Discurso durante a 166ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o debate do último domingo, entre os dois candidatos à Presidência da República, e a postura de cada um dos participantes.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. ELEIÇÕES.:
  • Comentários sobre o debate do último domingo, entre os dois candidatos à Presidência da República, e a postura de cada um dos participantes.
Aparteantes
Leonel Pavan, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2006 - Página 30641
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, INEFICACIA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL, PERDA, BRASIL, PERMANENCIA DEFINITIVA, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), LIDERANÇA, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), PROCESSO JUDICIAL, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC), AUSENCIA, REFORÇO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
  • QUESTIONAMENTO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DESVALORIZAÇÃO, ATIVIDADE, DELEGADO DE POLICIA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, ANTERIORIDADE, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • REPUDIO, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, POSSIBILIDADE, PRIVATIZAÇÃO, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), BANCO DO BRASIL, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), FECHAMENTO, ZONA FRANCA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SUSPENSÃO, ABASTECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, ZONA RURAL, ELIMINAÇÃO, BOLSA FAMILIA.
  • COMENTARIO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APERFEIÇOAMENTO, AMPLIAÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, BOLSA FAMILIA, REGISTRO, PREVISÃO, VITORIA, ELEIÇÕES, EX GOVERNADOR.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), BANCO DO BRASIL, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), DESVIO, FUNDOS PUBLICOS, AUMENTO, CORRUPÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é fundamental na democracia a figura do contraditório. Eu já reputo à política externa, Senador César Borges, precisamente, a maior fraude, o maior fracasso do Governo Lula.

Vamos a fatos práticos. O Brasil tinha intenção de obter o posto definitivo no Conselho de Segurança da ONU. Não conseguiu. Perdeu, com João Saad, a chefia do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Perdeu na OMC, com o Embaixador Seixas Correia. Não obteve nenhum avanço em relação ao Mercosul. Ao contrário, o Mercosul hoje é uma entidade, é uma iniciativa de integração econômica em estado pré-falimentar.

Sr. Presidente, refiro-me ao fato de que, longe de ter sido injurioso, o candidato a Presidente Alckmin foi claro, contundente, preciso e respeitoso em relação ao telespectador. Percebi que o Presidente Lula, despreparado como é, não conseguia fazer ironia. Ele ia para o deboche. Há uma distância muito significativa entre a ironia e o deboche. Mas ele estava inseguro, boca seca.

Ao final, Senador Antonio Carlos, ele se despede dos telespectadores da Rádio Bandeirantes. E continuou tonto pelo restante do dia seguinte, quando ele se refere a “delegados de porta de cadeia”, em vez de “advogados de porta de cadeia”, que é uma expressão arrogante. E ele foi arrogante. Embora despreparado, foi arrogante. Embora temeroso, foi arrogante. Ele não foi corajoso no debate, mas foi arrogante. Chama-se de “advogado de porta de cadeia” aquele profissional mais humilde que não tem a sorte de ter uma banca fantástica de clientes como o Ministro Márcio Thomaz Bastos, por exemplo. Mas não vejo nenhum desdouro em um advogado para sustentar sua família buscar seus clientes. Enfim, conheço inúmeras pessoas humildes que tocam sua vida de maneira decente, desse jeito. Ele menosprezou os advogados mais humildes e menosprezou os delegados. Aí foi um ato falho. Porque quem chefia um Governo como este não pode gostar de polícia mesmo. Tem que ter na sua consciência... Funcionou um ato falho ali, e ele disse: “Agora vou atacar os advogados”. Não. Atacou os delegados.

Demonstrou inconsistência em relação a todos os temas. Demonstrou despreparo, demonstrou algo freudiano - não me refiro ao Freud do escândalo, eu me refiro ao Freud da psicanálise. Ele veio sempre com estatística. É de uma leviandade terrível comparar o Governo dele com o Governo do Presidente Fernando Henrique, porque são dois momentos econômicos internacionais diversos, são duas conjunturas econômicas internas diversas, e ele insiste em fazer a comparação, por exemplo, puxando para ele os ganhos das exportações que foram construídas ao longo das reformas estruturais que o partido dele combateu na Câmara e no Senado, a partir das medidas todas que foram tomadas ao longo de oito anos de mudança dos rumos da economia. E puxa para si o slogan como se tivesse feito uma mágica. Ao contrário, ele deixa para o seu sucessor, Geraldo Alckmin, uma herança de desajuste fiscal.

