Discurso durante a 164ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

O envolvimento do PT com dossiês. Comentários sobre a divulgação de medidas que supostamente seriam adotadas por Geraldo Alckmin ao assumir a presidência da República. Importância do debate entre Lula e Alckmin.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • O envolvimento do PT com dossiês. Comentários sobre a divulgação de medidas que supostamente seriam adotadas por Geraldo Alckmin ao assumir a presidência da República. Importância do debate entre Lula e Alckmin.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2006 - Página 30490
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, FRAUDE, DOCUMENTO, COMENTARIO, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • ESCLARECIMENTOS, PLANO, GOVERNO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REFERENCIA, SERVIÇO PUBLICO, DEMISSÃO, MEMBROS, INDICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INCOMPETENCIA, RECEBIMENTO, DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO SUPERIORES (DAS), REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS, CORRUPÇÃO, CORTE, RECURSOS, IRREGULARIDADE, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).
  • EXPECTATIVA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, CORRUPÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTERIO, OCULTAÇÃO, IRREGULARIDADE, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO.
  • COMENTARIO, CAMPANHA ELEITORAL, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), APOIO, OSMAR DIAS, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, CANDIDATO.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CANDIDATO, REELEIÇÃO, REFERENCIA, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, METRO.
  • EXPECTATIVA, DEBATE, TELEVISÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, associo-me a V. Exª ao fazer a saudação a essa simpática gente do Tocantins, Estado ao qual o Piauí muito deve. (Palmas.)

Estive, recentemente, três vezes em Tocantins, ajudando minha colega Deputada e Senadora eleita Kátia Abreu, ajudando-a na campanha. Vi a quantidade de piauienses que vivem hoje em Tocantins, trabalhando e ajudando a construir a história daquele Estado.

Portanto, faço daqui minha associação às manifestações do Sr. Presidente, desejando-lhes uma visita positiva a Brasília.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Partido dos Trabalhadores gosta de viver no pecado, no submundo, no crime! Gosta dos dossiês! Compra-os, fabrica-os, cria-os. Vai gostar do submundo assim em outro planeta! Comprou o dossiê dos sanguessugas em Mato Grosso e estava preparando a compra de um dossiê na Bahia. É dossiê por todo lado!

Eles, agora, estão lançando na praça um novo dossiê, que tem sido divulgado aqui, por alguns Senadores, inclusive Líderes. Por meio de um roteiro criminoso, começam a anunciar medidas supostamente adotadas por Geraldo Alckmin quando assumir a Presidência da República no dia 1º de janeiro.

O corte de gastos é prioridade do Sr. Alckmin, principalmente o corte de gastos da corrupção. O Brasil perde, ano a ano, milhões de reais, que vão pelo ralo da corrupção, que é preciso ser banida deste País.

Quanto a demitir funcionários, o PT sabe que ele não vai fazer isso. O que ele vai fazer é demitir milhares e milhares de militantes do PT que foram colocados de maneira injusta em funções públicas. Os sindicalistas ali colocados ganham DAS e tiram dos recursos federais fortunas. Para quê? Para aparelhar o Estado com o que há de pior, e o Estado assistiu ao que há de mais nefasto nos últimos quatro anos.

Não é como o servidor público que passou em concurso; esse tem direito adquirido, e seu tratamento será correto. O problema é que essa gente vive recebendo das folhas extras, dos DASs, com o único objetivo de panfletagem, de aparelhamento e de divulgação de dossiês dessa natureza. Eles sabem que, num governo sério, não terão vez.

Se examinarmos também o dinheiro que o País está perdendo, que foi remetido às ONGs que financiam a invasão no campo, a invasão na Câmara dos Deputados e a compra de dossiês e que ninguém viu, veremos que a perda foi grande. Isso não terá vez no governo de Geraldo Alckmin. As ONGs de serviço e de atendimentos sociais, sim, serão prioritárias, mas não as arapucas criadas apenas para dar suporte econômico e financeiro aos que vivem no poder, mamando nas tetas gordas do Governo Federal. O Senhor Lula e seus aloprados não terão mais vez a partir do próximo ano.

