Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos sobre o episódio do dossiê. Estupefação diante de declarações à imprensa, pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre a divulgação do resultado das apurações sobre o dossiê após o segundo turno das eleições. (como Lìder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos sobre o episódio do dossiê. Estupefação diante de declarações à imprensa, pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre a divulgação do resultado das apurações sobre o dossiê após o segundo turno das eleições. (como Lìder)
Aparteantes
Almeida Lima, Marcos Guerra, Mão Santa, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2006 - Página 30389
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DENUNCIA, IMPUTAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, COMPROVAÇÃO, IRREGULARIDADE, GESTÃO, JOSE SERRA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS).
  • REGISTRO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRITICA, DECLARAÇÃO, MARCIO THOMAZ BASTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), ANUNCIO, DIVULGAÇÃO, RESULTADO, INVESTIGAÇÃO, POSTERIORIDADE, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, CONDENAÇÃO, NEGLIGENCIA, CONDUTA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECUSA, CONVOCAÇÃO, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ESCLARECIMENTOS, ASSUNTO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Mão Santa, V. Ex.ª sabe certamente o que é dossiê. Sabe, não sabe?(Pausa.) O Senador João Batista Motta sabe o que é um dossiê. Mas há muita gente que está nos vendo e nos ouvindo, lá no interior de Sergipe, Senador Almeida Lima, no interior do Piauí, do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul, do Acre que não percebe o significado correto de dossiê.

Fala-se tanto num dossiê. Os jornais de televisão todos falam, todo dia, sobre o dossiê do caso das ambulâncias, que envolve aquela montanha de dinheiro, que, aí sim, as pessoas sabem o que significa. Aquela fotografia divulgada do montante de R$1,7 milhão, isso as pessoas sabem; porém, o que as pessoas mais humildes podem não saber o que é dossiê.

Senador Almeida Lima, a nossa obrigação é debater, esclarecer, é propor e votar projetos, é melhorar a vida do povo, é esclarecer, é levar a informação precisa também ao povo para que o povo possa formar a sua consciência.

Dossiê, nós sabemos, Senador Mão Santa, que é um conjunto de informações, sejam documentos, sejam fotografias, sejam depoimentos, sejam fitas gravadas de áudio, voz, ou de vídeo, imagem. É um conjunto de informações com o objetivo de esclarecer um fato, de apontar um culpado, de denunciar algo errado, de esclarecer um fato certo. Tudo isso é dossiê. Dossiê é um conjunto de informações; é um conjunto de papéis, de fitas, de fotografias, de material que informa, que comunica. Isso é dossiê. As pessoas que estão nos vendo e nos ouvindo talvez agora estão entendendo o que é dossiê. Porque antes entendiam que ao dossiê estava ligada uma montanha de dinheiro - R$1,7 milhão. Que dinheiro era aquele? Para que servia aquele dinheiro?

Aí vem a minha palavra e a minha preocupação. O dossiê foi feito por alguém. Supõe-se que foi o Sr. Vedoin, o homem das ambulâncias, da Planam, que ofereceu - supõe-se - para incriminar o hoje Governador eleito do Estado de São Paulo, José Serra. Quem iria se interessar por comprar aquele dossiê? Supõe-se, há fortes indícios, há depoimentos, há quase provas de que foram petistas, uma organização petista, um grupo de petistas. Como no caso do Waldomiro, do “valerioduto”, era um grupo de petistas a serviço do crime organizado. Esse dossiê era oferecido pelo Vedoin e interessava a um grupo de petistas que arranjou um dinheiro, dinheiro grosso, em real e em dólar. Muito bem; quem vendeu? O Vedoin. Quem comprou? Os petistas. Com o quê? Com um dinheirão. De onde vem o dinheiro? Ninguém sabe ainda, mas se está no encalço.

A Polícia Federal, Senador Mão Santa, foi rápida no gatilho, por ordem de Márcio Thomaz Bastos, para operar a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo. Rapidamente, rapidamente, Sr. Presidente, quebrou-se o sigilo bancário de Francenildo porque se esperava que ele tivesse cometido um delito. Quebraram a cara. O dinheiro que estava na conta de Francenildo tinha vindo da doação do suposto pai dele. Mas eles foram rápidos. Por determinação do Ministério da Justiça, a Polícia Federal agiu rápido, e aquelas figuras, que sabemos, do Banco Central etc., quebraram o sigilo bancário num gesto de truculência. Agora, o rastreamento daquele dinheiro está difícil, complicado. A PF está dizendo que não será possível esclarecer o fato em tempo hábil.

