Discurso durante a 172ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Agradecimento à postura de solidariedade demonstrada por colegas senadores, no que diz respeito às denúncias de envolvimento de S.Exa. no caso das "Sanguessugas".

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. SAUDE.:
  • Agradecimento à postura de solidariedade demonstrada por colegas senadores, no que diz respeito às denúncias de envolvimento de S.Exa. no caso das "Sanguessugas".
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2006 - Página 32794
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. SAUDE.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, NEGAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, AGRADECIMENTO, RECEBIMENTO, APOIO, SENADOR, COMENTARIO, RESTRIÇÃO, DIREITO DE DEFESA, EXPECTATIVA, PROXIMIDADE, JULGAMENTO, POSSIBILIDADE, RENUNCIA, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), SENADO.
  • DIFICULDADE, ORADOR, QUALIDADE, RELATOR, REJEIÇÃO, PROJETO, HELOISA HELENA, SENADOR, PROPOSIÇÃO, RETIRADA, LIMITAÇÃO, DESPESA, HOSPITAL, HOSPITAL ESCOLA, REGISTRO, IMPOSSIBILIDADE, MOTIVO, FALTA, RECURSOS.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo, há doze anos, o cargo de Senador nesta Casa e tenho visto, nesses doze anos, uma evolução da nossa Casa.

São 81 Senadores. Alguns chegam aqui quase se colocando na posição de príncipes da República; outros chegam com mais humildade e mais imbuídos dos trabalhos difíceis que temos de enfrentar no dia a dia, porque são muitos os planos, e é muito difícil implementá-los.

Quem vem da área privada, como eu, choca-se um pouco com a velocidade diferente da engrenagem na área legislativa. Para mim, ainda havia um agravante. Vim sem ter a experiência de ter sido Vereador, Prefeito, Deputado Estadual, Deputado Federal ou Governador. Vim direto para o Senado.

Não posso deixar de afirmar que a adaptação foi difícil. Eu saía de uma área - duas empresas - em que eu dizia para as coisas serem de um jeito, e tudo ocorria na hora e no momento. Aqui, relatávamos ou elaborávamos uma lei, cujo trâmite demorava enormemente.

Tudo é compartilhado. As matérias passam por muitas áreas. Mesmo assim, nesses doze anos, fui Presidente da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização e da Comissão de Assuntos Econômicos - a mais importante do Senado - e Presidente, por duas vezes, da Comissão de Fiscalização, Ministro de Estado, Líder do PMDB e Líder da Maioria.

Por que não fazer esta afirmação? De repente, a minha vida era política, política e política. Aí vem a turbulência desse caso todo de acusações, as quais eu não entendia por que estavam ocorrendo, porque eu não tinha relação com aquilo.

Senadora Heloísa Helena, por 150 dias, só ouvi acusações, sem direito à defesa. Quando as acusações ficaram claras, quando se concretizaram, num relatório - lê-se à página 17 -, “não há sequer indícios”, “não há sequer indícios”, mas, à página 18, havia “mas o sistema que estamos vivendo é um sistema que está em decadência, está em decomposição; é preciso exemplificar”, aí se pedia a pena máxima.

O mais interessante, razão por que estou ocupando hoje esta tribuna, é que, durante esse período, eu recebi reações as mais diversas no Senado; muita solidariedade, muita. Algumas pessoas ficaram com o “pé atrás”. Será que é verdade? Será que não é verdade? Mas me surpreendeu a solidariedade de muitos Senadores com quem eu nem tinha maiores ligações.

Hoje pela manhã, pela terceira vez, eu recebi telefonema de um deles, evangélico, só para dizer: “Senador Ney, estou lhe ligando que eu queria orar com o senhor”. Eu sou católico, e ele, evangélico - e ele o sabe. Mas, pela terceira vez, ele liga sem ter outro assunto a não ser o de pedir a Deus, de orar.

Isso me comoveu muito e mostrou para nós, pessoas que vivemos numa realidade fria, dura, enfrentando problemas, enfrentando adversidades, enfrentando assuntos que gostaríamos de resolver de imediato, como o da violência, como o da pobreza, como o da saúde - que não são fáceis -, que há pessoas ainda preocupadas com o próximo.

Senadora Heloísa Helena, sei que V. Exª é uma pessoa religiosa, mas me tocou profundamente esse fato, principalmente quando, juntamente com a oração que pedia para eu repetir, ele disse: “Vamos também pedir pela família Vedoin”. Aí, ele citou uma passagem da Bíblia que me deixou assim perplexo. Ele disse: “Quando os judeus foram libertos do Egito, Deus disse que iria endurecer o coração de Faraó para que ele pudesse ver a glória de Deus derrotando o exército”, e houve aquela passagem do Mar Vermelho.

