Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo aos novos senadores eleitos, para que não descuidem de incentivar as potencialidades econômicas do Nordeste. Regozijo com as propostas dos candidatos à Presidência, em favor da revitalização da Sudene.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. POLITICA ENERGETICA.:
  • Apelo aos novos senadores eleitos, para que não descuidem de incentivar as potencialidades econômicas do Nordeste. Regozijo com as propostas dos candidatos à Presidência, em favor da revitalização da Sudene.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2006 - Página 32915
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • REGISTRO, RIQUEZAS, REGIÃO NORDESTE, HISTORIA, BRASIL, DIFICULDADE, EMPREGO, EFEITO, MIGRAÇÃO, MÃO DE OBRA, EXPECTATIVA, INDUSTRIALIZAÇÃO, DEFESA, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), PAUTA, DEBATE, CANDIDATO, ELEIÇÕES.
  • SAUDAÇÃO, DESCOBERTA, PETROLEO, GAS NATURAL, SUBSOLO, ESTADO DA PARAIBA (PB), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, LIBERAÇÃO, AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO (ANP), RECURSOS, PESQUISA, SUSPENSÃO, LEILÃO.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, PESCA, REGIÃO NORDESTE, IMPORTANCIA, ELABORAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, SETOR.
  • AVALIAÇÃO, POSSIBILIDADE, CRESCIMENTO, ATIVIDADE ECONOMICA, Biodiesel, TURISMO, MINERAÇÃO, DIFICULDADE, CONCORRENCIA, AGROINDUSTRIA, AÇUCAR, MILHO, ALGODÃO, REGIÃO SUDESTE, CORTE, DESCONTO, SUBSIDIOS, REGIÃO NORDESTE.
  • CONCLAMAÇÃO, CANDIDATO ELEITO, SENADO, ATENÇÃO, INCENTIVO, CRESCIMENTO ECONOMICO, REGIÃO NORDESTE.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Srª Presidente.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho muito orgulho de ser nordestino, muito orgulho mesmo, Senadora Heloísa Helena. Até quando olhamos historicamente o Nordeste, verificamos que veio de lá o primeiro ciclo econômico por meio do pau-brasil.

            O pau-brasil, na área do Nordeste, era muito mais macio e servia muito mais aos propósitos de tingir roupas. Naquela época, o vermelho era uma cor tão rara que só usava vermelho os nobres. Para se tingir uma roupa de vermelho, usavam os caramujos, os crustáceos do Mediterrâneo. De repente, descobriram uma forma barata, que era o pau-brasil. Mas o pau-brasil do Sul e do Sudeste era muito duro para ser triturado e transformado em tinta, enquanto o do Nordeste era macio. Por isso, tivemos o primeiro ciclo, e tanto pau-brasil saiu que praticamente exauriu.

            Depois, houve outro ciclo importante, que foi o da cana-de-açúcar. Há ainda extensas plantações no meu Estado, no de V. Exª e em vários Estados, mas sem a produtividade das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

            Hoje essas regiões usam máquinas, cada uma equivalendo a 70 trabalhadores na área agrícola. Enquanto isso, na nossa área, a colheita e a plantação continuam manuais. Tudo isso faz com que haja um rendimento muito menor.

            Houve também, em alguns Estados, o ciclo do algodão e da oiticica. O algodão, no meu Estado, era uma riqueza incomensurável. Hoje já não existe devido ao bicudo. A oiticica e a carnaúba perderam espaço, perderam mercados e praticamente sumiram, como ocorreu com o sisal.

            Um terço da população está sempre à mercê de novos empregos. No caso do meu Estado, precisamos de 40 mil empregos todos os anos. Não é fácil conseguir esses 40 mil empregos. Essa dificuldade termina por gerar uma migração para o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste, transformando o Nordeste em grande exportador de mão-de-obra para Estados em que o ciclo econômico é mais ativo, mais forte.

            Atualmente, quem falar em economia no Nordeste estará falando, provavelmente, no turismo, que tem crescido enormemente, como no Ceará, em Pernambuco, na própria Paraíba, no Rio Grande do Norte e em vários Estados, como o Estado de V. Exª, Alagoas. Pode-se falar dos inúmeros minérios, do gesso existente no Nordeste, principalmente dos calcários. Na Paraíba, por exemplo, há muita coisa.

