Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Constatação do que S.Exa. tem ouvido do povo de seu Estado sobre o episódio do dossiê. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Constatação do que S.Exa. tem ouvido do povo de seu Estado sobre o episódio do dossiê. (como Líder)
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Antonio Carlos Magalhães, João Batista Motta.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2006 - Página 30250
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • REPUDIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VINCULAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCONHECIMENTO, NEGOCIAÇÃO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, CONTEUDO, OMISSÃO, PUNIÇÃO, CRIMINOSO.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, DINHEIRO, APRESENTAÇÃO, SUSPEITO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, passei, Sr. Presidente, as três últimas semanas, como muitos desta Casa, no meu Estado em campanha eleitoral, defendendo os candidatos da coligação que montamos, reunindo as forças do PFL, meu Partido, do PMDB e de Partidos coligados. Há três semanas que estou em contato permanente com a população. Quem faz campanha, é claro, está em contato permanente com o cidadão.

Gostaria de, ainda que de forma breve, fazer uma constatação, Senadora Heloísa Helena, do que tenho ouvido. A capacidade de percepção das pessoas, por mais pobres que elas sejam, é cristalina. As pessoas entenderam, na primeira denúncia feita no Governo Lula, qual seja, o caso Waldomiro, o Marcos Valério, o Delúbio, o Silvinho, o José Genoino, que o Presidente Lula, de quem as pessoas gostavam ou gostam, tinha sido traído, como ele dizia, atraiçoado com uma facada nas costas. Tiveram pena do Lula, pelo fato de ele ter sido traído, atraiçoado. Ele dizia que tinha sido traído, atraiçoado, mas não dizia por quem. Essas pessoas acreditaram.

O recente caso do dossiê, Senador João Batista Motta, que aconteceu nesses últimos 15 dias, foi objeto de comentário da imprensa toda. Não foi de nenhum guia eleitoral. Esse assunto vem sendo debatido à exaustão pela imprensa livre do Brasil, que está indignada com justa razão e transmitindo informações à população.

V. Exª sabe o que recolho do povo do meu Estado e que não deve ser diferente do que V. Exª haverá de recolher do povo capixaba? Recolho que a população brasileira, que aceitou a tese de Lula no primeiro caso - Waldomiro, Silvinho, Delúbio, Genoino, dólar na cueca, aquelas coisas todas, Marcos Valério, valerioduto - entende que a renovação do escândalo com o caso do dossiê coloca o atual Governo como Governo comprometido com o crime organizado. Vou repetir. É o que eu tenho ouvido. As pessoas acham - estão achando agora - que o atual Governo é um Governo comprometido com o crime organizado, porque é uma nova quadrilha.

Sabem o que as pessoas imaginavam? Que Lula, bonzinho, tivesse limpado. Limpou, limpou a área. Tirou Delúbio, Silvinho, Genoino. Tirou todo mundo. Limpou. Disse-se atraiçoado! Se disse atraiçoado, mas limpou, fez a parte dele. Havia pessoas de dentro da casa dele envolvidas. No caso de Celso Daniel e Gilberto Carvalho, que é Chefe de Gabinete, gente de dentro do Palácio do Planalto. José Dirceu, no caso Waldomiro Diniz: gente de dentro que terminou saindo. Não saíram porque ele colocou para fora! Saíram porque pediram demissão e ele, cortesmente, aceitou o pedido de demissão. Mas, para as pessoas, passou que ele tinha limpado a área. 

Com o caso do dossiê, ficou a impressão, para a população, repito, de que este Governo, que não puniu ninguém - as pessoas que saíram assim o fizeram porque quiseram -, que convive com a improbidade e com a impunidade, este Governo está, mais uma vez, comprometido com o grande escândalo, que não é de uma pessoa só, é de um grupo grande de pessoas, e de onde? De dentro do PT, de dentro do Governo.

As pessoas, por mais pobres que sejam, recebem a informação, processam e guardam. Guardam perfeitamente, guardam e concluem: o Governo que nos governa é um governo comprometido com o crime organizado. Antes era o “valerioduto”; agora é aquela fotografia do dinheiro, R$1,7 milhão, reservado - o dinheiro não se sabe ainda de onde veio e a fotografia só foi publicada por pressão grande por parte da imprensa e da Oposição.

