Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A ausência de limites na "megalomania" do Presidente Lula. Citação de matéria do jornal Folha de S.Paulo, sintetizando a inconsistência da lógica "lulista". Questionamentos sobre as responsabilidades no episódio do dossiê contra candidatos do PSDB.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • A ausência de limites na "megalomania" do Presidente Lula. Citação de matéria do jornal Folha de S.Paulo, sintetizando a inconsistência da lógica "lulista". Questionamentos sobre as responsabilidades no episódio do dossiê contra candidatos do PSDB.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Marcos Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2006 - Página 29580
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, VULTO HISTORICO, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, CRIME, FAVORECIMENTO, REELEIÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROTEÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, CRITICA, INCAPACIDADE, FORMAÇÃO, GOVERNO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, DEMORA, INVESTIGAÇÃO, EFETIVAÇÃO, PRISÃO, ACUSADO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, POSTERIORIDADE, ELEIÇÕES.
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), CONFIRMAÇÃO, DIFUSÃO, CORRUPÇÃO, ACEITAÇÃO, SOCIEDADE, JUSTIFICAÇÃO, AUMENTO, POSSIBILIDADE, VITORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, REGISTRO, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, VOTO, ELEIÇÕES, SEGUNDO TURNO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESPANHA.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, DINHEIRO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), NECESSIDADE, JUDICIARIO, URGENCIA, INVESTIGAÇÃO, CRIME.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a megalomania do Presidente Lula parece não ter limites, em especial quando se vê acossado por denúncias envolvendo pessoas muito próximas, como ocorreu nos casos do mensalão, dos sanguessugas e, agora, no chamado dossiegate.

Ele diz exatamente o seguinte: “Nunca antes se fez tanto neste País, sobre qualquer coisa”. Vem agora dizer que traição igual a que ele sofreu só a de Tiradentes e a de Cristo.

Deixando de lado a impropriedade histórica ao se comparar com a figura do mártir Tiradentes e o sacrilégio de tentar ombrear-se com o Filho de Deus, a lógica do Presidente Lula demonstra-se incoerente com os fatos que tenta camuflar.

No “Painel do Leitor” da edição de hoje da Folha de S.Paulo, há trecho de uma interessante carta do Sr. Jaert Jacó Sobanski - não o conheço -, que, a meu ver, sintetiza muito bem essa inconsistência da lógica lulista diante dos fatos.

“Os traidores de Cristo e de Tiradentes visavam benefícios próprios. O primeiro [o traidor de Cristo, Judas], pôr dinheiro no bolso [os chamados trinta dinheiros]; o segundo, a tranqüilidade de não ser sentenciado”. Quer dizer, ele não queria ser preso.

“Os pseudotraidores de Lula, diferentemente, arriscaram suas cabeças procurando exclusivamente o benefício do presidente. Não são traidores; são amigos do peito. Ao repudiá-los, o presidente revelou-se ingrato. E, se sabia, ele é que traiu os amigos”.

São situações, Senador Marco Maciel, completamente diferentes. Quando alguém trai o outro, o faz em beneficio próprio, como ocorreu no caso citado pelo Presidente Lula. Na fato específico, essas pessoas ditas traidoras não foram traidoras, mas companheiros que tentaram ajudá-lo; certamente, se tivesse dado certo, o Presidente Lula estaria muito feliz com eles. Então, se alguém traiu, foi o Presidente Lula, que está traindo essas pessoas que se meteram nesse imbróglio.

O Sr. Jaert tem toda razão. Algumas das acepções para o verbo trair, segundo o Dicionário Houaiss, são: “iludir, enganar por traição, atraiçoar, demonstrar infidelidade a, abandonar de maneira traiçoeira, deixar de cumprir uma promessa ou compromisso, deixar de corresponder à expectativa”. 

Os pseudotraidores de Lula, de fato, não se encaixam em qualquer uma dessas definições, porque não são traidores. Estavam cumprindo missões partidárias ou missões de interesse da campanha do Presidente da República. De repente, como se diz no jargão policial, a casa caiu.

