Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Retrospectivas das sucessivas denúncias de irregularidades no governo Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Retrospectivas das sucessivas denúncias de irregularidades no governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/2006 - Página 32959
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PRETENSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DIVERSIDADE, DOCUMENTO, PREJUIZO, CANDIDATO, OPOSIÇÃO, ELEIÇÕES, BRASIL, CRITICA, REPETIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ERRO, CORRUPÇÃO, DETALHAMENTO, HISTORIA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, FALTA, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, VIGILANCIA, AEROPORTO, OCORRENCIA, CRIME, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, REGISTRO, BUSCA, POLICIA FEDERAL, AERONAVE, TRANSPORTE, ILEGALIDADE, DOCUMENTO, PREJUIZO, CANDIDATO, OPOSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • REPUDIO, GOVERNO FEDERAL, PREVISÃO, VITORIA, ELEIÇÕES, ANTECIPAÇÃO, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), DEMONSTRAÇÃO, DESRESPEITO, MINISTRO, ATUALIDADE.
  • EXPECTATIVA, ESCLARECIMENTOS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESVIO, DINHEIRO, RETORNO, CONFIANÇA, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, RECEBIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VISITA, TRABALHADOR, RECOLHIMENTO, LIXO, CONGRATULAÇÕES, ANIVERSARIO, CHEFE DE ESTADO.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - V. Exª corre risco, mas procurarei ser breve.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Arthur Virgílio tem a capacidade de fazer com que o orador seguinte ao seu pronunciamento mude o seu raciocínio e entre exatamente no gancho do que ele falou.

            Senador Arthur Virgílio, ao final do seu pronunciamento, V. Exª repercutiu uma matéria anunciada pela revista Época para o fim de semana, que é da maior gravidade.

            Ontem, já a altas hora da noite, tive a oportunidade de conversar com pessoas que conhecem um pouco dessa negociação do dossiê que V. Exª acaba de mencionar. Mas eu quero deixar bem claro que, segundo o raciocínio de quem está bem informado sobre o assunto, o dossiê valeria R$20 milhões se os Vedoins conseguissem implicar, além dos candidatos de São Paulo, mais uma série de outros candidatos, que seriam prejudicados em suas postulações, beneficiando o Partido do Governo. Daí por que, como no jogo do blefe - não sei como aqui em Brasília é chamado, mas, lá no Piauí, chama-se porrinha -, a cada reunião que acontecia, os articuladores e os compradores do dossiê iam baixando o preço.

            Evidentemente, além dos candidatos a governo de Estado e dos candidatos majoritários ao Senado, constavam da lista do Palácio do Planalto várias outras figuras, o que, inclusive, me leva a supor, Senador Arthur Virgílio, que V. Exª, eu e todos os que combatem o Governo estivéssemos na mira desses ensandecidos, aloprados.

            Aliás, há cerca de dois meses, conversando com pessoas da minha assessoria, eu disse que tinha informação de que estavam preparando esta molecagem; como diria o Serra, esta baixaria. Mas, Senador Arthur Virgílio, eu não tinha a menor idéia do seu tamanho, da sua profundidade nem tampouco do cinismo e do descaramento de que as pessoas ditas ligadas ao núcleo duro do poder fossem capazes.

            Sabe V. Exª por que o tiro saiu pela culatra, Senador Arthur Virgílio? Porque a equipe de São Paulo, já preocupada com a briga de poder no eventual segundo mandato do Sr. Lula, começou a pinçar nomes do seu próprio partido, da sua própria base. Daí por que - e vamos ver esses fatos esclarecidos muito em breve - a briga descambou para, além de atingir os adversários, pegar de raspão os aliados do já famoso fogo amigo, que a imperícia americana tornou tão clássico, tão falado na recente Guerra do Iraque. Ou seja, a bomba atirada no seu próprio quintal.

            Por exemplo, na medida em que o dossiê contra o candidato do PFL a governador de Pernambuco não foi entregue, baixou-se o preço; na medida em que dossiês envolvendo Minas Gerais e o candidato vitorioso não tinham consistência, o preço foi baixando; e assim por diante. Fez-se isso de maneira criminosa, com requintes de estarrecer qualquer um.