É a renovação de um escândalo que as pessoas começam a identificar como um escândalo feito, mais uma vez, por gente de dentro do Palácio do Planalto, por gente como Delúbio, Silvinho, Genoino, como todos os outros “Valdomiros” anteriores, gente do PT e de dentro do Palácio do Planalto. Quem são eles? As pessoas guardam nomes, mas não sabem ao certo quem é quem e quem fez o quê.

Isto é que quero mostrar hoje, para organizar o raciocínio: quem são as pessoas e a quem elas são vinculadas. As pessoas são Expedito Veloso, Gedimar Passos e Valdebran Padilha, Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Hamilton Lacerda, Ricardo Berzoini, Freud Godoy, e tudo isso chega a Lula.

Antes de fazer a conexão entre as pessoas, concedo, com muito prazer, o aparte ao Senador João Batista Motta para, em seguida, construir com V. Exªs o raciocínio que penso que o povo brasileiro já fez, mas que seria bom organizarmos neste plenário.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador José Agripino, apenas gostaria de acrescentar ao seu pronunciamento o seguinte: anteontem à noite, as televisões mostraram a imagem do Presidente da República, de braços abertos na horizontal, indagando quem seriam as pessoas que promoveram o escândalo do “mensalão”. De braços abertos, ele dizia que também queria saber essa informação, passando à população brasileira o seguinte raciocínio: são do mesmo Partido, trabalhavam no mesmo prédio, no mesmo andar, mas aqueles companheiros, aqueles colegas, não têm a devida confiança no seu companheiro, ou seja, no Presidente da República para confiar a ele a informação sobre a origem do dinheiro. Obrigado, Senador José Agripino.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador João Batista Motta, V. Exª fez o aparte, antecedendo o que eu ia colocar a partir de agora.

Lula deu uma entrevista à Rádio CBN em que disse ipsis literis: “Peço a Deus para viver o tempo necessário para saber quem comprou o dossiê e qual o conteúdo desse dossiê”. Disse isso em tom dramático, em uma maravilhosa encenação de um ator saído do Actors Studio de Nova Iorque.

Senador João Batista Motta, vamos aos fatos. O Presidente Lula disse que queria que Deus lhe desse o tempo de vida necessário para desvendar o caso. Não é preciso! Para que essa encenação toda? Para que querer enganar o povo brasileiro? Quem são as pessoas envolvidas? Acabei de nominá-las. Antes de V. Exª me apartear, nominei essas pessoas. Quem são essas pessoas? Quem são Gedimar Passos e Valdebran Padilha? Gedimar Passos é filiado ao PT de São Paulo; Valdebran Padilha é filiado ao PT do Mato Grosso. Quem são eles? Foram os senhores pilhados no Hotel Ibis, presos pela Polícia Federal com R$1,7 milhão. São filiados ao PT; um de São Paulo, outro de Mato Grosso. Será que ele não sabe quem são? Até admito que não o saiba. Pode até ser que não saiba.

Hamilton Lacerda é o outro protagonista. Quem é Hamilton Lacerda? Assessor da campanha do Senador Aloizio Mercadante, uma figura de proa. Quem é ele? É o homem que - dizem - levou o dinheiro, de elevador, até o apartamento do Hotel Ibis. É claro que é militante do PT!

Quem são as demais pessoas dentro do organograma? O chefe é Jorge Lorenzetti. Quem é ele? É o churrasqueiro de Lula. E qual é a função dele? Ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina - pediu demissão após o escândalo -, ex-chefe do Serviço de Inteligência da campanha de Lula, também foi integrante da CUT na época do Delúbio e era o chefe de Gedimar, de Bargas e de Expedito. Quem são Gedimar e Valdebran? Os homens foram pilhados no quarto de hotel com R$1,7 milhão. Quem é Hamilton? O homem que levou o dinheiro. Quem é o chefe dessa turma toda? É o Sr. Hamilton Lacerda. Ele é petista? Supõe-se. É o coordenador da campanha do Senador Aloizio Mercadante.