            Na agricultura, nós não temos senão a cana-de-açúcar e algumas manchas. Não temos a primazia nessa cultura porque é uma região de clima muito difícil. Com a pecuária, ocorre o mesmo: temos grandes dificuldades quando feita a comparação com outras áreas do País. Mas, na caprinocultura, nós temos alguma esperança. E, aí, o que podíamos avançar para conseguir mais empregos? A indústria. Mas, como falar de indústria se os mecanismos que nós tínhamos, como a Sudene, foram desativados?

            Eu estou nesta tribuna hoje porque vi com alegria que os dois candidatos à Presidência falam na revitalização da Sudene. Eu sei que V. Exª, com essa expressão que fez para mim, está a dizer: isso é assunto de campanha. É assunto de campanha, mas eu tenho esperança de que realmente consigamos a volta da Sudene, se não nos moldes criados por Celso Furtado, pelo menos que ela volte a ter um balizamento forte, a ser fator de indução de progresso, para que voltemos a ter o crescimento industrial do nosso Nordeste.

            Há outras perspectivas. Já há pesquisa de gás e de petróleo na Paraíba; o Rio Grande do Norte já está funcionando, já está produzindo, como também em Pernambuco. Quando houve o deslocamento dos dois continentes, África e América do Sul, a rocha era a mesma. No lado da África, descobriram 18 bilhões de metros cúbicos. É muita coisa. 

            É óbvio que a rocha do lado de cá também tem que ter. E essa foi a grande esperança da nossa Paraíba. Fizemos pesquisas, que, no caso da costa, ainda estão um pouco embrionárias, mas, com certeza, há gás e petróleo nas rochas da Paraíba, Pernambuco e, tomara, também nos Estados vizinhos.

            Mas ainda faltou dinheiro para dar continuidade à pesquisa. Quando olhamos os números da pesquisa, Srs. Senadores, ficamos pasmos ao ver que os números são altamente rentáveis, porque, logo em seguida à pesquisa, ocorre o leilão, no qual, muitas vezes, já se tira o dinheiro para pagá-la. Mas, depois, com a exploração, continua sendo pago um dividendo, que permite ao País um ressarcimento gigantesco. Na pesquisa feita na Paraíba, para a região de Souza, eram 40 milhões. Foi até quantificada a vazão de petróleo: 15 mil barris/dia, pois é uma região relativamente pequena e é a mesma bacia potiguar. Mas na costa não. Lá, a exploração é muito maior e muito mais promissora. Todavia, falta dinheiro para pesquisa. O pior é que a Agência Nacional de Petróleo tem, por lei, direito a esse dinheiro, mas, sempre que se reúne, a equipe econômica passa a régua e leva esse dinheiro de volta. Assim, não se tem dinheiro para pesquisa e, conseqüentemente, os leilões não se sucedem na velocidade que queremos. Não alcançando a velocidade necessária, ficamos batendo palmas para a Petrobrás que aumentou a produção. Mas nós poderíamos estar muito mais adiante se a pesquisa estivesse sendo efetuada muito mais velozmente. Então, no caso do petróleo, nós temos essa preocupação.

            Estávamos com o leilão marcado para o dia 5 de novembro - ou até antes, para outubro na Paraíba.

            Em 5 de novembro, o leilão foi suspenso para dar prioridade ao problema do gás boliviano. Assim, frustrou-se novamente a esperança de que, pelo menos na região de Souza, tivéssemos a exploração de petróleo no curto prazo.

            Quem passa pelo Espírito Santo - e a minha esperança é que a Paraíba seja o Espírito Santo amanhã - verifica que a transformação naquele Estado foi enorme depois que encontraram petróleo lá. Investiram R$6 bilhões em dois anos, e, como conseqüência, a economia está fluindo, tudo está indo muito bem.

            Mas perdemos o leilão de agora. Quando será o próximo? Estamos pressionando. Espero que os próximos representantes continuem a manter a pressão para que o leilão ocorra no curto prazo.

            A exploração de petróleo na costa nordestina é mais profunda, pois a rocha é mais dura. Mas se faz necessária essa pesquisa porque, se do lado de lá, na África, tem petróleo em quantidade, do lado de cá também tem que ter uma vez que a rocha é a mesma, o continente era um só.