Um dos trechos das mensagens trocadas por telefone entre o detido na Polícia Federal, Valdebran Padilha, e o então diretor do Banco do Brasil - dois petistas - foi o seguinte: “Estou na Polícia Federal de São Paulo. Me ajude”. Se pediu ajuda, tinha certeza de que alguém de cima poderia intervir e liberá-lo.

Quando do escândalo do mensalão, ao ver-se envolvido em atos criminosos praticados por companheiros, o Presidente Lula veio a público dizer que estava sendo traído, mas negou-se a dizer por quem. Quando somos enganados, nossa reação natural é denunciar os fatos reais e as pessoas, para que a verdade se estabeleça. Com Lula, não foi assim. Nunca disse quem era o traidor e não afastou ninguém de seu Governo. Os que saíram o fizeram por espontânea vontade, alguns deles recebendo afagos públicos de Sua Excelência.

Recentemente, o ex-Presidente do PT José Genoino, um dos denunciados pelo Procurador-Geral da República, encontrou-se na surdina com Lula no Palácio do Planalto - dentro do Palácio do Planalto. José Dirceu e Delúbio Soares, segundo a imprensa, continuam atuantes e ativos no Governo Lula e são peças importantes na campanha da reeleição. Verdadeiros traidores não têm tratamento VIP. Os que são realmente traídos querem distância de pessoas tão abjetas.

No escândalo do dossiê para prejudicar as candidaturas de Alckmin e Serra, o Presidente elegeu diletos companheiros, para, de novo, servir como fusíveis e serem descartados, evitando que a crise caísse no colo de Lula.

O sempre amigo Deputado Ricardo Berzoini, atual presidente do Partido dos Trabalhadores e ex-ministro de Lula, foi escalado para ser o boi de piranha. Ele já tinha uma ficha corrida de bons serviços ao PT e a Lula e recebeu o encargo de ser “o chefe dos meninos aloprados”.

Aliás, em relação ao Deputado Berzoini, penso que haja uma incoerência nessa decisão de tirá-lo do comando da campanha. Senador Marco Maciel, se o Deputado Ricardo Berzoini, por ter cometido uma irregularidade, um crime de tentativa de compra ou de participação na compra de um dossiê com dinheiro vivo, R$1,75 milhão - que não é pouco dinheiro; não é R$1 mil, nem R$2 mil, é R$1,75 milhão -, não serve para ser coordenador da campanha do Presidente Lula, por que deverá servir para ser presidente do PT?

Das duas, uma: ou ele é inocente - o que confessou que não é - ou isso não é importante, e ele pode continuar exercendo as duas funções, de presidente do PT e de coordenador da campanha do Presidente. Se ele não serve para coordenador da campanha do Presidente, servirá para presidente do PT? Quer dizer, alguém que comete uma irregularidade, alguém que comete um crime pode presidir o PT? É esse o raciocínio? É isto que está ficando claro para o povo brasileiro: não serve para uma coisa, mas serve para outra.

Um homem íntegro reagiria com veemência ao sofrer uma acusação de prática criminosa que não cometera, mas Berzoini resumiu-se a declarar: “Se Lula falou, está falado”. Um pseudotraidor não seria mais cordato.

Se há algo que se deve reconhecer nas hostes petistas é a disposição para a auto-imolação, uma atitude quase suicida, em prol da preservação do poder lulista, no estilo dos homens-bomba do Oriente Médio, nem que essa fidelidade canina redunde numa ordem de prisão, como aconteceu ontem contra seis fiéis seguidores de Lula.

A Justiça Federal de Mato Grosso mandou prender os petistas Valdebran Padilha, Gedimar Passos, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Expedito Veloso e o pau-para-toda-obra de Lula, Freud Godoy. Só faltou Ricardo Berzoini. Foi pedida prisão para todo o resto - o Procurador pediu e o Juiz concedeu.

O mais interessante, Sr. Presidente Marco Maciel, foi a declaração do Sr. Geraldo Pereira, Superintendente da Polícia Federal do Mato Grosso, que disse o seguinte sobre as prisões: “Entendemos que essas pessoas não estão dificultando a investigação, o que denota que a gente comprova que determinadas pessoas estão pegando carona na nossa investigação; querem apenas criar fatos e talvez até tumultuar nossa investigação”.

