Discurso durante a 172ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à matéria intitulada "Cooperativa do Sr. Lorenzetti quebra no Estado do Pará". Considerações sobre o debate realizado ontem entre os candidatos à Presidência da República, Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva. A fiscalização das ONGs.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Comentários à matéria intitulada "Cooperativa do Sr. Lorenzetti quebra no Estado do Pará". Considerações sobre o debate realizado ontem entre os candidatos à Presidência da República, Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva. A fiscalização das ONGs.
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2006 - Página 32827
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, INTERNET, AUMENTO, DESCOBERTA, IRREGULARIDADE, AUTORIA, SERVIDOR, PROXIMIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REU, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, ADVERSARIO, ELEIÇÕES, ESPECIFICAÇÃO, FALENCIA, COOPERATIVA, FRUTA, ESTADO DO PARA (PA), RECEBIMENTO, RECURSOS, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), BANCO DA AMAZONIA S/A (BASA), ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, ERRO, DADOS, PROMESSA, IMPORTAÇÃO, ALIMENTOS.
  • ELOGIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EXAME, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, FALTA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, CONLUIO, CONCESSÃO, RECURSOS, TROCA, FAVORECIMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), JUSTIFICAÇÃO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE.
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), POSTERIORIDADE, PRIVATIZAÇÃO, REGISTRO, OPOSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • QUESTIONAMENTO, GOVERNO FEDERAL, ENTREGA, EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES S/A (EMBRATEL), EMPRESA ESTRANGEIRA, MEXICO, CRITICA, SUPERIORIDADE, JUROS, AFASTAMENTO, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Antonio Carlos, eu tinha um pronunciamento mais ou menos delineado para trazer a esta tribuna, mas fui surpreendido com uma notícia fantástica, às 16 horas e 09 minutos, do Estadão on-line: “Cooperativa ligada a Lorenzetti quebra no Pará”. Veja o nome: Amafrutas. É muito amor do Sr. Lorenzetti. Esse é um homem de mil instrumentos: churrasqueiro, tira, Sherlock Holmes, carregador de dinheiro, dono de cooperativas, assessor de jogo do bicho para obter sua legalização.

E agora, Senador Antonio Carlos, o Lula foi inaugurá-la. A cooperativa anterior ao atual Governo já existia: Amafrutas. E aí foi comprada. O Presidente da República vai ao Pará, há uma desconfiança sobre a invasão estrangeira naquele projeto, que, inicialmente, era só para plantar maracujá - que por sinal é calmante - e o Presidente Lula, naqueles seus discursos convincentes, diz que ninguém se preocupe, porque aquele estrangeiro está indo para lá para ajudar a alavancar o desenvolvimento do Estado do Pará.

A matéria diz, Senador César Borges, que os outros diretores estão desaparecidos e que do Pronaf, que originalmente foi criado para emprestar dinheiro para os pequenos produtores, a Amafruta recebeu R$15 milhões, fora os débitos do Banco Basa.

Senador Antonio Carlos, diria o velho Rodrigo Cambará, lá do Rio Grande do Sul: “Mundo Velho sem Porteira”; Erico Veríssimo: “Mundo Velho sem Porteira” é esse. Mais um! Amanhã vamos ter discurso aqui, porque há pessoas com ligações estreitíssimas nesta Casa com o Sr. Lorenzetti.

Aliás, quero dizer que recebi uma correspondência - e estou até pedindo desculpa - dos proprietários da fábrica de chuveiro Lorenzetti, revoltados por estarmos fazendo comparações. Eles dizem que a empresa é honrada, tem quase 50 anos de bons serviços ao País e que não aceitam essa comparação, porque ela, inclusive, está trazendo prejuízos ao seu produto, o chuveiro, que é de boa qualidade. De público, já peço desculpas aos Srs. Lorenzetti, mas a água do homem aqui está pegando fogo e vai pelar gente.

Senador Antonio Carlos, imagine se a Abin funcionasse e desse informações ao Presidente do que acontece. Não precisava nem ir para a Esplanada dos Ministérios, porque é longe. Se desse informações ao Presidente do que ocorre ao seu redor...

