesma diz, é o debate também essencial, porque se o Brasil não conseguiu chegar aos índices de outros países, isso ocorreu principalmente graças à ineficiência e à corrupção - tudo atestado devidamente por relatórios internacionais. Quero deixar o reconhecimento de um admirador seu, de um Senador, colega que a conhecia pela televisão e que teve a oportunidade de sentar ao seu lado, além de ser muito bem tratado e muito bem recebido, porque V. Exª é uma pessoa doce, é uma pessoa altamente educada e, mais do que isso, é uma pessoa eficiente e vai fazer uma falta muito grande ao Senado da República e ao Brasil, nesse período em que se ausentará da vida pública. Vai, claro, engrandecer os bancos da universidade em que voltará a ser professora, e tenho certeza de que esse afastamento da vida pública será brevíssimo, porque todos os brasileiros gostariam, tenho certeza, de ver novamente V. Exª se utilizando desta tribuna ou gerindo os destinos de alguma cidade ou de algum Estado deste País. Meu reconhecimento, de coração, por uma figura que sempre admirei, que aqui no Senado continuei respeitando e que vai fazer muito falta, porque, lamentavelmente, o mundo político anda muito poluído. A saída de V. Exª, ainda que temporária, vai fazer do Brasil, neste momento, um País menor. Minhas homenagens.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço, de coração, a V. Exª, Senador Demóstenes Torres.

Por onde andei pelo Brasil, Senador Romeu Tuma, sempre recebi muito presente. Flores, nem se fala! Até parece que adivinhavam que gosto de estudar sobre flores. Depois que Sergio Barani produziu até uma orquídea com meu nome, pensem como fiquei metida. Uma orquídea foi classificada em Londres com meu nome: Cattleya senadora Heloisa Helena. Sempre gostei muito de flor e de ler sobre flores e animais.

Em todos os Estados, em todos os lugares onde fui, ganhava presente. No dia em que fui com o Martiniano e o Elias à Feira Hippie - para onde muitas costureiras levam o resultado do trabalho realizado no seu quintalzinho -, ganhei um tanto de presentes. Em cima de um banquinho, no meio da feira, falei para a rádio deles. Ganhei presentinhos de todo jeito: camisolinhas branquinhas, bolsas, calças, tanto, tanto, tanto, tanto. Só tenho a agradecer, de coração, a generosidade e o carinho do povo brasileiro.

Como bem disse V. Exª, não é despedida. Vou estar aqui até o último dia do meu mandato, que não foi comprado, que não foi uma concessão da elite política e econômica do meu Estado. Foi um mandato dado pelo povo de Alagoas, pelas mulheres e homens de bem e de paz da minha querida Alagoas. Assim, vou aqui trabalhar todos os dias, normalmente, como sempre trabalhei, com muita disciplina, estudo, competência, honestidade - é uma obrigação - e com honestidade intelectual, defendendo o que acredito.

Deixo registrada a posição do P-SOL, que já existia. Mas acabei tendo de vir à tribuna em função das tormentas de algumas notinhas ou de questões paralelas.

A posição do P-SOL é para os filiados do P-SOL. Seja a Senadora, que é Presidente, seja o parlamentar, seja o filiado. Lá na urna, está tudo bem. Ninguém é obrigado a fiscalizar o voto de ninguém na urna. Nossos filiados, na urna, têm o direito de fazer o que quiserem. Publicamente não podem. Não pode o Deputado, a Senadora nem o militante. Quem quiser, publicamente, dizer que vai votar em Alckmin tem que passar para o PSDB; quem quiser dizer que vai votar em Lula tem que passar para o PT. No P-SOL não.

Para os nossos eleitores não precisamos indicar voto. Deus me livre. Sempre tive pavor desse negócio de curral eleitoral. Seja a nossa vovozinha fofa, seja o menininho da casa do Wellington, seja a meninadinha do Brasil. Não tenho dúvidas de que quem votou em mim é livre. São mulheres e homens livres e, como dizia, com vergonha na cara e amor no coração. Sei que pessoas assim votaram em todos os outros candidatos também. É óbvio. Não estou classificando os nossos eleitores por honestidade e amor no coração. Deus me livre. Há pessoas de bem e de paz em todos os lugares, e votando em todos os outros candidatos. Mas nossas eleitoras e nossos eleitores são mulheres e homens livres, e têm o direito de escolher de forma livre, legítima e maravilhosa, em quem votar. Mas os filiados ao P-SOL, publicamente, não poderão fazer campanha. Se fizerem, é evidente, terão que mudar de partido.

E essa história que estava ontem nos jornais em relação a Lula, de que o Ministro está conversando com não sei quem, tirem o cavalo da chuva porque ele morrerá de pneumonia. Não vamos. Construímos uma estrutura partidária. Era só o que me faltava! Virar vigarista nesta idade! Um dia desses, eu estava dizendo que as duas candidaturas não serviam.