            Estou vendo que o Senador Heráclito quer usar da palavra.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Ney Suassuna, parabenizo V. Exª pela coragem do seu pronunciamento. Mas não tenho vocação para agir como censor. Quem seria eu para censurá-lo? Queria apenas alertar V. Exª sobre o risco de ser desautorizado pelos seus colegas da Base do Governo, no caso, pelo PT, que, de repente, passaram a combater privatização, e leilão é privatização. V. Exª não faça isso, pois estará indo de encontro ao PT, contra aquele pessoal que chama multinacional de truste, que é contrário à privatização. Talvez por isso esses leilões estejam sendo adiados. V. Exª cometeu outro crime ao dizer que tem gás na África. O meu medo é que o Lula queira puxar o gás da África para cá, como quis fazer na Venezuela.

            Não coloque idéia na cabeça dele, que ele promete! V. Exª se lembra que ele disse que ia trazer o gás da Venezuela? Senadora Heloísa Helena, V. Exª foi muito feliz ao se lembrar da história econômica do Nordeste. Não queira ver como me deu nostalgia quando falou da carnaúba, que, durante muitos anos, foi a base da economia do meu Piauí. Fez uma verdadeira peregrinação sobre as regiões do Nordeste e os seus produtos, que o tempo se encarregou de acabar, por substituição por outros produtos mais modernos, de outras fontes, ou porque o interesse comercial já deixou de ser prioritário. Mas a minha grande esperança, embora em posição divergente, foi quando o Nordeste produziu uma pérola, vinda ali de Garanhus, e fez dela Presidente da República. Pensei, Senadora Heloísa Helena, que íamos viver quatro anos de fausto e de riqueza. A Paraíba, com gás e petróleo; o Piauí, com as promessas todas feitas: a transposição do São Francisco, o sertão virando mar, a refinaria, os metrôs, todo mundo com dentadura na boca. Não ia haver mais banguela, porque, outro dia, ele disse que atendeu 500 mil brasileiros por telefone. É uma tecnologia nova, que, tenho certeza, será vendida. Só o que vamos ganhar de royalties por essa tecnologia de atendimento moderno será fantástico. Infelizmente, nada disso aconteceu, e os primeiros quatro anos passaram.

            Daí por que a comparação entre o que promete o Alckmin e o que promete o Lula não ter cabimento. Alckmin se credenciou como um Governador paulista, de pé no chão, e que realizou uma obra fantástica, daquelas que você vê, não obras virtuais. Aliás, eu acho que esse João Santana é um gênio! Pode ser até ele esteja... Senadora Heloísa Helena, no calendário chinês tem um ano que é o do galo. O galo é aquela avezinha, objeto de estimação de outro marqueteiro. Eu tenho a impressão que tem um galo expirando porque, plasticamente, é perfeito. Evidentemente que a linha é a mesma de todas as campanhas feitas: serve para a campanha do Maluf, como serve para a campanha do Lula. A linha é a mesma, só que entre o que promete e a realidade vai uma diferença muito grande. Aliás, o Lula dispensa teleprompter; o texto, como nós vimos no debate, ele lê com muita perfeição, o que mostra a evolução; ruim é quando sai do texto. Aquela história de ele querer acabar com a Avenida Paulista porque o Alckmin só tinha os olhos para ela e se esquecer que a Avenida Paulista é habita por nordestinos, por nortistas, por sulistas, que ali é terra sem dono, mostra um pouco o que se passa pela cabeça dele. Mas uma coisa está me conformando, eles estão começando, Senador Mozarildo Cavalcanti, a trabalhar para dentro, o programa está começando para dentro. Semana a passada, Senadora Heloísa Helena, eu comecei a ouvir aquela música que diz “deixa o homem trabalhar”, “deixa o homem trabalhar”.

