Pronunciamento de Patrícia Saboya em 18/10/2006
Discurso durante a 170ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2005.
- Autor
- Patrícia Saboya (PSB - Partido Socialista Brasileiro/CE)
- Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA SOCIO ECONOMICA.
EDUCAÇÃO.:
- Considerações sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2005.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/10/2006 - Página 32538
- Assunto
- Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA. EDUCAÇÃO.
- Indexação
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- COMENTARIO, ESTUDO, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), APRESENTAÇÃO, DADOS, AUMENTO, RENDIMENTO, TRABALHADOR, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, CRESCIMENTO, USUARIO, COMPUTADOR, TELEFONE CELULAR, REDUÇÃO, DESEMPREGO, POBREZA, DESIGUALDADE SOCIAL.
- REGISTRO, AUMENTO, TRABALHO, CRIANÇA, MOTIVO, CRISE, AGRICULTURA, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, MELHORIA, INTEGRAÇÃO, BOLSA FAMILIA, PROGRAMA ASSISTENCIAL, ERRADICAÇÃO, EMPREGO, CRIANÇA CARENTE, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO, CAMPANHA EDUCACIONAL.
- COMENTARIO, AUMENTO, JUVENTUDE, ENSINO FUNDAMENTAL, ESCOLARIZAÇÃO, CRIANÇA, REDUÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ELABORAÇÃO, PROGRAMA, MANUTENÇÃO, ALUNO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, COMBATE, ANALFABETISMO, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO, ALFABETIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, OBJETIVO, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO, PAIS.
A SRª PATRÍCIA SABOYA GOMES (PSB - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em setembro último, o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005, que é, sem dúvida, uma importante radiografia da situação social do nosso País. O levantamento trouxe algumas boas notícias para os brasileiros, mas infelizmente revelou dados preocupantes em determinadas áreas, o que deve merecer de todos nós não só uma profunda reflexão como também a busca imediata de soluções criativas e ousadas para enfrentar tais mazelas - e este é um imenso desafio para o próximo governo.
Em primeiro lugar, gostaria de destacar, rapidamente, alguns avanços detectados pela PNAD. Embora ainda tímidos, devem ser motivo de esperança em dias melhores e combustível para a nossa luta cotidiana por mais qualidade de vida para a população brasileira. Segundo o IBGE, em 2005, o rendimento médio real do trabalhador brasileiro cresceu 4,6% em relação a 2004. Trata-se da primeira alta desde 1996, muito embora esse resultado ainda esteja 15,1% abaixo do registrado naquele ano. Mas é fundamental ressaltar que o aumento da remuneração foi mais significativo entre as pessoas de menor renda. Com isso, a distribuição de renda atingiu seu melhor resultado desde 1981. Em dez anos, o índice Gini, que mede justamente a distribuição de rendimento, teve queda de 7%.
Outra significativa constatação da PNAD foi o aumento do nível de ocupação em 2005 - o mais alto desde 1996, apesar de ter ficado abaixo do patamar registrado na primeira metade da década de 1990. Em 2005, tivemos cerca de 2,5 milhões de pessoas a mais com emprego e, nesse cenário, as mulheres saíram na frente. O nível de ocupação feminina aumentou de 45,6% em 2004 para 46,4% em 2005, atingindo seu maior patamar desde 1992. Embora esse crescimento seja motivo de comemoração para todas nós, mulheres, ainda ganhamos menos do que os homens. De acordo com a PNAD, em 2005, o rendimento médio mensal das trabalhadoras representava 71,2% do ganho dos homens. Entre as boas novas trazidas pela pesquisa do IBGE, vale ainda destacar o aumento do número de brasileiros com acesso a computador e a telefone celular.
Outra boa notícia veio pelo estudo recente da Fundação Getúlio Vargas, mostrando que houve diminuição da pobreza e da desigualdade social nos últimos anos. Isso fez com que o Brasil cumprisse a primeira das oito metas do milênio definidas pela ONU na metade do prazo. Ficou estabelecido em 1990 que a extrema pobreza em cada país deveria ser reduzida pela metade dentro de 25 anos, ou seja, até 2015.
