Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação pela vitória do Brasil nas eleições realizadas ontem em todo o país. Análise sobre os resultados das eleições alcançados pelo governo Lula, que visavam o combate à desigualdade e adoção de políticas para a diminuição da injustiça social e aumento da inclusão social.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Satisfação pela vitória do Brasil nas eleições realizadas ontem em todo o país. Análise sobre os resultados das eleições alcançados pelo governo Lula, que visavam o combate à desigualdade e adoção de políticas para a diminuição da injustiça social e aumento da inclusão social.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2006 - Página 33011
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, SUPERIORIDADE, VOTO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, PROCESSO ELEITORAL, PAIS ESTRANGEIRO, INDONESIA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REGISTRO, DADOS.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, AUSENCIA, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, PROCESSO ELEITORAL, CONTINUAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, AUMENTO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.
  • ANALISE, MOTIVO, VITORIA, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, REDUÇÃO, POBREZA, INJUSTIÇA, AUMENTO, INTEGRAÇÃO SOCIAL, PROGRAMA, TRANSFERENCIA, RENDA, RECUPERAÇÃO, SALARIO MINIMO, AMPLIAÇÃO, PROGRAMA DE CREDITO, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, RETOMADA, CONSTRUÇÃO CIVIL, SANEAMENTO, ESTABELECIMENTO, PROJETO, CONCESSÃO, BOLSA DE ESTUDO, UNIVERSIDADE PARTICULAR, ACESSO, PESSOA CARENTE, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.
  • REGISTRO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSTERIORIDADE, RESULTADO, ELEIÇÕES, NECESSIDADE, UNIÃO, POPULAÇÃO, COMBATE, INJUSTIÇA, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • EXPECTATIVA, POSTERIORIDADE, GOVERNO, APROXIMAÇÃO, PARTIDO POLITICO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, AUMENTO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, PROGRAMA DE GOVERNO, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, presentes a esta sessão do Senado da República, nesta segunda-feira, depois de termos vivenciado mais um processo eleitoral que dignifica o povo brasileiro, as instituições brasileiras e que faz com que cada um de nós tenha a possibilidade de, com o resultado das urnas, tirar as lições, a reflexão e o aprendizado necessários para que possamos cada vez mais avançar naquilo que a urna nos aponta de forma tão contundente, Senador Tião Viana.

            Estou vindo de São Paulo, onde participei ontem à noite do acompanhamento da apuração. Estive na Avenida Paulista, juntamente com o Presidente Lula, uma boa parte dos seus atuais Ministros, Governadores eleitos, Lideranças dos diversos Partidos, que estavam comemorando o resultado eleitoral.

            Lá na Paulista, apreciando toda aquela significativa presença dos militantes dos Partidos, principalmente do PT, que conduziram a campanha neste segundo turno, fiquei meditando sobre algumas questões. Há dia bom de a gente viver. Ontem, acho que foi um dia bom de o Brasil viver. Um dia em que, efetivamente, consagrou-se e consolidou-se algo que está estampado na camiseta com que fiz questão de vir ao plenário hoje porque ela resume o que aconteceu: a vitória do Brasil, o que acompanhamos ontem, com os votos vindos de todos os cantos deste País, numa vitória do Presidente Lula, o terceiro presidente mais votado do mundo, pois obteve 58,258 milhões de votos, quase 61% dos votos válidos, portanto, numa votação extremamente significativa, representativa e indiscutível. Somente duas pessoas obtiveram mais votos que o Presidente Lula. Em 2004, o general Susilo Yudhoyono, que se reelegeu Presidente da Indonésia, obteve 67 milhões de votos; e George Bush, na sua última campanha para reeleição nos Estados Unidos, obteve 62 milhões de votos. Portanto, é uma votação que nos orgulha, e não poderia deixar de ser assim. Mas ela tem o significado de ser uma vitória do Brasil. E quando, lá na Paulista, ontem... Para mim era até estranho estar comemorando exatamente na Avenida Paulista, uma espécie de divisor de águas da campanha, na qual, em vários momentos, o Presidente Lula, exemplificando a diferença entre os dois projetos e as duas candidaturas, colocou um projeto que pensa exatamente o Brasil, que pensa 190 milhões de brasileiros, que tem como prioridade atender a esses brasileiros. Em alguns momentos, o próprio Presidente Lula utilizou a Paulista como exemplo de algo indiscutivelmente importante, mas que simbolizava uma parcela do Brasil.