            Ontem eu descobri o que é. Aquilo é um recado ao José Dirceu, ao Palocci, ao rapaz da cueca, àqueles todos que criaram constrangimento para que na eventualidade de um segundo turno não repitam aquilo e que ele possa trabalhar. Como Lula não assume nada e a culpa sempre é dos outros, ele vai botar a culpa nesses que atrapalharam e aí ele está tentando passar para mim, para V. Exª e para o Brasil que, se esse pessoal não atrapalhar, ele vai trabalhar. Cabe ao povo brasileiro acreditar ou não. Muito obrigado.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Fico exultante sempre com o bom humor de V. Exª, mas concordo com a saudade da nossa carnaúba. Também na nossa Paraíba a carnaúba era importante, como era a oiticica. Só concordo com isso. Quanto ao restante, fico até preocupado, porque hoje e amanhã são os dois últimos dias para se usar esse discurso. Na próxima semana nós teremos, com certeza...

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Vai ver que fica feliz com as obras feitas na Paraíba, no quarto ano, pelo Governo.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Voltando à nossa preocupação do Nordeste, nós temos milhões de nordestinos que precisam ter empregos. Precisamos realmente da Sudene. E fiquei feliz ao ver que os dois candidatos colocaram na sua pauta a preocupação com a revitalização da Sudene.

            Eu queria alertar para alguns itens que também são importantes. Por exemplo: nós temos a facilidade de pesca. Isso é uma coisa incrível. A Paraíba, naquele cantinho, está muito perto das águas profundas, onde há peixe como o atum.

            O grande celeiro de pesca, Senadora Heloísa, era Santa Catarina, mas um navio, quando sai para pescar naquelas águas, só faz três pescarias por ano. Quando saem, na Paraíba, fazem quatro, porque economizam tempo. Mas, lamentavelmente, não soubemos regulamentar bem essa área de pesca.

            Os navios estrangeiros que foram autorizados a pescar para exportar e foram para Pernambuco exauriram o mercado, deixaram várias dívidas e não cumpriram a legislação. Depois foram para a Paraíba, de onde seguiram para o Rio Grande do Norte, passaram pelo Ceará e agora estão na Nicarágua. Temos de prestar atenção nessas pessoas que estão se dedicando a um ramo tão importante como o da pesca, em que não é preciso plantar pasto porque o peixe está no mar. Contudo, não fizemos uma legislação e somos parcialmente responsáveis. Essa é uma área de grande importância para o Nordeste. Teremos de fazer a legislação e cuidar disso.

            Está vindo o biodiesel, que poderá ser uma nova riqueza para o Nordeste e para o mundo, principalmente quando as pesquisas e as estatísticas demonstram que o planeta está entrando em uma onda de esquentamento, em uma situação de irreversibilidade em seu desgaste, motivo por que precisamos cuidar de uma economia mais sustentável.

            Há o problema do turismo, e o Nordeste é um grande celeiro de turismo. Há também o minério. Todavia, temos de corrigir algumas coisas. Um exemplo disso é a cana-de-açúcar. Não podemos competir com o Sul porque, como disse, lá são usadas máquinas que se equivalem à força de setenta trabalhadores, enquanto no Nordeste o trabalho é manual. Havia um diferencial de R$5,00 por tonelada pago para a nossa região que foi cortado pelo último Ministro. Isso significa que ficamos sem condições de concorrência e que as nossas usinas e a área de plantio da cana-de-açúcar vão declinar. O mesmo ocorre com as indústrias.

            A indústria do milho, por exemplo. Para se fazer o nosso cuscuz, o nosso pão de cada dia no interior do Nordeste, para cada saca [de milho] havia um desconto de R$5,00, se fosse para ração animal - e continua havendo -, mas não para ração humana. (Risos.)

            Nossa candidata à Presidência da República, com certeza, devia ter lembrado isso para dar mais uma alertada e dizer que é diferente. Quando se trata de ração para animal, há um desconto na saca do milho, mas, quando é para ser humano, não há esse desconto.

            Aí, fica difícil concorrermos. De repente, começamos a encontrar, no mercado nordestino, cuscuz vindo do Sul.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Ney Suassuna, desculpe-me a ignorância. Quando se vende o milho, diz-se se é para bicho ou para gente?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Não. Compra-se no Centro-Oeste ou no Sul. Quando se faz a guia, se for para uma indústria produzir alimentação animal, há o desconto; se for para alimentação humana, não há desconto. É incrível, mas é verdade. Eu já tinha feito um discurso...