Aliás, vou confessar, Senador César Borges, que, hoje, tenho um sonho de consumo e um dia vou conseguir: comer um churrasquinho desse Sr. Lorenzetti. Ele deve ser muito competente e capaz! Conquistou o Presidente pela boca, e aí cofres são abertos e ele está fazendo um pezinho de meia. ONGs ligadas a ele no Paraná são doadoras de campanha. Doaram recursos na campanha de 2002 e agora na de 2006. É um homem de mil instrumentos. Só não quero proximidade porque todo churrasqueiro tem aquela faca amolada e ele pode estar irritado comigo.

Meu caro Senador César Borges, que vergonha!

Era preciso, Senador Roberto Saturnino, que o Presidente Lula mandasse examinar, por exemplo, o projeto. Lembra-se daquela vez que o Presidente chorou, lá no interior do Piauí, porque teve saudades da mãe e fez uma confidência no avião, que, depois, estourou, foi divulgada e ele se zangou com o então Deputado que era contra ele?! Aquelas coisas de intimidade?! Pois ele foi lançar, naquela ocasião, o biodiesel dele. E foi trazida para esse projeto uma empresa de São Paulo, empresários já de muitas atividades. E os empresários, Senador César Borges, todo mês, iam duas, três vezes, ao Piauí, em jato particular. Imagine um projeto de biodiesel pagar vôo de jato. Não deu outra. Está lá, teve problema. Já se sabe que a mamona não é o mais recomendável. Ele vai para a televisão e enche a boca do biodiesel. E, agora mesmo, lá no Piauí, ele falou do biodiesel da mamona.

Seria bom que se examinasse quanto, em termos de recursos, o Presidente, no seu Governo, enviou para esse projeto.

Mas quero me congratular com a Amafrutas. Ela vai fazer muito sucesso no País nos próximos dias, Senador Roberto Saturnino.

E já que estamos falando de fruta, que é alimento, não sei se passou despercebido pelos Srs. Senadores a desenvoltura com que o Presidente Lula se portou, ontem, no debate. Eu quero confessar que não acredito nessa versão de que o Presidente estava com ponto eletrônico. Seria muita coragem! O Presidente está é treinado para ler texto. Quando sai do texto, realmente, é um desastre.

Quando ele disse, em determinado momento do debate, falando sobre saúde, que, no seu Governo, atenderam-se a 500 mil pessoas para tratamento dentário por telefone, eu imagino como o mundo inteiro ficou, querendo saber que tecnologia nova é essa, descoberta no Brasil, no Governo do atual Presidente! Não sei ainda, meu caro Azedo, como se consegue um tratamento de 500 mil pessoas por telefone. Podem ter sido 50 mil e, na pressa de ler, ele errou por um zero; mas, mesmo assim, é muita gente.

Senador Antonio Carlos Magalhães, o Presidente Lula se empolgou e, num determinado momento do debate com Geraldo Alckmin, disse que, se houvesse problema de aumento de preço dos alimentos - e citou uma relação -, ele resolveria com importação. Imaginem, senhores do Brasil que estão assistindo à TV Senado, o Presidente da República, num momento como este, prometer importação de alimentos! E o desemprego que isso vai gerar? E o prejuízo que o País terá? Será possível que as experiências anteriores desse tipo de política, pelos prejuízos que deram, não foram suficientes para que esses arroubos não sejam mais repetidos?

Lembro-me, meu caro Azedo, jornalista do jornal Correio Braziliense, aqui presente, daquele filme “Adeus, Lênin!” Acho que essa importação deverá vir da Bolívia, da Venezuela ou de Cuba. Nós, brasileiros, vendo nas prateleiras... Porque é a política de camaradagem ideológica, para ajudar os parceiros.

É uma brincadeira, Senador Roberto Saturnino, promessas como essa feitas pelo Lula. Mas ele acredita que está blindado e é inoxidável, nada pega nele. Outro dia, ameaçou esvaziar a Av. Paulista. Ora, ele precisa se lembrar que a Av. Paulista é povoada por nordestinos, por nortistas, por brasileiros e por estrangeiros que aqui moram e vivem legalmente e produzem para este País.

