Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto contra os discursos do Presidente Lula da Silva, em campanha pela reeleição, com críticas ao Congresso Nacional pelo fato de ainda não ter sido votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ORÇAMENTO. ELEIÇÕES.:
  • Protesto contra os discursos do Presidente Lula da Silva, em campanha pela reeleição, com críticas ao Congresso Nacional pelo fato de ainda não ter sido votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO.
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2006 - Página 32920
Assunto
Outros > ORÇAMENTO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • PROTESTO, AUSENCIA, MOBILIZAÇÃO, BANCADA, GOVERNO, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI ORÇAMENTARIA, MOTIVO, CONTRADIÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, ALEGAÇÕES, POSSIBILIDADE, IMPORTAÇÃO, ALIMENTOS, CRISE, AGRICULTURA.
  • DENUNCIA, AUTORITARISMO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ARBITRARIEDADE, POLICIA FEDERAL, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, INVASÃO, HOTEL, ESTADO DO PARA (PA), HOSPEDAGEM, SENADOR, DEMORA, INVESTIGAÇÃO, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, ESPECIFICAÇÃO, RECRIAÇÃO, CORREIO AEREO NACIONAL (CAN), CONSTRUÇÃO, GASODUTO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, IRRIGAÇÃO, QUESTIONAMENTO, PROJETO, DESTINAÇÃO, RECURSOS, EMPRESA SUBSIDIARIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ALEGAÇÕES, REFORÇO, MARINHA MERCANTE.
  • REPUDIO, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESPECIFICAÇÃO, IRREGULARIDADE, DESPESA, CAMPANHA ELEITORAL.
  • QUESTIONAMENTO, IDONEIDADE, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, ELEIÇÕES.
  • DEFESA, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, AUMENTO, RESPONSABILIDADE, CANDIDATO, DESPESA, CAMPANHA ELEITORAL, EXIGENCIA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE.
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COORDENAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, ELOGIO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, IMPORTANCIA, CANDIDATURA, HELOISA HELENA, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REPUDIO, CORRUPÇÃO.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Heloisa Helena, quero agradecer a V. Exª esse crédito de confiança que me dá ao me conceder um tempo infinito. Sabe V. Exª que se eu for cumprir à risca sua disposição, nós viraríamos a noite, mostrando os erros, os fracassos e a má-fé deste Governo. Como eu não quero me cansar nem cansá-la e tampouco cansar os nossos queridos ouvintes da TV Senado ...

            A SRª PRESIDENTE (Heloisa Helena. P-SOL - AL) - Quanto a mim, cansaço não haverá.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Tenho certeza.

            A SRª PRESIDENTE (Heloisa Helena. P-SOL - AL) - Desculpe-me por interromper V. Exª. Eu não suporto que alguém quando assume a Presidência fique interrompendo o orador. Eu só quero dizer que, até para minimizar o efeito muito feio para o aprimoramento da democracia representativa de uma casa vazia... Há os que praticam o esporte do vagabundismo; outros, o da síndrome da “preguicite aguda”; há outros que, por motivos nobres, não podem vir, mas pelo menos que a presença dos que aqui estão trabalhando, cumprindo suas obrigações, possa até minimizar o efeito muito dramático para a sociedade de ver uma Casa vazia em função do processo eleitoral.

            Portanto, tem V. Exª o tempo que entender necessário para o seu pronunciamento.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Em primeiro lugar, quero pedir desculpas aos oradores que falarão depois de mim e pedir-lhes que tenham um pouco de paciência.

            Em segundo lugar, digo que hoje me sinto como me sentia na Câmara assistindo bravamente ao Deputado Fernando Gabeira, Líder dele mesmo, que, com o ideal firme e a convicção forte, atravessou quatro anos como Líder dele mesmo, do PV. Conseguiu fazer a travessia e foi consagrado como Deputado Federal no Rio de Janeiro. O mais importante é que, tal qual V. Exª, não teve a necessidade e nem se deixou ser forçado a trair as suas convicções nem tampouco mudar o seu pensamento.