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Quem confere depois?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Hoje estou meio apertado aqui. De um lado, um bate politicamente; do outro, a Presidência faz eco.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Vou lhe dizer por que V. Exª está apertado. O nordestino é, antes de tudo, um forte, como o sertanejo. Somos três nordestinos aqui.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - É verdade.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Quando V. Exª fala de Sudene, vamos e venhamos, temos de fazer mea-culpa. O projeto veio para cá em regime de urgência. O Presidente Lula o retirou, e nós aceitamos. V. Exª, Líder, e eu, Presidente de uma comissão, demos um crédito de confiança. Mas a culpa foi nossa. Nós não soubemos pressionar, defender o Nordeste e preservar, principalmente, a imagem e a memória de Celso Furtado, que foi usado, de maneira leviana e criminosa, pelo Presidente da República, que o levou a Fortaleza, já com a saúde comprometida, para participar daquela farsa, iniciada na campanha passada, quando ele e alguns companheiros abraçaram o prédio da Sudene.

            E olhe que para abraçar aquele prédio, construído na época do milagre brasileiro, Senadora Heloísa Helena, é preciso muita gente, mas ele conseguiu. Abraçou o prédio todinho; foi um abraço de urso. Infelizmente, somos culpados, mas o que se pode fazer? Vamos rezar para que o País crie juízo domingo. V. Exª sabe muito bem que o Brasil precisa crescer.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Precisa e, se Deus quiser, vai crescer.

            Quero dizer a V. Exª que, quando fui Ministro da Integração Nacional a Sudam nem sequer estava implantada. Fiz sua implantação na marra. E consegui a última verba para pagar aqueles projetos. Muitos empresários do Nordeste entraram com dinheiro. Deveriam receber a parcela do Governo, mas esse nunca pagou. Foi a última vez que conseguimos pagar alguma coisa àquela época. A partir de então, nunca mais se conseguiu um centavo...

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Quando a Sudam e a Sudene foram extintas, V. Exª era o Ministro?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Não. O Ministro era Fernando Bezerra. Fui Ministro depois dele e do Senador do Mato Grosso. Eu fiz a implantação.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O que fez com que a Sudam fosse fechada àquela época? O que motivou o fechamento?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Foram os inúmeros escândalos na Sudam e na Sudene - na Sudam houve mais escândalos. O Presidente da República à época era Fernando Henrique Cardoso. Ele permitiu o fechamento, mas também permitiu a abertura da Sudam. Nós fizemos a abertura e conseguimos a última verba. A partir daí, não conseguimos verba nem sequer para a recuperação dos elevadores.

            Pegar um elevador naquele prédio é um deus-nos-acuda. Hoje, aquele prédio é um retalho: cada repartição pública federal pegou um pedacinho. E até a manutenção está difícil. Mas esse não é o tema do meu discurso.

            O Sr. Heráclito Fortes(PFL - PI) - Eu até peço desculpas.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Não, absolutamente. 

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mas eu louvo a grandeza do Presidente Lula, que, de vez em quando, é incorporado do espírito do Beato Salu, que perdoa todo mundo. Está todo mundo junto. É perdão... Os pecadores de ontem são os salvadores da Pátria de hoje. E assim o Brasil vai. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Eu é que agradeço a V. Exª

            Pois bem. Encerrando, nobre Senadora, eu espero que essas capacidades, essas relatividades que nos permitem uma certa vantagem sejam exploradas. Eu tenho muita esperança de que nós aumentemos o turismo; que tenhamos o biodiesel; que regulamentemos bem a área de pesca, que verifiquemos esse problema da cana-de-açúcar, esse problema da própria indústria porque nós não temos como concorrer com o Sul e o Sudeste - eu acabei de falar do problema da indústria alimentícia - porque é difícil. Até mesmo a área de algodão.

            Vamos ver uma indústria, como a indústria de fiação e a indústria de confecção, como é o caso da Coteminas, que tem indústria gigantesca tanto no Rio Grande do Norte como na Paraíba. Mas já não temos tecnologia e precisamos receber o algodão de Mato Grosso. Até estamos criando uma tecnologia que possa combater o bicudo.

            O pior não é isso; o pior é que a população perdeu até o know-how, já não sabe como cuidar de uma plantação de algodão. Esses são motivos que me trazem hoje à tribuna, Senador. Venho pedir que a nova leva de Senadores, principalmente os nordestinos - somos 27 nordestinos -, não deixe de olhar para essa área econômica, que é importante. No caso do meu Estado, eu citaria a mineração, a pesca, o petróleo, que são itens de suma importância para os próximos anos. Essa eram as considerações que eu queria fazer.

