Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o cenário econômico mundial. Necessidade do aproveitamento dos recursos hídricos do Rio Madeira. Apelo para a construção do gasoduto Urucum/Porto Velho.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA ENERGETICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Preocupação com o cenário econômico mundial. Necessidade do aproveitamento dos recursos hídricos do Rio Madeira. Apelo para a construção do gasoduto Urucum/Porto Velho.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2006 - Página 30574
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA ENERGETICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ECONOMIA INTERNACIONAL, COMENTARIO, CRESCIMENTO, CONSUMO, RECURSOS NATURAIS, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, PREVISÃO, CONTINUAÇÃO, AUMENTO, PREÇO, PETROLEO, IMPEDIMENTO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MUNDO.
  • NECESSIDADE, BRASIL, INVESTIMENTO, USINA HIDROELETRICA, Biodiesel, GAS NATURAL, CRITICA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), TENTATIVA, PRESERVAÇÃO, JAZIDAS, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • COMENTARIO, INFERIORIDADE, POLUIÇÃO, GAS NATURAL, COMPARAÇÃO, PETROLEO, NECESSIDADE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CONSTRUÇÃO, GASODUTO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ESTADO DO ACRE (AC), USINA HIDROELETRICA, ESTADO DE RONDONIA (RO), BENEFICIO, CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, VELHICE, POPULAÇÃO, PAIS INDUSTRIALIZADO, NECESSIDADE, ADAPTAÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, TRANSFERENCIA, RECURSOS, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, APROVEITAMENTO, MÃO DE OBRA, JUVENTUDE.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, FINANCIAMENTO, PAIS INDUSTRIALIZADO, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, INVESTIMENTO.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu deveria ter direito ao mesmo tempo que tiveram os oradores que me antecederam, mas vou tentar fazer meu pronunciamento pela metade do tempo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para registrar minha preocupação com o cenário econômico mundial e com as perspectivas e desafios que se apresentam. Que este pronunciamento, Sr. Presidente, sirva de alerta para o futuro Presidente, seja ele o Presidente Lula, que lidera as pesquisas no momento, ou o presidenciável Alckmin.

No Brasil, além da alta dívida, os altos juros também são fonte de preocupação e não podem ser explicados apenas pela política do Banco Central. O spread bancário brasileiro, diferença entre as taxas pagas e as taxas cobradas pelos bancos, está fora de qualquer padrão devido à baixa concorrência, tributos, obrigatoriedade de certos tipos de empréstimo e insegurança das operações.

Apesar do cenário positivo para a América Latina, o destaque entre os países emergentes continua sendo a China, a Índia e a Rússia, com um crescimento significativo na economia.

Entretanto, de acordo com o relatório do World Economic, embora a economia mundial esteja indo bem, existem duas importantes transições que estão acontecendo e que podem comprometer o crescimento futuro: o desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento e o envelhecimento da população nos países desenvolvidos.

A primeira está levando a um aumento desproporcional do consumo de recursos naturais. A imagem de milhões de chineses consumindo em níveis próximos àqueles hoje desfrutados pelos países desenvolvidos apavora os economistas do Fundo Monetário Internacional. Para exemplificar seu ponto de vista, o relatório examina mais de perto o caso do petróleo, cuja demanda total de 82,4 milhões de barris diários em 2004 deverá subir para 92 milhões em 2010, para 113,5 milhões em 2020 e para 138,5 milhões em 2030.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a grande novidade é que o aumento da procura resultará principalmente da evolução econômica prevista para os países em desenvolvimento. No ano passado, os países ricos, somados a Taiwan, Hong Kong, Coréia e Cingapura, foram responsáveis pela demanda de 49,5 milhões de barris diários, 60% do volume global. O quadro deverá estar praticamente equilibrado em 2020 e invertido em 2030. Nesse ano, os países que hoje representam 60% da demanda terão sua participação reduzida a 45% e precisarão de 63,7 milhões de barris diários, enquanto a procura dos demais países chegará a 74,7 milhões. Dessa parcela, 18,7 milhões corresponderão ao consumo da China. Nesse período, o número de veículos deverá aumentar de 751 milhões para 1,66 bilhão. O aumento dos países ricos, incluídos Hong Kong, Coréia, Taiwan e Cingapura, será de 625 milhões para 920 milhões, com variação de 47%. Nas economias em desenvolvimento, o número atual será multiplicado por 5,8 e alcançará 741 milhões. Na China, segundo estimativa, a multiplicação será por 18 e o número passará de 21 milhões pra 387 milhões. Com isso, os preços do petróleo devem continuar elevados.

