Discurso durante a 167ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre matéria da autoria de S.Exa, intitulada "A máscara caiu", sobre as pesquisas eleitorais. Leitura de carta do Sr. José Danon, dirigida ao cantor Chico Buarque.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre matéria da autoria de S.Exa, intitulada "A máscara caiu", sobre as pesquisas eleitorais. Leitura de carta do Sr. José Danon, dirigida ao cantor Chico Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2006 - Página 30790
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, PUBLICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, CRITICA, IMPUNIDADE, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REPUDIO, MA-FE, UTILIZAÇÃO, RESULTADO, PESQUISA, PROCESSO ELEITORAL, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • ACUSAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), UTILIZAÇÃO, TELECOMUNICAÇÃO, PROVOCAÇÃO, APREENSÃO, POPULAÇÃO, DIRETRIZ, CANDIDATO, OPOSIÇÃO, REGISTRO, EFICACIA, TRABALHO, ADVERSARIO.
  • HOMENAGEM, ECONOMISTA, AUTOR, CARTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RESPOSTA, DECLARAÇÃO, CHICO BUARQUE, ESCRITOR, COMPOSITOR, APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, CHEFE DE ESTADO, COMPARAÇÃO, HISTORIA, DITADURA, REPUDIO, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, CHICO BUARQUE, COMPOSITOR, IDELI SALVATTI, SENADOR, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, VOTAÇÃO, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), MELHORIA, SITUAÇÃO, PAIS.

            O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, povo brasileiro, na semana passada, escrevi para a imprensa local do meu Estado, Sergipe, um artigo sob o título “A máscara caiu”. Iniciei o artigo falando de pesquisas, indagando: Pesquisas, mas que pesquisas, se elas não existem?

            Imaginava eu que, tendo a máscara caído - e tendo ficado ruborizados inúmeros que perderam a máscara ou que a deixaram cair -, havia servido de lição pela vergonha, sobretudo porque se tratou de uma impostura muito grande essa das pesquisas eleitorais, mais uma vez, no Brasil.

            Os dissimulados e marotos fizeram de conta que nada de anormal aconteceu. E, pensando bem, nada de anormal aconteceu mesmo; afinal, essa tem sido a praxe em todas as eleições. Outros passaram de soslaio para não ser percebidos, dissimulados que são, pessoas de pouca vergonha, de pouco pejo. Nem sequer um comentário fizeram, nem sequer a notícia foi dada de que os institutos caíram de forma desavergonhada. Não tiveram nem a dignidade de pedir desculpas ao povo brasileiro.

            Imaginei que tivesse servido de lição, mas não serviu. Com essa gente desavergonhada, nada serve de lição. Para essas pessoas, é como se nada houvera acontecido, como se essa prática não fosse deprimente, como se essa prática não fosse um depoimento contrário à honradez dessas pessoas.

            Estamos no segundo turno, e lá vêm as pesquisas novamente, não apenas as pesquisas, mas aqueles que as divulgam.

            Ontem à noite, vi os telejornalistas anunciando as pesquisas de forma pálida, lendo o texto ou o teleprompter, desejando até que aquilo não estivesse escrito, que os diretores, redatores e editores dos telejornais não tivessem posto aquilo para ser lido.

            Senti isto como telespectador: falta de vontade para ler aquilo diante da desfaçatez do que estava escrito, pesquisa que aponta, mesmo depois do episódio já conhecido por todo o Brasil do último domingo, o do debate da Band.

            Mas a pesquisa foi divulgada para não fugir à regra. E como não se trata de uma exceção, ela veio para robustecer, sedimentar, estabilizar a opinião contrária do povo brasileiro nas pesquisas. Se imaginam que aquelas pesquisas divulgadas ontem e hoje prejudicaram a candidatura Geraldo Alckmin, enganam-se! Pois pela máscara caída e já conhecida, como o resultado do primeiro turno, o povo já entendeu que elas não estão a serviço da democracia; com certeza, integram o bojo de instrumentos do desespero que já toma conta de Lula e de seus aliados, de seus asseclas. O desespero toma conta da campanha governista e agora passam a usar uma estratégia que o Lula dizia que usavam contra ele, qual seja, a disseminação do medo.