Sr. Presidente, como é impiedoso o PT! Há pouco, minha amiga Senadora Serys Slhessarenko leu um artigo do Sr. Janine. No fim, acho até que o Sr. Janine puxa as orelhas do Partido dos Trabalhadores, quando diz que a democracia é superior aos fatos que estamos vivendo e que não se pode interpretar erroneamente o pensamento das pessoas. Mas é isso exatamente o que o Senhor Lula tem feito, haja vista seu discurso no Rio de Janeiro. Aliás, Lula, quando discursa depois de um almoço, de um jantar ou de um coquetel, é um perigo! Essa é a grande verdade.

No seu discurso, diz que Geraldo Alckmin vai demitir. É o dossiê, concatenado, que tem seu nascedouro no Palácio do Planalto, porque o que disse aqui a Líder do Governo antes de ontem - aliás, contestando o sempre lúcido Senador Suplicy - é uma prévia do que o que o Senhor Lula, ontem, afirmou no Rio de Janeiro noite adentro.

Eles, agora, estão com essa catilinária de que Geraldo Alckmin vai privatizar, de que Geraldo Alckmin vai cortar, de que Geraldo Alckmin... Daqui a pouco, vão tentar satanizá-lo! Mas o que faz isso? O que faz isso são os sinais que estão sendo dados pelo povo brasileiro, que, felizmente, Sr. Presidente, acordou na hora exata e precisa. E quem foi o despertador do povo brasileiro? Foi exatamente o dossiê que foi comprado. E, até agora, não se coloca às claras a origem desse dinheiro, não se coloca às claras de onde ele partiu, de onde ele saiu, e o que se vê é um jogo de empurra.

Lemos, nos jornais de hoje mesmo, que a Polícia Federal reclama da companhia telefônica Claro pela demora em entregar ligações exigidas para a apuração dos fatos. Onde está o Ministro das Comunicações? Participando de jantares! Onde está a Anatel? Onde estão as autoridades, que não dão sequer uma palavra a respeito desse fato?

Aliás, acusar o Sr. Brindeiro de engavetar processos e não acusar este Governo de esconder escândalos é não ser justo e não ser igual. Onde está o resultado da apuração das cartilhas feitas no Palácio do Planalto, que foram distribuídas de maneira criminosa nos diretórios do Partido dos Trabalhadores, em que foram desviados mais de R$11 milhões do Erário público, já punido pelo Tribunal de Contas?

Se abrirmos os jornais de hoje, Sr. Presidente, leremos que o Tribunal de Constas manda suspender uma concorrência para compras de helicópteros por suspeita do seu procedimento. E do Ministro da Justiça não ouvíamos uma palavra, porque ele está nos palanques pedindo voto para Lula ou, então, interferindo na apuração desses fatos vergonhosos, maculando, acima de tudo, a imagem da Polícia Federal, que é republicana, sim, senhor, quer queira o Ministro, quer queiram os membros do Governo Federal.

Não adianta! O PT passa, e essa gloriosa instituição fica. E ela não permitirá, Sr. Presidente, que tentem diminuí-la. Perseguições a funcionários e pressões na calada da noite são transitórias, mas o nome da instituição ficará, porque ela é permanente.

Sr. Presidente, vemos o Sr. Janine falar sobre qualidade de debate. Aí, abre-se o jornal Folha de S.Paulo e lê-se que D. Marta Suplicy, burguesa que se desencastelou da Prefeitura de São Paulo por vontade do povo, disse que Geraldo Alckmin vai diminuir o Bolsa-Família. É esse o tipo de jogo que essa gente, movida pelo desespero e pela revolta, quer fazer. O Brasil não aceita isso.

Ontem, estive no Paraná, onde assisti ao ato solene de adesão do PSB e do PFL à candidatura de Osmar Dias. Em Curitiba, pelas ruas por onde andei, vi a vontade do povo de eleger Osmar Dias e também Geraldo Alckmin. O atual Governador e candidato à reeleição encontra-se, neste momento, numa saia justa, porque suas bases também querem eleger Geraldo Alckmin, cuja campanha está vinculada à de Osmar Dias, que recebeu, ontem, o apoio de Rubens Bueno e do PFL.

            Em Santa Catarina, a imprensa noticia episódio semelhante. Luiz Henrique da Silveira, nesta data em que se reverencia o aniversário de Ulysses Guimarães, deve estar a prantear a ausência daquele grande homem público que foi um dos seus grandes amigos. Luiz Henrique, na convivência com Ulysses, aprendeu as lições de tolerância, de humildade, acima de tudo levando a sério o trato da coisa pública.