O Brasil tem problemas fiscais graves para resolver, Senador César Borges, já no ano de 2007. Não será ano expansionista.

O Presidente Lula, em algum momento, foi duramente crivado pelo candidato Geraldo Alckmin, que disse que ele havia mentido. E havia. Quando ele disse: “Eu disse, Geraldo, que alguém que pensa como vocês e que pensa como o PFL poderia pensar na privatização do Banco do Brasil e dos Correios, e poderia pensar na privatização da Caixa Econômica Federal e da Petrobras”. Aí, Alckmin disse: “Não, você mentiu Lula, porque você disse, na rádio tal, e estou dando para a imprensa a degravação das suas palavras, que eu ia privatizar”. Ou seja, espalharam aquele boato inverídico.

Minha família toda votou em Getúlio, mas inventaram, Sr. Presidente, que o Brigadeiro Eduardo Gomes havia se referido a não querer os votos dos marmiteiros, que eram os operários da construção civil que levavam marmita para comer na hora do almoço, no intervalo do trabalho. Acredito piamente que o Brigadeiro não disse isso. Minha família era getulista, mas acredito piamente que o Brigadeiro não disse isso. A mentira virou verdade; ou seja, a versão virou fato, o fato perdeu a força. Do mesmo modo, tentaram fazer a mesma coisa. Só que, desta vez, não foi o Deputado Emílio Carlos mas o autor da inverdade. Desta vez, o autor da inverdade foi o próprio Presidente, baixando das tamancas presidenciais para ir a uma rádio, ou a algumas rádios, espalhar algo que levou intranqüilidade para funcionários dessas instituições todas.

Eu digo, Sr. Presidente, algo muito sério. Se houve alguém, Senador Leonel Pavan, que privatizou, em algum momento, o Banco do Brasil, foi este Governo Lula, quando possibilitou escândalos como o do Visanet e possibilitou ter um diretor com caráter suficiente para participar da fraude do dossiê, esse que está envolvido no dossiê. Se houve alguém que, em algum momento, privatizou a Caixa Econômica Federal, foi este Governo, quando possibilitou que por quaisquer meios quebrassem os sigilos do pobre caseiro Francenildo. Se houve alguém que, em algum momento, privatizou a Petrobras, foi este Governo Lula, quando vivenciou aquele episódio que redundou no símbolo do Land Rover na conta, no patrimônio pessoal do Sr. Sílvio Pereira. Se houve alguém que, em algum momento, privatizou os Correios e Telégrafos... Meu Deus! A Rede Globo e demais televisões e jornais exibiram, à farta, aquela cena da propina, que depois redundou no desvendamento da corrupção dos Correios. Aquele foi o momento de apropriação privada de bens e dinheiro público neste Governo Lula. Ou seja, se houve alguém, e essa denúncia deve ser feita, que privatizou, em algum momento, a Petrobras, os Correios, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, esse alguém se chama Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por tudo que acontece em seu Governo.

Mas chamo a atenção, Senador Jonas Pinheiro, para o fato de que ele insiste na leviandade de comparar tempos diferentes. Fernando Henrique com onze crises internacionais ao longo do seu período; ele, nenhuma. No tempo dele, pega uma economia infra-estruturada. Mas ele insiste nessa leviandade. Demonstra conhecer dados do governo passado e, ao mesmo tempo, alega não conhecer nada do que se passou de escuso no governo dele. Ou seja, especializou-se em entender o governo dos outros e não se interessa por algo que é básico, que é fundamental, algo que é fulcral na ação de um bom administrador, que é conhecer o que se passa no interior do próprio órgão ou da empresa que dirige ou do Estado ou Município que comanda.

Antes de conceder o aparte ao Senador Tuma, eu quero me referir a uma outra mentira - não tenho outra expressão - que tem sido espalhada pelo Presidente Lula e seus afiliados. Afiliados ou afilhados, sei lá; o português é uma língua muito rica e permite que façamos esse jogo.

