Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as últimas eleições na Bahia, onde o resultado não reflete o bom governo realizado pelo Governador Paulo Souto. Expectativas com relação ao segundo turno eleitoral para presidente da República.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. HOMENAGEM.:
  • Comentários sobre as últimas eleições na Bahia, onde o resultado não reflete o bom governo realizado pelo Governador Paulo Souto. Expectativas com relação ao segundo turno eleitoral para presidente da República.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2006 - Página 30233
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, AUSENCIA, VITORIA, REELEIÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), GOVERNO ESTADUAL, DEFESA, IDONEIDADE, GESTÃO, PAULO SOUTO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, RODOLPHO TOURINHO, SENADOR.
  • COMENTARIO, DADOS, RESULTADO, ELEIÇÕES, PRIMEIRO TURNO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ESCOLHA, GERALDO ALCKMIN, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGIÃO SUL, REGIÃO SUDESTE, REGISTRO, PREFERENCIA, ELEITOR, REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • EXPECTATIVA, VITORIA, CANDIDATO, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), SEGUNDO TURNO, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, se V. Exª puder repor o tempo... O tempo já está tão curto!

Sr. Presidente, é claro que o resultado das eleições é assunto palpitante para toda a Nação.

Em relação à Bahia, e é com muita honra que o faço, posso dizer que, lá, obtivemos um resultado eleitoral que não reflete o bom governo do Governador Paulo Souto; um governo que levou a Bahia a crescer mais do que o Brasil duas vezes e meia. Mas na vida pública é assim: perde-se hoje, ganha-se amanhã e vice-versa. O importante é que nós, lá, perdemos uma batalha, mas a guerra continua! Perdemos com os melhores, porque, sem sombra de dúvida, o Governador Paulo Souto é um grande homem público; tem competência, determinação e, acima de tudo, mãos limpas para conduzir o Estado da Bahia. No entanto, essa não foi a vontade do povo da Bahia.

Sr. Presidente, esse filme eu já o assisti lá atrás, em 1986, quando obtivemos um resultado desfavorável. Mas, em 1991, o Senador Antonio Carlos Magalhães voltou, democraticamente, pelas urnas, ganhando as eleições. E o Estado da Bahia foi bem governado por quatro mandatos, inclusive em um destes eu tive a honra, como disse V. Exª, Sr. Presidente, de governar a Bahia. Tivemos grandes conquistas: o Estado se industrializou, melhorou seus índices sociais, aumentou sua infra-estrutura, avançou nos serviços públicos de saúde e de educação. Enfim, temos o sentimento do dever cumprido; cumprimos com o nosso dever. Mas o povo decidiu dessa forma. Agora, vamos exercer, como fazemos aqui, uma Oposição fiscalizadora e responsável para cobrar a execução do que prometeram, porque em 1986, não cumpriram nada do que prometeram. Nada. Absolutamente nada! Naquele ano, foi eleito Governador o hoje Ministro da Defesa, Sr. Waldir Pires, que renunciou ao mandato após dois anos, entregando o cargo ao Vice-Governador. Aí, o Senador Antonio Carlos Magalhães recuperou a Bahia, a partir de 1991, e tivemos quatro mandatos democraticamente dados pelo povo da Bahia.

Sr. Presidente, temos, nesta Casa o reconhecimento dos nobres Pares ao excelente trabalho prestado pelo Senador Rodolpho Tourinho. Sabemos que quem vai perder é o Senado, é o Congresso Nacional e também a Bahia, porque o Senador Rodolpho Tourinho é competente, capaz, aliás, S. Exª relata os principais projetos desta Casa, inclusive projetos do próprio Governo, que tem confiança em sua capacidade. O Governo também perderá. Neste momento em que S. Exª está presidindo a sessão - o que é uma honra -, quero aqui registrar o bom combate travado. Temos a tranqüilidade de que estivemos com os melhores e continuaremos dessa forma nessa posição democrática, respeitando a vontade do povo, mas sendo fiscalizadores no cumprimento do papel de Oposição que teremos.

Mas, Sr. Presidente, Senador Rodolpho Tourinho, o que me traz, neste momento, à tribuna tem a ver também com a análise a respeito da eleição que ainda teremos pela frente com o segundo turno para Presidente da República.

Há pouco tempo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia que ganharia as eleições no primeiro turno. Na sua megalomania, achando que havia comprado a consciência de todo o cidadão brasileiro por meio de uma série de medidas, inclusive irresponsáveis, do ponto de vista fiscal, já que prepara uma armadilha fiscal para o próximo governo, Sua Excelência declarou textualmente, apesar de hoje negar: “Nunca falei que ia ganhar no primeiro turno por modéstia, por respeito, mas agora falo: nós vamos ganhar essas eleições domingo!” Isto foi dito na semana passada. “E se alguém achar que vai para o segundo turno, pode esperar pra concorrer em 2010, porque essa nós já matamos no primeiro turno”.

