Discurso durante a 172ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise do resultado das eleições no estado de Roraima.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Análise do resultado das eleições no estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2006 - Página 32797
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, ESTADO DE RORAIMA (RR), MINORIA, ELEITORADO, BRASIL, JUSTIFICAÇÃO, FALTA, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, APLICAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, CRITICA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MELHORIA, REGIÃO.
  • COMENTARIO, RESULTADO, ELEIÇÕES, PRIMEIRO TURNO, ESTADO DE RORAIMA (RR), VITORIA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ELEIÇÃO, EX GOVERNADOR, AGRADECIMENTO, POPULAÇÃO, REELEIÇÃO, ORADOR, EXPECTATIVA, PROXIMIDADE, GOVERNO, EXTINÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, MELHORIA, EFICACIA, CONTROLE, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este é o meu primeiro pronunciamento após as eleições do dia primeiro de outubro. Estou até meio disfônico de tanto discurso, de tanto comício, de tanta reunião, mas quero falar hoje, Srª Presidente, para fazer uma análise das eleições no meu Estado.

            É o Estado com o menor eleitorado e que, por isso mesmo, tem sido desprezado pelos candidatos. Basta dizer que o candidato Lula não foi lá, nem quando foi eleito a primeira vez e assumiu, nem durante os quatro anos na Presidência, nem agora na campanha. V. Exª esteve lá, da mesma forma que esteve lá o candidato Geraldo Alckmin. É importante fazermos uma análise.

Quando eu ouço, por exemplo, em manifestações recentes, o atual Presidente dizer que quer desenvolver o Norte, que quer acabar com essas desigualdades regionais, sinto uma indignação muito grande, porque no Estado de Roraima o dinheiro federal aplicado durante o Governo Lula resultaram de emendas parlamentares. Portanto, nada partiu da iniciativa do Poder Executivo, não há uma obra do Governo Lula no meu Estado, que é menos desenvolvido, mais ao extremo-norte do País. Mesmo assim, tem merecido isso: foi o Governo que realmente mais virou as costas para o meu Estado e para a Região Norte como um todo. Vê-se, pela propaganda que faz, que é tão pequeno o que ele fez pela Região Norte diante da grandeza dela, que é lamentável que, ainda assim, ele tenha recebido votos em alguns Estados daquela região.

Mas quero aqui comentar, com satisfação, a votação que o meu povo de Roraima me deu nas urnas. V. Exª acompanhou aqui o meu trabalho, lutando, dando “n” sugestões ao Presidente Lula quanto à questão da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol; depois, aqui, reivindicando a instalação das áreas de livre comércio de dois municípios fronteiriços, Bonfim e Pacaraima; reivindicando também a importação da gasolina e do diesel da Venezuela, uma vez que, mesmo pagando todos impostos, teríamos esses combustíveis em Boa Vista pela metade do preço. E nunca conseguimos alcançar nosso objetivo, apesar de mostrarmos isso com muita clareza e com todas as nossas forças.

Penso que o povo entendeu que o Presidente Lula realmente não dá bola para um eleitorado pequeno. E ele só esqueceu que cada eleitor de Roraima pode conquistar mais quatro em outros Estados. Eu mesmo tenho parentes que moram no Pará, em número superior a sete, e pedi aos sete que votassem contra o Presidente Lula, pelo tratamento que ele deu ao meu Estado.

Portanto, se cada um dos eleitores de Roraima fizer isso, poderemos fazer uma grande diferença.

Que números vimos sair das urnas? Lula, 26,15% - vejam bem, ainda foi muito para quem fez todas essas maldades e não foi ao Estado; Alckmin, 59,73%. V. Exª, Srª Presidente, que esteve lá, digamos, andando a pé pelo Estado, obteve 11,66%. Conversando com V. Exª antes, pediu-me que transmitisse ao povo de Roraima os agradecimentos pelo carinho com que foi recebida.

Se somarmos a votação de Geraldo Alckmin com a de V. Exª, veremos que o povo de Roraima deu mais de 70% de votos contra o Presidente Lula. Ele deve entender essa mensagem, caso seja reeleito - o que espero não aconteça. Mas se acontecer, que ele comece a olhar os Estados de maneira federativa, de maneira menos ideológica, menos ligada a um viés em que resolveu engessar a Amazônia, paralisá-la. Aí está o projeto de gestão de florestas; está caminhando uma idéia de se autorizar exploração de reservas minerais em terra indígenas por conglomerados internacionais, já levantando todo o débito do DNPM. Com essa análise da votação para Presidente da República, nós concluímos que o povo de Roraima é realmente sábio porque não somente deu essa resposta ao Presidente Lula, como também reelegeu Ottomar Pinto, que foi Governador quando Roraima ainda era Território. Ele preparou as bases do Território para transformá-lo em Estado; veio para cá como Constituinte - ele, a esposa, o ex-Deputado Chagas Duarte e eu trabalhamos para que na Constituinte constasse a transformação de Roraima e Amapá em Estados. Foi assim feito. E o Governador Ottomar foi eleito o primeiro Governador de Roraima. Preparou o Estado para avançar dentro desta nova realidade. Assumiu este Governo que se encerra em dezembro pela metade, porque um resultado favoreceu temporariamente seu concorrente, que depois teve o mandato cassado pelo TSE. Pois bem, ele assumiu pela metade e foi reeleito agora com 62,40% dos votos; portanto, com uma vitória inquestionável, enquanto o seu opositor, líder do Governo Lula, teve 30,64% dos votos. O Governador Ottomar teve 62,40% e o seu opositor, líder do Governo Lula, para quem Lula pediu voto, teve apenas 30,64% dos votos. Nesse caso também, o povo de Roraima soube claramente escolher o melhor! E decidiu em favor de quem tem experiência, de quem tem competência e de quem tem capacidade para administrar o Estado e, sobretudo, quem é honesto.

