Discurso durante a 166ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a e-mails recebidos por S.Exa., a declarações do Presidente Lula e a notícias publicadas na imprensa a respeito da internacionalização da Amazônia.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Comentários a e-mails recebidos por S.Exa., a declarações do Presidente Lula e a notícias publicadas na imprensa a respeito da internacionalização da Amazônia.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Demóstenes Torres, Heráclito Fortes, José Jorge, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2006 - Página 30696
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REPUDIO, COMENTARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, ELEIÇÕES, OFENSA, CLASSE PROFISSIONAL, ADVOGADO, DESRESPEITO, REGIÃO NORDESTE, ESCLARECIMENTOS, AMPLIAÇÃO, AMBITO NACIONAL, PROGRAMA, BOLSA FAMILIA, INICIATIVA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, VOTO, POPULAÇÃO CARENTE, REGIÃO NORDESTE, AMEAÇA, POSSIBILIDADE, SUSPENSÃO, PROGRAMA, ASSISTENCIA SOCIAL, GESTÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • QUESTIONAMENTO, ORIGEM, DINHEIRO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSSIBILIDADE, RETIRADA, EXCLUSIVIDADE, PRODUÇÃO, TELEVISÃO, TECNOLOGIA DIGITAL, ZONA FRANCA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, POSIÇÃO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEFESA, INTERESSE, REGIÃO AMAZONICA.
  • ELOGIO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabo de receber da Drª Sílvia Frazão e-mail em que ela agradece, falando em seu nome e nos dos advogados brasileiros, como membro do Tribunal de Ética e Disciplina e da Comissão Permanente de Estágio e Exame de Ordem da Seccional do Maranhão, a defesa que aqui fiz dos advogados humildes que o Presidente Lula agrediu ao se referir a “delegado de porta de cadeia” - na verdade ele queria dizer “advogado de porta de cadeia” -, humilhando os advogados humildes que não têm uma banca portentosa como a do Dr. Thomaz Bastos. E se referiu a delegado, Senador Heráclito Fortes, por um ato falho. E quem dirige um Governo como esse, no fundo, não pode gostar muito de delegado, não tem razões para gostar de delegado de maneira forte.

Recebi um outro e-mail do Nordeste, falando que o Nordeste é berço antigo da cultura jurídica e literária do Brasil, e hoje, no Governo Lula, tentam apresentar a face de uma Região que teria virado um curral eleitoral. Ele se refere aqui ao “bolsa miséria”. Eu, para mim, julgo necessário o Bolsa-Família, e essa idéia foi uma idéia do Presidente Fernando Henrique. Aliás, há uma dúvida sobre a paternidade: nasceu primeiro em Campinas, com o “Grama”, o ex-Prefeito tucano de Campinas, ou nasceu primeiro com Cristovam Buarque, em Brasília, quando Governador? Mas o fato é que Fernando Henrique deu amplitude nacional ao Bolsa-Escola, assim como criou o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), assim como criou o Vale Gás, o Vale Alimentação, políticas compensatórias que, na cabeça de Fernando Henrique, tinham de ter porta de entrada e porta de saída. Na cabeça de Lula, não. Ele já mostrou claramente que, por ele, se perpetuaria a miséria no País.

Chegou a dizer, numa dessas tolices proverbiais que profere a cada dez minutos, que os pobres dão pouco trabalho. Então, se pensa assim, deve imaginar que seria ótimo para ele manter um contingente brasileiro expressivo de pobres, para não darem trabalho ao seu suposto segundo governo, que ele julgava como certo e agora está indo cada vez mais para os desvãos da derrota.

Esse cidadão do Nordeste, Sr. Lucas, disse que quer ver, no seu Estado, o Nordeste das idéias, das faculdades de Direito. Eu aqui acrescento que é o Nordeste de Joaquim Nabuco; e de Gilberto Freyre - aqui já sai do ramo do Direito. O Nordeste da intelectualidade, da produção de idéias, idéias geniais. O Nordeste de Tobias Barreto, o grande filósofo, um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. O Nordeste de Gilberto Amado; de Castro Alves. O Presidente Lula pretende reduzir esse Nordeste brilhante ao Nordeste curral eleitoral, aquele que ele manipularia e de que obteria os votos de cordeiros.

Na minha terra, Senador Heráclito Fortes - já concederei o aparte a V. Exª -,foi difícil fazer uma campanha. Ele intimidou candidatos de todo tipo. A mim não intimidou. Eu vivo sob a ética do dever.