            Na verdade, era medo mesmo o que inúmeros brasileiros tinham do Governo Lula - e aí já era o sétimo sentido das pessoas, daquelas mais sensíveis, a exemplo da extraordinária atriz Regina Duarte, a quem o Governo Lula fazia medo. Agora dizem que o Geraldo Alckmin vai promover recessão; vai acabar com as ações sociais, com o Bolsa-Família; vai fazer privatizações; vai demitir servidores. Quanta hipocrisia!

            Nobre Senador Cristovam Buarque, sou de uma cidade do interior de Sergipe e acostumei-me com a política, com as eleições. Esse tipo de discurso proferido pelo Presidente da República, candidato à reeleição, eu ouvia - com todo o respeito ao meu querido povo de Santa Rosa de Lima e de Nossa Senhora das Dores, em Sergipe - dos políticos do interior do meu Estado, como outros devem ter ouvido nas cidades do interior do Nordeste brasileiro onde nasceram e nas cidades de outras regiões deste País. E agora ouvimos essa coisa muito baixa, muito rasteira - sem querer ofender a população dos rincões deste País - de um Presidente da República, que usa um veículo de comunicação de massa, o rádio, para disseminar, fazer proliferar, o medo. Isso não vai colar. Isso não assenta. E não assenta por quê? Porque Geraldo Alckmin é a cara da estabilidade. A cara de Geraldo Alckmin é a cara da honradez, é a cara do político eficiente, honesto e sério. Geraldo Alckmin é a cara do desenvolvimentista. Portanto, não estão fazendo nada com esses instrumentos.

            Partiram para as agressões, aliadas às pesquisas e à disseminação do medo. São agressões e mais agressões diariamente, além daquelas ironias pálidas do Presidente Lula no debate da Band do último domingo. O político irônico, com sabedoria, com sinceridade, com muita perspicácia, sai-se bem. Mas aquele que não sabe ser irônico sai-se muito mal. É preferível ter o meu comportamento, que não sei ser irônico.

            Aliás, a minha cara já diz o que ela é. Eu não sei ser dissimulado. Se eu tiver de contestar, contestarei com todas as palavras, com toda minha veemência. E o Presidente Lula não sabe ser irônico. Que vexame! Quanta vergonha! Aquilo não é postura para um Presidente da República.

            E fala de crescimento em todo pronunciamento, em todo o debate. Nunca vi, na minha vida, tanta dissimulação. “Não, porque, no meu Governo, o Brasil se desenvolveu” - palavras de Lula. Será que ele imagina que está conseguindo enganar o povo? Será que ele imagina que o povo não tem conhecimento de que, entre os países de toda a América, e não apenas na América Latina - vamos falar da América Latina, porque a América do Norte aí é que não poderíamos mesmo incluir -, o Brasil teve apenas 2,3% e este ano deve fechar com índice inferior de crescimento? Esse nosso crescimento só foi pouquinho superior ao do Haiti, aquele país miserável que vive em guerra civil. E esse homem ainda tem a coragem, a desfaçatez de ir para a tribuna, para um debate, e falar em desenvolvimento? É triste. É lamentável.

            Mas quero, nesta segunda parte do meu pronunciamento, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, povo brasileiro, dizer como gosto de ver um texto bem escrito. Não tenho essa habilidade, mas, quando vejo um texto bem escrito dos outros, dá-me vontade de tomá-lo para mim. Não que eu tenha postura alguma de inveja ou egoísmo, sobretudo porque esses são sentimentos menores. Ao contrário, gosto de elogiar aquilo de bonito e de bem-feito dos outros.

            Quero homenagear o economista e consultor de empresas José Danon, pela carta que escreveu e foi divulgada pela Internet. Como eu gostaria, Sr. Presidente, de ter escrito esta carta. Digo isso - repito - não por inveja, mas porque estou dando a ela a dimensão grandiosa que de fato tem, prestando homenagens a esse brasileiro que publicou no Estadão, na sexta-feira, dia 29 de setembro, uma carta para Chico Buarque.

