Discurso durante a 168ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de louvor ao economista Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen e defensor do microcrédito, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Voto de louvor ao economista Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen e defensor do microcrédito, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2006 - Página 31149
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CONCESSÃO, PREMIO, AMBITO INTERNACIONAL, PAZ, ECONOMISTA, PAIS ESTRANGEIRO, BANGLADESH, INICIATIVA, CRIAÇÃO, BANCOS, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, DIVULGAÇÃO, MUNDO, DIRETRIZ, CREDITOS, OBJETIVO, INCLUSÃO, CIDADANIA, DETALHAMENTO, EXPERIENCIA, INCENTIVO, PRODUÇÃO, RENDA, EMPREGO.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, BRASIL, INFERIORIDADE, CREDITOS, POPULAÇÃO CARENTE, CRITICA, EMPRESTIMO EM CONSIGNAÇÃO, APOSENTADO, SUGESTÃO, SENADO, CONVITE, VISITA, BANQUEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, BANGLADESH.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Papaléo Paes; Srªs e Srs. Senadores, sou um homem de sorte, porque foi reconhecida a justeza dos meus dois requerimentos - um endereçado à Real Academia de Ciência da Suécia com um voto de louvor e o outro endereçado a Muhammad Yunus -, e antes mesmo que eu viesse a esta tribuna recebeu a solidariedade de um homem público muito sensível, o Senador Mão Santa, que se antecipou ao autor dos dois requerimentos para emprestar-lhe a sua solidariedade, com muito brilho, o que muito me deixa satisfeito.

É preciso dizer alguma coisa, Senador Papaléo Paes, porque é a primeira vez que assisto a isso. Tenho visto a Real Academia de Ciências da Suécia conceder a pessoas que militam nos diversos ramos da atividade humana os prêmios que ela julga merecer aqueles que são benfeitores da humanidade ou que procuram ajudar a humanidade, seja na Literatura, seja nas Ciências, seja no combate às doenças, em suma, em todas as atividades. Neste ano, Senador Mão Santa, a Academia foi mais longe e deu um prêmio a quem lutou para a paz e escolheu para isso um economista que, durante muitos anos, vem estudando a situação dos excluídos da verdadeira cidadania, que é Muhammad Yunus, fundador de um banco, de uma bem-sucedida instituição de microfinanciamento em Bangladesh.

Esse homem esparramou sua idéia pelo mundo. Está correndo o mundo. Há tentativas em vários países do mundo. Em verdade, é preciso entender que só haverá paz no dia em que acabarmos com a pobreza no mundo; mas acabarmos com essa pobreza de forma digna; acabarmos com essa pobreza de forma honrada; reconhecendo os cidadãos, reconhecendo que ninguém tem culpa por ter nascido filho de rico ou filho de pobre. E que esses últimos, os pobres, mais ajuda merecem. E se eles não têm bens de fortuna, se não herdaram, eles precisam viver e sobreviver; eles têm direito ao pão de cada dia. Eles não querem receber esmola, eles querem trabalhar; eles não têm um título de propriedade, mas têm um título de humanidade, têm de ter um título de cidadania. E ninguém é cidadão passando às portas de um banco, de um estabelecimento de crédito sem que possa lá entrar, ou, ao entrar, ser mal recebido. E quando é recebido, não ser atendido.

Então, a Real Academia de Ciência da Suécia fez esse alerta ao mundo, fez esse alerta às grandes potências do mundo, às grandes instituições financeiras, dizendo: “Vamos ajudar os mais humildes; vamos ajudar os necessitados.”

Fiquei imaginando - e fico pensando - que não é possível continuarmos vivendo desta maneira: quem tem crédito no banco são aqueles que já têm recursos e hipotecam esses recursos ou a maior parte deles para adquirir uma parcela menor do que aquilo que eles estão dando em garantia. E o pobre, porque não tem nada, não tem o que retirar desses estabelecimentos de crédito.

Esses estabelecimentos de crédito, as instituições financeiras todas e os governos precisam entender que há um título, sim, que é o título da dignidade, que é o título da honradez, que é o título de um chefe de família, que é o título de um homem que tem filhos, de uma mulher que trabalha e está lá substituindo seu marido lá nesses bancos, nessas agências. Do ser humano que estamos homenageando neste momento, as mulheres são as maiores beneficiárias. A inadimplência entre elas quase não existe. Está a mulher valorizando e instituindo a solidariedade, está dizendo o que é solidariedade.

O empréstimo não é feito individualmente. É feito em grupo de quatro ou cinco pessoas. Tudo isso ele vem ensinando e vem pregando. E o País vem tentando. Dirão: “Como está o Brasil nisso?”