Em 2005, a extrema pobreza no Brasil atingiu o nível mais baixo da história, alcançando 5,32% da população. Em 1992, a miséria atingia 11,76% dos brasileiros. A pesquisa da FGV também mostrou que a parcela de pobres, que era de 28% em 2003, caiu para 22,7% em 2005, sendo a menor desde 1992.
Ainda segundo a Fundação, o governo Lula tirou da miséria cerca de 12 milhões de brasileiros. Mas ainda continuamos com o triste número de 42 milhões de brasileiros vivendo em situação de pobreza no País.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria imensamente de me concentrar, aqui, apenas nos avanços conquistados pelo Brasil nos últimos anos. No entanto, a realidade para a grande maioria do povo brasileiro ainda continua extremamente dura, marcada por dificuldades e carências de toda espécie. E a PNAD também evidenciou essa triste face do nosso País. Entre os índices que mais me preocuparam estão os relativos ao trabalho infantil.
De acordo com a PNAD, em 2005 o trabalho infantil voltou a crescer no Brasil depois de 13 anos em ritmo de redução, o que, obviamente, acendeu uma luz amarela para todos nós que estamos nessa luta há tanto tempo. De 2004 para 2005, cerca de 202 mil crianças de 5 a 14 anos passaram a trabalhar no País, ocasionando um aumento de 10,3% do indicador nessa faixa etária.
Para os especialistas, esse fenômeno pode atrapalhar a meta de erradicar as piores formas de exploração da mão-de-obra de crianças e adolescentes, com a qual o Brasil se comprometeu ao ratificar, no ano 2000, a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, a OIT. Vale lembrar que o Brasil se tornou referência mundial no combate ao trabalho infantil justamente por estar conseguindo, desde 1992, reduzir os índices de exploração da mão-de-obra de crianças e adolescentes em decorrência da intensa mobilização da sociedade civil e também por conta da adoção de estratégias acertadas, como o PETI e outros programas de transferência de renda.
Segundo a PNAD, o aumento de 10,3% no número de crianças ocupadas de 5 a 14 anos de idade foi influenciado principalmente pela crise no setor agrícola. Isso porque mais famílias precisaram recorrer à mão-de-obra de seus filhos para ajudá-las a aumentar a produção no campo.
Tal constatação é um desafio para todas as pessoas empenhadas em melhorar as condições de vida das nossas crianças e adolescentes. Os dados da PNAD revelam, mais uma vez, que o enfrentamento de problemas como o trabalho infantil não é uma tarefa simples. Pelo contrário. Trata-se de uma missão complexa, que deve envolver vários atores, da sociedade e do Poder Público, em diversas áreas.
Precisamos urgentemente rever as estratégias governamentais de combate à questão, como o PETI e o Bolsa-Família e melhorar os mecanismos de integração dos dois programas, bem como seu instrumento de fiscalização. O PETI, por exemplo, necessita de ampliação e de uma revisão em sua focalização. Atualmente, sabemos que o programa beneficia aproximadamente 1 milhão de crianças. No entanto, o número de meninos e meninas entre cinco e 15 anos que estão trabalhando hoje no Brasil chega a cerca de 2,7 milhões.
Sabemos ainda que não adianta apenas incluir essas crianças em programas como o PETI. Precisamos agregar ao PETI e a outros programas, como o próprio Bolsa-Família, estratégias de geração de emprego e renda para suas famílias, oferecendo ferramentas concretas para que elas possam viver com mais dignidade.
A escola que essas crianças freqüentam, bem como as atividades extracurriculares previstas pelo PETI na chamada Jornada Ampliada, também devem ser mais atraentes, criativas e realmente de boa qualidade, o que, infelizmente, ainda não está acontecendo. Precisamos também melhorar os mecanismos de fiscalização do trabalho infantil em todo o País, tanto na área urbana quanto na rural, e investir em campanhas educativas sobre essa questão, pois ainda hoje existem pessoas no Brasil que consideram normal a exploração da mão-de-obra de crianças e adolescentes. É fundamental que todos entendam que toda criança tem direito a brincar e a estudar.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, embora a PNAD tenha registrado que o Brasil vem obtendo importantes conquistas no campo educacional, como a universalização do ensino fundamental e o aumento da escolarização entre as crianças de cinco e seis anos, vemos que não avançamos quase nada em ações como a ampliação do acesso dos jovens à escola e o combate ao analfabetismo.