            Senadora Heloísa Helena, eu peguei a carona do nosso Líder Ney Suassuna para exatamente chamar a atenção para a LDO. Quem não quer discuti-la não é a Oposição. Quem não quer votá-la não é a Oposição. A Oposição não tem número. Agora o PT mostrou força lá na Câmara, Senadora Heloísa Helena, juntando Parlamentares para absolver os sanguessugas. Por que não tem número para votar a peça mais importante que nós temos? A lei mais importante para o Congresso, depois da Constituição, é claro, é o Orçamento. Faz isso exatamente porque tudo que o Sr. Lula está dizendo em praça pública com relação ao Orçamento vai de encontro ao que a LDO traz. Ela penaliza, inclusive, o Bolsa- Família, cortando gastos.

            Ontem, o Mantega reconheceu, pela primeira vez, que o Governo aumentou juros, como se a sensibilidade do bolso do brasileiro não fosse suficiente para ver o que vem acontecendo.

            Senadora Heloísa Helena, a certeza da blindagem e o messianismo do candidato à reeleição chegou a tal ponto - e eu quero chamar a atenção do povo brasileiro para este fato -, que, no último debate, no SBT, ele disse que se tivéssemos uma crise no setor alimento, uma necessidade de aumentar, se o mercado aumentasse o preço, ele resolvia numa canetada, importando alimentos.

            Senadora Heloísa Helena, é não ter a menor noção do que é a conseqüência, meu caro Senador Suassuna, do que uma atitude ou um gesto dessa natureza traria para o Brasil; o Brasil que ele se vangloria de que aumentou as exportações de alimentos.

            Hoje mesmo o seu pirotécnico programa eleitoral mostra isso. A importação seria o quê? Vindita? Ou para ajudar o Fidel Castro em alguma demanda que tenha de produto?

            É uma coisa inaceitável que seja dito, que seja pensado em se fazer. Agora, não tenho nenhuma dúvida de que vamos ter, Senador Ney Suassuna, caso aconteça um desastre nas urnas, domingo, quatro anos com tentativa desbragada de autoritarismo neste País. E disso não resta nenhuma dúvida, pela própria maneira como vem se comportando o Presidente e pelos sinais que vem dando.

            A ex-Deputada Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, acusa a Oposição de terceiro turno, como se terceiro turno não fosse o que ela ainda hoje vive por não ter absorvido uma derrota eleitoral que teve na cidade de São Paulo para o Serra. E são essas as pessoas que estão se preparando para dialogar com a Oposição. Se for para trazer Suplicy para dialogar, prefiro o outro, o original, o que se elegeu Senador porque tem diálogo nas ruas. Esse sabe conversar, é paciente, é humilde.

            O Senador Mozarildo falou aqui sobre a Polícia Federal. Quero dizer que, na medida em que aquela corporação pode, ela tem sido justa, correta e republicana. A deformação da Polícia Federal vem das ordens superiores, vem do Ministro da Justiça e vem da manipulação de fatos que acontecem. Senador Ney Suassuna, invade-se no Estado do Pará o apartamento em um hotel em que está um Senador da República.

            Não quero nem discutir a situação da imunidade, porque acho que ela até não serve para essas coisas, desde que haja uma suspeita grave. Mas uma busca e apreensão aleatória, dentro de um hotel, não se pode fazer em apartamento nem de um Senador da República nem de cidadão algum, porque, a partir do momento em que ele está ali hospedado e registrado numa ficha a que a polícia tem acesso, aquela área passa a ser residência provisória e, portanto, tem de ser respeitada. Revista aleatória em hotel não pode existir. A polícia deve esperar até seis horas em ponto e bater em um hotel de Marabá, com vários apartamentos, mas ir exatamente ao apartamento de um Senador, sob uma outra alegação falsa de que há um jornal apócrifo, quando, na realidade, é um jornalista - quero até pedir socorro aqui -, de sobrenome Brasiliense, que me parece ter ligações com a imprensa em Brasília que está lá.

