Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A responsabilidade pelo dossiê montado contra José Serra.

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • A responsabilidade pelo dossiê montado contra José Serra.
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2006 - Página 30330
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, TENTATIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RETIRADA, CULPA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PREJUIZO, ADVERSARIO, ELEIÇÕES, DETALHAMENTO, VIDA, SUSPEITO.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, EPOCA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PUBLICAÇÃO, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENTE DA REPUBLICA, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRUPÇÃO, ILEGALIDADE, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, ORADOR, INOCENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), CRITICA, FALTA, ETICA, ADVERSARIO.
  • ACUSAÇÃO, FALTA, ETICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESRESPEITO, POPULAÇÃO.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é preciso diariamente, agora, ocupar esta tribuna para demonstrar uma farsa que está sendo urdida nos bastidores da política brasileira.

O PT e os porta-vozes do governo tentam tirar dos ombros de Lula e do seu partido a responsabilidade pelo dossiê montado contra José Serra.

Não podem incriminar diretamente o PSDB, porque seria desfaçatez demais e ofensa à inteligência do eleitor colocar José Serra e Alckmin como autores da trama.

Tentam reverter o fluxo de lama, apontando para o delegado Edmilson Pereira Bruno. Prestem atenção: ontem, no seu blog [aquele que, de fora, continua mandando no Governo Lula], o deputado cassado Zé Dirceu, deu a senha em nota postada às 14 horas e 54 minutos, sob o título: “O herói do momento”, em que afirma:

“Nossa mídia não toma jeito. Vale tudo para derrotar Lula. Veja matéria da Folha de S.Paulo (para assinantes) com o herói do momento, o delegado Bruno, da Polícia Federal. Na entrevista, ele defende a ilegalidade e o crime que praticou e fica tudo bem. Uma barbaridade.”

O José Dirceu deu a senha ontem. Hoje a imprensa engajada na campanha de Lula já começa a divulgar a novíssima versão petista, como se isso mudasse a realidade dos fatos. Mas não muda nada.

O eleitor não é bobo. As digitais de Lula, de Aloizio Mercadante infelizmente, de seus assessores mais próximos estão impregnadas no dossiê contra Serra e o PSDB.

Freud Godoy, que apresentou os participantes petistas da operação dossiê, no caso, Gedimar e Valdebran Padilha, é figurinha carimbada da cozinha de Lula, pessoa da sua absoluta confiança.

Freud foi segurança pessoal de Lula por longa data. Em 99, quando o PT organizou a manifestação contra o ex-presidente FHC, logo após a sua reeleição, Freud foi indicado por Lula para coordenar, junto à Polícia de Brasília, a segurança do ato público em frente ao Congresso.

Freud Godoy é o personal trainer do Lula. Tinha gabinete no 3º andar do Palácio do Planalto. Mais do que assessor especial da Presidência da República, Freud é uma espécie de faz tudo para o Presidente e D. Marisa Letícia. Cuida dos imóveis da família, dá assistência ao filho do Presidente. Com esse nome, deve ser também o psicanalista da família Lula da Silva.

Se Freud está envolvido na trama do dossiê, e como está!, é claro que é porque Lula mandou. Não há dúvida quanto a isso.

Vamos lá, outro integrante: Jorge Lorenzetti, também integrante da cúpula da campanha presidencial de Lula, é outro de longa trajetória na cúpula do PT.

Foi dirigente da CUT na mesma época de Delúbio Soares, o nosso Delúbio, como costuma dizer Lula. Lorenzetti não é da cozinha, é da churrasqueira e da varanda de poder do Lula. É o churrasqueiro oficial do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Em um instante.

Amigo do peito, homem de confiança de Lula, designado para missões muito especiais, como, por exemplo, assessorar filhos do Presidente nos negócios em Santa Catarina.

Outro envolvido é Oswaldo Bargas, velho amigo do Presidente. Foi Secretário de Relações do Trabalho durante as gestões de Jaques Wagner, Governador eleito da Bahia, e Ricardo Berzoini no Ministério do Trabalho.