            Eu estava ali, na Avenida Paulista, comemorando a vitória, que tenho a convicção de ser do Brasil, como está estampado nesta camiseta. É por ter esse entendimento de que a vitória é exatamente desta grandiosidade do nosso País, dessa diferença que está presente em cada canto deste País grande, extenso, complexo, desigual e injusto, que nas urnas se mostrou de forma contundente, depois de um processo e de um período extremamente interessante, porque - não sei se V. Exª, Senador Tião Viana, teve a oportunidade de ler o Estadão de ontem, que fala desse assunto -, depois da ditadura, esta é a primeira eleição que realizamos no Brasil sem crise econômica. Todos os macroindicadores são absolutamente positivos, tranqüilos, sinalizando a perspectiva concreta de dar continuidade ao processo de crescimento com distribuição de renda.

            A vitória nas urnas vem dessa carga de votos, dessa imensidão de complexidade que se denomina povo brasileiro. Ontem, eu estava na Paulista participando das comemorações, emocionada e com a convicção de que a urna disse de forma inequívoca que o Brasil tem paulistas, tem a Paulista, até se orgulha dos paulistas e da Paulista que tem, mas o Brasil é muito mais. Foi talvez o entendimento das ações do Governo Lula, que visavam ao combate à desigualdade, e das políticas adotadas para a diminuição da injustiça social e o aumento da inclusão social, exatamente essa marca, que fez com que o povo brasileiro desse ao Presidente Lula esta vitória.

            A urna vai merecer de todos nós reflexão, ponderações. Nós do PT teremos de aprender muito com o resultado dela. A montagem do próximo Governo também terá de levar em consideração o que a urna nos disse, e isso acho que vale para todos.

            O Presidente Lula, ontem, no seu primeiro pronunciamento à imprensa, falou de forma muito contundente que, terminada a eleição, não há mais adversário; terminada a eleição, o adversário é a injustiça social. Esse é o principal adversário, e, portanto, todos que tiverem esse entendimento e quiserem somar-se a nós serão bem-vindos.

            Eu tive a oportunidade de, ao longo dessa campanha, fazer muita reflexão e trazer à tribuna alguns temas que me preocupavam. Falei, na segunda-feira anterior à eleição, do preconceito que estava perpassando o processo eleitoral, do acirramento dos ânimos e até da instigação da animosidade entre as pessoas, entre os militantes das duas campanhas. Depois daquele episódio lamentável no Rio de Janeiro, em que uma militante acabou, num embate corporal, perdendo um pedaço do dedo, fiquei refletindo assim: a marca dos votos e do resultado dessa eleição está exatamente calcada no combate à desigualdade, e talvez as pessoas ainda possam não ter se dado conta - e nessa eleição o preconceito se manifestou de modo muito forte... Não lembro, nos meus 54 anos, Senador Tião Viana, de ter visto episódios nos quais as manifestações eram, em muitos momentos, fermentadas pelo preconceito.

            As coisas estão correlacionadas, porque o Governo enfrentou a situação com as políticas de combate à desigualdade seja por meio da transferência de renda, seja pela recuperação do salário mínimo, seja pelos acordos salariais acima da inflação, seja pelas políticas de inclusão e de ampliação do crédito para as faixas da população de menor poder aquisitivo, seja pela retomada da construção civil e do saneamento, seja pelas políticas mais importantes e necessárias para a inclusão social, como a adotada no caso do ProUni, que atendeu parcelas da população jovem, que viu no ProUni a possibilidade de, por meio da educação universitária, alçar segmentos sociais diferenciados, acima daquilo que a sua situação atual estabelece. Foi exatamente esse combate à desigualdade que nesta eleição - disso não tenho nenhuma dúvida - deu a vitória contundente ao Presidente Lula. Ele mesmo teve oportunidade de dizer que, apesar dos vários ataques e enfrentamentos com que ele teve de lidar ao longo desses quase dois anos, a mudança no cotidiano, a melhoria na vida das pessoas, era incontestável.

