Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre o debate de ontem na Rede Bandeirantes, entre os dois candidatos à Presidência da República, expressando sua decepção com as atitudes e respostas do presidente Lula e elogiando à postura do candidato Geraldo Alckmin.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre o debate de ontem na Rede Bandeirantes, entre os dois candidatos à Presidência da República, expressando sua decepção com as atitudes e respostas do presidente Lula e elogiando à postura do candidato Geraldo Alckmin.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2006 - Página 30541
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DEBATE, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, FRUSTRAÇÃO, RESPOSTA, OMISSÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, REFERENCIA, SITUAÇÃO, RODOVIA, PARALISAÇÃO, OBRA PUBLICA, RISCOS, POPULAÇÃO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).
  • CRITICA, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, DADOS, AEROPORTO, REFINARIA, PETROLEO, Biodiesel, OMISSÃO, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, ISENÇÃO FISCAL, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), EMPRESA MULTINACIONAL, TRIBUTOS, IMPORTAÇÃO, MAQUINA.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, DADOS.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COMENTARIO, PLANO, GOVERNO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, APOIO, ELEITOR.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo hoje esta tribuna para tecer algum comentário sobre o debate realizado ontem pela Rede Bandeirantes.

Senador Mão Santa, não sei se é trocadilho o que vou dizer, mas o certo é que o fantástico ontem estava na Band. Sr. Presidente, fiquei muito decepcionado com o Presidente Lula, porque ele não respondeu às perguntas, não participou do debate, ironizou o tempo todo e ficou com evasivas. Foi terrível; uma pena.

Quando perguntado sobre a situação das estradas brasileiras, sobre a falta de licitação para tapar buraco neste País depois de três anos de Governo, ele procurou responder a pergunta feita pelo candidato Geraldo Alckmin falando de aeroportos. Penso que a população que assistiu ficou estarrecida, principalmente os homens que trabalham com transporte, os caminhoneiros deste País, que vivem driblando as estradas federais, fugindo delas para andar nas estaduais porque elas não têm condições de tráfego. Quem sai daqui para o Pará hoje faz o seguinte percurso: entra aqui em Sobradinho e pega uma estrada estadual de Goiás; depois, começa a percorrer, da divisa para frente, estradas do Tocantins, estradas estaduais; em seguida, atravessa a Belém-Brasília, pega o outro lado dessa rodovia, e começa a trafegar em estradas estaduais do Pará, fugindo da Rio-Bahia. O mesmo acontece no Norte, no Nordeste, em toda a parte deste País.

O Presidente Lula não respondeu, não teve como responder as perguntas referentes às estradas brasileiras. No meu Estado, por exemplo, há uma duplicação, que é o contorno de Vitória, que está paralisada desde que Lula assumiu o poder. Não se faz nada. E o local é um açougue humano; morre muita gente todos os dias naquele pequeno espaço de estrada que não conseguimos duplicar. Não há um metro de duplicação, na BR-101 e na BR-262, sendo feito neste Governo do Lula, e é assim em todo o Brasil. Mas Sua Excelência procurou dar respostas falando de aeroportos, como se dinheiro de construção de aeroporto fosse do Orçamento da União.

Ele tenta enganar o povo brasileiro. Aeroporto, como todos sabem neste País, é construído com o dinheiro de uma taxa que o cidadão paga quando viaja de avião.

Quando protestamos aqui pela paralisação da obra do Aeroporto de Vitória foi porque o Ministro Antonio Palocci, na oportunidade, pegou o dinheiro da Infraero para fazer superávit primário. Então, a Bancada protestou, e a obra recomeçou, com o Governo repondo aquilo que tinha retirado, aquilo que era contribuição do cidadão brasileiro.

E eu questionei: “Como o Governo pode chegar lá e arrancar o dinheiro do povo que está no cofre da Infraero?” Na época, o Presidente Carlos Wilson me disse: “Pode sim, porque o Governo Federal é dono da Infraero, tem 88% das ações”. Então, como dono, pode chegar lá e pegar o dinheiro que houver no caixa. A resposta foi essa.

            Foi uma decepção o fato de o Presidente, ao responder pergunta sobre estradas brasileiras, que sacrificam aqueles que precisam transportar alimentos e passageiros, falar em aeroporto, que não é transporte de pobre, não é transporte de massa. Trata-se de um transporte, naturalmente, elitista. Então, não cabia, de maneira alguma, que o Presidente da República mostrasse esse despreparo e respondesse a perguntas sobre estradas rodoviárias falando em construção de aeroportos. Sem contar que ele citou o Aeroporto de Pernambuco, que começou lá atrás, há muito tempo. Quando ele assumiu o Governo, já estava na hora de inaugurar. Citou refinaria de petróleo, que ainda nem teve o terreno desapropriado, a ser construída em Pernambuco; citou outras também que ele ia construir e que não construiu.