O Brasil, Senador Presidente, precisa evoluir nisso - e precisa evoluir muito. Há tentativas aqui, no Brasil. O Banco Popular é uma delas, mas não foi para frente. No Brasil, as coisas, ora estão equilibradas, ora estão inteiramente desequilibradas. Ninguém procura se solidarizar, todo mundo quer lucro. O crédito, no Brasil, é fácil hoje. Hoje, o rico tem crédito. Aliás, eu errei um pouco. O aposentado tem também. Mas sabe por que o aposentado tem crédito no Brasil? Porque não há jeito de ele não pagar o banco, pois ele recebe do Governo e o desconto é feito em folha e ele não pode perder o emprego porque é aposentado. Se ele morrer, parte da sua aposentadoria ainda fica para a sua família. Emprestar a 2,5% ou 3%, para uma instituição financeira, é o melhor negócio do mundo, Sr. Presidente, Srs. Senadores. E conta-se isso como uma vantagem enorme, como se estivessem fazendo um bem extraordinário ao aposentado. Momentaneamente, pode ser que isso seja verdade, mas quantos não estão mais endividados do que estavam, em razão dessa facilidade desse crédito? Cada um tem a liberdade de escolher, o aposentado é livre e, se quiser o dinheiro, o banco dá. Mas não vamos esquecer dos pequenininhos, Sr. Presidente.

Um editorial na Folha de hoje fala que a Real Academia de Ciências da Suécia deu um crédito à paz. O título já diz tudo. Realmente, foi um crédito à paz que se deu a esse banqueiro solidário, a esse banqueiro humano, ao criador desse microcrédito. Ele precisava ser convidado a visitar o Brasil e ser recebido aqui no Senado, para que o ouvíssemos dizer alguma coisa sobre humanitarismo, sobre solidariedade. Assim, ele iria impulsionar o espírito público dos nossos homens para que olhem para aqueles que ainda estão excluídos. Que não os olhem só para dar esmolas, não os olhem só dando benesses, mas que os olhem de modo a transformar essas pessoas em verdadeiros cidadãos da nossa sociedade.

Bem acertada foi a frase de Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU que disse que Muhammad Yunus desenvolveu uma poderosa arma para ajudar a melhorar a vida sobretudo daqueles que mais precisam. O microcrédito é um mecanismo que vai além de dispositivos como o Bolsa-Família que nós defendemos, que se limitam a transferir dinheiro dos impostos aos mais pobres. A poderosa arma de Yunus ajuda a incutir o espírito empresarial em larga escala, estimula o empreendedorismo, favorece a criação de renda, de emprego e emancipa o que de mais digno pode existir: o ser humano.

Vamos ser mais solidários, vamos aprender esta lição e aplaudir a Real Academia de Ciências da Suécia, que, este ano - e não digo que saiu do caminho porque ela nunca esteve errada -, encontrou o caminho de dar o recado que a humanidade hoje precisa, que é o recado do combate efetivo à pobreza.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando imaginamos que o mundo está ameaçado com guerras, quando imaginamos que nações poderosas estão construindo armamento mais sofisticado e mais bélico, quando imaginamos que a Organização da Nações Unidas luta, mas luta em vão, para levar a paz ao mundo, acredito que tenhamos que começar pela pessoa do ser humano e que esses grandes que gastam tanto em armamento bélico devam destinar recursos para ajudar aqueles que são necessitados, aqueles que mais precisam.

Por isso trago aqui este requerimento de louvor à Academia de Ciência da Suécia e ao Sr. Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen, que possibilitou pelo menos estudos, que abriu caminho, que está mostrando o caminho, que está abrindo os olhos das nações, que está abrindo os olhos dos ricos, que está abrindo os olhos dos poderosos, fazendo-nos lembrar a frase de Kennedy: “Se não ajudarmos aos poucos que são ricos, como vamos ajudar aos muitos que são pobres?” Vamos ajudar os ricos, mas que os ricos ajudem os pobres, que os ricos ajudem aqueles que precisam, que haja uma pregação de solidariedade, que não assistamos a essa violência indiscriminada que grassa pelo mundo, pelo País, essa insegurança em que todas as famílias hoje estão mergulhadas.

Sr. Presidente, há muito coisa para falar dentro do meu coração. Sei que extrapolei os limites de quem veio defender dois requerimentos, mas acho que o Senado da República do Brasil não pode, nesta hora, deixar de louvar essa atitude da Real Academia de Ciência.

Por isso, faço esse voto de louvor ao outorgante do título e àquele que o recebeu e a sugestão de que o Senado da República do Brasil faça um convite ao beneficiário desse título, para que ele venha ao País, que seja recebido por nós, em uma das comissões ou no plenário do Senado da República, e possamos discutir qual a melhor maneira de, no Brasil, aplicarmos a efetiva filosofia do microcrédito, porque cada país é diferente do outro.

O Brasil precisa encontrar o seu próprio caminho. Este caminho a ser percorrido há de ser o de trazer os excluídos para a inclusão em todos os sentidos, melhorar-lhes a qualidade de vida, fazer com que o seu trabalho seja aproveitado, fazer com que eles saiam das mãos dos agiotas, lembrando-nos de que tudo começou com Yunus, quando uma mulher o procurou - não nos esqueçamos da lição - e disse que tomava dinheiro de um ser humano, de uma outra pessoa que lhe emprestava o dinheiro, fazia suas cestas, seu artesanato, mas, quando o vendia, o dinheiro ficava todo para o agiota. Ele ficou sensibilizado e começou a pensar, a raciocinar, a trabalhar. Então, instalou o crédito, com êxito. Tomara que tenhamos êxito no Brasil e encontremos o melhor caminho para o microcrédito no nosso País.

São os votos que formulo na esperança de que esses dois requerimentos sejam aprovados no instante em que forem colocados em votação por unanimidade nesta Casa.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2006 - Página 31149