Ficou impossível fazer campanha em meu Estado, o Amazonas, porque se espalhou que, se o Presidente Lula perdesse a eleição, a Zona Franca de Manaus seria extinta, como se algum presidente pudesse ser irresponsável a ponto de eliminar aquele que é, sob alguns aspectos, o segundo, sob outros, o terceiro, na pior das hipóteses, o quarto mais importante pólo industrial do País. Geraldo Alckmin estará muito incisivo em relação à Zona Franca de Manaus. Mas isso grassou, e não foi só no meio mais humilde do eleitorado. Grassou entre os segmentos mais intelectualizados do meu Estado. Parecia que seria o caos a vitória de Alckmin, porque ela retiraria a fonte de renda e de vida que oxigena 93% da economia do meu Estado, que tem sido engodado pelo Presidente Lula. O tal gasoduto está parado. Fingem trabalhar. Não tem nada. O dinheiro que está lá fui eu que pus, paralisando - o Senado é testemunha disso, o Congresso é testemunha disso -, por três semanas, a votação do Orçamento Geral da União, até reporem aquilo que haviam tungado do gasoduto Coari-Manaus, num projeto de lei de crédito, no dia 21, 22 de dezembro. Eu só deixei passar o Orçamento depois que votaram os R$110 milhões. Foi preciso muita conversa com o Ministro Tarso Genro, muita conversa com o Presidente da Petrobras. Havia uma determinação do Governo de não ceder o dinheiro.

E o dinheiro que eu coloquei lá não adianta nada; é uma obra de R$1,5 milhão, e nada esse dinheiro representa, pois é muito pouco em relação ao montante necessário para se dizer que a obra está de fato em andamento.

Sr. Presidente, concedo um aparte ao Senador Tuma e ao Senador Leonel Pavan, e encerro o pronunciamento.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Arthur Virgílio, peço desculpas por interromper a análise que V. Exª faz com profundidade e com bastante calma. Mas, se V. Exª me permite, gostaria que fosse incorporado o meu aparte ao seu discurso, porque recebi mais de uma centena de telefonemas de delegados, meus colegas e companheiros, que se sentiram ofendidos com a expressão “delegado de porta de xadrez”. Nós sabemos da luta, da dificuldade de cada delegado, quando tem de tomar conta do xadrez para que não haja fuga ou qualquer levante dentro dos presídios.

(Interrupção do som.)

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Peço desculpas, Sr. Presidente. A grande luta dos delegados foi para que as delegacias não servissem de presídios. Portanto, essa expressão chocou muito. Presidentes de associações ficaram chocados com a expressão. Hoje até se usa - e considero ofensiva - “advogado de porta de xadrez”, mas delegado, foi a primeira vez na vida que ouvi. Trabalhei cinqüenta anos na polícia, até me aposentar, continuo me sentindo um delegado de polícia, e tenho muita honra disso. Peço licença a V. Exª para que meu protesto seja inserido em seu pronunciamento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Tuma.

Antes de conceder um aparte ao Senador Leonel Pavan, devo dizer que mais uma vez ele se revela despreparado porque ele humilha os advogados - ele chama de porta de cadeia, os advogados mais humildes -, e menospreza os delegados, sem dúvida alguma. Mas demonstra desconhecer o que é o trabalho de um delegado. Delegado não pode ficar batendo perna em porta de cadeia; delegado trabalha dentro da delegacia, sentado no seu gabinete, despachando, dando ordem aos seus comandados. Então, fora o ato falho de ele não querer conversa com o delegado, isso eu notei, ato falho, ele não demonstrou muito apreço pelos delegados em geral. Aí, em vez de atacar os advogados, ele atacou os delegados. Aí não é o Freud do Palácio, do escândalo do dossiê, aí é o Freud da psicanálise que explica por que, lá no seu íntimo, ele não gosta de conversa com delegado.

Concedo o aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Arthur Virgílio, eu queria apenas tentar contribuir e novamente relembrar o que V. Exª acabou de colocar aqui para a população brasileira. O Presidente da República, ao participar de um debate, tem de demonstrar, pelo menos à população brasileira, que ele está preparado para falar dos seus feitos, daquilo que ele realizou. O Lula tem experiência em debate. Ele, quando na Oposição, debatia todos os dias, e só acusava, só batia. Ele era tão duro nos debates, agredia tanto nos debates...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª me permite que eu faça um contra-aparte?