Feliz é o homem que se cerca de homens públicos que têm o que ensinar. Tristes dos que se cercam de aloprados, de “propineiros”, de sanguessugas, de “mensaleiros” e de transportadores de dólar na cueca.

O Sr. Janine fala sobre um hipotético segundo Governo do Senhor Lula, mas para governar com quem, se, durante 20 anos, percorrendo o Brasil com suas caravanas, prometeu ao brasileiro compromisso com o social e não o cumpriu? Ele fez amigos que já caíram ou estão caindo.

Sr. Presidente, na semana passada - há cerca de quinze dias, para ser mais preciso -, recebi, como presente, um baralho, com 54 cartas. No verso de cada uma das suas 54 cartas, havia um envolvido no “mensalão”. Hoje, depois de 15 dias da edição do primeiro baralho, o Governo já promoveu novos envolvidos em escândalos, o que dá para se fazer a segunda parelha do baralho, que ficará completo. É preciso que o Governo estanque essa onda avassaladora de corrupção, senão os baralhos ficarão envelhecidos, tantos são os envolvidos. Nunca imaginei, ao receber aquele mimo, que o Governo já tivesse 54 pessoas envolvidas. E há muito mais. Do coringa ao rei de copas, são muitas, e, agora, poder-se-á fazer o segundo baralho, para que fique completo.

Hoje, anuncia-se uma entrevista do Sr. Marco Aurélio Garcia na Rádio 13. Tenho-o na conta de homem honrado, mas seria preciso que o Sr. Marco Aurélio Garcia soubesse da participação da Rádio 13 no recebimento de verbas e em fatos pouco esclarecidos ocorridos em Santa Catarina, com o envolvimento e a participação de ONGs. A respeito desses fatos obscuros, o PT tem obrigação de prestar contas à Nação.

Sr. Presidente, eles negam o dossiê e os fatos, mas por que estão reunidos hoje, para expulsar o Berzoini do Partido, para tirá-lo da Presidência, se já o tiraram da coordenação de campanha? É porque sabem que existe um vínculo entre o fato e as lideranças maiores do Partido.

Punir o Sr. Berzoini é assumir a culpa, e esse é o primeiro passo para que alguém, neste País, entre com o pedido de cancelamento do registro de candidatura do Senhor Luiz Inácio Lula da Silva. De antemão, digo a todos que não seremos nós, do PFL, que o faremos - e, com certeza, não serão os do PSDB -, porque antes disso as urnas brasileiras derrotarão essa esperança que se transformou em tragédia.

Sr. Presidente, o Lorenzetti - aquele que é churrasqueiro e banqueiro do PT - antecipou-se à reunião da Executiva e pediu demissão, segundo a imprensa acaba de divulgar. É esse o PT que quer enfrentar Geraldo Alckmin, criando fatos que não existiram, factóides e, acima de tudo, mentiras e dossiês.

Quão impiedoso é esse Partido! Lembro-me, e discordo muito, da atuação do Sr. Mercadante aqui, a defender o Governo nas horas mais difíceis. Agora, colocado de lado, cabisbaixo, foi vítima de uma arapuca das próprias alas e facções internas do Partido dos Trabalhadores. Lembrem-se de que, quando esse fato foi potencializado, procurou-se localizá-lo apenas na circunscrição do Estado de São Paulo, numa tentativa de se livrar o Presidente da República de uma vinculação direta com o escândalo, não importando que um companheiro de lutas e de muitos anos de convivência fosse massacrado e submetido a esse vexame.

Não será a Oposição que irá satanizar o Senador Aloizio Mercadante. Esse é um ato do próprio Governo e dos seus companheiros de PT com o qual não concordamos. As nossas divergências continuarão, mas permanecerão no campo ético, dentro dos limites da decência. Podem mandar o que quiserem para meu gabinete contra o Sr. Mercadante, que de lá não sairá divulgação. De lá não sairá a repercussão desses fatos. Se querem encontrar culpados, que o façam, mas é preciso que o PT mostre onde está e de quem era o dinheiro.