Ora, ele disse isso na televisão. Eu o ouvi. É a primeira vez, Sr. Presidente, que vejo um delegado da Polícia Federal não querer que se prendam os criminosos. Os Srs. Valdebran Padilha e Gedimar Passos, os dois, foram presos em São Paulo num hotel com R$1,75 milhão, cash, em real e - o que é mais grave ainda - em dólar. Todos sabem que dólar não é a moeda do País e que é proibido andar com dólar no bolso. Mas eles não estavam com o dinheiro no bolso, não. O dinheiro estava numa mala, porque R$1,75 milhão não cabe numa malinha 007; só cabe em mala de viagem, dessas malas que se despacham no avião. Então, eles estavam com esse dinheiro todo.

O Sr. Marcos Guerra (PSDB - ES) - V. Exª me permite um aparte, Senador José Jorge?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador Marcos Guerra.

O Sr. Marcos Guerra (PSDB - ES) - V. Exª está comentando o assunto acerca do R$1.750.000,00. Para mim, qualquer cidadão que anda com R$10 mil no bolso, em dinheiro vivo, já é suspeito. Atualmente, a facilidade de se transferir recursos de lá para cá é muito grande: TED, ordem de pagamento, transferência via computador, essas coisas todas, não é? No entanto, uma pessoa é pega com R$1.750.000,00, e ainda não se descobriu a origem do dinheiro. Portanto, eu chamo a atenção para o fato de que, acima de R$10 mil, é muito dinheiro para um cidadão transportar na mala, a não ser quando viaja para o exterior. E se quiser carregar US$4 mil ou US$5 mil tem que declarar. Fora isso, ele passa a ser um cidadão suspeito. A não ser que saia da empresa para fazer um pagamento com duplicatas ou algo mais, com o dinheiro já teleguiado. Mas viajar de avião ou se hospedar em hotel, ele passa a ser um cidadão suspeito.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - O que eu estranho é a declaração do Superintendente da Polícia Federal. Não sei se V. Exª estranha também. Porque, se ele é o Superintendente da Polícia Federal, a Polícia Federal está fazendo a investigação a passo de tartaruga, exatamente para que fique para depois da eleição. A grande idéia é não descobrir nada antes da eleição, o que, a meu ver, mela a eleição. O Presidente Lula tem a obrigação de, independentemente da Polícia Federal, dizer de onde veio esse dinheiro.

Sua Excelência é amigo de todas estas pessoas: Valdebran Padilha; Gedimar Passos; Jorge Lorenzetti, churrasqueiro do Presidente há mais de 20 anos; Osvaldo Bargas, que, na eleição passada, também participou de um grupo de contra-informação para montar denúncias contra adversários; Expedito Veloso, que é Diretor de Risco do Banco do Brasil - imaginem, em qualquer banco do mundo, até um tamborete, um banco pequeno, o diretor de risco é um técnico, o técnico mais conceituado do banco, porque é quem vai dizer para quem o banco deve emprestar ou não -; e Freud Godoy, uma espécie de segurança, o faz-tudo de Lula.

O Presidente Lula, portanto, não precisa da Polícia Federal para investigar de quem era esse dinheiro. Sua Excelência tem de chamar essas pessoas lá e dizer: “Venham cá, vocês estão metidos nisso. Vocês foram pegos com o dinheiro. Não tenho o que dizer ao povo brasileiro. Vocês foram pegos com R$1.750.000,00 no bolso e na mala. Faltando uma semana para a eleição, ninguém pode votar sem saber de onde veio esse dinheiro. Então, vocês têm de me dizer para eu dizer ao Brasil. Vou convocar uma entrevista coletiva para sexta-feira”.

O Presidente Lula não quer que a Oposição use isso na campanha. Tudo bem. A campanha acaba na quinta-feira, com um debate na TV Globo. Sua Excelência vai ao debate e anuncia que, na sexta-feira, vai dizer de onde veio o dinheiro. Que coloque todos eles sentados, não precisam ser presos. Valdebran, Gedimar, Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas, Expedito Veloso e Freud Godoy são pessoas de Lula. Que o Presidente os chame no comitê central da campanha e expliquem ao Brasil e ao mundo de onde veio esse dinheiro.