            Chamo a atenção para esse fato, Senador Suassuna, porque lá atrás, em 2002, fui vítima de uma ação desse tipo, por denúncia do PT, na cidade de Barreiras, onde um juiz, extrapolando suas funções, fez comigo algo semelhante, também por ter recebido denúncia anônima de um militante do PT. Lá, nesse caso, com um agravante: o juiz, por meio de ligações familiares, tinha interesse pessoal na eleição que beneficiava o candidato do PT.

            É um fato que se repete. Aliás, o PT repete tudo: repete dossiê, repete assalto a cofres e repete esse tipo de comportamento.

            O que me chama a atenção, Senador Ney Suassuna e Senadora Heloísa Helena, é que a agilidade que Polícia teve nesse caso de infração à lei eleitoral, a rapidez com que agiu não foi a mesma com que deveria ter agido no Estado do Pará para prender os que deram prejuízos na famosa Cooperativa Nova Amafrutas, da qual um dos dirigentes era o Sr. Lorenzetti, tão famoso no Brasil hoje por suas articulações nas cercanias do Gabinete do Presidente e por sua especialidade em fazer churrasco. Espero que tudo isso não seja uma jogada de marketing para, no futuro, ele montar uma empresa “Churrascarias Lorenzetti”. Ele vai partir de um nome famoso. O dono do chuveiro de mesmo nome escreveu para nós, no Senado, muito magoado com o uso daquela marca, que já entra com o registro para evitar esse tipo de apropriação.

            E o PT, como sempre, tenta justificar, da maneira mais interessante possível. Hoje, Senadora Heloísa Helena, um jornal diz o seguinte: “O Lorenzetti não tinha nada a ver com esse fato. O Lorenzetti apenas entrou para fazer a captação de recursos internacionais para a Amafrutas”. É preciso que o PT mostre o dinheiro captado, as correspondências trocadas com qualquer investidor estrangeiro e, se tudo isso for verdade, qual a experiência anterior do Sr. Lorenzetti nessa questão, porque o que se sabe é que, anteriormente a ele ter sido indicado diretor do Banco de Santa Catarina, a sua convivência com banco era apenas num banco de praça num local pitoresco lá em Florianópolis e que ficou famoso por ser o local daquela famosa “novembrada”, onde o Presidente Figueiredo e César Cals envolveram-se numa questão. É uma espécie de boca maldita de Curitiba ou da “rádio calçada” lá de Teresina e que a modernidade hoje transformou em “senadinho”, que é o centro das conversas, geralmente versando sobre fatos da vida alheia, onde o Sr. Lorenzetti, lá em Florianópolis, era um especialista. Saiu do banco da praça para o Banco de Santa Catarina; do Banco de Santa Catarina para gerir ONGs; e das ONGs para a Amafrutas. E não se apura isso. Fica-se apenas aguardando o que e quem. Foram R$20 milhões tirados de recursos para pequenas empresas, enquanto os agricultores do Pará precisavam desse tipo de recurso e não foram atendidos. E o Sr. Lorenzetti chega de “pára-quedas”, associa-se à Amafrutas e dá esse prejuízo.

            V. Exª falou do biodiesel, Senador Ney Suassuna. Concordo com V. Exª em gênero, número e grau. Só precisa escolher a matriz. Que não se leve para outros Estados a experiência levada para o meu Piauí, a da mamona. O prejuízo está lá. É preciso que o Governo diga quanto gastou, como gastou, quanto adiantou e por que adiantou ao grupo empresarial que instalou esse mirabolante projeto. A Policia Federal, aliás, o juiz que deu a ordem de busca e apreensão para esse panfleto ou jornal - sei lá o que foi - deveria tomar a mesma atitude para dar busca e apreensão ao dinheiro suprimido do povo do Pará nessa experiência famigerada da Amafrutas.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite V. Exª um aparte?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ouço, com o maior prazer, o aparte de V. Exª.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª fala, nobre Senador Heráclito, do insucesso da mamona no Piauí. Não foi produzido?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Fracasso.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - A que se deveu a baixa produtividade?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ao preço. O empresário induziu os agricultores ao plantio, jogou o preço lá embaixo, o que não compensa. E deu um fungo na mamona. Foi uma arapuca.

