Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas às palavras do Presidente Lula ao povo brasileiro, comparando-se ao herói Tiradentes e a Jesus Cristo. Expectativa quanto ao debate que haverá amanhã entre os candidatos à Presidência da República, em canal de televisão, especialmente com relação à presença do Presidente Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Críticas às palavras do Presidente Lula ao povo brasileiro, comparando-se ao herói Tiradentes e a Jesus Cristo. Expectativa quanto ao debate que haverá amanhã entre os candidatos à Presidência da República, em canal de televisão, especialmente com relação à presença do Presidente Lula.
Aparteantes
José Jorge, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2006 - Página 29586
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, VULTO HISTORICO, ACUSAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, PERSEGUIÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • DENUNCIA, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), PRESIDENCIA, COORDENADOR, CAMPANHA ELEITORAL, ALOIZIO MERCADANTE, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RECEBIMENTO, SUPERIORIDADE, RECURSOS FINANCEIROS, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT), IRREGULARIDADE, CONTRATAÇÃO, RECURSOS, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, ENSINO FUNDAMENTAL, NECESSIDADE, ABERTURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CRIME.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROTEÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, REGISTRO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), INVESTIGAÇÃO, CRIME, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, OPOSIÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, DINHEIRO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CORRUPÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero começar o meu discurso transcrevendo, Senador Tasso Jereissati, palavras do Presidente Lula ao povo brasileiro. Ele diz textualmente:

A hora que eles tirarem as minhas pernas, eu vou andar pelas pernas de vocês; a hora que eles tirarem os meus braços, eu vou gesticular pelos braços de vocês; a hora que eles tirarem o meu coração, eu vou amar pelo coração de vocês.

Estou começando a me emocionar, estou com medo de ir às lágrimas.

E a hora que eles tirarem a minha cabeça, eu vou pensar pela cabeça de vocês.

E vai além. O Presidente está lendo:

Eles deveriam ter aprendido com Tiradentes. Não basta matar, não basta esquartejar, não basta salgar a carne e pendurar no poste. Porque a carne você mata e ela apodrece, mas as idéias estão perambulando pelas brisas deste País querendo liberdade, querendo direito, e isso nós temos de sobra para dar.

Só faltou aqui dizer: vender ou comprar.

Sr. Presidente, será que o Sr. Lula, quando fala em morte, refere-se à morte de Celso Daniel ou à do Toninho do PT? Porque a Oposição brasileira, no momento, não é dada à violência, não é dada à truculência; só é dada ao direito de se indignar com o que acontece no País.

As idéias desse Governo naturalmente perambulam nas sarjetas, nos prostíbulos; elas não perambulam nas academias, nas tribunas nacionais, nem tampouco perambulam nos lugares que as pessoas de bem freqüentam.

Quais são as idéias desse Governo que servem de exemplo ou dignificam uma sociedade? Perambula a idéia do mensalão? A prática do dólar na cueca? Quais são os exemplos de que o Presidente fala nesse seu choroso depoimento?

Comparar-se a Tiradentes é ofender e agredir Minas Gerais. Tiradentes deu a vida, juntamente com uma plêiade de brasileiros, para evitar a derrama e para evitar que os recursos brasileiros - o ouro, a prata - fossem tirados do Brasil, da nossa sociedade, da nossa pátria. O atual Governo tira dinheiro dos cofres públicos para o caixa dois, para a instrumentalização do Estado. Então, comparar-se a Tiradentes é ofender Minas Gerais.

O silêncio de Minas não pode continuar. Tiradentes é o símbolo de uma geração que lutou pela liberdade. O atual Presidente é o símbolo de uma geração de brasileiros que acreditou, que teve esperança de que, por seu intermédio, se chegaria a governos dedicados à questão social. E o que se viu foi exatamente o contrário. Pregou-se em praça pública, durante vinte anos, a virtude e praticou-se, ao chegar ao poder, a corrupção com destempero, da maneira mais banal que o Brasil viu.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tirar o coração de Lula para quê? Quem quer esse coração, a não ser a turma dele? É um desrespeito ao coração valente que percorre o Brasil inteiro encarnado na pessoa de Heloísa Helena, que tem uma história de vida dedicada ao PT e que foi defenestrada das hostes desse partido porque quis continuar a conviver com um PT que não se dobrava à corrupção.

Como exemplo de quê o Lula pode servir às novas gerações? É muita pretensão. É muita arrogância ou então a certeza da impunidade e a crença de que a Nação está anestesiada e, em alguns lugares do País, escravizada e dependente do dízimo distribuído por meio do Bolsa-Família.