           Se Sua Excelência fizer isso, até que merece que alguns brasileiros que têm admiração por ele votem nele; se não fizer, estará enganando o Brasil inteiro. Ele tem que dizer isso antes da eleição, sob pena de o pleito ficar sub judice, sob suspeita. Enquanto não disser isso, é o principal suspeito no caso. Porque é muito dinheiro. Dá para acreditar que um bando de segundo e terceiro escalão consegue mobilizar R$1.750.000,00 em dinheiro? Isso é coisa de gente importante, de primeiro escalão, de Ministro, de Presidente da República. Não é para esse pessoal. Se dissessem que estavam com R$10 mil no bolso, eu diria: “Tudo bem, eles têm condição”; R$50 mil, R$100 mil, tudo bem. Mas R$1.750.000,00, não têm!

           Portanto, o Presidente Lula, até anunciar de onde veio o dinheiro, é o principal suspeito. Como é que ele diz que vai mandar investigar? Não é ele que deve investigar. Quem deve investigar é o Poder Judiciário. Não é a Oposição nem os Partidos da Oposição. Quem tem que investigar é o Poder Judiciário, que realmente tem isenção para investigar, e não o Delegado da Polícia Federal, que está aborrecido porque prenderam os suspeitos. Suspeitos não, porque a maioria nem é suspeita; a maioria foi pega com dinheiro, foi pega em flagrante. Agora vem dizer que não podem ser presos por causa da eleição. Isso é um absurdo. A Lei Eleitoral foi feita para proteger o eleitor contra a perseguição política. Essas pessoas não têm que ser protegidas. Vamos supor que Fernandinho Beira-Mar fugisse da cadeia. Ele ia ficar solto até terça-feira? Ninguém poderia prendê-lo só por causa da Lei Eleitoral? Tem lógica essa lei? A lei é para proteger, mas não pessoas que andam com R$1.750.000,00 no bolso. Eles foram presos em flagrante, com dinheiro no bolso.

A meu ver, eles deveriam ser presos, mesmo com essa lei.

Lula os chamou de “meninos aloprados”. Chamá-los de “meninos aloprados” não impressionou a Justiça, pois, como todos sabemos, de “meninos” não têm nada. São pessoas que ocupavam posições estratégicas no Governo Lula.

Um era Diretor do Banco do Brasil;outro, do Banco do Estado de Santa Catarina;um, redator do Programa de Governo de Lula;outros, tesoureiro e advogado do PT. Finalmente, o mais importante deles, o Secretário Particular de Lula, sobre o qual foram feitas todas as gestões no sentido de alijá-lo do escândalo devido à grande proximidade do Presidente da República.

Na verdade, o Sr. Freud Godoy é com quem ele se preocupa. Por quê? Porque Freud Godoy é aquele que faz ginástica com o Presidente, até no filme sobre a campanha, Entreatos, ele aparece. Quer dizer, é uma pessoa ligadíssima a Lula. E Gedimar Passos, no primeiro depoimento que prestou à Polícia Federal, antes de combinarem o depoimento - porque agora, com ele solto, o depoimento é todo combinado -, disse que quem deu a ordem para ele realizar essa operação foi o Sr. Freud Godoy. O Sr. Freud Godoy desmente. Mas,no momento do aperto,é que a pessoa diz a verdade. Se a pessoa está apertada, presa, a primeira tendência é dizer a verdade. Uma semana depois, já vai inventando uma história. Portanto, a história inicial é muito mais verdadeira do que a de hoje.

Como comentei ontem, para saber exatamente quem são os mentores desse crime, qual é a origem do dinheiro, quem são os corruptores e, agora, envolvidos num crime eleitoral que pode custar a reeleição de Lula, bastaria que Sua Excelência chamasse seus amigos e pedisse que revelassem as tramas ilícitas.