            Aliás, a arapuca é uma prática desse Governo. O Governo do Lula comprometeu-se em restabelecer o Correio Aéreo Nacional. Fez no Acre uma festa que, entre aviões, helicópteros e rega-bofe - não afirmo, não quero ser leviano -, durou dois dias. Não sei se o Lorenzetti foi o churrasqueiro oficial na época, mas vou perguntar ao Senador Tião Viana na segunda-feira. E escolheram a cidade de Manoel Urbano. Minha gente do Acre, por que estou lembrando desse nome? Pela quantidade de e-mails que recebo do Acre, de pessoas revoltadas com isso. E nunca mais aconteceu vôo.

            Aliás, tem sido assim. Vai para o Amazonas, fala no gasoduto, inaugura um pingo de solda e fica por isso mesmo. Promete o linhão de Tucuruí. Deu circuito, fica por isso.

            Senador Ney Suassuna, que bom seria se o próximo governo não fizesse plano nem projeto para os próximos quatro anos, se se encarregasse de cumprir as promessas do Presidente Lula feitas no atual Governo. Ele já estaria com a agenda de trabalho cheia, e este País realmente iria ver obras como nunca.

            Aliás, antes de dar o aparte, quero lembrar aqui um episódio pelo qual lutamos muito nessa discussão. V. Exª se lembra de que, há um ano e meio - a Senadora Heloísa Helena, com certeza, lembra-se disso -, protestei, no dia da aprovação do Orçamento, porque, às 15 horas, chega uma mensagem do Governo, incluindo a liberação de R$2,8 bilhões - acho que o número era esse - para obras de infra-estrutura, produto de um acordo do Governo brasileiro com o FMI. V. Exª deve lembrar-se bem disso. Para estranheza nossa, esses recursos todos eram para tapa-buraco. Não havia nada de estrada nova. Pois bem, às 15 horas. Aí veio aquele espírito republicano, misturado com a vontade de chegar em casa na noite de Natal - “Vota, vota, vota, porque é bom para o Brasil, é a salvação do Brasil”! No dia seguinte, o Governo mandou o plano, e até hoje estamos esperando. Quanto é que foi gasto do dinheiro desse acordo? O que foi cumprido? É incrível!

            Senador Suassuna, não me lembro se V. Exª já estava...

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Esse dinheiro era para a BR-101. Em três áreas, Rio Grande Norte, Paraíba e Pernambuco, foram iniciadas as obras de duplicação da BR-101. Creio que foi...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não, não foi com esse recurso. Tivemos até uma discussão aqui...

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Porque o Piauí não estava e a Paraíba estava.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não, não foi isso. V. Exª conseguiu uma emenda para uma estrada que liga Pernambuco ao Rio Grande do Norte, e nós discutimos aqui sobre a origem desse recurso.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Que era do Fundo Monetário.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eu até defendi a tese de que, se fosse do FMI, o dinheiro teria obrigatoriamente que ser gasto, porque havia um prazo determinado.

            Não sei se a obra foi feita ou não, mas, mesmo assim, o Governo brasileiro descumpriu. Até porque era um acordo de dez milhões para aliviar o superávit primário - acordo muito interessante para economia brasileira -, e não foi feito.

            Recentemente, Senador Ney Suassuna, vivemos aqui um problema de última hora: o Governo querendo aprovar R$23 bilhões para a Transpetro. Veja bem!

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - São R$5 bilhões para os navios da Transpetro.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Perdão, são R$5 bilhões para gastos em 23 anos.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - BNDES, era aumento de limite de crédito.

