Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamento pela tragédia aérea que ceifou a vida de 154 brasileiros, entre os quais 14 capixabas, e solidariedade às famílias enlutadas. Manifestação em defesa própria, em razão da denúncia do envolvimento de S.Exa. no caso dos Sanguessugas.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Lamento pela tragédia aérea que ceifou a vida de 154 brasileiros, entre os quais 14 capixabas, e solidariedade às famílias enlutadas. Manifestação em defesa própria, em razão da denúncia do envolvimento de S.Exa. no caso dos Sanguessugas.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, João Batista Motta.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2006 - Página 30543
Assunto
Outros > HOMENAGEM. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • GRAVIDADE, ACIDENTE AERONAUTICO, HOMENAGEM POSTUMA, VITIMA, ESPECIFICAÇÃO, PASSAGEIRO, MUNICIPIO, CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), SOLIDARIEDADE, FAMILIA.
  • AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, CIDADÃO, ENCAMINHAMENTO, MENSAGEM (MSG), ORADOR, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, EMENDA, ORÇAMENTO, EXPECTATIVA, ESCLARECIMENTOS.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pessoas presentes neste plenário, telespectadores da TV Senado, estamos todos enlutados.

No terrível acidente com o vôo 1907 da Gol em que a vida de 154 brasileiros foi ceifada - 148 passageiros exatamente e de seis tripulantes, -, havia 14 capixabas.

O Brasil está enlutado. Durante os quatro ou cinco primeiros dias após a tragédia, as televisões mostravam, em tempo real, o desespero, a angústia das famílias, mas também a movimentação da companhia aérea, da Infraero e da Aeronáutica no sentido de apurar fatos e dar respostas ao Brasil e aos familiares.

Os familiares das vítimas, Sr. Presidente, vieram a Brasília. Aqui, estão alojados, mas um número significativo dos mortos ainda não foi identificado.

Sr. Presidente, dos 14 passageiros capixabas, dez são de Cachoeiro de Itapemirim, cidade onde comecei minha vida pública como Vereador.

São os seguintes os dez passageiros:

- Luiz Rogério Benedito Lobato, empresário do Grupo Itacar, que tanto bem faz ao Espírito Santo no que diz respeito à geração de empregos; um grupo tão sólido na região Sul do Estado e que era dirigido por ele e pelo nosso querido Clemente Sartório. A família está enlutada, juntamente com os funcionários e a cidade de Cachoeiro de Itapemirim, pela perda do Luiz Rogério;

- Dr. Luiz Albano Custódio, dentista, respeitado, de família tradicional na cidade;

- Hélio Godoy, proprietário de uma rede de lojas de caça e pesca no Sul do Estado, geradora de empregos;

- João Leal, proprietário da agência Pantanal Turismo, promotor da excursão em cujo retorno foram ceifadas as vidas dos capixabas;

- Marlon Machado, pessoa querida, respeitada e de família tradicional, era Secretário de Serviços Urbanos de Cachoeiro de Itapemirim na gestão do Prefeito Roberto Valadão;

- Ronaldo Noé, proprietário de uma ótica em Cachoeiro de Itapemirim, também de família tradicional, gente querida que está de luto;

- Ricardo Leandro de Souza, jornalista, proprietário de uma revista. Estive com ele, nos últimos seis meses, durante o aniversário da cidade de Presidente Kennedy, oportunidade em que participei das festividades com a minha banda. No evento musical, fui fotografado por ele. Na quinta-feira seguinte, houve o show de Zezé de Camargo e Luciano, em cujo camarim eu estive, e lá ele os estava fotografando. Nesta semana, recebi do Prefeito Aloísio as fotos feitas pelo Ricardo Leandro de Souza, menino de bom caráter, amigo;

- Mozart Sant´Anna Júnior, médico do Hospital Evangélico, pertencia a uma família que enobrece os cachoeirenses. Deixou enlutados os seus pacientes, que aprenderam a confiar nele;