Muitas pessoas têm como certo que uma vitória do candidato Alckmin significaria o esvaziamento da Zona Franca de Manaus. E mais ainda: a Folha de S. Paulo publicou, magistralmente, que uma pessoa no pequeno Município de Manaquiri, perto de Manaus, que sofreu aquela estiagem recente, quando a paisagem amazônica virou nordestina, com solo rachado, enfim, uma pessoa humilde disse à Folha que ia votar em Lula porque senão Alckmin tiraria a energia elétrica de Manaquiri, suspenderia o Bolsa-Família. Ou seja, ele, que foi vítima em 1989 desse tipo de golpe; ele, que foi vítima desse tipo de truculência, procura reeleger-se por métodos escusos, por métodos absolutamente incondizentes com a figura da primeira magistratura da nação.

Mas o Sr. Lucas afirma: “Lula não está honrando o dizer de que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Arrogância e violência são sinais de fraqueza. Espero ver sinais de força vindos dos nossos candidatos do PSDB, para não entregarmos o Nordeste ao dinheiro venezuelano ou do turista alemão”. Quando fala em turista alemão, refere-se ao turismo sexual. Quando fala em dinheiro venezuelano, refere-se a essa relação promíscua, esquisita, entre o Presidente Lula e o Presidente Hugo Chávez.

Senador Heráclito Fortes, concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, cada vez que Lula fala sem usar o texto de sua assessoria, previamente pronto, diz aberrações como a que vimos ontem e, então, ofende duas categorias: a dos delegados de polícia e a dos advogado criminalista. O advogado criminalista, conhecido no jargão popular como advogado de porta de cadeia, não é exatamente aquele que está à porta de um presídio à espera de um preso ou para soltá-lo ou para prendê-lo. Não! Aliás, houve tempo em que Lula, como líder sindical, recorria constantemente ao criminalista, ao advogado de porta de cadeia, no jargão popular, para soltar os seus companheiros...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E daquele Lula, Senador, eu gostava. Eu não gosto é deste que está aí. Daquele eu gostava muito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Pois é. Agora, ele tem horror a esse tipo de advogado, porque é exatamente o advogado que prende, ou tenta prender, os ladrões que povoam o seu Governo. Ser ingrato com essa categoria e agredi-la é, acima de tudo, falta de inteligência. Um dos maiores criminalistas deste Brasil, que é exatamente o Dr. Márcio Thomaz Bastos, presta serviço ao Lula. Como está na função de Ministro e não pode exercer a função de advogado, coloca os seus ex-companheiros de escritório, os seus ex-estagiários. É só ver a relação de quem defende esse pessoal do Lula. É só examinar de onde saiu. E, aí, ele ofende aqueles que defendem os seus companheiros das barras da Justiça. Mas o PT, Senador Arthur Virgílio, tem uma característica: não sabe viver sem dossiês. Agora, criou mais um e está lançando-o pelo Brasil afora, que é este dossiê da baixaria. Foi lançado em plenário, na semana passada, pela Líder, que é pau para toda obra. Ela vem aqui, dá conta do recado e foge, porque sabe que não resiste ao debate. Está parecendo a propaganda daquela senhora que briga com o filho por causa de um presente, que é um acesso à Internet. A senhora diz: Geraldinho, não suje o seu “shortinho”! Vai embora em passo célere para não ver a verdade. Senador, foi lançado por ela aqui esse dossiê em que o Sr. Alckmin ia cortar pessoal, tomar essas providências todas. É um dossiê longo. Depois, a Câmara repicou. Tivemos lá dois ou três parlamentares. Aí, a Marta Suplicy, relançada, chamou agora o Sr. Geraldo Alckmin de boneco. Deve ser pela estética. Eu não sei em que se inspirou a Dona Marta para criticar o Sr. Geraldo Alckmin. E aí vem o Lula. É o mesmo dossiê. Vai ver que esse dossiê foi redigido e impresso com o dinheiro da cartilha da Assessoria de Imprensa que o Tribunal de Contas anda a procurar. O material do contrato, já se sabe que não existe. O Tribunal de Contas está tomando providências legais para punir os culpados. Vai ver que foram impressões paralelas. Essa cartilha está rodando no Brasil inteiro. Eu vim agora do Piauí, com os Senadores José Jorge e Marco Maciel, e a cartilha está lá, uma cartilha de desconstrução movida e inspirada pelo desespero, como se o povo brasileiro fosse idiota. Agora, o Lula não deve ser ingrato, deve levantar as mãos para os céus, para os advogados de porta de cadeia que têm sido tão generosos com os seus companheiros de partido. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª e tento até esclarecer, Senador José Jorge. O que se chama de advogado de porta de cadeia - o Senador Demóstenes pode, talvez, até me corrigir -, na verdade, parece-me que é muito mais o advogado que freqüentemente está nas delegacias, porque defendendo presos humildes, em causas de pouca monta financeira. Como eles exercem essa função - a maioria deles, com absoluta dignidade - e não têm nem bancas faustosas nem clientes do colarinho branco, pessoas da elite, pessoas preconceituosas, cunhou-se um ditado que, depois, acabou sendo incorporado pelo povo, essa história de advogados de primeira classe e de segunda classe. Os advogados de segunda classe seriam os tais que, por freqüentarem muito delegacias, passaram a ser chamados de advogados de porta de cadeia.