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-Sol - AL) - Para os navios de uma empresa privada, que vai ganhar muito dinheiro com isso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Exato! E o que vamos ver? A alegação, Senadora Heloísa Helena, de que era para fortalecer a Marinha Mercante. Ora, a Marinha Mercante que se fortalece é a dos pequenos barcos, feitos na Amazônia, no Pará, para transportar a classe de pouca renda e evitar os acidentes constantes que acontecem, principalmente na região da Amazônia, nas vias líquidas do Centro-Oeste brasileiro. Para navio desse porte, com o capital e o prestígio que possui, a Petrobras conseguiria lá fora empréstimos mais vantajosos, sem onerar nem sacrificar a Marinha Mercante brasileira, pela qual o Presidente tanto se vangloria de ter feito mundos e fundos no seu Governo.

            Aliás, Senadora Heloísa Helena, a pressa era algo injustificável, porque menos de 10% seriam gastos neste ano. Era dar uma garantia de longo prazo para um pool de empresas. Confesso que nem sei quais são as empresas envolvidas; fico até com medo de o Lorenzetti, um homem de muitos instrumentos, estar por trás dessas empresas, ser um dos articuladores. Como ele é captador internacional, minha preocupação é essa. As coisas não são claras.

            Senadora Heloísa Helena, V. Exª conviveu com o PT durante muitos anos. Tenho certeza de que, nas discussões, V. Exª nunca viu o PT fazer um seminário, por exemplo, de como arrecadar dinheiro de maneira incorreta, de como instituir caixa dois sem deixar rastro. Como é que essa gente aprendeu com tanta rapidez em tão pouco tempo? O que mais irrita é o cinismo e a recorrência do mesmo fato. Senador Suassuna, no Piauí, há um ditado que diz que cachorro mordido de cobra corre com medo de lingüiça. Era de se esperar que, quando houve a primeira crise e o Presidente veio a todos nós pedir apoio à governabilidade, eles tivessem aprendido. Mas esse dossiê mostrou que não. Eles apenas tentaram sofisticar os seus métodos.

            Senadora Heloísa Helena, ainda vamos discutir muito aqui sobre gastos de campanha, sobre campanhas milionárias feitas nos Estados. O Nordeste faminto conviveu com campanhas milionárias de candidatos que, num passado recente, faziam cotas, vendiam bottom e distribuíam retratinhos modestos, em preto e branco, com fotografias desbotadas e descoloridas. Hoje todos aderiram à modernidade. Ainda vamos ouvir falar muito.

            Senador Suassuna, lembro-me de que fui acusado por um Deputado Estadual do Piuaí, que era Presidente do PT, de ter feito uma eleição para o Senado cara. Foi cara, mas a minha não tinha caixa dois, e o deputado que me acusou elegeu-se deputado estadual no Piauí gastando R$20 mil, sendo que, nas suas declarações, constavam 52 camisetas.

            Vou ficar só nesse item para não chegar ao resto. Depois que o escândalo do caixa dois estourou, vimos qual era o milagre dessa gente de fazer eleição tão barata.

            Ouço, com o maior prazer, o aparte do Senador Ney Suassuna.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Preocupei-me quando V. Exª falou sobre o problema da mamona porque estamos fazendo um programa intensivo de plantação de mamona em todo o Nordeste. Gostaria que V. Exª aprofundasse as informações, não agora, não aqui, mas em uma próxima semana. Peço a V. Exª que traga o assunto à baila para que não incorramos, de novo, nesse erro que já ocorreu no Piauí, como V. Exª acabou de descrever.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Ney Suassuna, sei que V. Exª é um homem que, a vida toda, lutou na iniciativa privada e que conseguiu ter sucesso. V. Exª é um homem de gosto fino. Mas me permita fazer-lhe um convite. Sei que V. Exª só aceita viagens para lugares em que se carimba passaporte. Não é o caso do Piauí. Mas convido V. Exª para irmos ao Piauí ver como está a situação.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Irei com muito prazer e muita honra na certeza de encontrar áreas desenvolvidas no Piauí, Estado que tem crescido muito e se desenvolvido em uma velocidade até surpreendente em relação ao restante do Nordeste.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O crescimento do Piauí é um pouco diferente daquele que o PT anuncia. Mas o Estado está crescendo, graças à iniciativa de empresários corajosos, arrojados e ao momento brasileiro, que é favorável.