O Presidente Lula, que invoca Tiradentes, escraviza o povo brasileiro e o aterroriza com métodos que esperávamos tivessem sido banidos do País. Ora se compara a Cristo, ora diz que tem um demônio guardado dentro dele - esse demônio é o desejo de fechar o Congresso -, ora compara-se a Tiradentes, e os seus amigos estão mais para Marcola e para Escadinha do que para Beato Salu. Que pena!

Esta é a conjuntura em que vivemos: a Justiça pedindo prisão de envolvidos com dossiê, e o Presidente querendo se fazer de vítima em praça pública.

Senador José Jorge, V. Exª precisa ter a dimensão do que ocorre neste País. Senador Tasso Jereissati, peguei em São Paulo um avião, que faria a viagem em 1 horas e 50 minutos, salvo engano, e fui abordado na fila por um cidadão que viria a Brasília me entregar documentos. Eu o poupei do trabalho de vir a Brasília e do gasto com a passagem. O que o cidadão vinha fazer aqui? Entregar-me denúncias sobre uma ONG. Eu não sei mais o que fazer com tantas denúncias que estamos recebendo envolvendo ONGs no Brasil, todas elas com ligações com o aparelho cuja sede principal é o Palácio do Planalto.

Eu sou muito cauteloso e atento quando recebo essas denúncias. Queria, inclusive, que as pessoas de São Caetano me ajudassem a mostrar se isso é verdade ou não. A ONG, Senador José Jorge, chama-se Politeu e, por coincidência, fica em um prédio vizinho ao comitê do Professor Edgar, candidato a Deputado Estadual, cunhado de um dos membros da ONG.

Porém, o mais estranho de tudo, Senador Tasso, é que a ONG é do Sr. Hamilton Lacerda, coordenador de campanha do Sr. Aloizio Mercadante em São Paulo. Algo me é estranho: o mesmo Aloizio, que rapidamente demitiu aquele cidadão, não sabia das andanças do Sr. Hamilton Lacerda por essa ONG. Deu-me, então, um pequeno relatório, em que diz que o Sr. Hamilton é a principal liderança do PT em São Caetano do Sul. Concorreu como candidato a prefeito sem sucesso - graças a Deus para o povo de São Caetano -, foi vereador por três mandatos, tentou ainda eleger-se Deputado Estadual e foi coordenador do PT de todo o Grande ABC. Iniciou-se na política - bem orientado, temos de respeitar - pelas mãos de José Dirceu. Era o principal assessor de Aloizio Mercadante. Consta que, após perder a eleição para vereador, passou a ocupar um cargo em comissão na Prefeitura de Santo André.

Sua esposa - não gosto de falar de família - ocupa o cargo de Secretária Adjunto na Prefeitura de Guarulhos - aliás, ocupou, na administração do Sr. Elói Pietá.

Depois relata o envolvimento do Sr. Hamilton em gravações eletrônicas, em ONGs, mostra contratações fictícias no Fundef e sua atuação na Prefeitura de Santo André, no doloroso episódio do Celso Daniel.

Aí, Senador José Jorge, essa ONG recebe recursos da Petrobras, Dr. Tasso, da Petrobras! E recursos do FAT, que pertencem ao trabalhador brasileiro. É preciso saber com detalhes quais os serviços que presta ao povo de São Caetano e ao povo de São Paulo.

No documento, ainda há várias denúncias que já servirão para a nossa CPI. Com certeza, Senador Tasso, hoje já há 18 assinaturas certas e a confirmação de mais 17 ou 18 - tenho de me atualizar, porque vim do aeroporto diretamente para cá.

Em jornais de São Caetano, há mais notícias sobre o Sr. Hamilton. Vou verificar seu conteúdo e prometo aos brasileiros de São Paulo trazê-lo amanhã à tribuna do Senado da República.

O brasileiro, com relação à eleição deste ano, Sr. Presidente, começou a sair do armário! Todo mundo começa a sentir o espírito da eleição; procuram saber quem é o melhor candidato a estadual, a federal, a senador, a governador e a presidente da República. É impressionante como o brasileiro é atento!

Tenho sido bastante procurado para emitir opinião sobre a presença ou não de Lula amanhã, no debate da TV Globo. Creio que Lula vai fazer muito sucesso, porque é a oportunidade que ele tem - a última, já que fugiu de todas as outras - de mostrar que é uma vítima, de mostrar ao País ou que não sabia de nada, ou que sabia de tudo. Mas o mais importante, Senador Tasso, e que o Brasil aguarda com muita ansiedade, é o encontro de Lula com Heloísa Helena. Deve ser uma coisa histórica, fantástica esse reencontro! Será que Lula vai pedir desculpa a Heloísa Helena pela sua expulsão do PT? Ou será que Lula vai esclarecer os reais motivos dessa expulsão? Será que vão trocar beijinhos, Senador José Jorge, civilizadamente nos bastidores - ou quem sabe diante das câmeras?