Isso revela que o Presidente Lula deixou de ser a figura de raízes populares que era, assimilou, inclusive, esses cacoetes da elite. Ele passou a achar um desdouro a atividade dos advogados que freqüentemente estão nas delegacias, os advogados humildes, que ele trata agora, desdenhosamente, como se ele fosse um paulista quatrocentão, como se ele fosse uma dessas figuras acostumadas a torcer o nariz para todo mundo. Ele passou a torcer o nariz também. Ele, Lula, pensa que não é para dar confiança ou respeito aos advogados humildes. Ele ofendeu, de fato, uma categoria inteira.

Quanto aos delegados, volto a dizer que isso é até explicável do ponto de vista psicanalítico. Quem chefia um Governo como esse tem mesmo é de ter raiva de delegado, não pode gostar de delegado. É evidente, é coisa freudiana - não no sentido daquele Freud do Palácio, aquele que foi apanhado no caso do dossiê, que está a exigir dos brasileiros uma resposta muito clara. Os brasileiros perguntam e querem a resposta: de onde veio esse dinheiro sujo? Que dinheiro é esse que foi usado para turvar resultados eleitorais? Quem são os culpados, todos e verdadeiros? São perguntas cujas respostas, mais hora menos hora, virão.

            Estranhamente, o Presidente Lula, por intermédio do Ministro Thomaz Bastos, disse que a resposta virá após a eleição, do mesmo modo que o Ministro Furlan diz sobre a questão da tevê digital, que, para mim, está decidida no Governo Lula como se retirando as possibilidades de competitividade para a Zona Franca de Manaus fabricar tevê digital. Já tomaram a decisão de que vão retirar da Zona Franca de Manaus. Ele diz que dirá o teor da tal medida provisória, que já estaria escrita, apenas após as eleições. Eu leio isso como uma clara decisão de atingirem frontalmente a economia do meu Estado. Até lá, a esperança dele é que as pessoas do Amazonas não sejam esclarecidas a ponto de continuarem achando que é verdade o que, na verdade, mentira é: que Geraldo Alckmin seria inimigo do Pólo Industrial de Manaus e que Lula seria um grande amigo.

Imagino se acontece o que já é improvável: Lula eventualmente vencer a eleição. Que choque não daria no povo do Amazonas, que lhe deu 73% dos votos, se, no dia seguinte, saísse a medida provisória retirando a tevê digital do Estado do Amazonas? Seria um choque terrível, que levaria a uma desilusão, talvez jamais vista no meu Estado. Mas é o que está escrito na MP; senão eles lançariam agora. Ou não querem contrariar um lado, ou não querem contrariar o outro. E um Governo tem que governar 24 horas por dia durante os seus quatro anos, contrariando quem quer que seja, mas exercendo seu dever de governar. Lula, não; Lula diz: é eleição, então, em eleição, passo a evitar temas polêmicos. Aí, ele fica mal-humorado; depois, dizem para ele voltar a ser Lulinha paz e amor. Trata-se de tudo, menos de um Presidente da República de verdade.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - É sobre o tema. No debate, o Governador Geraldo Alckmin, futuro Presidente da República, chegou a colocar este assunto de que a Zona Franca de Manaus pode estar sendo prejudicada, numa claríssima posição de defesa. Essa questão foi ignorada pelo candidato Lula, que preferiu, como V. Exª está explicando, correr do assunto para não desagradar nem a um nem a outro lado. Depois da eleição, ele não terá a chance de tomar nenhuma decisão, porque acreditamos na vitória do candidato a Presidente Alckmin. Mas este fato ficou também demonstrado no debate: a cobrança do Presidente Alckmin na defesa da Zona Franca e mais uma indagação de que houve o esquivo do Presidente Lula.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª diz bem: Alckmin, que seria visto como um inimigo da Zona Franca, foi quem a defendeu no debate. Lula fingiu de novo que não sabia de nada, e Alckmin acusava-o de ter trabalhado a proteção da Argentina em detrimento dos interesses das fábricas instaladas no pólo industrial de Manaus.

Mas, Sr. Presidente, mudo de tema. Chega de Lula por agora. Darei uma de Diogo Mainardi: “Chega de Lula por hoje”. Tenho direito a descanso e a bom gosto.