Agora, criaram a versão, simplesmente fantasmagórica, de que o dólar saiu de Miami, foi para a Alemanha e chegou ao Brasil, comprado por um Banco.

Sr. Presidente, uma criança sabe que o dinheiro que faz essa rota, além de pagar o transporte aéreo de valores, que é caríssimo, passa por duas operações de câmbio, o que tira qualquer possibilidade de lucro do Banco que executa tal operação. Por que o Banco Sofisa compraria dólares na Alemanha se ele tem o dólar, por preço mais baixo e em condições mais fáceis, vindo dos Estados Unidos? É mais uma história de carochinha; é mais uma tentativa de enganar a opinião pública e de querer empurrar com a barriga todos esses fatos. Mas, a cada dia, o PT cai nas esparrelas que eles próprios criam.

Lembro-me de que, no lançamento da candidatura de Alckmin, mandaram para a porta do nosso comitê esse grupo de inteligência, os espiões, para saberem se algum Senador chegava de carro oficial para criar constrangimentos. E, agora, é o próprio PT que denuncia membros do Governo chegando a solenidades e a jantares em carros ministeriais. E os aloprados que chegaram, os novos aloprados, denunciam os companheiros, pedindo punição. O Senhor Lula está muito mal de amigos. O Senhor Lula precisa, acima de tudo, ter coerência no que diz.

Sr. Presidente, um dos fatos mais tristes que presenciei - há um site que mostra isso com muita clareza -, na semana que antecedeu a eleição, foi o Senhor Lula, em Natal, fazer apologia da transposição do rio São Francisco, porque sabe que esse é um sonho dos rio-grandense-do-norte, do povo potiguar. Três horas depois, em Aracaju, desdisse tudo o que havia dito, porque ali os interesses são diferentes. Disse que, ao invés da transposição do rio, era preciso que se fizesse a sua revitalização, porque o rio carecia de água para um projeto daquela magnitude. Sua Excelência nem trocou de roupa, Sr. Presidente. Com a mesma roupa que fez uma declaração em uma cidade, fez outra declaração em outra cidade, num desrespeito à verdade e aos compromissos. O que este País gastou de expectativa com relação à transposição ninguém sabe, porque as coisas deste Governo são misteriosas. Este é o Governo que corta gastos, que cancela recursos orçamentários e que, logo em seguida, anuncia a liberação de R$1,5 bilhão para obras, faltando apenas uma semana para a eleição! Este Governo sabe, que agindo assim, está contrariando, está agredindo a Lei Eleitoral do País.

Sr. Presidente, o desespero toma conta, e é preciso que as oposições tenham cautela, tenham cuidado, protejam-se, mas não recuem na sua determinação de, no próximo dia 29, livrar o País dos que fizeram desta Nação, nos últimos quatro anos, um cenário de escândalos, de frustração e de decepção.

Sr. Presidente, o Brasil acordou na hora certa. Bem-aventurados sejam aqueles que resolveram se encontrar num hotel de São Paulo, carregando pesadas malas de dinheiro, reais e dólares, para comprar aquele malfadado dossiê. Acreditaram na impunidade e subestimaram a Polícia Federal brasileira; pensaram que tinham um controle sobre ela; pensaram que o Ministro da Justiça, na madrugada, conseguiria sustar as medidas que ali foram tomadas. Num gesto de desespero, quiseram condenar um delegado que cumpria seu dever e que fora afastado do cargo para não continuar trabalhando na elucidação dos fatos, e aí eles têm o cinismo de vir à tribuna acusar o ex-Procurador da República de “engavetador de processos”.

Sr. Presidente, este Governo não pode falar em escândalos do Governo passado se não puniu ninguém; este Governo não pode falar de passado, se não honrou o mandato que recebeu como presente do povo brasileiro. Creio que o Senhor Lula esteja mais para dar depoimento em Museu da Imagem e do Som, para fazer sua biografia de ex-Presidente da República, do que para ir a debates e para discutir perspectivas e futuro do Brasil. Essa história de querer falar de passado é exatamente para esconder o presente, sabendo, de antemão, que não há perspectiva alguma de futuro, porque não há plano de governo para este País! O que há é factóide; o que há são promessas não realizadas, como o metrô de Fortaleza e o de Salvador.