Como eu disse, basta o Presidente Lula convidar todos eles para irem ao Palácio. Sua Excelência poderia convocar uma entrevista coletiva, que pode ser na sexta-feira pela manhã. Um belo dia. A campanha eleitoral terá terminado, e o Presidente Lula poderá divulgar o que todos querem saber: de onde veio o dinheiro.

Se não o faz, é porque, com certeza, não interessa a Lula que os fatos sejam elucidados, pois isso pode deixar seu Partido e sua candidatura em situação ainda pior. Mas a verdade sempre aflora, e, no momento oportuno, a Justiça e a sociedade farão o julgamento devido.

Ao não se responsabilizar pelos atos de seus subordinados, chamando-os de “meninos”, Lula confirma sua incapacidade de formar um Governo competente e decente. Não é sem razão que, no guia eleitoral de ontem, ele prometeu que, se reeleito, teria uma equipe de trabalho melhor. Pior também não poderia ser. Uma equipe pior do que a do atual Governo não poderia ter.

Vamos raciocinar. No início do Governo, ele tinha dois tripés: um no Governo e outro no Partido. O tripé do Governo era José Dirceu, cassado pelo Congresso Nacional; Luiz Gushiken, que se meteu em pelo menos cinco escândalos - o último foi o dos dois milhões de cartilhas, pagas e não impressas -; e o Ministro Antonio Palocci, que usou a máquina do Governo para quebrar o sigilo de um simples caseiro, e contou quinhentas mentiras para se livrar daquilo em que estava envolvido. Esse tripé do Governo foi destruído pela corrupção.

E existia um tripé no Partido, formado, primeiramente, por Genoino, que também teve que se afastar por estar envolvido no valerioduto, e que, inclusive, teve um irmão envolvido na questão dos dólares na cueca; o segundo tripé, Delúbio - desse não é preciso nem falar -, é talvez o mais notório; o terceiro, o Silvinho, que foi também afastado por estar envolvido no valerioduto, em nomeação de corruptos para cargo público e por receber também um Land Rover de uma empresa prestadora de serviços a Petrobras.

Na verdade, o Governo foi dizimado, tanto do lado do Executivo quanto do lado do Partido.

Quando Lula diz que teria uma equipe melhor, na realidade, não dá para ser pior nem para ser igual. Quer dizer, ninguém conhece hoje um Ministro de sua equipe. Se eu perguntar a qualquer Senador qual o nome do Ministro da Saúde, do Ministro dos Transportes, ninguém sabe, inclusive os do Governo. Assim, não dá para montar um Governo pior do que este. Nisso, ele tem razão.

Sr. Presidente, se for reeleito, ele vai montar um Governo melhor, porque não tem como montar uma equipe pior do que essa.

Por vias indiretas, ele reconheceu sua incompetência administrativa e que não confia na atual equipe que o cerca.

E se de fato quer melhorar a equipe, deveria começar substituindo o Ministro da Cultura, Gilberto Gil. Um grande artista, por sinal, mas, como Ministro, pisa na bola de vez em quando.

Em declaração na Suíça - veja bem, ele foi falar isso na Suíça; podia ter falado no Brasil, mas foi falar na Suíça -, quando representava o Brasil numa conferência sobre propriedade intelectual, ele declarou: “A corrupção é percebida como prática comum. Corrupção não impede a cidadania. A prática é sistêmica e, ainda que seja condenada, acaba sendo aceita pela sociedade”. Ou seja, o Ministro está dizendo que a corrupção é generalizada e que a sociedade a aceita. Isso ele estava dizendo para explicar o percentual de votos do Presidente Lula nas pesquisas.

Ele acha que o Presidente Lula tem um alto percentual de votos nas pesquisas não porque ele defenda o Presidente e diga que ele não é corrupto, mas porque a sociedade aceita a corrupção, que a sociedade acha certo que a pessoa seja corrupta. Eu não acho isso, e a sociedade está vendo, cada vez mais, o que está acontecendo. No momento em que ela for verificando e for comprovando essa corrupção, vai mudar, e uma eleição muda-se em 24 horas.