            Senador Arthur Virgílio, o que mais me impressiona neste Governo é a capacidade de repetir os mesmos erros. V. Exª chegou a esta Casa - nós chegamos praticamente juntos - em 1982, conviveu com governos anteriores e posteriores à nossa chegada, uns a favor e outros contra, e tenho certeza de que nunca lhe tinha passado pela cabeça nenhum envolvimento de autoridades brasileiras com remessas ou transferências de recursos para países estrangeiros, a não ser aquele famoso caso do Delfim no tal Relatório Saraiva - e que até hoje ninguém provou. Mais recentemente, no caso do Governo Collor, falava-se na figura do Sr. PC Farias. Mas, Senador Arthur Virgílio, em um governo que nós pensávamos ser blindado para corrupção e atitudes do gênero, os fatos escancararam-se de tal maneira que vale a pena relembrar alguns.

            Aliás, V. Exª foi protagonista, talvez, do ato inaugural, quando, na CPI do Banestado, nessa catilinária de sempre, o governo, àquela época virgem de corrupção - mas já se sabia, nas entrelinhas, que desejoso de ser possuído -, começou a resvalar nas questões e conviver com o crime.

            V. Exª se lembra muito bem de que, em determinado momento, quando se tentava imputar a pessoas do governo passado remessas de recurso para o exterior, que não existiam, em casos clássicos, de pessoas que tinham filho estudando fora, que mandavam US$10 mil, US$15 mil, e que foram investigados pela CPI, V. Exª trouxe à baila uma CC5 - até então, os puritanos do PT diziam que era crime possuir essas contas -, que pegou o Presidente do Banco do Brasil e o Presidente do Banco Central. V. Exª se lembra disso, com certeza.

            Evidentemente, não estou aqui dizendo que nenhum dos dois tivesse cometido crime, mas foi o primeiro indício concreto da prática do Partido dos Trabalhadores com esse tipo de movimentação financeira.

            Depois, tivemos aquela denúncia de recursos que teriam vindo para cá, mandados pelo Kadhafi. Comenta-se de um diálogo que tiveram numa tenda, naquela visita do Presidente Lula ao Kadhafi.

            Surgiu também a acusação de que o Chávez, numa crise, exatamente na crise do Banestado, teria chegado aqui para ajudar o seu amigo Lula, que já o tinha ajudado em crise anterior, dando-lhe apoio.

            Posteriormente, vem o caso da Telmex, que incorporou para o seu vasto cardápio de empresas a Embratel, que estava numa situação delicada porque a compradora anterior, a MCI, americana, havia falido. Nessa falência, o governo teve a grande oportunidade, Senador Arthur Virgílio, de usar a empresa Embratel como um espelho, mostrar ao Brasil e ao mundo que a privatização era um erro e colocar o Lorenzetti, o Delúbio ou quem quisesse para presidir a Embratel. Mas, não; vendeu-a para o Sr. Carlos Slim. E o governo não explicou em que condições, como foi renegociado junto ao BNDES o débito - com um deságio que até hoje causa curiosidade, Senador José Jorge, aos que vivem no mercado -, as circunstâncias e por que privilegiar esse empresário em detrimento dos empresários brasileiros.

            Em seguida, surgiram suspeitas de remessas de recursos para cá feitas pelo Banco Espírito Santo, já em CPI mais recente.

            Depois, a esposa, em litígio com o marido - ex-deputado, que renunciou e agora retorna -, dá detalhes claros de recursos que teriam vindo de Taiwan para a campanha do então candidato a Presidente Lula, com o compromisso do restabelecimento das relações diplomáticas posteriormente. Irritado, o encarregado dos negócios daquele País aqui cobrava insistentemente o cumprimento do acordo.

            Após isso, Senador José Jorge, surgiram acusações de operações consideradas suspeitas envolvendo o Citibank e autoridades importantes do governo brasileiro. Semana passada, vazou uma informação. No Brasil, o Citibank não teme convocação do Congresso, não teme o Senado. O Senador Antonio Carlos Magalhães já fez convite ao presidente da empresa no Brasil para prestar esclarecimentos, mas ele não deu a mínima, porque se considera superior. No entanto, nos Estados Unidos, esse banco, que é useiro e vezeiro em países pelo mundo afora de atitudes não republicanas, antecipou-se e comunicou à Corte norte-americana e às autoridades fiscalizadoras de seus negócios que, possivelmente, no Brasil, um dirigente seu - que já teria sido afastado - teria praticado atos de corrupção envolvendo autoridades importantes do País.

            Denúncia feita e uma defesa preventiva.

            Vemos agora, Senador Arthur Virgílio, o caso da compra desse dossiê. Nem quero falar naquele famoso dinheiro que veio de Cuba, não sei de onde, e que circulou pelo Brasil naquele avião bimotor. O transportador, primeiro, disse que levava rum de Cuba, depois, que era uísque.