- Dr. Huederfidel Viana, médico anestesista, que foi quem me anestesiou quando me submeti à última cirurgia. Ele nunca se furtou a estender a mão quando necessitamos dos seus serviços para atender a instituição que temos, no Sul do estado, de recuperação de dependentes químicos e de bebida alcoólica. Fazemos esse trabalho há 25 anos, e, nos últimos tempos, sempre fomos atendidos por esse médico, juntamente com o Dr. Rogério Glória e o Dr. Marcos Silveira. Ele era um anestesista que sempre estava à nossa disposição, porque entendia o nosso trabalho;

- Júlio Guidi, empresário do setor de mármore e granito de Cachoeiro de Itapemirim, bem sucedido, representante dos mais significativos do setor;

- Marcelo Ferreira Machado;

- Erthelviane Bortolozo, auditora ambiental e não acompanhava esse grupo na excursão; e

- Etelvino Lins.

O que me traz a esta tribuna, nesta tarde, é tão-somente o anseio de, publicamente, solidarizar-me com esses capixabas na vontade permissiva de Deus, que tudo vê.

O fenômeno e o mistério da morte todos enfrentaremos um dia. Seja hoje ou amanhã, todos passaremos por isso. A Bíblia diz que a vida é como um vapor que aparece e, de repente, vai embora. A vida é fugaz, rápida e ligeira, por isso precisamos vivê-la da melhor maneira possível, sem carregar ódio no coração, colocando-nos à disposição dos outros. A Bíblia diz que maior bem-aventurança é dar do que receber. Minha mãe, Dona Dadá, dizia que a vida só tem sentido quando a colocamos à disposição dos outros, porque ela passa rápido demais, Senador Mão Santa.

Viajamos de avião toda semana. Esse amigo que citei, que tinha uma revista e que fotografou o meu evento, viajava de avião pela primeira vez, como me disse sua esposa - ele morria de medo de avião. A morte, contudo, não escolhe cara, cor, tamanho, doutor ou analfabeto. O dia chegado será sempre o dia chegado, independentemente de se estar dormindo ou sentado, num avião ou num carro.

Neste momento em que cito o nome desses capixabas, solidarizo-me com todas as famílias do Brasil que perderam um ente querido e sofrem com isso. Algumas tiveram um pouco de consolo por ter o corpo do seu parente identificado, mas há as que ainda vivem o drama da não-identificação ou, o que é pior, da não-localização do corpo. Solidarizo-me com os filhos que perderam pais, com os pais que perderam filhos, com as esposas que perderam esposos, com os esposos que perderam esposas e com todos aqueles que sofrem, choram e lamentam.

Para nós, a porcentagem foi um pouco alta, porque, dos 154 mortos, 14 eram do Estado do Espírito Santo. Que essas famílias enlutadas recebam o meu afeto e a minha solidariedade. Nada mais significativo para alimentar a alma de alguém que a solidariedade num momento difícil e duro.

Aproveito a oportunidade para agradecer a solidariedade que tenho recebido de pessoas dos mais diversos credos e de cidadãos que credo algum professam, mas que me telefonam e enviam e-mails e fax, neste momento em que vivo debaixo de uma tempestade, por conta de uma ilação mentirosa, mentirosa, mentirosa.

É maravilhoso, é magnífico receber solidariedade. Numa hora como essa, necessário se faz que estejamos no exercício da misericórdia. Nada melhor do que ter coração misericordioso. A Bíblia, que é a palavra de Deus, diz: “Chorai com os que choram e alegrai-vos com os que se alegram”. Este é o momento de chorarmos. A Bíblia diz que há tempo para tudo debaixo do céu, e esse é o tempo de chorarmos, lamentarmos e sofrermos.