Aguardo com ansiedade esse momento. Eu gostaria muito de ver - e quero ver amanhã - a postura do Presidente Lula diante de Heloísa Helena.

Ora, em 1989, Lula tremeu durante um debate, quando o seu atual amigo Collor levou consigo a pasta cor-de-rosa! Quem não se lembra, no Brasil, daquele debate?

Hoje, vi num jornal de São Paulo as fotos do Collor, candidato ao Senado por Alagoas, ao lado de Lula, candidato a Presidente da República.

A memória, o sofrimento e a dor do povo que se danem! O que vale no momento é o interesse eleitoral. Aquilo que passou, passou! Até sou favorável a que não se guarde rancor na geladeira, mas sentimento, vergonha na cara são noções das quais os homens não podem abrir mão.

Senador José Jorge, lamentavelmente, a Liderança do PT não está aqui hoje.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Vamos fazer um apelo, Senador, para que a Senadora Ideli, se ela estiver na Casa, venha ao plenário defender o Governo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Evidentemente seria muito importante a defesa dessa equilibrada Líder do Governo. Mas uma coisa eu digo: ela não está em Santa Catarina, porque, lá, ela jogou a toalha. Sua candidata ao Senado não teve sucesso, candidata cuja campanha ela comanda. Lá ela é chefe da campanha!

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Mas foi ela quem derrotou a candidata, porque ela falou que a candidata era dez vezes pior do que ela!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ave Maria, eu não sabia disso! Mas fica aqui o registro e o agradecimento do Senado da República a essa prova de lucidez da Senadora Ideli.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com o maior prazer!

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador, primeiramente é uma alegria saber que todas as notícias dão conta de que o Presidente Lula vai ao debate. Infelizmente, ele não o fará pelo seu espírito democrático, porque, se assim fosse, ele teria comparecido ao debate da TV Bandeirantes, da TV Gazeta e não teria ajudado a cancelar os debates do SBT e da Record. Ele teria debatido, para que o povo brasileiro tomasse conhecimento de tudo que está acontecendo no Governo. A esse debate da Globo ele vai, porque percebe que a eleição se encaminha para o segundo turno; ele vai porque tem medo de perder pontos se não for. As pesquisas mostram que o eleitor quer que os candidatos compareçam ao debate exatamente para conhecerem suas idéias. No debate, o Presidente Lula pode responder a tudo: a essas acusações e ao que fez pelo Governo. Ele sempre encontra uma maneira de responder às perguntas. Mas, se ele não esclarecer de onde vieram esses R$1.750.000,00 que os petistas estavam carregando no bolso, ou na bolsa, ou na mala, ele não fez nada; não esclareceu a sociedade brasileira. O Brasil não pode votar sem saber de onde veio esse dinheiro, e o momento certo para os esclarecimentos é no debate da Globo. Por quê? Porque depois do debate, Senador Heráclito Fortes, não haverá mais campanha eleitoral. Ela acabará no fim desse debate. Portanto, não há nenhuma razão para que o Presidente diga - ou os Ministros - que a Oposição quer usar o debate eleitoralmente. Ora, seria até natural que usássemos isso como arma, pois estamos em campanha eleitoral. Há uma lei que diz que toda despesa eleitoral pode ser paga com cheque. Surpreenderam-se adversários nossos, pessoas da coordenação geral da campanha do Presidente, num hotel, em São Paulo, comprando um dossiê contra nós por R$1,750 milhão em dinheiro. Em qualquer lugar do mundo, essa candidatura estaria impedida de continuar. Deixamos que ela continue porque acreditamos que poderemos mudar isso pelo voto, mas, em qualquer lugar do mundo, a candidatura estaria impedida, porque é uma grande irregularidade, segundo a legislação eleitoral. Então, seria natural que usássemos esse fato na campanha, em nossos programas eleitorais. No entanto, se ele explicar a origem do dinheiro na quinta-feira à noite, nem no programa eleitoral poderemos usá-lo. Portanto, este é o momento correto. Estamos felizes com a presença do Presidente Lula no debate, mas se ele não disser de onde veio esse dinheiro, não esclarecerá em nada o povo brasileiro. Muito obrigado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador José Jorge, o ideal seria que esses esclarecimentos fossem prestados pelo Ministro da Justiça amanhã, antes do debate. É dever e obrigação de S. Exª, detentor de mecanismos institucionais para isso, prestar esses esclarecimentos.