Antes de prosseguir, ouço o Senador Antero Paes de Barros.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Gostaria de informar a V. Exª uma notícia de última hora da Folha Online, segundo a qual: “Frateschi critica a postura de Lula”. Frateschi é presidente do Diretório do PT de São Paulo e está criticando a atitude do Presidente Lula em relação ao episódio do dossiê. “Em sua opinião, os envolvidos não devem ser classificados de aloprados ou de bandidos”. É a opinião de Frateschi, Presidente do PT de São Paulo. “Essa coisa de chamá-los de bandidos eu não concordo, eu não concordo mesmo. Não são bandidos. Eu os conheço. Convivi com eles, certo? Não são bandidos. Não fizeram por mal. Fizeram porque chegaram a um nível de pressão que erraram” - diz Frateschi após participar da reunião que oficializou Marta Suplicy como coordenadora de Lula.

O Presidente do PT de São Paulo diz: “Não, são petistas!” Se não-petistas fizessem o mesmo, seriam bandidos. Mas, como são petistas, Frateschi diz: “Não são bandidos. São companheiros nossos”. Ou seja, petista tem direito de fazer isso; não-petista é bandido. Se for petista, não é bandido.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Bandido, não: aloprado, como diz o Presidente Lula. Aloprado.

Ouço, com muito prazer, o Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - O pior, Excelência, é o que ouvimos a cada dia. Saem uns e entram outros piores.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - É por batelada, Senador Antonio Carlos Magalhães, por bateladas. É crime por bateladas.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - São gangues que entram para substituir outras gangues. E o Presidente da República diz que não sabe de nada. Ele está juntando-se a essas pessoas. É só olhar os processos que existem no Supremo Tribunal Federal.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Antonio Carlos, o que está indignando o povo brasileiro e que recolhi na campanha eleitoral é que as pessoas imaginavam que Lula bonzinho tivesse limpado a área, limpado o governo. Aí vem novamente um grupo de petistas, um outro grupão, que pratica o crime do dossiê, com aquela fotografia do R$1,7 milhão, e Lula se diz, mais uma vez, vítima de um grupo de aloprados.

Quem são os aloprados? Quem é Freud Godoy? É de dentro da casa de Lula. Quem é Lorenzetti? É o churrasqueiro de Lula. E ele diz que são aloprados! Ele, mais uma vez, se faz de vítima e pede a Deus tempo de vida para ver essas pessoas todas identificadas como culpadas.

Por que ele não chama essas pessoas? Ele as conhece bem. O chefe de todos eles é o Sr. Ricardo Berzoini, que era o coordenador da campanha. Quem era o Sr. Jorge Lorenzetti? Era o chefe do Serviço Secreto de Lula, que comandava Expedito Veloso, Gedimar Passos, Valdebran Padilha e Osvaldo Bargas. Essas pessoas são petistas subordinados a Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro de Lula, que se reportava a Ricardo Berzoini, que era Ministro de Lula, presidente do Partido, e que foi destituído da coordenação.

Por que Lula não chama essas pessoas para uma reuniãozinha dentro do Alvorada e esclarece esses fatos todos? Denuncia ao País e diz: vocês que me traíram estão execrados diante da opinião pública. Mas, em vez de fazer a reuniãozinha com os dele, fica posando para a platéia, pedindo a Deus tempo para explicações, para constatações.

O que estou vendo na rua, Sr. Presidente, é o povo brasileiro indignado com a reincidência. O povo aceitou a desculpa no primeiro caso; no segundo, não aceitou mais, e não aceitou que Lula não fosse ao debate para dar as explicações que ele diz que poderia dar. Por que não foi ao debate dar as explicações? Por que não foi ao debate? Por que diz, na CBN, que quer tempo, que pede a Deus tempo para explicar coisas que ele já teve oportunidade, no debate, de explicar? Por que é que ele não vem a público e reúne essas pessoas que são de sua intimidade para, reunindo, esclarecer e, esclarecendo, ele próprio denunciar e dar o exemplo da punição aos culpados?

Sr. Presidente, o segundo turno da campanha está aí e agora é o mano a mano. Os fatos estão postos. Não fomos nós que criamos o caso dossiê; ele nasceu das mãos do PT e de petistas. É mais um cadáver insepulto nas mãos do Governo do PT, que vai ter que ser esclarecido e vai ter que ser objeto de debate.O povo do Brasil espera e com a palavra está o Presidente Lula. Ao invés de declarações manhosas e cavilosas, entrevistas de rádio e televisão, que chegue para os culpados - se é que tem coragem -, que os denuncie e apresente ao Brasil os culpados do crime.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2006 - Página 30250