Agora quero comentar a eleição para Senador. Uma vaga só, e eu, candidato à reeleição. Toda reeleição é complicada, principalmente para um mandato longo como o de Senador, de oito anos.

O Senador não é executivo, portanto, o povo não vê o que o Senador faz; é até mais complicado do que reeleição para Deputado Federal. Depois de oito anos, reeleger-se é muito difícil, muito difícil mesmo. Fui Deputado Federal, fui reeleito Deputado Federal; vi a dificuldade de ser reeleito Deputado Federal. Vi agora a dificuldade de ser reeleito Senador, e ser reeleito, enfrentando uma ex-prefeita - ela renunciou na metade do mandato - que já tinha sido prefeita por dez anos da Capital do Estado, que responde por 66% do eleitorado e com um trabalho intensivo de mídia e de marketing. Portanto, começamos, vamos dizer assim, a disputa, ela com 60% e eu com algo em torno de 20%. Os meus amigos mais íntimos me aconselhavam a não enfrentá-la, a me eleger Deputado Federal ou até articular ser vice-Governador. Mas resolvi enfrentar porque acredito que é possível, neste País, se fazer política de maneira honesta, se fazer política de maneira séria, se fazer campanha sem usar milhões de reais para se eleger.

Sou médico e aprendi a confiar nos seres humanos. Aprendi, como diz o Alckmin, a lidar com gente, a tratar de gente. Por isso mesmo, com essa coragem, fui para a batalha, com o apoio do Governador - quero aqui frisar -, que foi um companheiro que, politicamente, me deu o respaldo indispensável à minha eleição, a dos Deputados Federais e dos Deputados Estaduais da nossa coligação. Esse trabalho foi crescendo, crescendo, e o que antes era 20% contra 60% inverteu-se, ao final da eleição, em 55,29% para mim e 42,10% para a minha adversária, que é esposa do líder do Governo Lula, para quem o Presidente Lula gravou mensagem pedindo voto. Então eu me sinto duplamente honrado. Primeiro, pelo reconhecimento do meu povo de Roraima; segundo, pelo apoio de todas as pessoas com liderança, com mandato ou sem mandato. E o entendimento de que efetivamente Roraima é um Estado pequeno, mas não é burro; é pequeno, mas tem que ser respeitado. Assim, demos essa resposta.

Espero merecer a confiança que me foi renovada pelo povo de Roraima. Vou lutar, como lutei nesses oito anos, para que a Amazônia seja olhada de maneira diferente, que não seja ditado de fora do Brasil o que se deve fazer na Amazônia; que não seja considerada a Amazônia apenas o quintal dos Estados Unidos. Não se pode esquecer que milhões de pessoas moram lá; que nós somos os brasileiros que guardamos as fronteiras desta Pátria lá na Amazônia. Vou continuar nesta luta, vou continuar brigando por justiça; vou brigar principalmente para que sejam eliminadas as desigualdades regionais de fato e não só na conversa. Tenho projetos importantes nesse sentido que já foram aprovados no Senado e que estão na Câmara dos Deputados.

Eu me sentiria frustrado se não continuasse no Senado, e esses projetos serem perdidos no meio do caminho.

Quero também comentar a eleição dos Deputados Federais. A nossa Bancada Federal é, segundo a Constituição, das menores - como outros Estados: são oito Deputados Federais. Dos oito, a nossa coligação elegeu cinco Deputados Federais; deixamos de fazer o sexto por muito pouco. Portanto, fizemos uma campanha consagradora e não fizemos nada de especial, a não ser dizer a verdade, mostrar para a população o que realmente acontecia, o que está acontecendo e como age o Governo Lula com o nosso Estado. Com isso, tivemos, por exemplo, a eleição do ex-Governador Neudo Campos, que foi o mais votado para Deputado Federal; do jornalista Márcio Junqueira, que teve uma rádio e uma televisão, em que ele trabalhava e era um dos associados, tomadas pelo irmão da ex-prefeita que concorreu ao Senado; foi reeleito o Deputado Luciano Castro; foi reeleito o Deputado Chico Rodrigues; e eleito o Deputado Estadual Urzenir Rocha, que é médico, portanto um homem que tem bastante experiência em lidar com pessoas e que também como político já se notabilizou como Deputado Estadual.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como diz o ditado popular, hoje eu me sinto de alma lavada e enxaguada.

A nossa população chegava a pensar: será que Roraima vai continuar sendo o quintal de Brasília, como acontecia na época em que era Território Federal, quando o Ministério do Interior dizia quem ia ser o Governador e quais programas seriam desenvolvidos naquela região? De repente, ficamos diante de um quadro em que, das três cadeiras do Senado, duas seriam ocupadas por um casal, mas o povo disse não. Isso me deixa muito feliz como roraimense, como homem que nasceu ali, e disposto a lutar ainda mais por Roraima, pela Amazônia e pelo Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2006 - Página 32797