Quando Luiz Marinho assumiu a Pasta, tornou-se seu chefe de gabinete. Deixou o cargo para integrar a campanha de Lula pela reeleição, na qual era, oficialmente, o responsável pelo capítulo sobre trabalho e emprego do programa. 

Oswaldo Bargas é casado com Mônica Zerbinato, secretária pessoal do Presidente Lula. Portanto, mais um da cozinha do Presidente.

Na campanha presidencial de 2002, Bargas, o Oswaldo, fazia parte do chamado bunker de Lula, responsável pelas operações politicamente incorretas da campanha. Esse bunker foi quem desmontou a campanha de Ciro Gomes - hoje aliado do Lula -, ao acusar seu Vice de 2002, o Paulinho, da Força Sindical, de desvio de verbas da Força Sindical.

Não é surpresa nem coincidência que ele, Oswaldo Bargas, agora esteja envolvido em mais uma operação suja numa campanha eleitoral de Lula - ele já fez esse papel em 2002 e o repete agora em 2006.

Segundo a revista Época, Bargas e Lorenzetti ofereceram um dossiê à revista contra o tucano José Serra e o ex- Ministro da Saúde Barjas Negri.

A Época não aceitou, mas a ISTOÉ publicou. E o resultado dessa operação do dossiê Tabajara todos sabemos. Foi tiro no pé de Lula, de Mercadante.

E tudo que se revelou até agora sobre esse tema mostra claramente o envolvimento de pessoas muito próximas a Lula. Próximas não do ponto de vista formal e administrativo apenas. Pessoas da intimidade, da amizade pessoal de Lula e da cúpula do PT.

Não estou aqui para defender o delegado da Polícia Federal. Mas não podemos aceitar que o PT tente que tirar o corpo da lama, inventando essa intriga mirabolante - aliás, o PT está atrás de um outro Delúbio, de alguém que possa assumir esses crimes para poder apresentar à imprensa brasileira. Já ouvi dizer que estão procurando esse outro Delúbio até no Centro-Oeste brasileiro.

Depois do caso Waldomiro Diniz - do qual Lula também não sabia -depois do mensalão de José Dirceu, do caso Palocci, depois do episódio da Caixa Econômica/GTech, das operações de Paulo Okamotto, não adianta o PT e Lula tentarem posar de bons meninos.

Em artigo publicado hoje na Folha de S.Paulo, o jornalista Elio Gaspari observa o seguinte:

“O calor que o senador Eduardo Suplicy tomou de Guilherme Afif Domingos mostra que se quebrou a associação da decência ao PT. Se são todos iguais, Lula é igual a Maluf e Fernando Collor. Exagero? Ouça-se Maluf: “Tenho plena consciência de que o presidente Lula é um homem limpo e correto”. E Lula: “Collor poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional no Senado”. Lula e o PT associaram-se a práticas indecentes. Fizeram isso porque quiseram. A mistura custou o resultado de domingo.”

Serra é o primeiro Governador eleito em primeiro turno no Estado de São Paulo e Geraldo Alckmin está no segundo turno da eleição presidencial, com enorme chance de vencê-la no dia 29 de outubro.

O PT e seu governo viraram sinônimo de corrupção. No Dicionário Aurélio, constará a definição de PT: Partido dos Trabalhadores, isso, aquilo, e também corrupção.

É uma denúncia atrás da outra. Nunca se viu tanta ilegalidade em um único governo. Nunca este pobre País foi tão aviltado, dilapidado, maltratado como neste governo Lula e seus 40 ladrões do mensalão.

Quero mencionar aqui mais um trecho do artigo de Elio Gaspari, cujo sugestivo título é “A marcha dos palhaços”, que diz o seguinte:

“Não há nenhuma prova, indício ou pista de que haja bico tucano na construção do papelório. Há apenas um raciocínio lógico: se os tucanos foram favorecidos pelo episódio, há dedo deles na produção. Coisa assim: a invasão da Rússia por Hitler permitiu que Stalin consolidasse a sua tirania, donde, Hitler foi uma jogada de Stalin.”