Senador Tasso Jereissati, V. Exª está chegando agora, mas inteire-se da novidade. O Lorenzetti quebrou, no Estado do Pará, uma cooperativa chamada Amafrutas - ama do verbo amar. Quebrou. Está no Estadão de hoje. Imagine, Senador Tasso Jereissati, não sei como churrasco e maracujá dão certo, mas devia ser alguma complementação desse cardápio que tanto encantou o Presidente da República.

Mas eu não queria falar sobre isso, não. Tive de divagar. Quero falar, Senador Tasso, sobre um assunto de que já venho tratando e que, na próxima semana, vamos levar adiante: a fiscalização das ONGs.

Quero parabenizar três jornalistas que, na revista Exame desta semana, escreveram matéria a respeito. Felipe Seibel e Tatiana Gianini escreveram “ONGs - os novos inimigos do capitalismo”. A segunda matéria é “A Caixa-Preta [das ONGs]”, assinada por Gustavo Poloni, que diz: “Entidades cobram transparência de empresas e governos, mas relutam em abrir suas próprias contas”.

Estou falando isso porque se continua a discutir a famosa ONG Amigos de Plutão. Inspirando-se em uma crônica do jornalista Carlos Chagas, nas primeiras linhas lidas, vê-se que aquela era uma ONG imaginária.

Para mostrar exatamente o desrespeito com que o Governo trata o assunto, resolvi, juntamente com mais alguns amigos, usar Amigos de Plutão para selecionar ONGS que estão recebendo, de maneira muito esquisita e estranha, recursos nestes últimos anos.

Por que, de início, não revelamos nosso objetivo? Porque, na hora em que fizéssemos a ligação dessas ONGs com a Amigos de Plutão, não teríamos mais acesso às informações. Foi só haver o vazamento de que Plutão mora no Palácio do Planalto e de que seus amigos são donos de ONG, que estamos tendo muita dificuldade para obter informações, porque elas estão saindo dos computadores e os dados estão sendo difíceis.

O Lorenzetti, por exemplo, tem ONG; o Lacerda tem ONG. Não quero cometer injustiça, porque uns podem ficar ofendidos por terem ONGs e elas não serem citadas. Por exemplo, o Sr. Bruno Maranhão, que invadiu a Câmara dos Deputados, tem duas ou três ONGs listadas.

Quero lhes dizer que não falarei sobre uma ONG que o Lula tinha antes de ser Presidente, porque, até onde me consta, ela não recebeu recursos públicos. Era uma ONG daquela época em que ele acreditava nas coisas e tinha como parceiro para combater os transgênicos o Sr. José Bové, por exemplo, que apanhou aqui no Brasil. Depois, fez as pazes com os transgênicos e, hoje, ele é um dos carros-chefe do atual Governo. Inclusive, se olharmos os financiadores de campanha, observaremos que os produtores de transgênicos no Brasil foram generosos com o novo PT, aquele que não tem mais estrela ou, quando ela aparece, não tem cor definida: ora é furta-cor, ora aparece com um arco-íris, quando se tem coragem de usá-la!

Esse assunto das ONGs, meu caro Senador Tasso, merece uma limpeza geral, por um motivo muito simples: devemos preservar as ONGs que, no Brasil, prestam inestimável serviço, quer seja de assistência social, quer de preservação de nossas riquezas. No entanto, precisamos evitar, por exemplo, que essas ONGs, muitas vezes importadas, vindas de países com interesses inconfessáveis no Brasil e que passam a manipular somas de recursos consideráveis, infiltrem-se, prejudicando interesses genuinamente nacionais ou de cidadãos brasileiros.

É preciso que essas coisas sejam vistas.

Tenho certeza, Senador César Borges, de que a nossa iniciativa da coleta de assinaturas para a CPI das ONGs foi bem aceita, porque gerou essa matéria muito bem feita na revista Exame.

O número de registros dessas instituições no Brasil é de se assustar.

Conversando com o Senador Antonio Carlos, pedi-lhe para examinar um dado curioso: as ONGs que funcionam onde o PT tem prefeituras ou as ganhou agora. Existem as liberações de recursos feitas no Brasil todo. Temos uma ONG que recebeu dezessete milhões e treinou duzentas pessoas.