            Imagine V. Exª o Piauí com um Governador do mesmo partido do Presidente da República e um Presidente da República com compromissos com o Nordeste! Estaríamos vivendo outra situação.

            Senadora Heloísa Helena, com a permissão do Senador Ney Suassuna, quero falar sobre pesquisa. O Dr. Ulysses Guimarães, em 1989, disse - já falei sobre isso aqui, mas vou repetir - que os institutos de pesquisa transformam margem de erro em margem de lucro. E os fatos mostram isso. Basta termos o cuidado de examinar os erros cometidos pelos institutos, no primeiro turno, nas eleições para Governador, para Senador e para Presidente de República, e veremos o caso clássico da eleição para o Senado em São Paulo, que ajudou a salvar nosso querido amigo Senador Eduardo Suplicy. Os institutos divulgavam uma diferença de vinte ou trinta pontos, mas foi de apenas um dígito. E a situação da Bahia? Davam vitória de um candidato em primeiro turno, mas o vitorioso foi outro. Se examinarmos o que ocorreu em todo o Brasil, comprovaremos isso.

            O que temos visto na campanha atual são os presidentes de institutos, que geralmente optavam por ter postura discreta, irem descaradamente aos programas de televisão como torcedores, como partícipes partidários.

            Quantos dirigentes de institutos deram como irreversível a vitória do Sr. Lula no primeiro turno? O mesmo está sendo feito, agora, quando se vê que a realidade brasileira é outra. V. Exª, Senadora Heloísa Helena, foi vítima, no primeiro turno, de imputarem-lhe palavras sobre atitudes que tomaria, se eleita Presidente da República, as quais não lhe passaram pela cabeça. Eu estava em Maceió, Senador Ney Suassuna, e uma senhora me mostrou um panfleto apócrifo atribuído ao Geraldo Alckmin dizendo que, se eleito, como médico, legalizaria a eutanásia. Coitada! Ela, como católica...

            A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL. Fora do microfone.) - Imagine o que fizeram comigo!

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois é isso, ela estava revoltada.

            Quanto a essa questão, Senador Ney Suassuna, da privatização, que o Governo tanto combate, não se vê um ato do Governo de reestatização. E houve até uma grande oportunidade. Quando a MCI, detentora das ações da Embratel, teve dificuldades e fechou, o Governo podia ter reassumido o controle e não o fez. Agora, o Governo precisa explicar por que a Embratel foi parar nas mãos de um empresário mexicano, chamado Carlos Slim Helú, proprietário da Telmex. Aliás, o Sr. Roberto Jefferson deu declarações, publicadas no Jornal do Brasil, de que parte daquele volume de dinheiro que aqui chegou tinha origem na Telmex. Mas esse pessoal é esperto. Hoje já se lê uma notícia em que a Telmex anuncia que está tendo prejuízo no Brasil. É uma defesa prévia.

            Senador Ney Suassuna, V. Exª falou sobre transposição.

            O Lula, que falou durante quatro anos na transposição do São Francisco, não fez um metro de irrigação no semi-árido nordestino, compreendido naquele Projeto Pontal, em Petrolina, e Canaã, em Juazeiro, salvo engano. Todos os Presidentes anteriores fizeram algo.

            O clássico, Senadora Heloísa Helena, da intenção do Senhor Presidente foram exatamente dois discursos proferidos por ele: um em Natal, fazendo a apologia da transposição e dizendo que não fazia aquilo porque os ricos não queriam; e o seguinte, em Aracaju, dizendo ao Déda que a transposição era impossível, porque não havia água para isso. Durma-se com esse barulho!