Eu fico me perguntando o porquê da demora se o Presidente da República, ontem ou anteontem, deu uma entrevista, que foi manchete na primeira página dos jornais, pedindo a Deus que ele estivesse vivo e que o tempo fosse curto para que ele tivesse a informação sobre o conteúdo do dossiê e quem era o responsável pela sua compra. Ele pediu a Deus.

Muito bem. Quem é que está envolvido no dossiê? O Presidente pediu a Deus, num gesto teatral. Ele é um craque. Na manifestação teatral, ele é um craque. Na comunicação, ele é um craque. Não tenho nenhuma dúvida. Pediu a Deus que ele estivesse vivo a tempo de ver quem foram os aloprados responsáveis pela compra do dossiê, a origem do dinheiro, o porquê.

Eu disse ontem: é tão fácil! No caso Waldomiro, estavam envolvidos Waldomiro, Marcos Valério, Delúbio Soares, Silvinho, Genoino, Zé Dirceu, tantos outros amigões dele, da ante-sala dele, companheiros dele, petistas como ele. Ele disse que havia sido traído, esfaqueado pelas costas. Nunca apontou culpado; nunca puniu ninguém e tentou - e como tentou - evitar que a CPI dos Bingos, que esclareceu tanta coisa, fosse feita. Mas o fato é que ele não deu nenhuma contribuição e, agora, pede a Deus tempo para que os fatos sejam esclarecidos.

Eu disse ontem e quero repetir como que para esclarecer um fato é tão fácil, mais fácil do que o Presidente pedir a Deus tempo para que fique tudo esclarecido com ele vivo - e eu espero que tudo fique esclarecido com Sua Excelência vivo -, pois as pessoas que estão envolvidas são amigões dele. Mais uma vez, como no caso Waldomiro, são amigões do peito. Quem é Ricardo Berzoini? É o homem dos velhinhos, da fila dos velhinhos; é o ex-coordenador da campanha de Lula, sob cujas ordens trabalhava o Freud Godoy, o principal incriminado, que está citado como assessor especial de Lula. Logo abaixo do coordenador da campanha, que é Berzoini, ex-Ministro, o homem da fila dos velhinhos do INSS, está o Freud Godoy, que é ex-assessor especial de Lula, foi posto para fora, suponho, mas até pouco tempo era homem da ante-sala de Lula. Quem mais? Lorenzetti. Quem é Lorenzetti? Quem danado é Lorenzetti no jogo do bicho? É o churrasqueiro de Lula; é homem de dentro da casa dele; está citado como um dos responsáveis, comandante, é chefe da segurança de Lula, sob as ordens de quem trabalhavam o Gedimar e o Valdebran, que são petistas de carteirinha, filiados no Mato Grosso e em São Paulo, e que foram apanhados com o dinheiro, que dizem que foi levado para o Hotel Ibis por um outro petista chamado Hamilton Lacerda, coordenador da campanha de Aloizio Mercadante. São todos como Osvaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho do Governo Lula. É toda essa turma envolvida, citada.

Para que pedir a Deus tempo se ele pode reunir essa turma? Não reuniu os Governadores agora? Reúna essa turma; é tão importante para ele. Houve uma reunião de Ministros para fazer uma avaliação dessa coisa toda, das dificuldades da campanha. Por que ele não reúne essa turma do peito e pede a eles - aí, sim, pelo amor de Deus - que esclareçam ao País quem comprou, quem foram os aloprados que quiseram prejudicá-lo?

Se está isento de tudo, ele que peça aos aloprados que contem a história toda, para que o Brasil fique sabendo, porque senão o Brasil fica imaginando que ele não foi ao debate, do qual fugiu, porque não tinha argumentos para responder às indagações que seguramente seriam feitas a ele por Geraldo Alckmin, por Heloísa Helena, por José Maria Eymael, pelos candidatos à Presidência, que não tinham o que perguntar a uma cadeira vazia. E o povo do Brasil tem todo o direito de supor que Lula não foi porque não tinha argumento para explicar o dossiê e outras coisas mais.

Reúna, pois, essa turma! É turma do peito dele! Gente dele! Petistas como ele. Querem a desgraça dele ou querem o bem dele? Então, que colaborem com o Presidente, que digam de onde veio o dossiê, de onde veio o dinheiro. Esclareçam esse fato todo para não prejudicar Lula, senão o povo do Brasil tem todo o direito de raciocinar que Lula está dentro disso, que ele é parte disso, que ele não tem como cobrar de quem pode cobrar dele, que são esses petistas citados. O brasileiro tem o direito de pensar isso.