            Por mais que falassem do seu Governo, era incontestável que as pessoas vivem melhor, as pessoas têm mais oportunidades, e a situação delas passou por modificações concretas, palpáveis e indiscutíveis.

            Tudo isso sustentou a vitória do Presidente Lula com esses 58,258 milhões de votos em todos os cantos do Brasil, mas também trouxe para a cena política o preconceito, que se nutre exatamente das diferenças e das desigualdades: “sou melhor porque eu sou branca e você é negro; sou melhor porque sou homem e você é mulher; sou melhor porque eu sou rico e você é pobre; sou melhor porque eu sou paulista e você é nordestino; sou melhor porque sou uma pessoa sã e você é portador de uma deficiência”.

            O preconceito se baseia nas diferenças. Ele protagoniza nas diferenças exatamente esse fermento para a animosidade e o ódio. Por isso, nessa eleição a urna refletiu o reconhecimento do combate à desigualdade, e nas ruas houve tantas manifestações preconceituosas. Temos a grande tarefa de tirar das urnas todas as lições tanto para o Governo como para a Oposição, a lição necessária para que não desperdicemos as oportunidades que estão colocadas no sentido de permitir que o País alcance o status de nação desenvolvida e não em desenvolvimento, status de nação justa, e não de nação injusta, de nação que dá oportunidade a todos, e não a poucos ou a alguns. Aí nossas tarefas serão muito grandes.

            Ao longo desses quase quatro anos, aprendi a conviver com a contundência da Oposição neste Senado da República e sei que teremos de ter toda a paciência do mundo para reconstruir pontes que foram destruídas. Tenho a convicção de que, com o resultado das urnas, também está colocado o desejo da ampla maioria dos Estados que elegeram Governadores alinhados com o projeto nacional encabeçado pelo Presidente Lula. Portanto, esta sinergia entre o Governo Federal e a ampla maioria dos governos estaduais irá-nos dar as condições para enfrentar esses desafios com mais tranqüilidade.

            Tenho a certeza também de que a aproximação com vários partidos, propiciada pelo segundo turno, permitirá consolidar, para o segundo mandato, uma estrutura de governabilidade baseada na coalizão partidária. Isso, com certeza, dar-nos-á uma condição melhor para desenvolver, com mais transparência e solidez, os programas e as metas que o País espera depois de um processo eleitoral como o que vivenciamos no dia de hoje.

            Não posso deixar de manifestar minha felicidade com o resultado das urnas, Senador Tião Viana. Também não posso deixar de estar neste Plenário do Senado, onde a correlação de forças foi sempre muito débil e delicada para o Governo - talvez não se modifique muito no próximo período.

            Com humildade, digo que precisamos restabelecer as pontes e as tratativas, para que possamos governar sem desmerecer, sem desqualificar e sem diminuir todos os que participaram desse processo eleitoral, porque se submeteram ao resultado das urnas. O resultado está aí. Portanto, o respeito deve ser restabelecido a partir do resultado, o respeito que nós, que temos a tarefa de governar o País por mais quatro anos, deveremos ter para com todos aqueles que participaram democraticamente desse processo e que têm a tarefa não menor, nem mais fácil, de fiscalizar e manter o Governo permanentemente sob a ótica da regra democrática legal e da convivência entre os diferentes.

            Talvez a maior marca e o maior desafio do País seja lidar com os diferentes, propiciando a todos a oportunidade de serem incluídos e respeitados a partir do que cada um é, como é e da forma como foi constituído e se desenvolveu, dando oportunidade para que o nosso País evolua no sentido de ser a grande nação que todos nós queremos e desejamos. Todos nós temos a obrigação de corresponder pelo que a urna nos colocou como desafio. Por isso, a vitória é do Brasil, a vitória é do povo brasileiro. Que tenhamos a capacidade de estar à altura deste grande povo, que nos coloca esse desafio para os próximos quatro anos.

            Volto à tribuna, Senador Tião Viana, de sangue doce. Não há nem terceiro, nem quarto, nem quinto turno. O que há é o desafio de fazer o melhor para o povo brasileiro.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2006 - Página 33011