Há fatos estarrecedores. Existe uma cidade em Santa Catarina que tem o registro de mais de cem ONGs. Evidentemente, nem todas receberam dinheiro, até porque nem todas são amigas de Plutão. Essas ONGs que estão sendo beneficiadas, em sua maioria, são da intimidade de Plutão. Plutão é generoso, Plutão é bom e é necessário que vejamos, já que falei de Santa Catarina, a farra do boi que se está fazendo com o dinheiro público.

Senador Roberto Saturnino, o Brasil é forte demais, é um País rico, porque agüenta essa máquina trituradora de recursos públicos com grandeza. Como se diz no Nordeste, até verga, mas não quebra e tem agüentado de maneira brava, enquanto cresce 2% ao ano.

Senador Tasso Jereissati, finalizo minhas palavras dizendo que, no fundo de minha alma, de meu coração, lamento que o Partido dos Trabalhadores não possa, hoje, comemorar essa conquista internacional da Vale do Rio Doce, que se tornou a segunda maior empresa na sua categoria, no mundo. No entanto, o PT não vai comemorar porque não vou deixar, uma vez que o Partido foi contrário à privatização dessa empresa, que estava quebrada. Penso até que o Presidente Lula, por coerência, não deve usar os recursos que recebeu, ao longo desse tempo, oriundos dos impostos e dos dividendos gerados pela Vale do Rio Doce e pelas empresas que foram privatizadas. Não deve gastá-los. Trata-se de dinheiro maldito que precisa ser devolvido para, assim, cumprir o seu desejo de reestatizar.

Aliás, sobre isso, penso que ele precisa esclarecer à opinião pública por que, com a falência da MCI americana e a sua devolução para o patrimônio nacional, não fez pelo menos uma empresa-espelho de telefonia e passou a explorar a Embratel. Não, entregou-a para um especulador mexicano altamente arrojado, mas que não é um exemplo de parceria, o Sr. Carlos Slim, em detrimento de empresas nacionais ou já instaladas no Brasil. Da noite para o dia, como por encantamento, entregou a empresa para o Sr. Slim.

Seria bom que os fatos ocorridos nesse episódio fossem colocados às claras: o porquê da opção e por que o Sr. Slim entrou no mercado brasileiro.

O Presidente Lula que me perdoe, mas quero parabenizar aos que fazem a Companhia Vale do Rio Doce. Apesar do desprezo que o Governo tem por esta Companhia, ela conseguiu, em cinco ou seis anos, sair da situação de dificuldade em que se encontrava - uma administração estatal pesada, sem agilidade - para ser, hoje, não só uma empresa lucrativa, mas arrojada.

Quanto aos investimentos, Senador Roberto Saturnino, o Presidente Lula precisa lembrar-se de que o seu Vice-Presidente, José Alencar, um grande empresário e o maior produtor do setor têxtil brasileiro - cujos negócios são tocados atualmente pelo seu filho, também um empresário sério e arrojado -, cresceu muito no Governo Fernando Henrique, transformando-se, assim, no maior industrial do setor têxtil do Brasil. Aliás - pena que não haja ninguém do PT aqui presente -, eu gostaria de saber se o Presidente Lula pagou aquelas camisetas que ficou devendo à empresa. Senador Tasso Jereissati, V. Exª, que é bem informado, tem notícia se o PT pagou ao Vice-Presidente José Alencar aquela conta relativa às camisetas encomendadas na campanha passada? Esse assunto foi, inclusive, matéria de jornal; foi um escândalo! Disseram até que aquele dinheiro do valerioduto era para pagar as camisetas. Enfim, ninguém sabe.

Pois bem, o Presidente Lula fala em investimentos. A Vale do Rio Doce está investindo no exterior porque, no momento, pelo preço do dólar, o Brasil não oferece vantagem. E o Vice-Presidente, comprou, há dois anos, uma fábrica nos Estados Unidos e, desde ontem, os jornais anunciam um investimento na China. É realmente fantástico! Aliás, o Presidente Lula precisa dar outra explicação ao País sobre se ele já chegou a um acordo com o José Alencar por conta dos juros. Chegaram a brigar em determinado momento, porque o José Alencar, coerente, firme, combatia os juros, e o Lula, para honrar o compromisso feito com os banqueiros naquela “carta ao povo brasileiro”, insiste em fazer um governo para banqueiros.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, enquanto uns amam fruta eu quero amar o Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2006 - Página 32827