            Agradeço a V. Exª e indago da Mesa se na próxima semana haverá sessão deliberativa, porque há um feriado bem no meio da semana.

            A SRª PRESIDENTE (P-SOL - AL) - Se dependesse de mim, até hoje a sessão seria deliberativa, Senador. Com certeza, na próxima semana... Como V. Exª está aqui essa semana, na próxima também estará...

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Mas na próxima semana haverá sessão deliberativa?

            A SRª PRESIDENTE(P-SOL - AL) - Bom, se dependesse de mim, ...

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Haveria?

            A SRª PRESIDENTE(P-SOL - AL) - ...haveria coisas melhores para o povo brasileiro e piores para os que têm a síndrome da “preguicite aguda” e não cumprem suas tarefas, mas a comunicação que a Drª Cláudia faz é a de que houve uma decisão da Mesa, que não tem a minha participação, ao contrário, tem o meu repúdio, no sentido de que haverá sessão deliberativa apenas no dia 7.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - No dia 7?

            A SRª PRESIDENTE(P-SOL - AL) - Mas, V.Exª participar...

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - E não haverá nenhuma...

            A SRª PRESIDENTE(P-SOL - AL) - ...talvez possibilite que na próxima semana haja, porque está ficando muito feio.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Virei na próxima semana, Senadora. Na terça-feira estarei aqui.

            Outra pergunta, Presidente: alguma medida provisória está chegando à Mesa? Há notícias?

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Agora não, mas se a Câmara conseguir votar alguma coisa hoje...

            Há medida provisória para ser lida.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Há medida provisória para ser lida?

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Sim, há medida provisória para ser lida.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - E ela terá que ser lida até o dia 7?

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Obrigatoriamente, deverá ser lida, porque está preparada para a leitura.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Agradeço as explicações de V. Exª.

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - A não ser que haja alguma viagem interplanetária ou conchavo de liderança, sem a minha participação, que impeçam a leitura. Regimentalmente, constitucionalmente, portanto sob a égide da legislação em vigor no País e respeitando a ordem jurídica vigente, para agradar aos medíocres legalistas de plantão, que falam tanto na lei mas não deixam que ela seja cumprida, ela deverá ser lida, Senador Ney Suassuna.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Nobre Senadora, quero agradecer a V. Exª...

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Ney Suassuna, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) -- Pois não.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mais uma vez, nesse debate democrático, promovido aqui pela mais liberal de todas as Presidentes desta Casa...

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Eu estava prolongando um pouco, Senador, para haver tempo de Exª voltar. Agora que V. Exª voltou e ela já me deu as informações...

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª fez uma pergunta fantástica sobre as medidas provisórias, mas o que me chamou a atenção foi o fato de o Governo, de maneira cínica e deslavada, ficar cobrando a discussão da LDO, quando se sabe que se ele mostrar a LDO, mostrará exatamente o que preparou para o Brasil no próximo ano. E, por incrível que pareça, Senador Ney Suassuna, V. Exª está licenciado como Líder, mas o nosso “sansão”, representante das Minas Gerais, Líder substituto, que não se encontra no País no momento, deve estar a par do assunto, a LDO diminui recursos do Bolsa-Família, aumenta impostos, aliás, com a mesma violência com que eles estão adiando a elucidação de crimes no qual a corriola está envolvida, eles estão também adiando a real discussão da LDO. Tenho certeza de que se V. Exª estivesse no exercício, líder republicano como é, jamais permitiria isso. O Brasil não pode deixar de ser prioridade para que a prioridade seja um simples interesse eleitoreiro.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Quero agradecer à Presidência, dizendo que vou deslocar-me para o meu Estado hoje, mas vou levar na minha retina as duas lembranças: a lembrança da minha Presidente feliz e sorridente, como nunca a tinha visto antes, e a lembrança do meu amigo Heráclito Fortes, como nunca, esgrimando, enquanto pode, às vésperas da eleição.

            Alea jacta est - a sorte está lançada. Na próxima semana, nós nos encontraremos aqui sob a égide de uma nova ordem.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2006 - Página 32915