No começo do mês, denunciei a mais nova trama, que parecia caminhar velozmente, dessa vez com o suposto apoio oficial da Grã-Bretanha, para uma pretensa internacionalização da Amazônia. O rótulo, dessa vez, fala em privatização. Foi na Reunião Ministerial do Diálogo sobre Mudança de Clima, Energia e Desenvolvimento Sustentável, levada a cabo em Monterrey, no México, nos dias 3 e 4 últimos.

O assunto foi revelado em primeira mão pela coluna do jornalista Cláudio Humberto e, a seguir, pela Folha de S.Paulo. Seu interlocutor foi o Secretário de Meio Ambiente do Reino Unido, David Miliband - interlocutor, sim, pois ele se dizia autorizado pelo próprio Primeiro Ministro Tony Blair.

Coloquei meu protesto, formulei requerimento de informações ao Ministro do Ministério das Relações Exteriores e mereci o apoio da Líder do PT e de outros Senadores, que se incorporaram ao gesto. Protesto e gesto, mais do que necessários. Em defesa da Amazônia estou e estarei sempre pronto a denunciar manobras desse jaez.

Ainda não recebi resposta do Itamaraty, o que é normal, pois a velocidade dos requerimentos de informações previstos na Constituição é, no Senado, extremamente lenta, infelizmente.

Mereci, no entanto, atenção especial do Embaixador Marco Antônio Diniz Brandão, Chefe da Assessoria de Assuntos Parlamentares do Itamaraty, que me encaminhou nota redigida pelo secretário britânico logo após a minha fala neste plenário. Os termos dessa declaração apontam um recuo, felizmente.

Não obstante, continuo vigilante. Para começar, há informações no noticiário de que por trás do encontro de Monterrey estaria o milionário sueco-britânico Johan Eliasch, aquele que andou dizendo pretender comprar toda a Amazônia por US$50 bilhões, Senador Borges.

Na nota do Embaixador Diniz Brandão que acompanha este discurso, para constar dos Anais, o Secretário Miliband ressalta que “...o Reino Unido está muito interessado em trabalhar junto com outras partes na discussão sobre desmatamento e manejo florestal sustentável pelos países em desenvolvimento...”

E mais: “... o Governo do Brasil reafirmou o seu compromisso com a cooperação internacional na área do desmatamento, com pleno respeito pela soberania brasileira...”

Fica aí a saída honrosa para a quebra do bom procedimento diplomático do secretário britânico.

Agradeço, Sr. Presidente, a pronta informação do Embaixador Marco Antônio Brandão, esperando que, de fato, tudo se encaminhe apenas no terreno da cooperação externa. Só isso. Nem um milímetro a mais.

Em anexo, a nota do Secretário David Miliband, para que passe também ela a constar dos Anais do Senado da República.

Mas ainda tenho, Senador Antero Paes de Barros, V. Exª, que será o próximo orador, tenho algo aqui extremamente interessante - acabo me traindo e voltando ao assunto. Recebo um e-mail de uma pessoa, que assina por ela e por seu esposo, que diz o seguinte. E é algo muito interessante, é alguém que traz a sabedoria da Bíblia. Diz o seguinte:

“Hoje, ouvindo o noticiário da Band sobre o debate de domingo, recebemos com alegria a informação de que o nosso candidato Alckmin estará ao lado direito do palco e o Lula à esquerda.

Está escrito - aí ela cita a Bíblia (Mateus, cap. 25, versículos 33; 34 e 41), com muito respeito: “E porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.”

Não desejo tanto para o Presidente Lula, desejo apenas que ele perca a eleição. E que responda, inclusive na Justiça, por tudo o que seu Governo tem merecido de processos no Tribunal de Contas da União e na Procuradoria-Geral da República, afinal de contas, a lei tem de ser cumprida na íntegra. Mas não desejo a ele um milímetro de mal pessoal, um milímetro! Lamento muito por tê-lo perdido.

Ainda agora o Senador Heráclito Fortes falava que Lula, muitas vezes, foi preso. Tinha muito afeto por aquela figura que, de maneira indomável, liderou greves no ABC paulista e enfrentou corajosamente a ditadura militar. Eu tinha dificuldades, Sr. Presidente - e já concluo -, no meu primeiro ano de Senador, de fazer oposição ao Presidente Lula. Eu era Líder de um partido importante de Oposição, eleito com o voto de V. Exª e dos meus colegas.

Eu ficava cheio de dedos em dizer que Ministro tal tinha errado ou o fulano tinha errado. Se pegar os meus primeiros discursos aqui, verão que eu tinha dificuldade de me referir a uma figura tão estimada para mim como era o Presidente Lula de maneira direta; ficava colocando culpa no seu derredor. Até que aconteceu aquele episódio, o que foi para mim a quebra da confiança, do Waldomiro Diniz, aquela estória de não sei de nada, aquela demissão a pedido do Waldomiro Diniz.