Lembro V. Exª de que, neste Governo, uma pessoa da Liderança do PT pediu, no início da atual legislatura, a criação de uma CPI, que ficou conhecida como CPI do Banestado, cujo objetivo era apurar movimentações financeiras de brasileiros no exterior.

Ora, escarafunchou-se e bisbilhotou-se a vida das pessoas. O Relator, Deputado José Mentor, foi escolhido a dedo pelo então Chefe da Casa Civil, José Dirceu. Agora, que exemplo feio dá o Governo, que combateu a evasão de divisas.

Mais uma vez, Senador José Jorge, está provado que os ladrões que se procuram, desesperadamente, em governos passados, não são encontrados porque são novos. Talvez seja por isso que o Presidente os chama de “meninos”. São “meninos” que, quando procurados no governo passado, não são encontrados. Na CPI do Banestado, pegaram, com a boca na botija, o Presidente do Banco do Brasil e um diretor do Banco Central, do atual Governo. Eles não são do governo passado. Os “meninos” aprenderam cedo.

O Presidente Lula, com esse jeito de paizão, deveria mandar todos esses “meninos” para a Febem. O lugar desses “meninos” é na Febem, Sr. Presidente, porque, quando crescerem, assaltarão e lotarão os nossos presídios de segurança máxima.

O que me preocupa e me espanta é que o Presidente Lula, em 20 anos de caminhada, morando em república, viajando pelo Brasil com a Caravana da Cidadania, comendo muito sal, engolindo muita poeira, pela estrada, com essa gente toda, monte uma equipe em que todos estejam metidos em “rolo” e tenham vocação para o cofre público, fazendo voltar o modinha popular que diz: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agora, se ele tivesse que formar uma nova equipe, o faria com quem? Cuidaria de procurá-la e recrutá-la exatamente nos escalões da criminalidade de São Paulo, do Rio de Janeiro e das grandes cidades. É lamentável isso. É duro de se dizer, mas é a pura verdade.

Sr. Presidente, a voz alta da vizinhança de gabinete do Palácio do Planalto vai fazer o Presidente Lula escutar que os seus amigos estavam cometendo falcatruas. Isso é inaceitável para a Nação.

Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati, com o maior prazer.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Heráclito Fortes, eu gostaria de comunicar, aproveitando o assunto que V. Exª está tratando e se me permitir, que estamos solicitando ao Presidente do Banco Central, juntamente com o Presidente do PFL, uma audiência amanhã, para que ele nos explique algumas coisas que nos estão parecendo nebulosas em relação a esses dólares que estavam na sacola dos militantes petistas, sob o comando do Presidente do PT, segundo o Presidente Lula. Lembro V. Exª que foi dito, nesta Casa e pela imprensa, que o Banco Central afirmou que a entrada desse dinheiro não foi registrada naquela instituição. Sabemos muito bem que esses recursos em dólares - estou falando dos outros, de que não se tem a menor notícia de explicação -, se entraram no Brasil por intermédio de uma casa de câmbio de Miami para serem vendidos a um banco, deveriam antes ter sido registrados no Banco Central. E o Banco Central anunciou que não foram registrados. Então, esperamos ouvir o Presidente do Banco Central amanhã, em audiência, para que ele nos forneça essa informação. Em segundo lugar, se houve a transação do banco com a casa de câmbio, o seu registro deveria ter sido feito. No entanto, não temos notícia de que o Banco Central tenha anunciado esse registro. Na hipótese, na qual não acredito, de existir discordância entre as informações do Banco Central e da Polícia Federal, pediremos ao Presidente do Banco Central a imediata divulgação do nome do banco e do proprietário da casa de câmbio. A operação de rastreamento é facílima e pode ser feita em duas horas. Se a transação cambial estiver registrada no Banco Central, em duas horas pode-se identificar a casa de câmbio e o banco. Portanto, a segunda hipótese - a de que o Banco Central se enganou e mentiu na primeira vez - significa que a Polícia Federal está omitindo da população brasileira uma informação fundamental para a apuração parcial de um delito cometido pelo Partido dos Trabalhadores, com a conivência ou o comando do Presidente do Partido e a participação de pessoas ligadas diretamente ao Presidente Lula, o que é gravíssimo. É com muita pena que falo isso a V. Exª, porque a Polícia Federal é, hoje, uma instituição pela qual temos o maior respeito, principalmente pela sua independência. Ela não pertence a um Governo, Presidente ou Partido. Ela pertence ao Estado brasileiro, portanto, a todos os brasileiros. Será lamentável que a Polícia Federal esteja se prestando a um papel desse neste momento. Vou repetir para se tornar mais claro, Senador Heráclito Fortes: existem duas hipóteses. Primeira: a Polícia Federal está mentindo ou o Banco Central está mentindo, ou ambos mentiram. Segunda: existe a operação, sabem quem é, e a estão escondendo da população brasileira, às vésperas de uma eleição presidencial no País, e envolve diretamente o Presidente da República. Inclusive, o Presidente Jorge Bornhausen me comunicou que, no caso de não poder estar presente, pedisse a V. Exª que nos acompanhasse ao Banco Central para fazer um check-up da situação e pedir, com todo o equilíbrio que faz parte e requer a nossa atividade política e com firmeza, que nos passem essa informação imediatamente, porque queremos mostrar à população brasileira.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª vai exatamente ao cerne da questão. É preciso que se saiba quem passou a informação à Polícia Federal. O lógico é que fosse o Banco Central. Mas, Senador Tasso Jereissati, há um fato muito grave nisso tudo. Esse dinheiro precisaria ser internado no País. Em algum momento, vai aparecer o seu dono e o seu autor. Vai aparecer o banco.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Se esse dinheiro foi internado e, portanto, registrado no Banco Central, não há a menor dificuldade em rastrear o banco, a casa de câmbio e quem sacou esse dinheiro. Não há a menor dificuldade.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Se o Banco Central diz que o dinheiro não passou pela mão deles...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Então, esse dinheiro é ilegal. É a outra hipótese.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois é, a grande questão é esta: há uma declaração do Banco Central de que o dinheiro não passou por lá e outra, da Polícia Federal, de que o dinheiro passou por lá. Essa história parece muita com aquela de seu conterrâneo, que foi pego também com dólar na cueca, no Ceará.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Mas dólar na cueca nós sabemos que não se registra; cueca não é registrável.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não se registra, mas deixou marca, porque, inicialmente, ele disse que foi dinheiro de verdura, esperando que, no dia seguinte, a sociedade brasileira tivesse esquecido aquele episódio. Há algo grave nisso aí tudo. Se esse dinheiro aparecer e o seu retirante for de Miami, se for residente nos Estados Unidos, ele será preso. Se estiver fora do país, nunca mais porá os pés lá. Será cassado o visto permanente, o visto temporário, o passaporte e o dinheiro confiscado, até esclarecer até a quinta geração onde obteve aquele dinheiro. Isso é o mais grave. E os outros?

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - V. Exª me permite mais um aparte, desta vez para o que é raríssimo que é discordar de V. Exª num outro ponto?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois não.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Concordo com o Senador José Jorge de que existe uma expectativa muito grande da presença do Presidente Lula no debate da TV Globo e que há a expectativa nacional de que ele diga de onde veio esse dinheiro. Acho que, do ponto de vista legal, V. Exª tem razão, o Ministro da Justiça já deveria ter explicado; do ponto de vista político, é obrigação moral do Presidente da República. Amanhã todos vão lhe cobrar - e todos não são os outros debatedores, mas os milhões de telespectadores que vão estar na expectativa de que o Presidente realmente abra o seu coração tão machucado, segundo os versos que ele tinha lido e que V. Exª reproduziu de que se tirarem...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Coração manso, diferente do coração da Senadora, que é coração valente.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - É que se ele vier realmente falar de peito aberto à população brasileira para que se esclareça isso, entre outras coisas... Mas, neste momento, é obrigação e há a expectativa nacional de que o Presidente da República, no debate, responda ao povo brasileiro: este dinheiro é de fulano, de beltrano, que foi dado por sicrano; chegou ao PT, que é o meu Partido, passou pelo Freud Godoy, passou pelo meu churrasqueiro, foi ao Presidente do meu Partido, indicado por mim e pelos meus conselheiros, e eu os condeno a todos. Mas ele entrou porque... Até não vi, até não sabia, mas hoje eu sei, nós sabemos que ele sabe. É essa a grande expectativa nacional.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Tasso Jereissati, concordo com V. Exª apenas quando diz que o Ministro da Justiça poderia explicar, porque não podemos exigir do Presidente Lula uma explicação jurídica para esse fato. Não vamos também levá-lo a um derrame, porque isso é uma coisa detalhada, complicada e não vamos querer que o Presidente Lula explique isso.

O Presidente Lula pode explicar, politicamente, como foi beneficiado e por que a missão foi feita.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Explicar de onde veio o dinheiro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Exatamente e para que veio. Já o Ministro da Justiça, não. O Ministro da Justiça, que é tão republicano, poderia dar uma explicação técnica e deixar o Presidente mais aliviado, porque desse fato o Presidente não vai fugir no debate.