Felizmente, a posição do povo brasileiro foi conduzir a eleição para o cargo de Presidente para o segundo turno. No entanto, agora, o Presidente da República diz que quer fazer uma discussão dos grandes problemas, quer discutir ética, moral; só que ele não quis fazê-la durante todo o primeiro turno. Agora, ele quer discutir os problemas como estratégia de campanha. Pior do que isso, Srªs e Srs. Senadores, foi a divisão do Brasil, coisa que nunca aconteceu na República está acontecendo agora. Ele cindiu o País. Um País que deu a vitória a Alckmin, representado pelas Regiões Sudeste e Sul e as Regiões Nordeste e Norte que votaram em Sua Excelência. Por que isso agora? Por que essa diferença entre Norte, Nordeste, Sul e Sudeste? Esta é uma questão sobre a qual devemos e faremos uma reflexão, Srªs e Srs. Senadores, nesta Casa.

Antes, concedo o aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Um aparte bastante breve, Senador César Borges. É terrível termos um Presidente que precisa dizer que agora está disposto a discutir a questão ética.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Só agora.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quando o ideal deste Governo era que nem precisasse discuti-la por não ter incorrido em tantos deslizes.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Se tivesse ganho no primeiro turno, não teria discutido nada.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Aí não teria discutido nada.

Segundo, a expressão, como sempre, chula e grosseira: “Vou matar a eleição no primeiro turno”. Eleição não se mata, eleição se vive, se vivencia. Aos vencedores é exigida a generosidade, aos perdedores, a altivez. Mas é a festa do processo democrático. O que o Governo Lula conseguiu matar, graças à sabedoria do povo brasileiro, não foi a eleição; conseguiu matar mesmo foi a respeitabilidade de seu Governo por tantos escândalos, por tantas agressões à ética. Isso sim. E, por isso, ele se defronta com o segundo turno, em condições, a meu ver, desfavoráveis, porque não percebo que ele tenha mais gás para levá-lo a 29 de outubro, tem menos gás e, por isso, o Brasil poderá mostrar mesmo o quanto a sua democracia amadureceu, primeiro, dando a si próprio mais tempo para a meditação e, segundo, impedindo que um Governo marcado por tantos escândalos tenha mais quatro anos para protagonizar novos vexames, até de conformação, de repercussão internacional para o nosso País, para o nosso povo.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Senador Arthur Virgílio, veja que esses escândalos, nenhum deles, estão, até agora, esclarecidos; nenhum deles, nem mesmo o dos Correios, onde houve a denúncia do Ministério Público Federal, dos 40 denunciados...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Alguns, Senador, nem Freud explica.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Pois é. A Polícia Federal, agora, está dizendo que Freud não tem nada a ver com o Dossiê Gate. Mas de onde veio, Senador Sibá Machado, a quantia de 1,7 milhão, em dólares e em reais? Será que foi o Hamilton Lacerda que os levou? Vem um e diz: “Não foi”. Ele disse que não levou nada na mala. Isso não está esclarecido, e o Presidente Lula vai ter de discutir no segundo turno.