Começou a quebrar o encanto, enfim, mas não quero nenhum mal a Sua Excelência, nenhum mal mesmo, nenhum mal pessoal. Tenho muito respeito pela sua trajetória passada, que não está sendo honrada neste Governo presente e, sobretudo, não está sendo honrada a sua trajetória passada quando ele se dedica ao boato. E ele que foi vítima dos boatos em 1989, da guerra de dossiês, ele que foi tão digno em 1998 no episódio do dossiê Cayman, ele que não usou aquele dossiê falso contra Fernando Henrique, ele podia ter sido baixo e não o foi naquele momento. Mas.agora, ele decaiu tanto, decaiu tanto, Senador Antero Paes de Barros, que no debate diz assim “eu quero saber quem é o culpado do dossiê”, como se não soubesse que é o churrasqueiro dele, o Berzoini dele, o Freud dele. E ainda diz assim: “mas quero também saber o conteúdo do dossiê”.

Ora, se o dossiê é falso, ele quer ainda colocar dúvidas quanto ao caráter do que estaria escrito em um dossiê fajuto, falso, fraudulento, indigno de crédito. Então, estou muito chocado com tudo isso e o que desejo é que o Presidente Lula encerre o mais rapidamente a passagem pela Presidência, porque um eventual segundo governo seu seria um desastre efetivo. Ele não tem a menor condição de governar este País. E que a história possa analisá-lo com calma. Ela vai analisar o grande líder sindical, vai analisar o constituinte preguiçoso que não fez muita coisa por São Paulo, não lutou pelo País na Constituição, vai analisar o grande líder popular e vai analisar o Presidente que permitiu que, no interior do seu governo, acontecessem os piores episódios de corrupção já registrados pela história republicana brasileira.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª tem absoluta razão. Na realidade, o debate da Rede Bandeirante mostrou um Presidente Lula completamente despreparado para a função que exerce. Há muitos anos que o Presidente Lula não participa de um debate. Como Presidente só deu entrevista coletiva. E nas entrevistas que concedeu à Globo agora na campanha e às outras emissoras saiu-se mal também. Mas o debate foi uma espécie de recorde. Nunca vi alguém tão acuado. Já vi muita gente consultar papel para responder, mas para fazer pergunta, é raro, porque é muito mais fácil perguntar, pode-se perguntar o que quiser, não tem como errar. E há outro fato grave que é o uso da máquina. Estou vendo aqui na Internet que o Presidente, hoje à tarde, não trabalhou, foi fazer campanha em Guarulhos. Na realidade, o Presidente da República, pelo fato de estar exercendo o cargo, é obrigado a cumprir o expediente normal da Presidência da República e isso lhe dá uma desvantagem, porque, enquanto o candidato da oposição não está exercendo nenhum cargo e não é obrigado a cumprir expediente, o Presidente é obrigado a cumprir. Em compensação, ele tem muitas vantagens, como, por exemplo, uma equipe toda paga com dinheiro público para atacar os adversários. Se V. Exª verificar, quem ataca o nosso candidato, quem ataca os adversários do Presidente Lula são os Ministros, como o Ministro Tarso Genro, o Ministro Waldir Pires e outros.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª não é capaz de citar o nome de seis Ministros desse Governo. V. Exª nem ninguém. É como o meu time, o Flamengo, que eu não consigo recitar o time todo. Nenhum brasileiro diz seis Ministros do Governo Lula, ninguém sabe. É um elenco de desconhecidos, de quinta categoria.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Acho que nem o Presidente Lula conseguiria, se fosse perguntado no debate, dizer o nome de todos os seus Ministros. Até imagino que ele deva ter sido treinado com medo de que o nosso candidato perguntasse o nome de dois ou três Ministros, porque, se perguntasse e ele não respondesse, seria uma vergonha muito grande. Acho que ele treinou e, dentre os papéis que ele consultava, deveria ter a relação dos Ministros, caso alguém perguntasse. Hoje o Presidente, conforme informação da Internet, está chegando às 17 horas em Guarulhos. Ora, se ele está chegando em Guarulhos às 17 horas para fazer campanha é porque está fazendo campanha a tarde inteira. Ele, como Presidente da República, deveria estar trabalhando e, quando terminasse o expediente, às 18 ou 19 horas, ele iria, então, a Guarulhos, para fazer o seu comício, que faz parte da democracia. Então, acho que essa questão da reeleição teve o seu ápice agora, na reeleição do Presidente Lula, pelo uso inusitado da maquina pública, tudo feito para prejudicar os demais candidatos, não apenas o nosso Geraldo Alckmin, como Heloísa Helena, Cristovam Buarque e os demais candidatos a Presidente, que lutaram com grande dificuldade, enquanto que o Presidente Lula tem toda a máquina governamental e inclusive se dá o direito de não cumprir o expediente. Nem ele nem os Ministros, porque, quando ele anda e como é um pouco inseguro, ele leva vários Ministros, entre conhecidos e desconhecidos, leva dez a doze Ministros. Era isso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador José Jorge, encerro, respondendo a V. Exª. Pernambuco é um Estado celeiro em matéria de homens públicos honrados e talentosos. Falava, ainda há pouco, Presidente Marco Maciel, de Joaquim Nabuco, de Gilberto Freire e de Tobias Barreto, uma das figuras por quem tenho maior devoção intelectual.