            O “Senhor Salvador da Amazônia”, fora onerar PIS e Cofins, prejudicando a Zona Franca e os industriais daquela região, de concreto, nada fez.

            Penso, minha cara Senadora, meu caro Senador, que alguma coisa precisa ser modificada com relação à lei eleitoral. O primeiro ponto é acabar com o excesso de proteção que o “marqueteiro” dá ao candidato, porque o candidato consegue, com a genialidade do “marqueteiro”, esconder a sua cabeça. O custo disso ninguém sabe. E quando estoura uma crise, descobre-se que há dinheiro lá fora pago de maneira que só Deus sabe como e o candidato, imaculado, assume a Presidência da República. Aliás, temos o exemplo de um primeiro desastre que veio de onde vem a Senadora Heloísa Helena.

            O candidato tem que ter obrigação, porque vai dirigir um Estado ou um País, de se submeter a debate, à mesa-redonda, da qual participe a sociedade organizada, da qual participe a imprensa... Essa pirotecnia dos programas eleitorais termina transformando o horário gratuito no que há de mais caro numa campanha eleitoral, porque os “marqueteiros” passam a ser os tutores dos candidatos, que, temendo erro de campanha, erro de estratégia, erro de marketing, transformam-se em verdadeiras criancinhas nas mãos de babá. Sabe V. Exª - a história nos mostra - que algumas babás, inclusive, induzem medicação às crianças de que cuidam para lhes diminuírem o trabalho. O trauma se vê depois.

            O que acontece é isso. Temos que ter transparência nesse processo eleitoral, para não continuarmos, Senador Ney Suassuna, vivendo esse engodo.

            Encerro minhas palavras dizendo que tive uma feliz experiência nesta campanha, percorrendo o Brasil de ponta a ponta, indicado que fui pelo meu partido para coordenar a campanha de Geraldo Alckmin. Aprendi, na convivência, a admirar uma figura altamente bem-criada, de bons propósitos e, acima de tudo, de um profundo respeito pelo patrimônio público. Alckmin, produto de uma escola de homens públicos capitaneada por Mário Covas, governou São Paulo e não teve seu nome envolvido em escândalos; homem de hábitos simples, de patrimônio, aliás, menor do que o do candidato trabalhador. Se pegarmos as declarações de renda do Alckmin e do Lula, veremos que o patrimônio do Alckmin é menor, embora tenha sido médico e Deputado por longo tempo.

            O Lula tem uma aposentadoria de R$ 4.600,00, que, tendo-se por base a aposentadoria do trabalhador brasileiro, não é pequena, mas, evidentemente, não o suficiente se comparado ao nosso candidato Alckmin.

            Tirando isso de lado, o que eu queria dizer é que poucas vezes este País viu um candidato com garra, com juventude e com disposição para enfrentar as diferenças sociais aliadas a uma bagagem administrativa de experiência como Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Vice-Governador e Governador de São Paulo.

            Mas esta campanha, Senadora Heloísa Helena, trouxe alguns pontos positivos, principalmente no primeiro turno. Por dever de justiça, faço questão de citar a candidatura de V. Exª e a de Cristovam Buarque. Para mim, essas duas candidaturas simbolizam um fato muito importante no momento que vivemos: que nem todos dizem amém.

            V. Exªs são pessoas que nasceram na história de um partido em que acreditaram, uma história baseada em luta e, acima de tudo, em moralidade. Durante longos anos, o partido prometeu ao País varrer da nossa história vários erros, vários pecados, principalmente o maior de todos: a corrupção.

            Porém, ao assumir o poder, jogou-se de lado toda uma trajetória, transformando em passado a luta de muitos que acreditaram em um projeto e deram alguns anos de suas vidas a ele.

            Senadora Heloísa Helena, teremos nós o prazer da convivência com V. Exª por mais alguns meses. Mas fique absolutamente certa de que, estando onde estiver, V. Exª vai sair maior do que entrou nesta Casa.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2006 - Página 32920