Com essas palavras, abraço as famílias enlutadas e com elas me solidarizo neste momento. A coisa mais difícil na vida é perdermos sangue do nosso sangue, carne da nossa carne. Quando alguém, pelo mistério da morte, é arrancado de perto de nós, e, muito pior, de uma maneira tão trágica - e há famílias que vivem a agonia de não ter o corpo do seu ente querido para enterrar -, nada melhor do que receber solidariedade.

Concedo um aparte ao Senador João Batista Motta.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador Magno Malta, começo meu aparte pelo final do seu discurso, quanto às injustiças de que V. Exª é alvo e o sofrimento pelo qual está passando. É um caso inusitado; é um caso que tem estarrecido todas as pessoas com quem tenho conversado. É um caso de assassinato sem defunto. V. Exª foi acusado de usar um carro, que pegou emprestado de alguém, talvez porque não pudesse comprar um. Se fosse rico, um magnata qualquer, V. Exª teria comprado pelo menos quatro carros e os teria colocado na garagem. No entanto, V. Exª apenas pegou um emprestado. E os bandidos dizem que foi para pagamento de uma emenda. Aí vem a pergunta: essa emenda gerou a compra de alguma ambulância? Não! Mas espera aí!

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Nem existe emenda.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Eu vou chegar lá! E essa emenda foi colocada no Orçamento? Não! Que compromisso V. Exª teria com algum cidadão para colocar emendas? E por que não as colocou? Como é que V. Exª pegaria um carro de alguém para fazer uma emenda se essa emenda não tivesse sido feita? Não sei como uma matéria como essa pôde ser tão divulgada! Querem fazer de V. Exª mais um cristo, como tantos que têm passado por este País! JK foi um cristo neste País. Ele fez tudo o que este Brasil tem; depois teve sua perna quebrada pela botina de um capitão, e morreu nas circunstâncias que todos sabemos. Embora tenha recebido muitas homenagens, de que servem as homenagens depois de morto? Deveríamos tê-lo homenageado em vida. Conheço muitas famílias que batizaram seus filhos com o nome Juscelino. Ainda ontem conversava com uma pessoa do Maranhão cujo nome era Juscelina. Ela me disse que seu pai lhe dera esse nome porque adorava JK. Quando morei em Vitória, tive um vizinho, o Sr. Álvaro Passos Carlos, cujo filho, atualmente um médico que trabalha na Prefeitura da Serra, chama-se Juscelino. Essa é a verdadeira homenagem. Portanto, Senador Magno Malta, fique V. Exª despreocupado. Deus é grande! Deus vai lhe fazer justiça! V. Exª receberá toda essa difamação com juros e correção monetária. A mão de Deus custa, mas aparece na hora certa. Com relação ao acidente que V. Exª lamenta, também já o lamentei por demais. Perdi um amigo fraterno, chamado Luiz Albano Vieira Custódio, dentista. Durante mais de vinte anos fui sócio do seu irmão, atualmente falecido, engenheiro que trabalhou na Caixa Econômica Federal do Espírito Santo. Eles eram filhos de um viajante comercial que, em um carrinho velho, vendia produtos para sustentar, criar e educar seus filhos, que tanto serviram ao nosso Estado, como José Albano, na Caixa econômica Federal. Ele montou a Ornato, loja que hoje se chama Eliana, lá no Município da Serra. José Albano, irmão de Tito Albano, que, por muitos anos, foi diretor da Cohab e tanto lutou no Governo, se não me engano, de Gerson Camata. Por fim, Luis Albano teve esse fim trágico. Quero também me solidarizar com V. Exª, meu irmão Magno Malta, e com as famílias enlutadas. Que Deus dê o conforto a todas elas! E desejo lamentar que, relativamente a um acidente dessas proporções, não tenhamos, até hoje, uma explicação pelo menos aceitável. De um lado, o Ministro Waldir Pires diz que a documentação estava toda certa, que o plano de vôo estava completo; por outro lado, deparamo-nos com as declarações, nos jornais, dos pilotos, que disseram que receberam permissão para voar àquela altitude. E aí não se sabe de quem é a culpa. O certo é que o acidente aconteceu e as famílias estão enlutadas: filhos sem pais, pais sem filhos. E a vida, como disse V. Exª, continua, e vai ser sempre assim. Muito obrigado pelo aparte, Senador Magno Malta.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Obrigado, Senador Motta, pelo carinho, pelas palavras tão boas para o meu coração, para minha alma.