Na semana passada, eu disse isso, no último debate. Como é que agora...? Nem estou falando de Alckmin, porque isso nem foi tratado na imprensa; do Lula, da mesma forma. Não existe essa conversa não. Se fosse assim, não teríamos enfrentado a construção do P-SOL, não teríamos promovido uma verdadeira peregrinação pelo Brasil, e eu não teria sido candidata. Teria ficado lá. Não pode haver essa conversa, de jeito nenhum. Na urna, podem fazer o que quiserem, mas, publicamente, nenhum dos dois.

Quanto aos nossos eleitores, são seis milhões e tantos mil votos de mulheres e homens livres. Estou sendo repetitiva, mas, para votar no P-SOL, só sendo muito livre. Esses eleitores foram contra o voto útil, contra a falsa polarização e contra os institutos de pesquisa. Portanto, foram mulheres e homens que decidiram o que queriam fazer.

Não estamos em cima do muro. Temos nossa posição política, que é absolutamente coerente com todo o debate programático que fizemos durante doze anos, enfrentando o neoliberalismo do Governo Fernando Henrique Cardoso e o neoliberalismo do Governo Lula. Nem vou falar das patifarias políticas e da corrupção. Não vamos rasgar nem jogar fora os doze anos de militância política, de enfrentamento ao projeto neoliberal e à maldita metodologia de parasitismo aos cofres públicos.

Mulheres e homens livres que me deram a honra de receber um voto aos nossos candidatos por todo o Brasil, meu profundo agradecimento.

Sr. Presidente, acredito que o Senador Marco Maciel deseja um aparte. Portanto, se S. Exª assim o deseja, concedo o aparte.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Peço apenas que seja rápido, pois há vários inscritos.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senadora Heloísa Helena, serei muito breve em meu aparte. Desejo apenas registrar três pontos. Em primeiro lugar, V. Exª, com sua candidatura, ajudou a fertilizar o debate da sucessão presidencial, trouxe uma contribuição importante, mesmo porque, em face da verticalização, reduziu-se muito o espectro partidário que se habilitou à sucessão presidencial. E a presença de V. Exª ajudou a fazer com que, mais uma vez, a diversidade brasileira se apresentasse por intermédio de candidatos como V. Exª. Em segundo lugar, V. Exª combateu o bom combate e guardou a fé, como diria São Paulo, porque manteve, oportuna e inoportunamente, a pregação da proposta de seu partido, o que é muito válido no processo democrático. Na democracia, não é importante apenas a doutrina, mas também o exemplo. Às vezes, o exemplo é até mais importante do que a doutrina. Por isso, não quero deixar de fazer este reconhecimento a V. Exª. Em terceiro e último lugar, V. Exª, no momento em que discursa no Senado, analisando a sucessão presidencial, traz achegas importantes, sobretudo porque nos preparamos para, no segundo turno, definir finalmente o Presidente da República. Tenho certeza de que as sementes que V. Exª deixou lançadas no solo do tecido social brasileiro certamente vão frutificar, e espero que venham a colaborar para que possamos enraizar ainda mais a democracia em nosso País. Muito obrigado.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a delicadeza de V. Exª, Senador Marco Maciel.

V. Exª lembrou uma passagem bíblica muito bonita que repito sempre: combati o bom combate. Acabou a eleição, mantive a fé em Deus, na luta do nosso povo. A fé e a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, este País será uma pátria soberana, ética, igualitária, fraterna e, espero eu, socialista.

Agradeço a generosidade de V. Exª, Senador Romeu Tuma, desculpando-me com V. Exª e com os outros oradores inscritos por ter tomado tanto tempo. Sei que poderia fazer este pronunciamento amanhã, mas foi importante e necessário que o fizesse hoje em função de algumas questões a rondar a estrutura partidária e da nossa reunião, que, de fato, referendou o que já era uma indicação da direção nacional do Partido e da vontade majoritária dos nossos militantes.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senadora Heloísa Helena, só um minuto. Gostei da história do Senador Heráclito Fortes sobre a baleia.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Disseram-me que estou como uma piaba, de tão magrela que estou.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Mas gostaria de vê-la nas evoluções da sereia de amor.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Senador Heráclito Fortes, sinceramente, prefiro o comentário do Senador Tuma de que sou uma sereia, sem o canto melancólico.

            Agradeço a V. Exª. Penso que estou naquela marcha dos pingüins. Quem não viu o filme “A Marcha dos Pingüins”, independente de ser novinho ou adulto, é muito importante vê-lo.

Ao ver aquela resistência pela preservação da espécie, chegamos a ficar cansados. Portanto, não tenha dúvida, o que estamos fazendo é a mesma coisa.

Agradeço a generosidade de todos e a de V. Exª, Sr. Presidente. Amanhã estarei aqui, normalmente, cumprindo o meu mandato.

Muito obrigada, Senadores.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2006 - Página 30125