            Ontem, a Senadora Ideli Salvatti - ausente na tarde de hoje, pelo menos até o presente momento, nesta sessão - fez loas a Chico Buarque. Não respondi ontem esse aspecto do pronunciamento dela. Como eu sabia desta carta, deixei para fazer, na tarde de hoje, com esta carta, o contraponto a ela e ao Chico Buarque, pelos elogios que ela atribuiu ao Chico Buarque.

            Na carta, José Danon diz exatamente o seguinte:

Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi, pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar no Lula “por falta de opção”, tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que representava o Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe. Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como se tinha machucado tanto. Cambaleante, ele explicava: “Eu vi dois touros e duas árvores, os que eram e os que não eram. Corri e subi na árvore que não era, aí veio o touro que era e me pegou”. Acho que nós votamos no Lula que não era, aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico, meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem-feita ou malfeita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas desconfio que nossa geração não foi tão bem-sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa. Deixamos um governo que tem o cinismo de, olimpicamente, perdoar “os companheiros que erraram” quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é mesmo? Erraram? Ora, Chico. O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou malsucedida de acertar. Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoínos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas, berzoinis, hamiltonlacerdas, lorenzettis, bargas, expeditovelosos, vedoins, freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante, desafortunadamente tão preservada do risco de extinção por seu tratador. Esses não erraram. Cometeram crimes. Não são desatentos ou equivocados. São criminosos. Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor. Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito, não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore. E olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial: quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica o Aurélio Buarque de Hollanda que elite, do francês élite, significa “o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos”. Poxa! Na mosca. Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde passou 31 dias. Mas ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos.

Nós, que neste País tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudéssemos ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego, como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua “democracia”. Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados pelo Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno. Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disto. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros no valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referencia dos parâmetros de justiça social. Aceitar passivamente a livre ação do desonesto é ser cúmplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito. Temos opção. A opção é destronar o ruim. Se o oposto será bom, veremos depois. Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos. A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotar-se na memória de nossas novas gerações.

            Que belo! Vou ler esse final, vou repetir, porque ele faz menção exatamente a uma das páginas mais lindas do cancioneiro da música popular brasileira, cantada por Chico Buarque de Hollanda, e diz: “A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotar-se na memória de nossas novas gerações”.

Aí sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 1º de outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,

Zé Danon

(José Danon é economista e consultor de empresas)

            Não mantive contato com esse cidadão, não sei quem é, não o conheço, não tenho o seu e-mail, mas, se ele permitisse, bem que gostaria de subscrever também esta carta, pela beleza, pela clareza, pela eloqüência, pela resposta inteligente, pela sua sagacidade, pela maneira a mais precisa, clara, cheia de luz que se poderia mostrar a um brasileiro tão importante como Chico Buarque de Hollanda, que, neste momento, vive com névoas ou com nuvens em sua mente, equivocado diante do momento histórico em que vive. E olha que não poderíamos imaginar que figura tão ilustre, tão capaz, que deu parte da sua vida, da sua juventude, lutando contra a ditadura militar, lutando contra a hipocrisia, lutando contra todos aqueles atos e ações deprimentes para a sociedade brasileira, para a família brasileira, hoje, lamentavelmente, se encontrasse, de forma equivocada, sem opção. Mas a opção, como Zé Danon disse, de forma clara, é destronarmos o ruim. E destronar o ruim é não eleger Lula, mesmo que aquele que venha não seja o bom, o ótimo, o perfeito, mas pelo menos teremos a esperança de que estamos mudando e que, com a mudança, poderemos reconstruir a dignidade deste País.

            Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, retornando à tribuna desta Casa, procuro aqui, mais uma vez, nestes dias que antecedem o segundo turno das eleições, trazer uma mensagem - porque sei da grande audiência da TV Senado neste País - numa forma não desesperada, mas tranqüila, parcimoniosa, respeitosa, e me comunicar com a população brasileira, para fazer-lhe ver, por meio dessa contribuição humilde, que temos um futuro a seguir, que temos uma opção a fazer, ou seja, a opção de negar esse passado esquisito, representado pelo Governo Lula da Silva, e apostarmos na candidatura de Geraldo Alckmin.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2006 - Página 30790