Lembro-me da última eleição na Espanha. Lá, o PP, Partido Popular, estava à frente em todas as pesquisas. Faltando três ou quatro dias para a eleição, houve um ato terrorista lá: explodiram uma estação de trem e muitas pessoas foram mortas. O Governo, que era do PP à época, acusou o ETA, organização terrorista, como autor do atentado. O que aconteceu? A sociedade não acreditou que tivesse sido o ETA, pois os métodos não eram parecidos com os usados pelo ETA. Assim, a eleição que parecia ganha, por dez pontos à frente, foi perdida em dois dias. Depois, comprovou-se que não tinha sido o ETA. Mas, o Governo deu a desculpa errada e perdeu a eleição.

O fato de faltar três dias, quatro dias, dois dias, um dia, meio dia para a eleição - e um candidato estar à frente - não quer dizer que ele vá ganhar, pois o que vale mesmo é o voto na urna. A sociedade brasileira a cada dia está se convencendo de que, se votar a favor de um Governo com práticas como essa de compra de dossiê, ela está dizendo, em resumo, que o crime compensa.

Segundo destacou o jornal O Estado de S. Paulo, no editorial de hoje, essa declaração do Ministro da Cultura é condizente com as práticas do atual Governo.

“O que Lula ensinou aos seus eleitores, à medida que se sucediam os escândalos no seu governo, foi que a corrupção ‘é uma prática comum’ que todo mundo pratica. O que ele condenou na ação criminosa dos seus companheiros não foi a ação criminosa em si - isso é outra coisa importante, Presidente: ele não condenou a ação criminosa -, mas o fato de terem sido apanhados com a boca na botija”. Quer dizer, ele achou ruim não porque os “caras” foram comprar o dossiê, não porque levaram dinheiro vivo; ele achou ruim o fato de eles terem sido pegos, de a Polícia Federal pegá-los com R$1,7 milhão.

E conclui afirmando: “Não é um ‘erro’, como ele [Lula] classifica as bandalheiras de seus ‘companheiros’. É, sim, um crime”.

A declaração de Gilberto Gil é muito grave pelo que sinaliza para a sociedade. Um verdadeiro, como disse a jornalista Dora Kramer, “vexame internacional”.

No Governo Itamar Franco, uma declaração do Ministro da Fazenda Rubens Ricupero, de que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”, foi suficiente para afastá-lo do Governo, sob os brados moralistas de Lula e dos petistas, que, àquela época, acreditavam na verdade.

Agora mesmo, Sr. Presidente, na Hungria, está havendo a maior crise política, porque gravaram uma conversa do atual Primeiro-Ministro, em que ele disse a um grupo de Deputados que, para ganhar a eleição, eles iam mentir de manhã, mentir de tarde e mentir de noite. Isso gerou uma crise política com revolta popular na rua. Aqui, o Ministro Gilberto Gil diz isso, e não reagimos. Mas vamos reagir, porque, antes de ir à rua, o melhor é reagir na urna, votando contra esse estado de coisas.

Agora, na Presidência de Lula, os aliados não só fazem declarações estapafúrdias, como realizam toda sorte de desmandos sem que as faces de Lula se ruborizem.

Ao concluir, gostaria de voltar a cobrar de Lula a elucidação das tramas criminosas praticadas no seu Governo para prejudicar as candidaturas e Alckmin e de Serra.

Até agora não sabemos a origem do dinheiro e quem são os envolvidos. Essas revelações em conta-gotas da Polícia Federal estão parecendo mais manobras protelatórias, para que a verdade dos fatos não venha a público antes do dia 1º de outubro. Está aí.

Eles também disseram hoje, Senador Marco Maciel, outra coisa interessante: que os dólares saíram de Miami para um banco em São Paulo. Essa aqui me parece uma história para ganhar tempo. Vejam: ele disse que o dinheiro foi depositado num banco e, depois, foi retirado. Primeiramente, há uma irregularidade grave quando se traz dinheiro de Miami para um banco no Brasil.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, somente explicarei esse passo.