Depois que terminou a oração, eu disse: “Olha, amigo, fico muito sensibilizado, mas fiquei perplexo de vê-lo fazer uma oração para essas pessoas”. Ele dizia: “Não, nós precisamos fazer. Nós precisamos fazer, porque isso tudo são ensinamentos que nós passamos”.

E fiquei matutando nisso até hoje, o dia todo, razão pela qual estou ocupando a tribuna para dizer que realmente não há mal que não venha para um bem. Começamos a ver outras dimensões. Nós políticos, que vivemos os dias todos envolvidos com política, com todas as nuances, com essas catracas da política, com todos esses problemas, vamos ficando pessoas chatas, porque não temos outro assunto que não política. De repente, vemos que há um mundo muito mais amplo, que precisa de atenção em outras vertentes.

É exatamente sobre este assunto que quero falar da tribuna: precisamos olhar não só pelo lado da política. As pessoas em nosso País precisam ser vistas não como números, mas como pessoas que precisam ter cuidado de uma outra ordem, cuidados com outras nuances.

            Eu conversava há pouco com outro Senador e falava das necessidades do nosso Nordeste. Para o nosso Nordeste, quando chega época de eleição, aparecem todas as soluções; se analisam todos os problemas, todas as soluções são elencadas, são revistas e, imediatamente, vão ser todos solucionados em curtíssimo prazo. Acabou-se a eleição, começa a morosidade das tomadas de decisão, até porque existe uma relação de prioridades que são espécies de “escolhas de Sofia”.

Há dias fui obrigado a relatar um projeto de autoria de V. Exª, que retirava, Senadora Heloísa Helena, o teto de gasto dos hospitais, principalmente os universitários. Analisei o projeto com muita tristeza, porque V. Exª estava coberta de razão. Realmente, seria bom se pudéssemos permitir que os hospitais, principalmente os universitários, pudessem gastar tudo o que precisassem. Mas as prioridades não o permitem, o planejamento não o permite, e, por essa razão, tive de ser contrário ao pedido de V. Exª.

Como me doeu a alma ver que um País pujante como o nosso não pode deixar o teto livre para um hospital universitário, porque a nossa área de saúde não tem os recursos - ou gasta os recursos de modo indevido - para atender, inclusive, a área de ensino.

São por nuances como essa que devemos deixar o lado político mais de lado e procurar ver, com pragmatismo, quais são as áreas prioritárias que não podemos deixar de atender.

Ocupo hoje a tribuna desta Casa para dizer da minha gratidão aos companheiros que mostraram toda a sua solidariedade e, inclusive, a sua indignação ao ver que podemos, de uma hora para outra, ser massacrados por 150 dias, sem direito à defesa.

Tratava-se de um assunto que me trouxe vários conhecimentos. Eu não entendia o que estava se passando e falava sobre o caso para minha equipe de campanha. Um sociólogo disse-me: “Senador, o senhor está vivendo um fenômeno que, em Sociologia, chamamos de agenda sete”. Eu dizia: “Não entendo o que quer dizer agenda sete”. Disse-me ele que, da mesma forma que existe a escala Richter para medir tremores de terra, na área sociológica, quando há um tumulto sociológico, quando uma sociedade se revolta, a medição é feita em agendas.

Por exemplo, quando a França venceu a Primeira Guerra Mundial e a Alemanha foi derrotada, a sociedade alemã viveu uma agenda sete, uma revolta tal, que fez surgir Hitler. Quanto ao caso Watergate, Nixon ganhou, mas a revolta da sociedade americana foi tanta que ele teve de renunciar. Agenda sete. Quando aconteceu o caso dos “mensaleiros”, esperava-se a cassação de 25, mas foram cassados três. A imprensa, porta-voz da sociedade, imediatamente entrou numa agenda sete. Para meu azar, eu era a figura de maior destaque no caso seguinte e passei a viver uma agenda sete. Nem adiantava eu dizer que não estava envolvido, porque não havia respostas. Chegaram a ponto de dizerem coisas que nunca se passaram. Disseram que um genro meu havia recebido dinheiro. Tenho três filhos homens solteiros. Não tenho genro algum. Mas a imprensa dizia o que queria.

Aproxima-se o dia nove, quando será realizada a votação. Minha licença do cargo de Líder da Maioria e Líder do PMDB acabou. Eu devia assumir o cargo, mas não quero fazê-lo enquanto não houver o julgamento. Se o julgamento for favorável a mim, volto a assumir a Liderança; se for contrário, renuncio a Liderança.

Quero deixar isso bem claro para mostrar o que penso e como ajo e que, para mim foi realmente um fato inusitado, mas, como Jó, aguardo os desígnios de Deus, que, com certeza, sabe muito mais do que nós.

Ao finalizar, mais uma vez, agradeço a esse companheiro que, entre tantos outros, teve o carinho de sempre me ligar para fazer orações e me dar o conforto espiritual.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2006 - Página 32794