Senador Sibá Machado, concedo-lhe o aparte com satisfação, pedindo a V. Exª que seja breve, porque sequer entrei no mérito do meu discurso.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Desculpe-me, Senador, vejo que V. Exª tem apenas três minutos. O quero dizer é que, instituído o papel do segundo turno no Brasil, levou-se em consideração a representatividade do Poder Executivo em qualquer nível de administração em municípios a partir de 200 mil eleitores. Isso nos mostra que o Poder Executivo tem de ter representação mínima de 50% mais 1, que, se não atingida em primeiro turno, obrigatoriamente terá de sê-lo no segundo. Por isso, o instituto do segundo turno. Então, tínhamos, sim, a expectativa de vencer, acredito que todos a têm. Tínhamos também a expectativa de vencer a eleição em primeiro turno. Não foi possível, vamos para o segundo turno. O Presidente está tranqüilo quanto a isso, está-se reunindo com todas as pessoas de que precisa para poder organizar esta campanha, e será o momento realmente de equilíbrio das idéias. Está polarizado. O PSDB - acabei de fazer esse pronunciamento - e sua aliança e o PT e sua aliança vão polarizar os temas nacionais e os temas que se fizerem necessários. Então, cabe, com certeza, ao candidato Geraldo Alckmin apresentar o tema que achar importante, assim como ao Presidente Lula. E teremos um debate qualificado. Tenho absoluta certeza de que a população estará tranqüila para discernir e votar naquilo que acha melhor para a construção do nosso País.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Mas, lamentavelmente, essa polarização está hoje regionalizada. Senão vejamos: Santa Catarina, um Estado do sul do País: Alckmin, 56,6%, Lula, 32,2%; Rio Grande do Sul: Alckmin, 55,7%, Lula, 33,1%; São Paulo, principal Estado da Nação brasileira: Alckmin, 54,2%, Lula, 36,7%; Paraná: Alckmin, 53%, Lula 37,9%. Agora, quando olhamos o Nordeste, verificamos: Ceará, Lula, 71%, Alckmin, 22%; Pernambuco: Lula 70%, Alckmin, 22%; Piauí: Lula 67%, Alckmin, 28%. Por que isso, Senador Sibá Machado? Por que essa polarização? Por que essa divisão Nordeste, se ele não fez para o Nordeste nada do que havia prometido, nada, absolutamente? Senão vejamos: a Sudene, que foi prometida pelo Presidente Lula, foi recriada? Onde estão os grandes investimentos em infra-estrutura, portos, rodovias, ferrovias, hidrovias, hospitais? O Presidente Lula não fez absolutamente pelo Nordeste nada.

O Gasene, que vai libertar a matriz energética do gás no Nordeste do País, levando gás do Rio de Janeiro, também não foi feito; a refinaria da Petrobras prometida para o Estado de Pernambuco onde está? Foi inaugurada uma pedra fundamental. Então, ele não fez nada pelo Nordeste. Agora, ele fez, sim, o Bolsa-Família, que é um programa compensatório, um programa de auxílio-renda que nós não criticamos, que o candidato a Presidente Alckmin se compromete a manter, apesar de o PT dizer o contrário.

E foi por intermédio da fidelização do voto da população mais carente, que lamentavelmente existe no Nordeste brasileiro, que nós temos um gap, que o poder central brasileiro, de todos os Governos, nunca fez o suficiente, muito menos este, para resolver. E, por meio do Bolsa-Família, o Presidente Lula vai continuar fazendo o papel de coronel do século XXI: ele dá o dinheiro com o Bolsa-Família por um lado e toma o voto pelo outro. Agora, não leva indústrias, não capacita o trabalhador, não faz a infra-estrutura, não melhora a qualidade dos serviços públicos...

Então, essa dicotomia entre o resultado das eleições no Nordeste, no Sudeste e no Centro-Sul do País ocorre em função dessa política clientelista do Governo, e espero que o Nordeste brasileiro, de que faço parte com muita honra, com muito orgulho e que gostaríamos de ver numa rota permanente de desenvolvimento para se igualar aos Estados do Sul e Sudeste, que a nossa população reflita que não é mediante uma medida compensatória que se vai vender um voto e prejudicar o crescimento e o andamento do País por mais quatro anos, de um Governo que não se mostrou ético, que não empunhou a bandeira que prometeu ao povo brasileiro: a da moralidade; que não explicou o valerioduto, mensalões, sanguessugas e, agora, o Dossiê Gate. Atos que saíram de dentro do Partido do Governo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Então, Sr. Presidente, sei que V. Exª tem a maior compreensão, mas sempre procuro ser respeitador dos tempos concedidos. Mas é esta a indagação que faço hoje: por que está o País cindido dessa forma dicotômica entre Nordeste e Sul e Sudeste do País? É porque o Presidente Lula, talvez, use aquilo que passou por tanto tempo criticando: a desinformação, de que muitas vezes o Nordeste mais se aproxima, e não a reflexão que poderia ser feita pelo eleitorado nordestino. E, no Sul e Sudeste, pelo grau de desenvolvimento - inclusive dos índices sociais -, a população tem mais capacidade de refletir a realidade vivida e, portanto, não é um programa de compensação de renda, como o Bolsa-Família, que leva à fidelização do voto.

Então, é isto que espero: que o País possa, neste segundo turno, dar a vitória a Geraldo Alckmin, que, realmente, tem condições, pela sua vida pública de Vereador, Prefeito, Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador do Estado de São Paulo, de fazer um País diferente; um País que retome a rota do crescimento econômico, que dê sustentabilidade ao trabalhador brasileiro, que dê emprego e renda e que não faça de uma política compensatória, que é transitória, uma política permanente. Permanente é dar sustentabilidade econômica ao cidadão brasileiro. Que isso possa vir agora em uma rota de desenvolvimento econômico.

Era isso, Sr. Presidente.

Agradeço a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2006 - Página 30233