Muito bem. Tudo isso eu falei ontem, mas há um fato, Senador Marcos Guerra, que me faz voltar à tribuna, que é uma manchete do jornal Valor Econômico, que diz o seguinte: “Resultado das investigações do dossiê só sairá depois do segundo turno, diz Bastos”. Sabe quem é Bastos? Márcio Thomaz Bastos, Ministro da Justiça, comandante da Polícia Federal, o homem responsável pelas investigações. Só depois do segundo turno.

Aí quero fazer a constatação dos fatos e apresentar a minha estupefação, porque, na matéria, está dito que um dos presentes teria dito: “Não há previsão de quando vai terminar a apuração do dossiê, teria advertido o Ministro da Justiça. A investigação só acabará antes da eleição se alguém contar a verdade espontaneamente”.

Antes de fazer meu comentário final, ouço, com muito prazer, o Senador Mão Santa e o Senador Almeida Lima, em seguida.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador José Agripino, atentai bem: V. Exª me lembrava da história de Afonso Arinos. Getúlio Vargas, que era pessoa boa - ninguém escolhe a época para governar -, para entrar, teve de fazer uma revolução. Depois, os paulistas quiseram derrubá-lo; depois, veio a Segunda Guerra Mundial. Então, um período complexo. Mas ele era um homem bom. Já li, José Agripino, todo o diário de Getúlio, dois volumes, e vi ali como ele era um homem bom, trabalhador, nacionalista e puro! Atentai bem, José Agripino. E houve aquele atentado contra Carlos Lacerda. Olha, ele estava em Minas, com Juscelino governando o Estado, e disse que aquilo era coisa de política. E Afonso Arinos veio ao Congresso e discursou como V. Exª faz hoje. A história se repete. Será mentira o órfão? Será mentira a viúva? E, como V. Exª, realmente ele chegou - Getúlio era um homem bom - e viu que sua patota, o Gregório Fortunato tinha planejado e estava envolvido em um mar de lama. E ele teve a grandeza de sair da vida para a história, porque não queria compactuar com aquilo. Mas esse PT é muito pior do que aquele mar de lama que o Gregório, por uma fidelidade canina a ele, planejou, talvez inconseqüentemente. Esse PT é uma organização criminosa. Então, o Lula não pode ficar de Jamanta - aquele da novela, que não sabe de nada. Oh, Lula, o PT é uma organização criminosa! E a democracia, Senador José Agripino... V. Exª poderia ter sido o Vice-Presidente, mas Deus colocou V. Exª para fazer esse pronunciamento histórico, como o de Afonso Arinos, que fez Getúlio se mancar; Getúlio viu que tinha nascido de lá, e a saída honrosa foi aquela. Então, não vamos permitir que Lula seja o Jamanta: não sabe, não viu e não sei o quê. V. Exª está alertando: o dossiê, a imoralidade. E a Bíblia diz: “Diga-me com quem andas, e te direi quem és.” Ele só anda com essas peças ruins. E, quanto à democracia, nós estamos aqui, Senador José Agripino, para defendê-la. A democracia foi construída pelo povo. O povo, insatisfeito com os reis - que eram melhores do que esse que está aí; não se comparam D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II com o PT - foi à rua e gritou: “liberdade, igualdade e fraternidade”. Esse grito demorou 100 anos para chegar, mas chegou, e nasceu o governo do povo, pelo povo, para o povo, que estamos aqui para defender. Montesquieu tripartiu o poder e criou o Legislativo. Este poder serve para alertar o País; estamos aqui para dizer que a riqueza da democracia é a alternância no poder. Deus não abandona seu povo. Deus botou Davi para vencer Golias, que era menos pior que o PT; botou Moisés para libertar seu povo. E botou esse moço, Geraldo Alckmin, filho político do maior nome da história política: Mário Covas. É a alternância no poder. Acordai, Brasil! Acordai! Vamos salvar a democracia, que é uma criação do povo e que nada tem que ver com o PT, que é uma organização criminosa.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Obrigado, Senador Mão Santa. V. Exª corrobora meus argumentos e esclarece, com suas colocações, alguns fatos a mais que me escaparam. V. Exª os menciona com oportunidade.