Ele não tem experiência de debate, não; ele foi um Deputado absenteísta na Constituinte. Ele não debateu com ninguém quase nunca. Nas vezes em que debateu, perdeu. Ele quase nunca debateu com ninguém. Ele era muito de falar em comício, de falar sozinho, mas jamais fez o que fazemos aqui no exercício cotidiano, que é terçar as armas das idéias. Isso não. Ele sempre foi fraco em debate. Ele, que se recusou o tempo inteiro a fazer o papel presidencial de conceder entrevistas coletivas à imprensa brasileira.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - É verdade. Porém, Senador Arthur, o Lula pautou a vida dele toda com agressões, tanto que, na última eleição, ele criou o “Lulinha paz e amor”, até para mostrar que não era mais aquela pessoa agressiva do passado. Hoje, quando alguém o contesta de forma mais clara, transparente e correta, ele já entende como agressão. Ele estava tão perdido no início do debate que não cumprimentou a população brasileira, não a respeitou. Todavia, minutos antes, Geraldo Alckmin tinha cumprimentado os telespectadores, pedindo licença às pessoas que estavam assistindo ao debate. Ele encerrou o debate e também não se despediu e não teve coragem de pedir o voto, coisa que Alckmin fez. Por que pedir o voto? Mostrou conteúdo todo o tempo em que debateu com o atual Presidente. Agora, veja que houve algumas contradições por parte de Lula. Ele diz que puniu os culpados. Como ele puniu? Eu queria saber qual desses envolvidos ele demitiu.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Só se foi com aquele elogio a José Dirceu.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Waldomiro Diniz pediu demissão, Palocci pediu demissão, José Dirceu pediu demissão. Aliás, ao falar em José Dirceu, ele disse que o povo brasileiro, o Brasil, iria pedir desculpas a José Dirceu. Ele chegou a chamar de companheiros todos os envolvidos, em sua residência, dizendo: “Erraram, mas não erraram tanto”. Então, ele não puniu. Eu queria relembrar à população brasileira, principalmente aos funcionários dos Correios, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal... V. Exª mencionou isso. É uma vergonha um Presidente da República inventar notícias, inventar fatos, tentar levar à população brasileira fatos inverídicos, querendo dizer à população brasileira e a essas instituições tão importantes para o Brasil que Geraldo Alckmin vai privatizar. É uma vergonha! O Lula não precisava ler o que supostamente fez em quatro anos. Mas quando ele foi debater, teve que ler e lia errado. E se teve que ler é porque não fez. O Geraldo Alckmin, em nenhuma vez, precisou se socorrer dos papéis sobre o que fez no Governo de São Paulo. Talvez, agora, com esse debate, a população brasileira tenha tirado a dúvida sobre o que é melhor para o País e ficou bem claro perante a opinião pública que quem está mais preparado para governar o Brasil é Geraldo Alckmin.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, respondendo ao Senador Leonel Pavan, eu encerro este pronunciamento. O Senador toca em um ponto fulcral. Geraldo Alckmin não se preparou para o debate - essa é a diferença. Geraldo Alckmin não se preparou para o debate. Ele se preparou para o exercício da Presidência da República. Essa é a diferença essencial. Ele debateria ontem como debateu nas vezes em que o Lula se evadiu do dever de debater - na fase do primeiro turno -, debaterá depois de amanhã e debateu naquele dia. Vamos, então, tirar as máscaras e desafivelar todas as hipocrisias.

O Governador eleito da Bahia, Jacques Wagner, admitiu a derrota de Lula. Está nos jornais de hoje. Ele disse que Lula foi surpreendido e que vai se preparar para o próximo debate. Isso não é pegadinha do programa do Silvio Santos, não, nem da Rede TV. Isso é saber se está ou não com programa de governo na cabeça. Se alguém tem que se preparar daqui para frente é porque não se preparou até aqui. Se não se preparou até aqui a pergunta é muito óbvia: como é que governou o País alguém que não se preparou sequer para se fazer representar de maneira condigna num debate?

Finalmente, Sr. Presidente, ainda no terreno das mentiras, cruéis mentiras: ele obteve, o Presidente Lula, quase o inteiro da votação de um Município muito pequeno, muito humilde, muito pobre, do Manaquiri, no meu Estado do Amazonas. Lá as pessoas dizem que se não votarem nele o outro vem e vai cortar a luz. Isto foi espalhado lá, que se não votarem nele vão cortar o Bolsa-Família. Pode passar pela cabeça de alguém que um Presidente se sustente no poder com base nesse tipo de inverdade? E como pode acabar com o Bolsa-Família alguém que, na verdade, vai ampliar e aperfeiçoar o Bolsa-Família? Alguém que é oriundo de um partido que quando estava no governo criou projetos sociais como: Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Vale-Gás, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. O Bolsa-Família não é nada mais nada menos que a unificação, até perdendo um certo foco, desses projetos todos.

Para encerrar, Sr. Presidente, quero dizer que aceito a vitória e a derrota como fatos normais da vida pública. Eleição não permite a figura do empate; então ganha ou perde o candidato fulano ou beltrano. Eu aceito as regras do jogo democrático postas aí.