Citou o biodiesel. Gostaria que alguém aqui dissesse se já rodou com carro a biodiesel, se alguém aqui está vivendo de plantar algum produto para atender ao biodiesel. É uma vergonha assistir a um programa daquele com o Presidente, depois de quatro anos, tão despreparado.

Outro fato que me causou espécie foi quando o jornalista Franklin Martins perguntou sobre quem está preso por causa das denúncias de corrupção e o Presidente também não respondeu. Ele não disse quem do PT está preso. Todos os dias, vemos uma relação imensa, ora de mensaleiros, ora de corrupção, ora de corruptores, e não houve resposta. O presidenciável Geraldo Alckmin perguntou pelos R$1,7 milhão da compra do dossiê e deveria ter perguntado também pelos R$ 50 milhões do Banco Rural que, segundo dito pelo Governo, era dinheiro para pagar mensaleiros. Ou nós já nos esquecemos que aqueles R$50 milhões da conta de Valério e, da conta de Valério, para a conta de alguém que precisava votar com o Governo, e que recebeu dinheiro para isso?

Eu queria saber se pagaram os R$50 milhões, se estão devendo ainda ao Banco Rural. E o que está sendo feito? Há alguém preso por causa disso? Há alguém dos Correios preso? Não! Preso está o Sr. Vedoin, do caso dos Sanguessugas. Quanto aos agentes da operação, os que receberam, ninguém está preso. Não diga isso, porque não existe.

O candidato Lula também disse, Presidente Mão Santa, que o Presidente Fernando Henrique vendeu todo patrimônio do País. Vendeu as telecomunicações? Vendeu. Foi bom para o Brasil? Claro que foi. Vendeu a Vale do Rio Doce? Vendeu. Foi bom para o Brasil? Foi. Vendeu barato? Sim.

Nós não deveríamos ter vendido as estradas de ferro, apenas as indústrias que a Vale do Rio Doce possuía na época, principalmente as extrativistas. Quanto às estradas, deveriam ter sido feitas concessões, como é o caso da Presidente Dutra, por exemplo, onde todos podem comprar seu caminhão e colocar para rodar, pois todos poderiam comprar seu comboio de locomotivas e também transportar seus produtos.

Houve essa falha? Houve. Mas por que o Presidente Lula não interveio quando assumiu? Por que não retomou a Vale do Rio Doce? Não. Fez o contrário. O Presidente Lula mandou para esta Casa a Medida Provisória nº 255 para isentar a Vale do Rio Doce e tantas outras multinacionais de pagar tributo na hora de importar maquinário, visando, cada vez mais, acabar com a nossa riqueza natural, não-renovável. E hoje a Vale do Rio Doce, que exportava, por força da Lei Kandir, sem nada recolher, importa também sem ter de recolher nada.

Ele disse que, na venda da Vale do Rio Doce, houve desvios. Mas o que o Governo fez para apurá-los? E o Presidente Lula sabe que o Governo não foi feito para construir carroceria de ônibus ou para produzir aço. Governo é para promover educação, saúde, segurança pública.

O Presidente Lula falou de engavetamento de processos, naturalmente citando alguns casos da época de Geraldo Brindeiro. Mas o povo brasileiro não é tolo, nem idiota e sabe que os processos, se foram arquivados, poderiam ter sido desarquivados no atual Governo. No entanto, os processos continuam. Qual é o processo que ele julga prejudicial ao País? Por que não o desengavetou quando assumiu a Presidência da República? Ou o engavetamento foi eterno? É uma conversa fiada, uma mentirada tentando ludibriar o povo brasileiro.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, gostaria de citar o que diz Miriam Leitão, no Jornal O Globo, que prova que o Presidente Lula está completamente por fora da realidade brasileira.

            Diz ela em um trecho de seu artigo:

Lula fez afirmações que não fazem sentido como: “Nunca este País cresceu tanto.” Não é verdade, o crescimento está um pouco acima da média do Governo anterior, mas está muito abaixo do que em outras épocas.

Outra afirmação foi a de que “O nosso governo produziu 3 mil megawatts.” Na verdade o Governo Lula não licitou hidrelétrica nova, as que estão sendo concluídas foram começadas no Governo Fernando Henrique Cardoso.

            Pasmem, Senadores, Pasme, Senador Magno Malta, esse Governo não licitou sequer uma hidrelétrica neste País e fala que combateu o apagão. Ele combateu o apagão, porque segurou para que o Brasil não crescesse. Se nós tivéssemos crescido a 5%, metade do que cresceu a China, por certo, hoje, estaríamos no apagão. Ou não é verdade, ou o povo brasileiro não sabe disso?