Senador Almeida Lima, ouço V. Exª, com muito prazer, com a concordância da Presidência. Em seguida, ouvirei o Senador Sibá Machado.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador José Agripino, congratulo-me com V. Exª pelo pronunciamento. Mais uma vez, deve-se censurar o comportamento do Ministro da Justiça, Sr. Márcio Thomaz Bastos, nesse episódio do dossiê, sobretudo pela falta de credibilidade e de imparcialidade da parte de S. Exª para o acompanhamento e para o ato de presidir, no cargo de Ministro da Justiça, as investigações. Todos sabemos que se trata de uma farsa dirigida por S. Exª. Se S. Exª continuar à frente desse procedimento, não chegaremos a nenhuma conclusão. A esta altura, já teríamos tido condições de ter uma conclusão desse inquérito, e não tivemos.

As providências que ele tomou foram, na verdade, no sentido de punir, transferindo delegados que estavam agindo dentro do processo correto de investigação. Lamentavelmente, ele os desviou exatamente com esse objetivo, como em outras oportunidades, a exemplo da investigação do caso Waldomiro Diniz, pois os computadores que ele usava, instalados no Palácio do Planalto, só foram apreendidos muito tempo depois, tempo mais do que suficiente para que tivessem feito a limpeza adequada, a fim de não se comprovar o que, graças a Deus, chegamos a provar depois: o envolvimento de toda essa quadrilha comandada pelo próprio José Dirceu. Novamente censuro o Ministro da Justiça por esse comportamento não-digno, que confunde a Polícia Federal com um órgão do Governo Federal, quando se trata de órgão permanente do Estado brasileiro e, digo mais, cujo corpo de delegados - tive essa notícia hoje - encontra-se contrariado exatamente pela interferência do Governo em suas ações, em suas atividades.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Obrigado, Senador Almeida Lima. V. Exª fala, com propriedade, de algo que é a minha convicção: a Polícia Federal é um patrimônio do povo brasileiro, mas esse órgão recebe ordens. Muitas vezes é obrigada a cumprir ordens, e as que vem recebendo são do seu chefe, do seu comandante, que é o Ministro Márcio Thomaz Bastos, de quem se deve, neste momento, cobrar rapidez nas investigações - rapidez que está sendo colocada às avessas na declaração de S. Exª, que diz que o resultado das investigações do dossiê só sairá depois do segundo turno. S. Exª não diz “daqui a vinte ou trinta dias”; com muito pouca inteligência, diz “depois do segundo turno”, ou seja, passada a eleição.

Quero ouvir o Senador Sibá Machado, o Senador Marcos Guerra, para fazer as minhas apreciações finais.

Senador Sibá Machado, com muito prazer, ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Agripino, em primeiro lugar, quero dizer que V. Exª é um brilhante Líder do Partido da Frente Liberal, tem toda a nossa admiração, é pessoa de um conhecimento muito vasto e de muita habilidade com as palavras. Claro que, toda vez que fala, V. Exª chama a atenção. Discordo em apenas um ponto do pronunciamento de V. Exª, e é somente isso que quero abordar, neste momento, no aparte. Quanto ao histórico dos dossiês, não podemos imputar o regime de uso desses institutos para uma disputa eleitoral, porque fomos vítimas disso também. Em algum momento, foram-nos oferecidos dossiês dessa natureza para disputar uma eleição, naquele momento contra o ex-Governador José Serra. Tratava-se da história de vida de José Serra, de Fernando Henrique Cardoso, de Mário Covas e de outros líderes do PSDB, e o Presidente Lula tomou uma atitude muito digna naquele momento: não aceitou, não quis nem mesmo analisar os fatos daqueles documentos. E mandou-se jogar o documento no lixo. Agora, quando volta esse absurdo, é unanimidade na Casa, para todos nós e para qualquer pessoa, que essa fórmula para se disputar uma eleição deve ser banida, imediatamente, de qualquer possibilidade, de qualquer tentativa futura. Temos harmonia quanto a isso. Quanto à origem dos recursos financeiros, todos queremos saber qual é, inclusive o Presidente Lula, para ver se conseguimos resolver essa novela de uma vez por todas. Não podemos concordar em imputar isso a um desejo do Presidente, até mesmo porque as circunstâncias não lhe permitiram. No histórico de vida do Presidente, Sua Excelência jamais concordou com esse tipo de artifício e, agora, nem tinha necessidade de fazê-lo, pois estava na iminência de ganhar a eleição no primeiro turno. É preciso que acabemos, de uma vez por todas, com qualquer iniciativa dessa natureza. Temos defendido agora, dentro do PT, que haja uma punição rigorosa. Não pode ficar dessa maneira. Não pode haver tentativa de qualquer pessoa de utilizar uma matéria como essa para uma disputa eleitoral. Quanto a Freud Godoy, a Polícia Federal não está encontrando qualquer participação dele nessa novela. Também é injusto dizer que o Ministro Márcio Thomaz Bastos não tem cumprido com seu dever de Ministro de Estado. No nosso entendimento, S. Exª tem tido presença em todos esses momentos, deixando a Polícia Federal atuar como todos desejamos. A Polícia Federal foi, sim, utilizada no regime militar como polícia política. Neste momento, ela é uma polícia de Estado; não é uma polícia de Governo ou de qualquer pessoa. Portanto, em relação ao dever de polícia - e é apenas nesse ponto que discordo de V. Exª -, a Polícia Federal o está cumprindo, assim como o Ministro da Justiça. E eu gostaria de defender, dentro do meu Partido, a punição imediata para esse tipo de comportamento. Isso é relembrar a excrescência política que vivemos em um tempo que não queremos que volte nunca mais.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Sibá Machado, V. Exª tem todo direito e tem a obrigação de fazer as considerações que faz, com delicadeza, com equilíbrio, que cumprimento e elogio.