            Estou vendo jovens nas galerias. Sabemos quanto custa uma garrafa de uísque. Num avião, não se carregariam quatro garrafas de uísque daqui para São Paulo.

            O Sr. José Jorge (PFL - PE. Fora do microfone.) - Quatro caixas.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Era melhor comprar o uísque. Nem se compara o preço do litro do combustível ao do uísque. Lembro-me de que era Johnnie Walker, selo vermelho. Está aí. Nada é apurado. E a certeza da impunidade faz com que as pessoas sintam segurança para repetir os fatos.

            Aliás, o Sr. Gushiken, de quem V. Exª falou, foi citado pela primeira vez no caso Waldomiro. V. Exª se lembra disso; foi bem no início do governo, quando todos eram vestais. Aí, provou-se que a sociedade dele com Waldomiro ocorria em um encontro de meditação. Eles se reuniam num local afastado de Brasília para meditar.

            Nunca se explicou essa sociedade e sobre o que eles meditavam. Espero até que o que se vê no Brasil hoje não seja fruto desse excesso de meditação inicial.

            Mas a repetição dos erros é que nos revolta e choca, Senador Arthur Virgílio. A coluna do jornalista Cláudio Humberto traz um artigo intitulado “PF busca avião do dossiê em São Paulo”, que diz o seguinte:

A Polícia Federal segue nova pista do roteiro do US$249 mil do dossiê anti-Serra: após despistar o Cindacta - aliás, despistar o Cindacta é coisa de traficante; daí por que foi criado o Cindacta, exatamente para rastrear quem carrega droga, contrabando - de Brasília com falsa decolagem de Parati - evitando multa por usar aeroporto interditado -, o Cessna 210, que saiu de Nova Iguaçu com a turma da grana do dossiê, teria pousado rapidamente em Atibaia (SP), no estilo conhecido pelos pilotos como “tocar e arremeter”, para decolar, oficialmente, então, rumo ao Campo de Marte, em São Paulo, com o ex-assessor petista Hamilton Lacerda, o diretor da Vicatur Turismo, Fernando Ribas, e o assessor de governo cujo nome ainda não foi confirmado. Voltou, então, a Atibaia e não Maricá, litoral fluminense, onde estaria trancado num hangar, que a PF vigia - preste atenção, Senador Arthur Virgílio, aonde chegam os requintes do crime - desde ontem com um carro estacionado. O Cessna seria de conhecido advogado de traficantes, que depôs na CPI do Narcotráfico. Piloto de táxi-aéreo, consultado pela coluna, diz que aeroportos municipais, fora da fronteira seca, que é vigiada pelo Sivam, são território livre para criminosos com táticas de despiste. Em algumas dessas pistas, diz ele, “quem vigia o aeroporto é a bomba de combustível”.

            Esse assunto vem sendo tratado há uma semana, e não se procura um esclarecimento. Para se invadir o apartamento de um hotel, no Pará, onde um Senador da República dormia, Senador Arthur Virgílio, espera-se o amanhecer, às seis horas da manhã, e, através de uma busca e apreensão aleatória, comete-se o crime de invasão de um hotel onde a pessoa está hospedada e, por força de lei, identificada em uma ficha que ela, obrigatoriamente, preenche e que é remetida à Polícia.

            É estarrecedor o que se vê no Brasil hoje. V.Exª disse muito bem: essa proximidade do Sr. Lula com essas pessoas nos leva à perspectiva sombria do que nos aguarda neste País caso se consume, no domingo, sua vitória nas urnas.

            Não sei, Senador Arthur Virgílio, se V. Exª deu ênfase a outra matéria que os jornais todos divulgam sobre o amigo do Presidente que embolsou um suborno no Ministério do Trabalho. Dou-lhe um doce se V. Exª adivinhar o nome dele. É exatamente o Sr. Osvaldo Bargas, que recebeu um pedágio, conforme o depoimento, de R$20 mil para dar uma certidão.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a arrogância e a precipitação com que alguns próceres do PT tratam, neste momento, a sucessão presidencial é de dar tristeza. A falta de humildade é alguma coisa nunca vista neste País.

            Senador José Jorge, V. Exª é um homem da Educação. Pois imagine, Senador, que o Presidente não está reeleito e a distribuição de cargos já está sendo feita pelo Brasil afora, com brigas terríveis.

            Ontem, pegaram o ex-Deputado Jaques Wagner, eleito Governador da Bahia, e já começaram a denunciá-lo nos jornais, a desacreditá-lo, por uma suposta indicação que ele teria feito do atual Presidente da Petrobras como Ministro da Fazenda. Tenho certeza de que, num gesto de gratidão e por conhecer a competência do Presidente da Petrobras, o Sr. Jaques Wagner poderia até ter dado a sugestão, sem, no entanto, a necessidade das famosas plantações de nota por companheiros no já conhecido fogo amigo.