            Continua Miriam Leitão:

Nas entrevistas finais, após o encerramento do debate, de novo, Lula mostrou desconforto, e fez uma avaliação queixosa do conteúdo do debate. E Alckmin aproveitou para passar um recado forte: ‘Não é normal o que está acontecendo no Brasil’.

Senador Mão Santa, hoje, eu queria também citar outro detalhe da entrevista de Lula. Ele se mostra tão distante da realidade brasileira, que disse que a educação começa pelo ensino fundamental. Ele não deve saber o que é ensino fundamental; ele não sabe que no ensino fundamental estudam crianças de sete a quatorze anos de idade; ele não sabe que o ensino, na verdade, começa na infância. É pelo ensino, ainda na infância, que começa o processo de educação neste País. É triste chegarmos a essa conclusão!

Para terminar, Senador Mão Santa, quero dirigir-me àquelas pessoas que anularam o voto, àqueles que preferiram não ir às urnas, até porque não sentiram nos dois candidatos a confiança necessária para que pudessem dar a um deles o seu voto. Tenho certeza de que, após o debate de ontem, após o debate que foi realizado antes do primeiro turno da eleição, na Globo, todo cidadão brasileiro sabe que há um homem preparado para ser Presidente deste País. Todos os brasileiros agora sabem que existe um homem com currículo disputando a Presidência da República; e com currículo de um homem sério, um currículo de quem conhece todas as necessidades deste País, de quem conhece as estradas. Convoco o testemunho dos caminhoneiros deste País para este fato: quem trafega pelas estradas de São Paulo perde a coragem de trafegar por uma estrada do Governo Federal.

Hoje, aqueles que anularam seu voto podem depositar sua confiança nesse candidato, porque Geraldo Alckmin tem currículo - e currículo bom.

Ele foi sucesso quando médico, foi sucesso quando estudante de medicina, foi sucesso quando Prefeito aos 22 anos de idade, foi sucesso quando Deputado Federal e foi sucesso quando Governador de São Paulo.

Ontem, o Brasil ouviu o que ele disse: “Fizemos 19 hospitais em São Paulo”. E perguntou ao Presidente Lula: “Quantos Vossa Excelência fez no Brasil, em quatro anos de Governo Federal”? Absolutamente nenhum!

O Governador Alckmin mostrou a este País como é que se administra; mostrou como é que se compra, por meio da Internet, com preço mais barato; mostrou quanto gastou e como enfrentou sozinho o crime organizado de São Paulo, com peito e coragem para enfrentar.

Não virou as costas para os problemas, não disse que não sabia. Não, enfrentou o problema e está vencendo, está servindo de exemplo para o Brasil.

Em questão de segurança, se Geraldo Alckmin assumir o poder a partir de janeiro, por certo haverá um Governo Federal que se reunirá com Governadores; que cuidará da Polícia de fronteira, para que as drogas não continuem a entrar no País como entram hoje; que cuidará da Polícia de fronteira para que armamentos contrabandeados não entrem como estão entrando hoje. Geraldo Alckmin discutirá educação e saúde com governadores e prefeitos.

Não tenho a menor dúvida de que a sua gestão será um choque ético, um choque administrativo.

Quem anulou o voto, quem votou em branco ou quem não quis comparecer às urnas tem a obrigação, hoje, de confiar nesse brasileiro, porque Deus tem sido grande, Deus tem sido bom com este Brasil, que, apesar de tudo, ainda é um País rico e de uma gente feliz.

            Infelizmente, depois de JK, este País tem lutado com muita dificuldade, porque sempre nos faltou determinação, sempre nos faltou coragem.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador João Batista Motta, peço permissão para lembrar que V. Exª atinge 20 minutos na tribuna, mas, quanto ao pronunciamento, nota 10.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Agradeço-lhe, Senador Mão Santa, assim como peço-lhe desculpas se ultrapassei o meu tempo.

O principal recado que eu queria mandar é para aqueles que deixaram de votar no primeiro turno. Peço que votem no segundo turno e que não deixem de confiar neste País e em alguns homens que estão na política, porque a maioria é honrada e quer o melhor para o Brasil. A minoria não deve prevalecer. É preciso que prevaleçam homens como V. Exª, Senador Mão Santa. Desejo o melhor para o seu Estado e desejo o melhor para o nosso País.

Que Deus nos ajude, que Deus ilumine aqueles que deixaram de votar para que façam agora a diferença. E que coloquemos este País em boas mãos, nas mãos de quem tem condições de administrá-lo para melhorar a vida dos pobres e miseráveis não com esmola, mas com geração de emprego; não com esmola, mas com desenvolvimento econômico.

Muito obrigado, Senador Mão Santa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2006 - Página 30541