Vem esse dinheiro para um banco no Brasil. Chega aqui, esse dinheiro é depositado em dólar num banco. Depois de depositado, tem que ser sacado em real e, então, com dinheiro em real compram-se os dólares. E quando recebe o dinheiro que vem com aquela tarja, no caso, do Banco Central americano, o que tem que se fazer? Tem que se contar o dinheiro, porque nenhum banco recebe dinheiro em pacote. Então, tem que tirar a tarja do outro banco, colocar na máquina que conta o dinheiro e colocar a tarja desse banco. Não colocará a tarja do outro banco.

Então, tudo faz crer que essa questão do dólar é uma espécie de “Operação Uruguai”, Senador Heráclito Fortes. Eles estão agora ganhando tempo; já faz doze dias e nada é esclarecido. Eles estão ganhando tempo exatamente para montar uma “Operação Uruguai”.

Será que não vai aparecer alguém que diga que doou esse dinheiro? Será que uns três ou quatro empresários desses que recebem benesses do Governo não vão dizer que o dinheiro era deles?

Eles já não mostraram a foto do dinheiro, o que é algo inédito. Agora, o delegado está preocupado, porque os suspeitos foram presos. Isso dava um filme de faroeste. Gosto muito de filmes de faroeste, mas nunca vi um filme de faroeste em que o xerife ficasse preocupado quando o bandido é preso. Então, isso é uma nova história, da qual se poderia criar um filme, porque é um caso inédito: um delegado da Polícia Federal preocupado com a prisão de bandidos.

É impossível que, passadas duas semanas, não se saiba de onde vieram os dólares e os reais, num total de mais de R$ 1,7 milhão, e principalmente que não se saiba quem deu o dinheiro e qual o trânsito dele pela contabilidade do PT, se é que não se trata de caixa dois.

Concedo um aparte ao nobre Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, essa versão, apresentada de maneira apressada para justificar parte dos dólares desta operação, parece-se muito com a justificativa que aquele Sr. Guimarães, lá do Ceará, usou em São Paulo, quando foi pego com dólares na cueca: “produto da venda de verduras na Ceasa em São Paulo”. Ora, é uma versão apenas para que resista até o dia 1º. Se esses dólares tivessem vindo diretamente para o banco em São Paulo, para que existiria o Banco Central? A área internacional do Banco Central é quem interna e é quem reexporta dólar.

Ela teria, obrigatoriamente, de ter de ter passado pelo Banco Central, ou pela Agência Central, em Brasília, ou por São Paulo, aonde ele chegou, e internado. Ou seja, vamos admitir que, num gesto de enorme confiança, porque pode ser que haja esse gesto de confiança interbancário, a instituição brasileira recebesse a remessa americana. Ela tinha, por obrigação, de carimbar a etiqueta com o registro da sua agência e a data da chegada. Será possível que esse pessoal acha que está falando com idiotas neste País? Qualquer etiqueta de movimentação bancária, quando entra no sistema interbancário - na maioria das vezes, é o Banco do Brasil, por autorização do Banco Central, quem faz isso -, mostra exatamente o percurso do dinheiro. A norma mais comum na internação é a recontagem e a substituição da etiqueta que saiu dos Estados Unidos por uma etiqueta de um banco brasileiro. Essa versão não resiste, porque não tem nenhum fundo de verdade. V. Exª disse muito bem: parece um filme de faroeste. Naturalmente, V. Exª deve estar se remetendo ao filme “O Dólar Furado”, filme que encantou muito a geração dos anos 60, Senador Marco Maciel, em que Giuliano Gemma atirava de costas e acertava...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - No dólar.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não, na coroa da Estátua da Liberdade. Esse pessoal está brincando com os brasileiros. É um deboche o que se está fazendo! É preciso que haja uma declaração firme do Banco Central. A omissão do Sr. Meirelles é vergonhosa. Um homem tão experiente não podia ficar calado diante disso, porque desmoraliza a instituição do Banco Central. Poderia, inclusive, dar uma declaração amanhã me acusando, dizendo que estou sendo leviano, mas deveria dizer alguma coisa. O que não pode é o Presidente do Banco Central,que veio de bancos estrangeiros, combatido pelo PT a vida inteira, em face de suas origens, ficar conivente com uma situação como essa. Quero, de público, homenagear o Ministro Márcio Thomaz Bastos, que está usando suas prerrogativas de criminalista, e, infelizmente, não de Ministro da Justiça. Como criminalista, tem sido perfeito: ao longo desses três anos, tem evitado que muito bandido vá para a cadeia.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Do Governo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - É evidente. É o seu habitat, Senador José Jorge, ora com medida dessa natureza, ora indicando ex-colegas seus de escritórios, ou estagiários futurosos para defenderem essa gangue que está aí. Quero parabenizar o Ministro Márcio Thomaz Bastos, não por ser Ministro da Justiça deste País, um Ministro republicano, mas por ser o melhor criminalista que o Brasil tem. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes. Concordo com V. Exª.