Quanto ao metrô de Salvador, Sua Excelência, além de suspender as obras, resolveu encurtá-lo. Lá, jocosamente, ele é chamado, hoje, de “metrô de calças curtas”. Vai à Bahia, mas não diz ao baianos por que suspendeu a construção da BR-101. Essa estrada é feita no sentido de Santa Catarina para o sul do País e retomada em Sergipe, e a Bahia passou ao largo. A transposição do São Francisco, a revitalização, como ele queira chamar, é outra balela, porque Sua Excelência não teve sequer o cuidado de dar continuidade a um projeto de irrigação do semi-árido, chamado Projeto Pontal. Sua Excelência fala do Pará, mas não se lembra de que prometeu em praça pública a construção da Rodovia Cuiabá/Santarém. Quatro anos depois, aquela estrada está em pior estado do que quando assumiu. Sua Excelência não fala das eclusas de Tucuruí. Por mais esforço que a Bancada Federal fizesse, inclusive para colocar recursos orçamentários para a sua construção, esses recursos foram contigenciados, e Deus sabe que destino tomou: se para pagar antecipação de dívidas com os banqueiros internacionais, parceiros constantes do atual Governo ou se para o valerioduto ou para outros canais de corrupção com os quais este País passou a conviver na intimidade.

Sr. Presidente, a única coisa concreta que este Governo fez para o Brasil foi fazer com que o brasileiro passasse a minimizar escândalos. Tantos são os escândalos com que convivemos nesses quatro anos, que a mentalidade e o sentimento brasileiros passaram a banalizar, passaram a não dar importância devida a esse verdadeiro sangradouro de recursos públicos. Governo nenhum neste País resistiu a tanto. E, agora, numa prova de cinismo e de falta de compromisso com o passado, o atual Presidente se envolve com os culpados, e, denunciados por ele próprio num passado recente, abraçam-se, beijam-se, confraternizam-se em praça pública, achando que o brasileiro não tem memória.

Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que temos de ir para o debate, que Geraldo Alckmin vai para o debate, porque o debate é democrático. Mas o que o País quer é discutir o futuro. O País quer discutir perspectivas. O País quer saber por que não cresceu nos últimos quatro anos. O País quer saber por que perdemos a oportunidade de acompanhar o crescimento registrado pelos países vizinhos da América do Sul. O que o povo brasileiro quer saber é por que Sua Excelência teve uma posição de fraqueza e de dubiedade no episódio da Bolívia, permitindo que brasileiros fossem humilhados, porque estavam naquele país trabalhando na defesa do patrimônio nacional.

Sr. Presidente, o primeiro debate está bem próximo. Espero que, desta vez, o Presidente compareça, não frustre a Nação, não crie constrangimentos com os organizadores. E, se, por exemplo, a Heloísa Helena estiver lá como convidada da emissora, que ele não amarele! Que ele seja cortês se o Cristovam resolver ir! Melhor seria se esse comparecimento tivesse ocorrido no primeiro turno, quando poderia prestar esclarecimentos à Nação e a Nação poderia receber esclarecimentos da razão de uma convivência de vinte anos ter sido cortada, dos motivos e dos detalhes. Mas não! O Presidente, que abusou tanto em dizer que não sabia de nada, que nada viu, embora os fatos acontecessem nas cercanias de sua sala, de seu gabinete, envolvendo os amigos íntimos, tem de prestar contas à Nação!

Sr. Presidente, o dossiê dos sanguessugas não nasceu em São Paulo, como alguns querem dizer. Ele nasceu dentro do Palácio, com o churrasqueiro do Presidente, com o secretário particular do Presidente e com toda a sua equipe, passando pelo Presidente do Partido, passando pelas figuras mais importantes da hierarquia petista. Se nada disso fosse verdade, por que sacrificar o Sr. Berzoini? Só porque, no passado, ele sacrificou os velhinhos, impondo filas nos INSS pelo Brasil afora? Não, não, Sr. Presidente!

Nós vamos ter agora a oportunidade, neste segundo turno, por meio de um debate altaneiro, claro e democrático, de mostrar por que a esperança vendida foi transformada em decepção; e a decepção, em vergonha.

O Brasil espera que, no próximo domingo, Alckmin e Lula cumpram com seu dever.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2006 - Página 30490