Mas poderia precisamente me lembrar de que Marco Maciel foi vice-Presidente da República e Presidente em exercício tantas vezes, ao longo de oito anos do Governo passado. E se marca pela lealdade, pela discrição, pela seriedade pública e pela bondade pessoal. Estou vendo que Pernambuco agora oferece um outro candidato a vice-Presidente todos sabemos, honrado, preparado, tecnicamente e politicamente preparado, Senador José Jorge, e se excedendo na bondade pessoal. O Senador José Jorge disse que hoje o Presidente não trabalhou. E quando trabalhou? Quando foi que trabalhou?

Aliás, estou cobrando dele - vai acabar o seu governo e ele não me manda - a foto que lhe pedi, aqui desta tribuna, de camisa enrolada, trabalhando, despachando com os Ministros, mostrando ou fingindo mostrar, pelo menos, interesse nas matérias discutidas, enfim, com os Ministros.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Só concluo dizendo que é tão bondoso o Senador José Jorge que disse que hoje ele não trabalhou. Ele não tem trabalhado nunca, porque não é devotado à figura do despacho. Ele não é preguiçoso para buscar votos, para essa história de sair fazendo picuinha contra adversários. Para isso ele é uma águia, ele aprendeu isso e vive nesse ramerrame. Mas, para trabalhar, para estudar, por exemplo, a questão energética no País, que está ameaçada aí, sim, de um apagão em 2010, em função de não ter sabido prestigiar as agências reguladoras e de não ter sabido criar as condições para investimento, inclusive, estrangeiro no setor. Isso não interessa a ele, pura e simplesmente não interessa a ele.

Então, quero registrar que nós teremos de novo um Vice-Presidente honrado, correto e com coração enorme, porque, ao se tratar de maneira fria e específica o Governo Lula, tem de se dizer isto: estava no Palácio do Planalto por quatro anos alguém que não era interessado na figura, necessária à administração, do despacho, alguém que não estudava para questionar os Ministros, alguém que bebia sempre a água que lhe era levada pelos seus Ministros, alguém que não era capaz de fazer a pegadinha, como fazia o Presidente Fernando Henrique. Cansei de ver o Presidente Fernando Henrique fazer o Ministro passar mal às vezes. O Ministro pensava que ele não estava interessado no assunto e Fernando Henrique acabava mostrando para o Ministro naquele momento que ele sabia mais do assunto do que o Ministro. Da outra vez o Ministro vinha mais atento, mais cuidadoso, porque estava diante de um homem que lê tudo. Fernando Henrique lê tudo, ele lê bula de remédio; quando não tem o que ler mais, ele lê bula de remédio; enfim, passa o tempo todo lendo até por vício da sua formação acadêmica.

Eu encerro concedendo um aparte ao Senador Heráclito Fortes e ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, quero parabenizar V. Exª pelo seu fã clube. Eu acabo de receber um telefonema aqui de uma senhora que se diz grande admiradora de seu talento na tribuna. Referiu-se apenas ao seu talento na tribuna, quero deixar bem claro, para que não paire dúvidas. Ela pediu que perguntasse ao Senador Arthur Virgílio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se eu tenho algum talento, talvez seja só esse Senador Heráclito, não devo ter mais nenhum não.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Está feliz com ele, não é?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Fazer o quê?