Gostaria de acrescentar que, na verdade, nós, da Oposição, ficamos abismados como tudo isso acontece. Outro dia, vi o programa eleitoral do Presidente Lula sobre segurança, Senador Marco Maciel. O programa dizia que a Polícia Federal fez isso, fez aquilo, e que nunca um rico foi preso no Brasil, só no Governo de Lula. Eu queria saber - o Senador Heráclito Fortes poderia até esclarecer - quem desses bandidos do PT que cometeram irregularidades foi preso. Quem foi o bandido do PT que foi preso? Não conheço nenhum. Todos os que foram acusados ou pegos cometendo irregularidades foram até absolvidos, com o Palácio do Planalto trabalhando fortemente para absolvê-los no plenário da Câmara dos Deputados.

Todos se lembram da dança da Deputada Ângela Guadagnin, comemorando a absolvição de um mensaleiro, uma dança que ficou conhecida como a “dança da pizza”, porque ela estava, naquele momento, comemorando a absolvição de mais um petista. Todos foram absolvidos e todos são candidatos por São Paulo. Outro dia, os jornais publicaram declarações de outros petistas não-envolvidos com esses esquemas, reclamando da disponibilidade de dinheiro que aqueles envolvidos no esquema tinham e que, portanto, como a disputa é interna dentro de cada partido, eles estavam em desvantagem para ser eleitos. Particularmente, estavam reclamando da disponibilidade financeira do ex-Ministro Antonio Palocci.

Esse programa diz que a Polícia Federal prendia “a”, “b” ou“c”, mas, na verdade, a Polícia Federal nunca prendeu um petista. Delúbio e Marcos Valério nunca foram presos. Esses foram presos por engano, eu acho. A Polícia Federal os viu com dinheiro, mas já foram soltos. Agora, o delegado está com peninha deles só porque o juiz designou novamente a prisão deles.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de tudo o que já sabemos, resta uma certeza: foi cometido um crime eleitoral contra a candidatura de Geraldo Alckmin e um crime de utilizar recursos para comprar um dossiê. A sociedade brasileira deve ser completamente informada antes da eleição, antes do dia 1º de outubro, e os criminosos punidos exemplarmente, sejam quem for, estejam onde estiverem, inclusive e principalmente se estiverem no Palácio do Planalto.

Amanhã, quinta-feira, teremos o último debate da campanha. Nós, da Oposição, queremos que o Presidente Lula compareça ao debate. Até agora, ele não compareceu a nenhum debate, nem às entrevistas nos principais jornais do País. Ele quer ser reeleito sem debater com a sociedade brasileira. Queremos que ele vá, mas antes chame seus companheiros - Jorge Lorenzetti, Freud, o Diretor do Banco do Brasil - e diga: “Agora, vamos dizer à sociedade brasileira de onde veio esse dinheiro, quem deu esse dinheiro a vocês e quem os mandou comprar esse dossiê”. Se não fizer isso, infelizmente, ele não poderá merecer o voto dos brasileiros no dia 1º de outubro.

Então, o apelo é este: vamos levar a eleição para o segundo turno, vamos fazer com que a votação real e efetiva possa ser feita no segundo turno, quando essa questão já estiver esclarecida. Aí, sim, quem for Lula vota de consciência tranqüila. Mas, agora, no meio dessa acusação, acho que mesmo aquele que é Lula vai votar envergonhado e de consciência pesada.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2006 - Página 29580