No caso que estamos aqui analisando, o fato real é que o dossiê era contra o PSDB e que o dinheiro que pagaria esse dossiê estava com gente graúda do PT. Esse é o fato. Essa é a verdade.

Se o dinheiro foi fotografado ou não, se a foto foi escondida ou divulgada, se o delegado apressou ou retardou a apuração, não importa. Aliás, diga-se de passagem, a foto do dinheiro foi divulgada e as fotos com as quais tentaram incriminar José Serra foram divulgadas antes. E o PT não deu nem um pio.

Essas dúvidas são apenas acessórios, são questões decorrentes, meros detalhes, factóides de que o PT, sob o comando de José Dirceu, tenta lançar mão para se livrar dos efeitos maléficos da gigantesca operação Tabajara montada pelos homens da inteligência - e que inteligência! - do PT.

Não dá pra esconder, não dá pra fugir, não dá pro Presidente Lula dizer que não sabia, que foi traído, como já fez nos escândalos passados. A ética há muito deixou de ser exclusividade do PT. Muito pelo contrário.

Hoje, quando se descobrem lambanças, falcatruas e trambicagens, todo mundo logo pensa: “Aí tem o dedo de alguém do PT”. E sempre tem mesmo.

O dossiê é a cara do PT. Traz a marca de Lula, de Berzoini, de Bargas, dessa gente toda. O dossiê é caso de polícia, de sanatório, de internação. Todo o PT sabe. E talvez o Freud, assessor, explique - ou talvez o Freud, psicanalista, possa explicar tudo isso.

Concedo um aparte ao ilustre Senador Flexa Ribeiro, do brilhante Estado do Pará.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Nobre Senador Antero Paes de Barros, seu pronunciamento é esclarecedor e mostra à sociedade brasileira tudo aquilo que o governo procura esconder, com aquelas práticas de “eu não sabia, eu não vi, eu não tenho nada com isso”. V. Exª faz um acompanhamento dos fatos, denominando as pessoas envolvidas, todas ligadas ao Partido dos Trabalhadores e próximas ao Presidente. Hoje, o que a Nação brasileira mais quer saber é de onde veio esse dinheiro, quem foi que o entregou, como ele foi sacado e quem transferiu esse dinheiro para as pessoas que o levaram até o hotel em São Paulo. É isso que todos hoje buscam saber. Com certeza absoluta, pelo trabalho da Polícia Federal, isso deverá vir ao conhecimento da Nação brasileira. Eu ia também, quando lhe pedi um aparte, dizer algo à eminente Senadora Ideli Salvatti, mas S. Exª já não se encontrava no plenário. A Senadora fez referência à privatização da Vale do Rio Doce, que é hoje a terceira maior mineradora do mundo. Perguntaria a S. Exª o que seria da Vale não privatizada tendo talvez como presidente o Sr. Delúbio.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Para encerrar, gostaria de dizer o seguinte: o próprio Presidente Lula afirma que também queria saber. É tão simples o Presidente saber. É só chamar o Oswaldo Bargas, o Jorge Lorenzetti, aquele que tem nome de psicólogo, o Freud, o Berzoini, o Waldomiro, o Delúbio e pedir-lhes: “Meus amigos íntimos, digam-me o que aconteceu. Aqui não tem Polícia Federal, não tem nada”. É só chamá-los ao Palácio da Alvorada e pedir que eles contem para o Presidente como fizeram isso.

Essa história de que Lula não sabe é querer distribuir mais de cem milhões de bolas vermelhas para o povo brasileiro colocar no nariz, como se o povo brasileiro fosse uma geração de idiotas. Nós não somos Eremildos, não somos idiotas. Nós sabemos que ali estão todas, rigorosamente todas as impressões digitais de alguém que chegou à Presidência da República como Presidente operário e vai sair da Presidência da República como Presidente operário que, infelizmente, fez um governo que rouba e deixa roubar.

Eram essas as considerações, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2006 - Página 30330