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Então ela pede para perguntar o porquê dessa celeuma toda com relação à performance do Senhor Lula no debate. Desde quando - e, aí, ela lembra fácil, porque tem razão - o Senhor Lula se saiu bem em algum debate ou até mesmo em entrevistas livres? E lembrou essa série de entrevistas recentes que a Globo e uma série de emissoras de televisão promoveram, em que ele se saiu mal em todas. Errou o tamanho da costa brasileira, errou dados, citou vários exemplos. Aí, remete-se ao debate feito com Collor - aliás, naquela época, adversários, e, hoje, aliados, frise-se bem isso. Então, não há nenhuma novidade de o Senhor Lula sair-se mal em debate. É uma constante! Daí porque ele amarelar; daí porque ele ter frustrado o Brasil inteiro naquele debate da Globo, no fim do primeiro turno, não por não ir - podia não ir -, mas pela maneira como cancelou sua ida àquele debate. Não adianta essa patrulha, essa guerrilha que se está fazendo na tentativa de reverter resultados. A Nação brasileira ficou estarrecida com o que se viu nesse último fim de semana: uma performance pífia de um Presidente da República que, desesperado, cobrou erros de quatro séculos passados. Erros de quatro séculos passados! E, daí, tenta dar a entender ao Brasil que esta Nação começou com ele. De forma que, Senador Arthur Virgílio, a quantos debates vá, o Presidente sairá frustrado, porque não conhece o Brasil, não debate os problemas brasileiros e vai repetir o que fez nesse debate:

Geraldo Alckmin querendo discutir os problemas nacionais e ele remontando a São Paulo, querendo fazer confrontos com um passado sobre o qual o futuro Presidente Alckmin não tem responsabilidade direta e fugindo de debater o presente, pelo qual é responsável, e o futuro, que é o que interessa à Nação brasileira. O povo brasileiro é sábio, é esclarecido e está interessado em discutir o futuro, o que, infelizmente, não é o forte do Presidente da República.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço-lhe, Senador Heráclito Fortes. E agradeço, sobretudo, à telespectadora da TV Senado que lhe mandou esse e-mail. Ela certamente haverá de concordar comigo. O Presidente Lula não foi aos debates do primeiro turno seja por despreparo, mas, sobretudo, porque ficou com medo de defrontar-se com a Senadora Heloísa Helena.

Gostaria de dizer a ele que, enquanto todos os corruptos de seu Governo se exoneraram dos cargos, ele, por discrepância ideológica, expulsou essa mulher valorosa de seu Partido. A única pessoa contra quem ele tomou uma atitude de verdade foi contra a Senadora Heloísa Helena. No mais é outra enfiada de mentiras. Ele não expulsou ninguém dos que praticaram delitos em seu Governo. Expulsou, sim, uma pessoa íntegra, honrada, em toda a acepção dos termos, que é a Senadora Heloísa Helena. Ele não conseguia imaginar um confronto de sua posição de candidato com a posição de uma candidata tão valente, que enfrentou uma luta tão desigual e que merece, de todos nós, tanto respeito.

Concedo um aparte ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador Arthur Virgílio, na hora em que V. Exª dava um depoimento, eu queria exatamente apoiá-lo em relação ao nosso ex-Presidente Fernando Henrique. Fomos Ministros concomitantemente. E era assim mesmo.Quando íamos falar, às vezes pensávamos que ele não conhecia o assunto, mas ele já tinha lido tudo a respeito. Então, realmente era um leitor contumaz que se inteirava dos assuntos. Ele tinha, com toda a certeza, um cuidado muito grande. Eu queria dar este testemunho a bem da verdade. Concordo com V. Exª, porque essa era realmente uma qualidade do ex-Presidente.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Ney.

Veja que o Presidente Fernando Henrique tinha uma outra característica - V. Exª a vivenciou também: ele não comprava qualquer idéia de qualquer um. Chegava-se com uma boa idéia para ele; ele falava sobre a idéia e aparentava até concordar com ela. Mas procurava ouvir outros lados, procurava ouvir diversos segmentos. Ao fim e ao cabo, ele poderia, primeiro, concordar com a sua idéia e buscar colocá-la em prática ou lhe dizer que não dava para colocar em prática aquilo que alguém lhe havia sugerido. 

O Presidente Lula, não. O Ministro lhe propõe um absurdo, e ele se reúne logo com o Ministro no Salão Nobre e lança um novo projeto, como o Primeiro Emprego, que não vai dar certo. Tudo vira projeto, tudo vira...

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Eu só posso dar testemunho do primeiro caso!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Percebemos o seguinte: o número de iniciativas que fracassou neste Governo mostra que não havia o cuidado de arredondar, o cuidado de aparar as arestas, o cuidado de estudar, ou seja, ele não é dado à figura do estudo.

Acho grotesco, Sr. Presidente - vou encerrar mesmo -, porque é complicado dizer - Senador Demóstenes, concederei um aparte a V. Exª também -, como disse o Dr. Jaques Wagner, Governador eleito da Bahia: “Lula vai se preparar para o próximo debate”. Isso não é programa de auditório, não, Dr. Jaques Wagner! Isso não é programa do tempo do J. Silvestre, de “O Céu é o Limite”!

Ele tem de estar preparado para o exercício da Presidência. E aí ele não precisa de preparação nenhuma para debate nenhum.