Mas perduram minhas preocupações, porque veja: V. Exª disse que, num dado momento, foi um dossiê oferecido ao PT, a Lula, e ele não aceitou. Mas agora há uma montanha de dinheiro, que é o retrato do crime. O dossiê foi oferecido, o dinheiro foi providenciado, petistas filiados foram ao hotel com uma montanha de dinheiro para comprar o dossiê que incriminava José Serra, que facilitaria, evidentemente, petistas que estavam envolvidos com a compra do dossiê.

Daí perdura uma dúvida: esse dossiê interessa ao PT, interessa a Mercadante, interessa a Berzoini, interessa a Márcio Thomaz Bastos, interessa a Lula? Só o debate ofereceria a oportunidade para que ele, Lula, que seria, teoricamente, o prejudicado nessa história, pudesse digladiar com seus opositores e esclarecer o fato. Ele não o fez. Ele não foi ao debate. O povo do Brasil fica com uma dúvida: por que ele não foi ao debate? O dossiê foi mostrado ao Brasil inteiro, foi dada a oportunidade a ele de esclarecer este e outros fatos. Por que ele não foi? Ele tem culpa no cartório?

Segundo ponto. Os aloprados citados pelo Presidente Lula são pessoas da intimidade dele, são pessoas que ele pode chamar, dar um puxão de orelha e mostrar que com ele não tem convivência nem com a impunidade, nem com a improbidade. Não o fez.

Eles estão aí. Eu não sei, Senador Sibá Machado, se o Osvaldo Bargas, o Freud Godoy, o Valdebran, o Gedimar, o Jorge Lorenzetti e o Hamilton Lacerda são na verdade culpados. Eles são citados, e há denúncias fortes, consistentes, mas eu não posso afirmar que eles sejam culpados. As investigações estão em curso. O que sei é que eles são ligados ao PT e a Lula pessoalmente. Lula tinha todo o direito de chamar essa turma da pesada, esses comprometidos, teoricamente, com a prática do ilícito, esses aloprados, chamá-los à responsabilidade e execrá-los publicamente se ele não teme nada. Se ele não teme nada, ele deveria ter feito isso e o povo do Brasil o estaria aplaudindo neste momento. Ao invés disso, está com uma dúvida, com uma interrogação. E porque a interrogação está ocorrendo também na cabeça das pessoas é que Lula está caindo nas pesquisas. As pessoas perderam o crédito nele, porque ele é reincidente. No caso do Waldomiro, a punição só aconteceu pelo flagra, não por iniciativa de Lula. No segundo caso, que é reincidência, o mesmo comportamento omisso, ou seja, conivência com a improbidade e com a impunidade. E o brasileiro não aceita isso.

Ouço agora com muito prazer o Senador Marcos Guerra antes das minhas considerações finais.