Senador José Jorge, vejo com muita expectativa o debate de amanhã, porque será um debate de emoções, a começar pelo reencontro de Lula com Heloísa Helena, afastada depois de tantos anos de luta em comum. Vamos ter lágrimas, fiquem certos todos os que estão nos ouvindo.

Concedo o aparte ao Senador José Jorge, com o maior prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Heráclito Fortes, em primeiro lugar, tem uma notícia nova que diz o seguinte - achei-a até um pouco divertida -: “Berzoini vai protocolar queixa contra procurador que investiga dossiê”. É engraçado, mas enfim... Vou ler a notícia: “Brasília. O Presidente do PT, Ricardo Berzoini, informou que vai entregar na tarde desta quarta-feira uma reclamação contra o Procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, que atua nas investigações da compra do dossiê da máfia das ambulâncias contra políticos tucanos. O PT vai recorrer ao Conselho Nacional do Ministério Público por considerar a atuação de Mário Lúcio Avelar, no caso, irregular”. Ora, Senador Heráclito Fortes, o Procurador Mário Lúcio Avelar é inocente nisso tudo, porque até o delegado já deu uma declaração preocupado, pois os bandidos estavam sendo presos. Senador Tasso Jereissati, eu gosto muito de filme de faroeste, tenho até uma pequena coleção e já assisti a mais de 50 filmes de faroeste na minha vida, desde criança - a alguns já assisti mais de uma vez. Nunca vi num filme de faroeste o xerife preocupado com o bandido, xerife triste porque o bandido foi preso. Hoje vi isso pela primeira vez, e veja que o mundo dá muitas voltas. O procurador está investigando, e só se descobriu isso porque ele pediu a prisão desse pessoal - fez as gravações e pediu a prisão. Esse procurador deveria ser elogiado pelo PT porque descobriu uma trama de que, teoricamente, o Presidente Lula “não sabia”. Esse processo é a maior prova de que eles estão tristes não porque cometeram uma irregularidade, mas porque a irregularidade foi descoberta.

Também gostaria de ressaltar a importância que dou à presença do Presidente Lula nesse debate. Inclusive, discordo de V. Exª pela primeira vez, desde que sou Senador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não vamos dividir as oposições, é só o que lhe peço.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - A Oposição vai ficar dividida, porque, infelizmente, nesse caso, não é o Ministro Márcio Thomaz Bastos que tem de dar as explicações. O Ministro é o criminalista do Governo, com todas essas coisas eu concordo. Aliás, diga-se de passagem, S. Exª trabalhou muito. Se houve alguém no Governo do Presidente Lula que trabalhou muito foi o Ministro Márcio Thomaz Bastos. Amanhã, se eu cometer um crime, sem dúvida vou contratá-lo para defender-me.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Se ele deixar o Governo algum dia - e está perto de fazê-lo -, o escritório dele, fique certo, será procurado.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - E todos nós, clientes. Espero não cometer nenhum crime, mas, se cometer, sem dúvida, vou contratá-lo. Acho que desta vez, não estamos dependendo da Polícia Federal. Em outras vezes, nós estávamos, mas desta vez, não. Veja bem, citei neste instante o nome dos seis envolvidos, e todos são do PT, todos são de dentro da casa do Presidente Lula. O homem do chuveiro, Lorenzetti, na realidade, era o churrasqueiro; é quem hospedava o Presidente Lula em casa. Ele sabe de onde veio o dinheiro. Então, o Presidente Lula tem de chamar essas pessoas e perguntar: de onde veio esse dinheiro? Vamos esclarecer o povo brasileiro. Não posso deixar que chegue o dia da eleição, não posso submeter-me a julgamento pelo povo brasileiro, sem esclarecer isso. Está aqui o nome de todos: Ricardo Berzoini, personagem lulista até o extremo; Expedito Afonso Veloso, diretor do Banco do Brasil, indicado por Lula; Jorge Lorenzetti, amicíssimo, irmão; Oswaldo Bargas, também antigo, participou da contra-informação da última vez; Freud Godoy, de todos, o mais íntimo, tem um escritório na casa do Presidente; Gedimar Pereira Passos, contratado do Lorenzetti para fazer espionagem dos adversários; Valdebran, o menos íntimo, porque é do Mato Grosso, mas, de toda maneira, importante no Estado, pois era uma espécie de tesoureiro; e Hamilton Lacerda, aquele que é a segunda pessoa do Senador Aloizio Mercadante. Então, é só fazer uma pequena reunião, de preferência até um churrasco. Chama-se o Lorenzetti, que assa aquela costela, daí se chega à conclusão. E, amanhã, no debate, ele conta a história para o Brasil; assim ele vai para a eleição de consciência tranqüila. Chegará o dia da eleição, e quem for votar em Lula o fará de consciência tranqüila. Do jeito que está, mesmo o eleitor de Lula vai ser um eleitor envergonhado, encabulado, de consciência pesada, por votar em um presidente que sabe de onde vieram os R$ 1,75 milhão em dinheiro, mas que não quer contar ao Brasil.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador João Batista Motta, antes de conceder um aparte ao Senador Tasso Jereissati, lembro um ditado popular, que afirma que, em briga de grande, quem perde sempre é o pobre. E vem um episódio agora para confirmar isso: o Governo, naquela sua cesta básica da construção civil, teve de tirar a alíquota que reduzia o preço dos chuveiros. Não sei se foi coincidência, ou se foi medo de que a palavra Lorenzetti ficasse renitentemente na cabeça de todos os brasileiros, porque, até então, conhecíamos Lorenzetti como chuveiro, aquilo que nos dá água fria ou água quente, de acordo com a necessidade e as condições climáticas.