            O Piauí estampa, com estardalhaço, o Governador Wellington Dias já anunciando que o Deputado Federal eleito Antonio José Medeiros será o próximo Ministro da Educação.

            Tenho o maior respeito pelo Dr. José Medeiros - eu o separo da grande maioria dos errantes petistas -, mas considero um desrespeito a esse Ministro da Educação... Como é mesmo o nome do atual Ministro da Educação, Sr. Presidente? Ah, Fernando Haddad! Peço desculpas, mas é tanto ministro novo, tanta troca de ministro, que fica difícil nos lembrarmos. Considero um desrespeito trocar o atual ministro antecipadamente, até porque isso desestimula o atual ministro. Mas acho que, se o Lula fizer isso, será por remorso pelo que fez com o Piauí no Governo passado. V. Exªs se lembram da minha luta. Indicaram lá um rapaz para assumir a Codevasf, e ele passou oito meses esperando que a discussão ideológica das pessoas da cúpula, naquele tempo o núcleo duro, cujo comandante era o Dirceu, permitisse a sua indicação. Ele foi indicado, mas seis meses depois Ciro Gomes o tirou de lá e colocou quem queria. Durante os seis meses em que esteve lá, mostrou ser uma pessoa boa. Não é má pessoa, não, tem virtudes. O Guedes foi sacado e em seu lugar foi colocada uma pessoa da confiança do Ciro Gomes.

            Quero, desde já, parabenizar o Antonio José Medeiros. O Governador Wellington, que ganhou no primeiro turno, mostra prestígio no Governo. Mostra também força, por ter tido a solidariedade efetiva da Ministra Dilma e do Ministro Silas Rondeau nas questões práticas e objetivas da sua campanha. Ele não cometeria a leviandade de deixar vazar uma notícia inverídica, porque exporia seu companheiro, e tampouco permitiria que esse fato viesse à tona.

            Caso haja resultado adverso para nosso candidato, o primeiro ministro escolhido para o próximo governo, felizmente, vem do Piauí. Pela primeira vez, Senador José Jorge... Fico feliz.

            Espero que ele esteja à altura de fazer pela educação o que no atual Governo, fora Cristovam Buarque, que foi demitido por telefone, nenhum conseguiu fazer. Outro foi substituído para assumir a coordenação política. Trocou-se a educação do Brasil pelas crises do Palácio do Planalto, consideradas mais importantes e mais prioritárias do que a educação brasileira.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero finalizar, agradecendo a V. Exª, Senador Arthur Virgílio, a tolerância e a paciência.

            Senador José Jorge, encerrando esta minha participação na tribuna antes do resultado final, quero dizer que foi muito bom, Senador Arthur Virgílio, termos visto, ao longo desta campanha, a distinção de presença em palanques. De um lado, Senador Arthur Virgílio, o que víamos? O Presidente da República, com Genoino, com Zé Rocha, com aquele rapaz da cueca lá do Ceará que foi eleito Deputado.

            Vocês ainda se lembram do nome daquele rapaz da cueca? É Guimarães, né? É? Não, Zé Airton é outro ladrão. Não vamos confundir, não. São tantos. É outro. Esse é aquele dos sanguessugas. Ou será que é outro?

            José Guimarães! Eu estou recebendo ajuda das universitárias. José Guimarães. É. José Guimarães.

            Vamos lembrar mais quem subia nos palanques do Lula nessa campanha? Os absolvidos, os que ele combatia no passado, João Paulo Cunha, Delfim. Mais uma ajuda: o Delfim é daqueles que ele combatia, chamava de torturador, mas agora resolveu reconciliar e abraçá-lo.

            No nosso palanque, tínhamos a oportunidade de conviver com Fernando Henrique Cardoso, com V. Exª, Senador Arthur Virgílio, com o Senador José Jorge, com Tasso, com Jorge Bornhausen, com homens com quem se pode até divergir por posições políticas, mas contra eles nada se pode dizer com relação à administração, à conduta moral e ao seu comportamento na administração pública.

            As alianças do Presidente feitas Brasil afora seriam de causar vergonha ao Betinho ou ao Henfil, se voltassem à terra - todos aqueles que foram combatidos, que foram perseguidos até pelo PT. Um exemplo clássico é o Sr. Paulo Maluf. Quanto o Maluf penou Brasil afora por conta da sanha petista! Hoje trocam elogios e gentilezas.