Quem é que poderia acreditar que alguém que está há quase quatro anos na Presidência da República...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... teria de ver dados de alguém, e um funcionário qualquer, um marqueteiro qualquer daria a ele a pergunta para fazer? Quer dizer, ele não sabe o que deve ser perguntado e o que deve ser respondido, a partir do exercício da Presidência da República, no qual ele está envolvido há quase quatro anos de sua vida?

É duro imaginar que o Presidente da República, quase quatro anos depois, no apagar das luzes do seu mandato, tenha de ficar comendo nas mãos do assessor, do marqueteiro, perguntando isso ou aquilo.

Ele não domina os dados do seu próprio Governo, mas parece dominar bem os dados do Governo do Fernando Henrique. E aí, de novo - não quero persegui-lo com aquela história do Freud falsário; mas, de novo, lá vem o Freud da Psicanálise! -, só Freud explica essa fixação que ele tem no Fernando Henrique.

Concedo um aparte ao Senador Demóstenes Torres.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª faz um pronunciamento, como sempre, brilhante. Sempre digo o seguinte, concordando com a opinião de V. Exª: aquela idéia de que alguém deve se preparar...

(Interrupção do som.)

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - ... para um debate é extremamente ridícula! Ou um homem é preparado a vida toda para discutir, ele estuda para isso, ou ele não vai conseguir se adestrar, digamos assim, no caso presidencial.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É um Presidente ou uma foca, por aprender movimentos repetitivos?

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - É verdade! Então, ele não vai conseguir jamais se preparar para um debate, porque ele não está preparado. O que me parece extremamente fantástico, nobre Senador e conselheiro, é o fato de o Presidente da República, em última hora, ficar criando factóides. É R$1,5 bilhão para resolver o problema da segurança pública em São Paulo!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Isso não é factóide, isso é corrupção eleitoral mesmo!

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Isso é um negócio terrível! Hoje, apareceu o Presidente lançando um pacote - a alguns dias da eleição em segundo turno - para corrigir a educação no Brasil! Um Presidente que tem uma vastíssima ignorância. É um homem conhecido, aliás, por essa faceta. Parece mais um aloprado ditando regras, quando mal ele sabe o que está dizendo. Senador Arthur Virgílio, quero concordar com V. Exª. Sempre que me lembro do Presidente Lula, recordo-me de uma frase do Millôr Fernandes: “Chegou ao limite de sua ignorância; não obstante, prosseguiu”.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É verdade! Millôr é sábio e genial, como sempre.

Senador Demóstenes, respondo-lhe encerrando - desta vez, encerrarei mesmo. Fico impressionado com essa história da preparação para o debate, de o Presidente ter de se preparar para responder às perguntas do seu adversário sobre um governo que ele dirige. Eu suporia que se V. Exª, por exemplo, homem talentoso que é, fosse Presidente da República, quem teria de ter cuidado com V. Exª era o adversário. V. Exª, Senador Demóstenes, haveria de dominar todos os dados do seu governo. Então, o seu adversário é que estaria em vantagem tática. Como é que o seu adversário iria discutir com V. Exª, se, durante quatro anos, minucioso e aplicado como é, V. Exª estivesse ali manipulando dados, estudando os números e detendo todas as informações?

Quando um presidente chega para um debate despreparado para falar sobre seu próprio governo, dá para se perceber como o Brasil é um País de sorte, Presidente Marco Maciel! Como o Brasil é um País de sorte, um País afortunado! Imaginem o Presidente Lula vivendo um clima de economia internacional engolfado, um clima de onze ou doze crises, de porte mundial, como vivenciou o Governo de V. Exª, como vivenciou o Governo Fernando Henrique Cardoso! Imagine se ele tivesse de trabalhar com a escassez, e não com a abundância chinesa, com a abundância norte-americana! Imagine se tivesse de conviver com a recessão dos nossos principais compradores! Imagine!

O Presidente, na sua pequenez política, acabou por nos demonstrar que o Brasil é um País afortunado. Deus parece que é brasileiro mesmo, porque permitiu que um homem talentoso governasse em uma conjuntura difícil. E colocou o Presidente Lula para governar numa conjuntura de bonança. Ótimo se Fernando Henrique tivesse governado numa conjuntura de bonança! Mas teria sido desastroso o Lula na conjuntura de crise.

Ele tem de se preparar para o debate. Então, daqui para frente, ele vai reservar meia hora por dia para que lhe dêem lições: “Quando lhe perguntarem isto, responda assim. Não chame mais a TV Bandeirantes de Rádio Bandeirantes, não chame mais ouvinte de rádio de telespectador”.

Será que é essa a preparação? Se é essa, só tenho de lamentar e, na verdade, torcer para que o povo brasileiro saiba escolher o melhor para o futuro do País.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2006 - Página 30696