Pelo segundo ano consecutivo, a PNAD mostra que há um pequeno aumento no número de brasileiros entre 15 e 17 anos que não estudam. Esse indicador estava em queda desde 1993, quando estava em torno de 38,1%, até 2003, quando ficou em 17,6%. Em 2005, chegou a 18%, o que significa que, no ano passado, 1,9 milhão de pessoas nessa faixa etária estavam fora da escola. Esse dado se torna ainda mais preocupante quando olhamos para outro indicador: o que mostra que 30% dos jovens nessa idade trabalham e, que, em geral, essa atividade é de baixa remuneração. Resultado: esses adolescentes estão perdendo a oportunidade de estudar e de, portanto, melhorar, no futuro, sua inserção no mercado de trabalho.
Isso é grave, Srªs e srs. Senadores, precisamos fazer com que esses jovens voltem para a escola. E essa escola tem que ser realmente um ambiente moderno, dinâmico e mais agradável para nossos adolescentes. Além disso, temos que pensar em estratégias de incentivo financeiro a esses jovens para que eles possam trocar o trabalho mal remunerado pelos bancos escolares. Por fim, temos que olhar com mais atenção para o problema do analfabetismo, que, embora esteja em queda no País, verificamos que essa redução tem tido um ritmo bem mais lento do que gostaríamos.
Recentemente, o Governo Federal reviu o prazo da meta para erradicar o analfabetismo, transferindo-o de 2007 para 2010. Estimativas da Rede de Monitoramento Amiga da Criança, feitas a partir de dados do IBGE, indicam que o Brasil pode chegar a 2015 com 5% da população sem saber ler nem escrever.
Os especialistas sustentam que, para mudar esse quadro, será necessário investir tanto na alfabetização de jovens e adultos quanto em toda a extensão da Educação Básica, o que exigirá maior aporte de recursos para a área educacional. Portanto, nesse ponto uma ação fundamental é implantarmos logo o Fundeb. Sabemos que a erradicação do analfabetismo, especialmente entre as mulheres, tem impacto direto nas condições de vida das crianças e adolescentes.
Além das ações voltadas aos 15,7 milhões de analfabetos absolutos existentes, conforme dados da PNAD 2005, organizações da sociedade civil destacam que o Brasil não irá cumprir a meta se não investir também no atendimento aos analfabetos funcionais e na melhoria da qualidade do Ensino Fundamental. Em 2004, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais 200, do IBGE, 24,4% da população não possuía sequer a 4ª série completa.
Já a avaliação feita pelo exame nacional Prova Brasil revela que as nossas escolas estão formando o que os especialistas chamam de “analfabeto escolar”. O estudo mostra que os jovens não conseguem entender estruturas mais complexas de linguagem e têm dificuldades em decifrar palavras pouco usuais e de compreender textos mais complicados. Em matemática, não conseguiam fazer operações de multiplicação e divisão com dois algarismos. Alunos de 4ª série não conseguiam sequer identificar as horas em um relógio de ponteiro.
Portanto, Sr. Presidente, Srªs e srs. Senadores, o desafio de construir um Brasil mais justo, mais desenvolvido e com mais oportunidades para todos é imenso. E essa luta precisa ocupar lugar prioritário na agenda pública do País. Lamentavelmente, os últimos meses foram contaminados pelo mar de denúncias de corrupção e pelas disputas políticas que marcaram todo o processo eleitoral.
Temos que continuar, sim, sendo implacáveis com os desmandos e com os desvios do dinheiro público. No entanto, precisamos voltar nossos olhares, nossa dedicação e nossa determinação para as questões que, de fato, podem transformar, para melhor, a vida da população brasileira. O Congresso Nacional não pode ser uma mera delegacia de polícia! O Parlamento brasileiro precisa se aproximar do Brasil real para que possa, finalmente, desempenhar o papel de ser o palco dos mais importantes debates nacionais e da busca de soluções para os principais problemas brasileiros.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.