A despeito de tudo isso que estejamos vivendo, sempre há alguém sofrendo um pouco mais do que nós, como essas famílias.

Encerro, Senador Mão Santa, citando para essas famílias um trecho da Bíblia de que V. Exª gosta tanto “Entrega teu caminho ao Senhor. Confia nele e o mais Ele fará”. Deus é justo juiz, Senador João Batista Motta! Deus é justo juiz e Ele é justificador, Senador Mão Santa! Esta é a minha segurança. É minha segurança, Senador Antero Paes de Barros, porque a justiça e a verdade estão comigo.

Senador João Batista Motta, nunca pus uma emenda. Nunca liberei ambulância. Senador João Batista Motta, ouvi falar de Planam por intermédio dos jornais. Nunca estive com qualquer Vedoin nem os conheço. Usei um carro emprestado do Deputado Lino Rossi; carro que devolvi há mais de um ano. E não sei, de fato, onde cometi esse crime, que não existe.

Mas, se Deus, na Sua vontade permissiva, permitiu que tudo isso acontecesse, julgo que Deus deva ter um grande propósito em tudo isso, porque Ele é justo juiz e é justificador. Então, quem me justifica é Deus, a despeito de já ter ouvido e lido tanta ilação, tanta maldade com relação à minha pessoa, que tenho uma história de luta, de enfrentamento a bandidos neste País! Mas Deus deve ter um propósito. E, a atentar contra a minha própria integridade física, prefiro confiar em Deus.

A Bíblia diz que uns confiam em carros, outros confiam em cavalos. E o salmista diz: “Mas eu prefiro confiar no Senhor, nosso Deus”. E eu também. Eu também prefiro confiar e esperar na justiça de Deus. Se Deus é justo e misericordioso para quem o busca, avalie quando você O busca tendo a verdade consigo ainda, a verdade e a justiça.

Agradeço, Senador Mão Santa, a benevolência de V. Exª e encerro o meu pronunciamento dizendo a essas famílias que recebam, de todo o coração, a minha solidariedade neste momento duro e difícil de suas vidas.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Magno Malta, abraço a sua causa e também o seu voto de solidariedade a todos os familiares, tanto as dos funcionários da Gol quanto as dos passageiros que, totalizando 154 brasileiros que, infelizmente, morreram naquele acidente, deixando mais de cem órfãos, causando extraordinário trauma para todas aquelas famílias. V. Exª expressou muito bem a dor sentida por todas essas famílias e também a dos que trabalham na aviação civil e que desejam, sobretudo, que haja o aperfeiçoamento do sistema de segurança, para que aqueles que, como nós, ao viajarem, embora saibam que ao entrarem nos aviões estarão seguros, mesmo assim, temos a ciência de que existe uma probabilidade, mesmo que pequena, de acontecer uma tragédia como essa, em que pese todos os cuidados daqueles que trabalham no controle aéreo e a destreza dos pilotos daquela aeronave. Meus cumprimentos a V. Exª por essa iniciativa.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Agradeço o aparte, Senador Suplicy. A lição que fica de tudo isso é que nós temos de estar preparados para nos encontrarmos com Deus, porque a morte é um mistério que repentinamente aparece. Precisamos ser solidários com os familiares das vítimas de um acidente trágico como esse e também com aquele que perde alguém dormindo, ou que sentado tem um infarto, pois pela morte todos passaremos. É preciso se preparar para a eternidade, para o encontro com Deus.

Encerro, Sr. Presidente, reiterando a minha solidariedade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2006 - Página 30543