            O Sr. Fernando Collor será nosso companheiro a partir do ano que vem. Aliás, eu não sabia, Senador Arthur Virgílio, que o futuro Senador Fernando Collor foi anistiado pela Justiça e vai ter direito às prerrogativas de ex-Presidente da República, treze anos depois.

            Acho eu que foi uma decisão da Justiça diante do que vê agora, porque o Sr. Fernando Collor passa a ser réu primário diante do que se está vendo e acontecendo no Brasil neste momento. O Sr. Fernando Collor foi massacrado, perseguido pelo PT de maneira impiedosa, e agora já se tratam de maneira elogiosa. O Presidente Lula disse, inclusive, que ele será um grande Senador, e espero que o seja. Esta Casa precisa de bons Senadores, até para vigiar e fiscalizar o Governo nos seus erros e nos seus acertos.

            Portanto, Sr. Presidente, a minha esperança é que o dinheiro de Taiwan, o dinheiro da Telmex, do Chávez, do Kadafi, do Banco Espírito Santo, do Citibank, enfim, toda essa enxurrada de denúncias contra Lula e seus companheiros um dia chegue a ter esclarecimento de maneira que satisfaça a curiosidade e a indignação de muitos brasileiros.

            O livro de Eclesiastes é muito sábio quando diz que, mais cedo ou mais tarde, a virtude triunfa sempre, e tudo que é feito na escuridão um dia vem à clara. Espero e espero também que, no futuro, não haja mais perseguições como a que foi feita a um conterrâneo que eu não conhecia, mas que passei a admirar.

            Trata-se do caseiro Josenildo, que teve seu sigilo bancário, de maneira criminosa, aberto pela Caixa Econômica, numa operação que envergonhou o Brasil. De maneira despudorada e desavergonhada, o mesmo Governo repetiu a atitude agora, no episódio do dossiê do Mato Grosso, do dossiê Hotel Ibis. Um diretor do Banco do Brasil, que jamais poderia fazê-lo, por ser de uma área sensível, de uma área em que o diretor tem alguns acessos, comandou, juntamente com o churrasqueiro, essa operação que envergonha a todos.

            Mas, como não sou radical, Senador Arthur Virgílio, vou encerrar minhas palavras, desejando ao Senhor cidadão Luiz Inácio Lula da Silva parabéns pelo aniversário de hoje, 61 anos, já comemorado de maneira festiva na porta do Alvorada, segundo a imprensa, eivado de “puxa-sacos”, com um bolo de dez quilos. Espero que esse bolo seja bem digerido.

            Aliás, parabenizo também o Presidente Lula pela sua sabedoria, por ter recebido no Palácio, semana passada, catadores de lixo. Ele tem de ter a solidariedade e a compreensão dos catadores de lixo, porque a tarefa dele até o dia 31, de fazer limpeza na sujeira existente no Palácio, do seu Governo, é grande. Só espero que esses humildes brasileiros que trabalharão, evidentemente, na catação dessa porcariada toda sejam mais fiéis a ele do que foram os amigos de 30 anos e que não denunciem o que estão vendo e o que vão ver na faxina a ser feita.

            Lamento que os catadores de lixo tenham sido escolhidos a dedo pelo Palácio e não tenham sido trazidos os catadores do meu Piauí, do seu Amazonas, os catadores que convivem com a verdadeira miséria dos lixões. V. Exª, como ex-Prefeito de Manaus, sabe o que é isso, pois convivem com a verdadeira miséria das cidades pobres. Pena que tenha feito apenas uma solenidade com os catadores de elite.

            De qualquer maneira, parabenizo o Presidente Lula e desejo-lhe que, nos seus 62 anos, comemore do mesmo jeito o seu aniversário, mas em melhores companhias, pois já viu, Senador Arthur Virgílio, que pagou um preço muito alto com os seus companheiros de caminhada inicial. Se fecharmos os olhos e fizermos um passeio pela geografia do Palácio, veremos que todos saíram - aliás, quase todos, restam dois - ou por generosidade, ou por medo do Presidente Lula.

            Generosidade, não teria eu a dimensão de avaliar o porquê; medo, sim. Quem sabe os que permanecem lá, apesar de todas as denúncias, tenham mais lixo sob as suas gavetas contra este atual Governo e contra as verdades do passado que sequer os catadores inocentes têm capacidade de removê-los e jogá-los num lixão simbolizando restos de um passado que a Nação não quer voltar a viver.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/2006 - Página 32959