Esse Lorenzetti é uma ducha de água fria no atual Governo. Por coincidência, eles agora cancelaram o item “chuveiro”. Penso que é para não passar nem por perto do Lorenzetti.

Concedo o aparte a V. Exª, Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Heráclito Fortes, como Exª é acima de tudo um Fortes, vamos continuar a nossa pressão, juntamente com o Senador José Jorge. V. Exª acha que, com a intimidade que o Presidente Lula tem com o “chuveiro” Lorenzetti, com Freud, com Bargas, com Expedito; com a ascensão moral que ele tem sobre o Berzoini...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Com Hamilton Lacerda.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Mas é o Berzoini que ele acusou de ser o principal. E Berzoini, obediente e submissamente, aceitou, baixou a cabeça e disse: “se o Presidente Lula disse, está dito.” V. Exª acha que ele ainda não perguntou: “Venha cá, Lorenzetti, venha cá Berzoini - esse é o jeito de falar do Presidente Lula -, de quem é esse dinheiro? De onde veio?” Ele já não sabe? Já não disseram para ele? Então, V. Exª acredita que, se ele não sabia, ainda não chamou todos e perguntou? Todos se mostram submissos a ele, como provou o pobre do Presidente Berzoini. Tenho motivos para ter mágoa do Presidente Berzoini, que me fez a ofensa mais dura que se poderia fazer. Hoje tenho pena dele. Homem público, tendo sido acusado por seu companheiro principal, por seu ídolo, baixou a cabeça e disse: “Se o Presidente disse, está dito.” É realmente de dar pena. Nessas circunstâncias, já não contaram a história toda ao Presidente Lula, se é que ele não sabia? V. Exª, Senador Heráclito Fortes, concorda comigo?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Concordo com V. Exª e vou além: o Presidente Lula sabe de tudo e de mais alguma coisa.

Quero saber se V. Exª não concorda comigo em um aspecto. O Presidente Lula, nós sabemos, não trabalha há pelo menos 30 anos. Sofreu aquele acidente, coitado, irreversível, e passou a ser líder sindical. Nessa sua liderança sindical, viajou pelo mundo, embarcou com passagens de categoria executiva e de primeira classe, visitou os melhores restaurantes, morou em casas emprestadas, sempre teve uma vida muito além do seu poder aquisitivo e nunca questionou os amigos - esses de agora, pelo menos de que temos conhecimento - sobre quem estava pagando ou de onde vinha o dinheiro? Imagine o Presidente Lula, como um trabalhador, freqüentando o Lido, em Paris, o Lasserre - vejo, de vez em quando, nas revistas, que há em Paris um restaurante com esse nome e creio que seja o que ele freqüenta. Viajou o mundo inteiro, Senador Tasso Jereissati, e alguém pagava para ele. Nunca se preocupou em saber a origem, daí por que perde forças e autoridade para cobrar dos companheiros.

Carlos Lacerda, em um debate fantástico, contou, uma vez, uma fábula francesa sobre um cego e um homem com visão, que resolveram montar uma sociedade em uma vinícola, sendo o primeiro acerto deles o plantio de uvas. Na primeira colheita, encheram um cesto e resolveram fazer o primeiro teste do sucesso daquela sociedade. Sentaram-se à beira de um rio, sob uma árvore frondosa e fizeram o seguinte acordo: “Vamos provar as uvas que plantamos! Agora - disse o cego -, só há uma coisa: vamos comer uma uva de cada vez.” Fechado o acordo, meia hora depois, o cego irritou-se e disse: “Você está me roubando!.” “Como?” “Você está me roubando, ladrão!”. E começou a discussão. “Por quê?” “Porque estou, há mais de 10 minutos, comendo duas uvas de cada vez, e você não reclamou; logo, se você não reclama, está roubando mais do que eu!” É exatamente a falta de autoridade e de capacidade que as pessoas que não agem corretamente têm de cobrar do outro.