            Agora, um candidato pessoalmente recorrer a essa baixeza de dizer que o seu adversário vai privatizar o Banco do Brasil e entidades desse porte, espalhar que a Zona Franca de Manaus será desativada se Alckmin vencer as eleições, dizer ao pobre e humilde povo do Município de Manaquiri que, se votar em Alckmin, vai ficar sem luz; que, se votar em Alckmin, vai ficar sem o Bolsa-Família, isso tudo é lamentável. É com esta mensagem que encerro, Senador Antonio Carlos: a Nação deve começar a se fazer uma pergunta, a Nação deve começar a se fazer uma indagação: por que alguém quer se manter tão apegado ao poder? O que tem nesse poder de tão delicioso, de tão fundamental, de tão necessário, de tão essencial a ponto de valer uma mentira - e vimos coisas piores em Santo André -, a ponto de valer a inverdade, a ponto de valer a coação sobre populações humildes com essa história de que vai acabar o fornecimento de luz ou o Bolsa-Família? O que há nesse poder?

Fui Ministro de Estado durante seis meses. Trabalhei numa das fases mais duras da minha vida. No dia em que estava me despedindo do Presidente Fernando Henrique para voltar à Liderança do Governo, no Congresso, o Presidente me disse: “Você está leve hoje, Arthur”. E eu respondi: estou mesmo, Presidente, porque eu me preparei para seis meses aqui, desincompatibilizando-me para desfrutar a eleição de Senador. Vou confessar ao senhor que já não agüentava mais ver tanto deputado, tanto governador, tanto ministro na minha frente. Hoje, Presidente Fernando Henrique, pela primeira vez, nesses seis meses, antes de vir para cá lhe comunicar o que o senhor já sabia, que eu iria largar o cargo, andei e vi um casal de namorados discutindo, percebi um gaviãozinho numa cerca por onde eu estava caminhando, eu percebi detalhes da vida cotidiana.

Eu considero quase que uma tara alguém gostar do poder tanto e desse jeito, quase que uma perversão. Eu não sou assim.

Pergunto, encerrando, Presidente: O que faz alguém pagar qualquer preço para permanecer no poder? O que há nesse poder para essas pessoas, de modo a valer a inverdade, valer a mentira, valer a coação, valer a prepotência, valer a intimidação, valer tudo? É hora, portanto, de essa pergunta ser respondida com muita consciência pela Nação brasileira. Que ela responda.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Para Geraldo Alckmin, a eleição é um fato normal: vai lhe dar a vitória ou vai lhe dar a derrota. E eu sinto que vai lhe dar a vitória, mas, se der a derrota, é fato democrático normal.

Para Lula, ele acena com uma guerra nas ruas e ele mente deslavadamente antes de se ferir o embate, que deveria ser um embate limpo.

Se alguém, portanto, tem faltado com a lisura, tem faltado com o respeito ao povo é aquele que mente. Se alguém foi grosseiro, foi ele; se alguém foi debochado, foi ele, que não cumprimentou sequer os telespectadores. Aí, quero atribuir não à falta de educação, mas quero atribuir ao medo. De repente, caiu em si e viu que estava enfrentando um adversário preparado e que ele próprio não se preparara para aquele embate.

Encerro com esta pergunta, Sr. Presidente: que delícias haverá nesse poder para essas pessoas? Quando eu larguei o Ministério do Presidente Fernando Henrique, foi um dia de alívio para mim. E digo: vou voltar para uma vida mais ou menos normal.

Que delícia existe nesse poder?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Que delícia existe nesse poder para motivar tanto um Presidente a querer tanto esse cargo a ponto de espalhar uma central de inverdades? E aqui me referi ao episódio do Brigadeiro Eduardo Gomes na eleição com Getúlio Vargas, aquela coisa dos marmiteiros.

Que delícia existe nesse poder? O que faz um grupo se apegar tanto ao poder? Os empregos? Os aparelhamentos? O que já é grave. Ou mais do que isso? Que apetites têm de ser sustentados em mais quatro anos disso? Dessa mesmice? Que apetites?

Que essa pergunta paire sobre as nossas consciências, porque teremos dias até a resposta, alguns segundos na urna e, depois, quatro anos para comemorar um Brasil decente ou para amargar resultados que poderão custar um bom atraso para o nosso processo histórico.

Por ora, era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2006 - Página 30641