Discurso durante a 164ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de artigo intitulado "Democracia é maior do que qualquer um de nós", de autoria do Dr. Renato Janine Ribeiro.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Leitura de artigo intitulado "Democracia é maior do que qualquer um de nós", de autoria do Dr. Renato Janine Ribeiro.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2006 - Página 30489
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, PROFESSOR, FILOSOFIA, ETICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), COMENTARIO, IMPORTANCIA, ELEIÇÃO, DEMOCRACIA, ELOGIO, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REFORMA POLITICA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, pedi para fazer essa comunicação inadiável a fim de registrar um artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, de autoria do Dr. Renato Janine Ribeiro, intitulado “Democracia é maior que qualquer um de nós”.

Renato Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia Política na USP, Diretor de Avaliação da Capes e autor de, entre outras obras, A Sociedade contra o Social - o alto custo da vida pública no Brasil.

Diz o Dr. Renato Janine Ribeiro em seu artigo:

Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação Voto em Lula porque, a meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o País com uma agenda ditada pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior, à monetária e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o Orçamento, sem dinheiro nem para pagar passagem de Ministros, com o dólar a R$4 e um risco Brasil enorme. Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz de acalmar a economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim, de cumprir uma agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos movimentos populares, e isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio público.

Mais ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, uma agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif (Valor Econômico, de 24 de agosto), o maior rigor em programas com programas como o Bolsa-Família e os do Ministério das Cidades, “desintermediou o voto da população pobre, que antes passava pelo chefe local”. Se isso é certo, não há paternalismo na atual política de promoção social. Não adianta ficar inventando que Lula se proclamou o “pai dos pobres”. Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca informam quando o Presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas crenças para se referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo agora do que antes.

É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava isso de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem e se vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas mãos de pobres não presta.

Discordo disso.

Quero uma sociedade mais democrática. Isso significa, em primeiro lugar, o fim da miséria, a redução da desigualdade social.

No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de melhorar as condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao contrário do que diziam seus detratores.

O País não pegou fogo. O saldo do Governo é positivo: a questão social está sendo bem orientada.

Agora vamos à questão ética.

No Governo atual, o Procurador-Geral não engaveta processos, a Polícia Federal age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu sessenta CPIs de funcionar na Assembléia paulista, deixou uma política de segurança prepotente e ineficaz (porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política de educação que não é das melhores. Eleição é comparação. Não vejo no governo Alckmin superioridade ética sobre o Governo Lula.

Contudo, há satisfações que o PT deve à sociedade. Os escândalos mostram que ele é um Partido mais “normal” do que imaginava ser. Humildade não faz mal.

O PT tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina interna e punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que os outros. Aliás, seria bom o País todo fazer um exame de consciência. Com o financiamento privado de eleições, a porta se escancara para a negociata.

Deveríamos priorizar em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária, condições mais equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o voto distrital.

Tudo isso para se discutir.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, Senador, apesar de só ter cinco minutos e precisaria terminar.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Cara Senadora, é triste que um homem da categoria do Dr. Janine escreva um artigo desses, que não acrescenta nada ao País. Ele critica um procurador por engavetar processos, e ele está engavetando a verdade. Ninguém engavetou mais escândalos neste País do que o próprio Lula, perdoando antecipadamente os envolvidos, sendo desleal com os companheiros e livrando-se deles de acordo com a sua conveniência, haja vista o Presidente do seu Partido, seu colega de tantas lutas, Berzoini, que hoje está no patíbulo para ser decepado. Por quê? Porque participou da compra de um dossiê no qual está envolvida a reeleição do Presidente da República. Qual é a lealdade do Presidente da República com o Sr. Mercadante? Por que tentar agora satanizar Mercadante e Berzoini, como o fez lá atrás com José Dirceu, como o fez lá atrás com Genoíno? Não, Senadora; o Sr. Janine não consegue tapar o sol com a peneira. Dizer que a política do Geraldo Alckmin em relação à segurança em São Paulo foi dura é um mérito, porque ele não deu tréguas a bandidos e a ladrões, enquanto companheiros do Partido de V. Exª entravam livremente nos presídios para dialogar com os membros do PCC e fazer acordos com os presidiários. Lamento que o Sr. Janine tenha essa mancha em seu currículo ao escrever tão inoportuno e tão infundado artigo.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Sr. Presidente, peço um minuto para terminar.

Eu gostaria de dizer ao Senador Heráclito, uma pessoa por quem tenho o maior respeito - e ele sabe disso -, somos adversários políticos, mas somos amigos, coisas absolutamente diferentes, que o Presidente Lula não engavetou nada nunca, até porque ele não tem poder para isso.

Eu gostaria de terminar de ler - e tenho alguns segundos - o artigo do Dr. Renato Janine, professor da USP, meu colega, já que também sou professora de universidade, e por quem tenho o maior respeito.

Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre teremos de conviver, quem votou em Lula ou nos outros candidatos.

Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é desonesto deformar o que o outro disse.

Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu, é uma enorme caricatura. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de adversários, não de inimigos.

Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da Esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto, convergências. A sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os Partidos. A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.

            Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o Governo neste rumo, mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e não apenas de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos problemas. Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser maior do que ele e do que qualquer um de nós.

Por isso Janine diz que a democracia é muito maior do que qualquer um de nós.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2006 - Página 30489