A demanda, tanto nos países ricos como nos em desenvolvimento, é estreitamente vinculada à atividade econômica e à propriedade de veículos e pouco elástica em relação a preços, pelo menos enquanto as cotações permanecerem abaixo dos picos históricos. Um aumento de 10% no preço do barril é seguido por uma redução de cerca de 1% na demanda. Só variações muito grandes produzem efeitos substanciais no consumo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o alto preço do petróleo, embora atenuado por um aumento na produção, deverá atrapalhar o futuro desenvolvimento econômico do mundo, pelo menos enquanto for mantida a tecnologia atual, intensiva na utilização de petróleo como energia. A mudança desse quadro requer um grande investimento em tecnologia e, por enquanto, nada está sendo feito.

Para o nosso País, os investimentos em hidrelétricas tornam-se cada vez mais estratégicos, assim como o biodiesel - e por que não dizer o gás?

V. Exª, quando nos assiste aqui, já sabe que falaremos sobre o gás e sobre as hidrelétricas do rio Madeira. Abrirei um parêntese no meu pronunciamento para dizer que as fontes hídricas têm de ser aproveitadas. Isso é estratégico, até para se preservar o nosso petróleo.

Por que o Brasil foi para a Bolívia? Por que o Brasil pagou um preço alto pelo fato de a Petrobras ter investido na Bolívia? Para que fossem preservadas as nossas reservas. Não deu muito certo, mas valeu a tentativa. Agora, por que não explorar nossas jazidas naturais? As nossas. Não são da Bolívia, não são da Venezuela, não são dos Estados Unidos. São nossas, são brasileiras. Refiro-me à bacia de gás natural de Urucu, que servirá por mais de 50 anos para abastecer as térmicas de Manaus, do Amazonas, e a térmica de Porto Velho, que queima, como sempre falo desta tribuna, 1,5 milhão de litros de óleo diesel por dia. É poluição jogada na atmosfera todos os dias. É o alto custo do petróleo, do diesel.

O gás é em torno de 50% a 60% mais barato, além de ser menos poluente. Ele está na reserva de Urucu sendo queimado na atmosfera ou reinjetado no solo todos os dias, porque um poço de petróleo não pode parar. Lá, estão sendo extraídos gasolina e óleo diesel. E o gás? Para onde está indo? Está sendo queimado na atmosfera ou reinjetado no solo, o que significa prejuízo diário para o Brasil.

Por isso, tenho brigado desta tribuna para que a Petrobras saia de cima do muro e invista imediatamente na construção do gasoduto Urucu-Porto Velho, para acabar com essa novela. E, enquanto não acabar, não vou parar de assomar a esta tribuna para falar, se possível todas as semanas, sobre o assunto, porque acho isso um absurdo. Da mesma forma, as usinas do Madeira. Um potencial hídrico daqueles não pode ser desperdiçado.

O Brasil vai precisar, em 2010, no máximo em 2011, da energia das usinas do Madeira, da energia das usinas de Belo Monte, seja quem for o Presidente. É imperativa a construção das usinas do Madeira. São duas hidrelétricas, que vão somar em torno de 7 mil megawatts de energia, que vão abastecer não o Norte ou Rondônia, que é o meu Estado, mas todo o Brasil.

Rondônia, é claro, vai ser beneficiada com os empregos, com a geração de 30 a 50 mil empregos diretos e indiretos, com os royalties da geração de energia, com o ICMS da geração de energia elétrica. Não só Rondônia, mas o vizinho Estado do Acre também será beneficiado com a construção das usinas do Madeira.

É por isso que brigo e vou continuar brigando. Espero que, antes do final do meu mandato - ainda tenho mais quatro anos a partir do final deste ano -, eu possa ver construídos e inaugurados tanto o gasoduto quanto as usinas hidrelétricas do rio Madeira.

Quanto ao envelhecimento da população nos países desenvolvidos, esses países deveriam estar não só tomando medidas para adaptar seu mercado de trabalho a essa mudança como também mandando capital para países com mão-de-obra jovem abundante. É a produção desses jovens que vai produzir rendimentos que garantirão um final de vida tranqüilo aos aposentados dos países ricos.

Entretanto, o que vemos hoje é o capital fluindo na direção errada. Em vez de os países ricos estarem financiando os pobres, são os pobres que estão financiando os ricos. Estão totalmente na contramão da história. Por exemplo, a China está com um grande superávit em conta corrente e está financiando o déficit americano, pois é mais seguro investir nos Estados Unidos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, portanto, não é só o déficit americano em si que preocupa, mas o fato de o fluxo financeiro não estar acompanhando a tendência demográfica mundial. Embora o mercado vá, mais cedo ou mais tarde, resolver o problema, é preciso que os governos ajudem, retirando restrições que causam distorções e colocando mais informação disponível, a fim de aumentar o grau de confiança dos investidores.

Não podemos esquecer que, nos próximos 20 anos, o envelhecimento da população brasileira também será significativo e provocará mudanças no cenário econômico nacional, inclusive na Previdência Social, porque o rombo atual já é bastante grande e a sua tendência é aumentar a cada ano.

Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são imperativas as mudanças no cenário tanto mundial quanto nacional.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2006 - Página 30574