O caso do Presidente Lula tem uma outra conotação e uma gravidade, porque ele é Chefe de Estado, Chefe de Nação. E ele pecou Senador Tasso quando não puniu o Waldomiro Diniz quando foi pego furtando do Governo brasileiro naquele acordo com bicheiro. A partir daquele momento e que o seu primeiro vizinho de Palácio foi pego roubando, fotografado, ele não puniu exemplarmente. A partir do momento em que não pune exemplarmente dá oportunidade aos outros de seguirem o mesmo caminho. Os ladrões foram se sucedendo e não foram sendo punidos; começa a campanha eleitoral e os ladrões começam a voltar aos palanques para a sua companhia, beijados pelo Presidente, o Presidente a pedir oportunidade, a pedir perdão.

O que levou os companheiros a seguirem neste mesmo caminho? A falta de autoridade do Presidente da República é que gera tudo isso, Senador Tasso, porque é a falta de exemplo, é a falta de punição, é a falta exatamente de mostrar que ao seu lado não há lugar para ladrões, como dizia em praça pública, quando quis se eleger Presidente da República.

Quero que V. Exª saiba que quando eu digo que o Presidente da República terá dificuldades, embora tenha obrigação de prestar contas à Nação de tudo isso, é porque a minha memória, graças a Deus, ainda me ajuda. E o Presidente tremeu há anos para explicar ao Brasil porque possuía um inocente serviço de som três em um. Tremeu! Gelou! Amarelou diante do Presidente Collor naquele debate histórico. A fraqueza! V. Exª vai ver que a Nação não o perdoará se ele não for a esse debate, porque a Nação não quer ouvir de mim, que sou opositor, nem do Sr. Márcio Thomaz Bastos, que é o seu criminalista; quer ouvir dele. E cabe ao Presidente da República dizer o que sabe, dizer o que sabe sobre o comportamento dos seus vizinhos de trabalho, dos seus colegas de Palácio, sob pena de não ter autoridade sequer de dizer ao Brasil que quer governá-lo por mais quatro anos, já que não tem capacidade de mostrar e de dizer o que aconteceu nesses primeiros quatro anos.

Não há um escândalo que o Presidente da República saiba como aconteceu, quem é o culpado; e, o pior, não há um escândalo que sequer Sua Excelência tenha punido alguém. Os que se afastaram do Governo pediram para sair e os que saíram receberam dele palavra de conforto, palavra de afeto e, em alguns casos, até garantia antecipada de inocência quando, na realidade, provaram que eram culpados e com culpas mais graves do que as que se havia até agora detectado.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero agradecer a sua generosidade e quero, Senador Sérgio Guerra, que a minha última palavra seja novamente para reafirmar a minha revolta e o meu protesto pelas comparações recentes do Presidente. A primeira ao comparar-se a Cristo; a segunda, a Tiradentes. Esta comparação a Tiradentes é uma traição à história do Brasil, é um desrespeito. Mas o Presidente tem uma vocação comportamental de seguir Chávez nas suas atitudes violentas, nos seus arroubos e até nas invocações que faz a Cristo num dos momentos mais oportunos.

Sua Excelência precisa saber que, diferentemente do que disse em praça pública, o que lhe falta no momento não são as pernas; o que lhe falta no momento não são os braços; o que lhe falta no momento não é o coração; o que lhe falta no momento é o caráter e a coragem de afirmar ao Brasil que não concorda e não convive com os ladrões que o cercam. Esta olimpíada de que ele tenta aqui participar não é o melhor caminho para Sua Excelência. A solidariedade do brasileiro carrega os que não têm pernas, acode os que não têm braços, chora pelos que não têm coração, mas corre de perto dos que não têm caráter e assaltam os cofres públicos. O brasileiro não aceita, não concorda e não convive com os que dilapidam seu patrimônio. Foi por isso que Tiradentes juntou-se a mineiros e a brasileiros para expulsar os portugueses que levavam nossas riquezas, e não é a comparação que o Sr. Lula faz com Tiradentes que irá redimi-lo dos pecados para com o Brasil e para com sua história. Não podemos, Sr. Presidente, aceitar nem tampouco conviver com isso. O dia 1º vem aí.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2006 - Página 29586