O Sr. Marcos Guerra (PSDB - ES) - Senador José Agripino, com essa sua conclusão, após o aparte do nobre Senador Sibá Machado, praticamente 50% do meu aparte foi manifestado por V. Exª. Mas quero chamar a atenção para um ponto. V. Exª começou o pronunciamento perguntando o que é um dossiê, se as pessoas sabem o que é um dossiê. É importante frisarmos que um dossiê pode ser construído de qualquer forma. E esse dossiê foi construído para prejudicar candidaturas do PSDB, inclusive a de São Paulo, do candidato José Serra. Eu só lamento uma coisa, até em cima do aparte do companheiro Sibá Machado: está na hora de parar de querer ser vítima: “Eu não sei de nada, não sabia, não quero saber”. Quer dizer, infelizmente, Senador José Agripino, o brasileiro tem pena das pessoas. Isso é ruim. Quando a pessoa se coloca como vítima, às vezes pode induzir a um caminho. Por isso, graças a Deus, vamos ter o segundo turno. É lógico que vença o melhor, mas a população terá condições realmente de saber muitas verdades que muita gente não sabe. Quero acreditar que dá para saber quem deu o dinheiro e de onde ele veio. Porque são pessoas muito próximas ao Presidente da República. Então dá para saber quem deu, de onde veio, quando foi apanhado e por que motivo as pessoas contrataram aquele dossiê. É uma explicação que o Brasil todo quer ter. Todos desejamos um Presidente da República que realmente conheça os fatos, principalmente aqueles que estão ao seu redor. Parabéns a V. Exª pelo seu pronunciamento, que veio em um bom momento. Precisamos continuar trazendo esses fatos à tribuna, a fim de deixar a população cada vez mais ansiosa para saber a verdade. Meus parabéns!

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Obrigado a V. Exª.

Vou encerrar, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Cavalcanti. Bloco/PRB - PB) - Faço um apelo ao Plenário e ao nobre Senador, tendo em vista que o seu tempo era de cinco minutos e se passaram trinta minutos.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vou encerrar. Agradeço a V. Exª a benevolência.

Sr. Presidente, do Ministro Márcio Thomaz Bastos o que se deseja é a agilidade que teve no Caso Francenildo. Somente isso. Nada mais. Não quero que ele opere milagre. Tão ágil como foi no Caso Francenildo, na quebra do sigilo e nas providências tomadas, que S. Exª fosse na elucidação da origem do dinheiro e nas providências do dossiê. Somente isso. Ao invés disso, ele diz que o resultado das investigações do dossiê sairá somente depois do segundo turno.

Senador Mão Santa, “depois do segundo turno” enseja que o brasileiro faça a si uma pergunta: será que se alguém, espontaneamente, desse a informação precisa sobre o caso, não abreviaria as investigações? Claro que abreviaria! Quem pode obter a informação espontânea? O Presidente Lula, com as pessoas que são da sua intimidade, da sua relação pessoal. Só espontaneamente, segundo o Ministro Márcio Thomaz Bastos disse, ou o próprio Presidente disse, somente com uma declaração espontânea se poderia abreviar o processo.

Quem é que pode obter essa declaração espontânea? Quem diz que pede a Deus tempo para ver esse assunto esclarecido e não pede a quem pode esclarecer que esclareça. Nem V. Exª, nem eu temos conhecimento ou condição de pedir nem ao Sr. Gedimar, nem a Valdebran, nem a Freud Godoy, nem a Berzoini, nem a Bargas, nem a qualquer dos citados que digam finalmente de onde veio aquele dinheiro, para quem era o dossiê e o que se pretendia com aquilo tudo. São pessoas da intimidade de Lula. É ele quem poderia pedir que espontaneamente se encerrasse aquele assunto. A não ser que o esclarecimento dos fatos traga ao Presidente Lula prejuízo maior do que o desgaste da dúvida e da interrogação, que vai se arrastar até o segundo turno das eleições. Talvez a dúvida e a interrogação, por mais desgaste que provoquem, sejam menos catastróficos do que aquilo que se supõe pretende esconder.

A elucidação dos fatos que Márcio Thomaz Bastos, na minha opinião, procrastina, em contraponto à ação rápida no Caso Francenildo, produziria uma catástrofe, talvez não atingindo Lula diretamente, mas de forma indireta. Indireta porque o brasileiro sabe que quem convive com a impunidade e a improbidade é omisso. E o brasileiro sabe que honesto é quem não rouba e não deixa roubar; que o sério é quem não comete delito e não deixa cometer delito. Talvez se esteja tentando evitar que Lula seja conivente com a improbidade e com a impunidade, e que Lula, se não rouba, deixa roubar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2006 - Página 30389