Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Aplausos à reeleição do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Aplausos à reeleição do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2006 - Página 33146
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VICE-PRESIDENTE, SAUDAÇÃO, TENTATIVA, OPOSIÇÃO, VITORIA, ELEIÇÕES, REGISTRO, HISTORIA, CHEFE DE ESTADO.
  • HOMENAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INTEGRAÇÃO, BRASIL, CONTINENTE, AFRICA, PAIS ESTRANGEIRO, INDIA, CHINA, IMPLANTAÇÃO, BOLSA FAMILIA, POLITICA SOCIAL, MELHORIA, SITUAÇÃO SOCIAL, PAIS.
  • CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, SAUDAÇÃO, VITORIA, REELEIÇÃO, EFICACIA, ATUAÇÃO, VALORIZAÇÃO, ORIGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadoras, senhores telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado; senhoras e senhores assistentes presentes a este plenário, foi um dia em que o sol demorou a se pôr, foi um dia diferente, foi como se as horas plácidas de uma tarde de domingo não encontrassem em seu caminho, manso e vagaroso, os braços do crepúsculo, velho e cansado porteiro da noite, para lhe entregar a luz do dia e receber em troca as trevas da noite.

            Brilhava um outro sol, semelhante ao sol do profeta Malaquias. Domingo, a noite se atrasou. No céu da Pátria e no coração dos brasileiros, brilhava o sol daquela esperança que venceu o medo e que, como esperança vitoriosa, se tornou perseverança. E de perseverança se fez confiança e contagiou 58 milhões de brasileiros.

            Um discurso, Srª Presidente, proferido desta tribuna, por mais despretensioso que seja, traz o eco da voz de todos os ilustres Srs. Embaixadores da Federação, do Norte e do Sul, do passado e do presente, que aqui, neste local, com a alma em chamas pelos ares da democracia, ou pela falta deles, protestaram suas razões diante do Congresso Nacional, dos Poderes da República, do povo desta Pátria brasileira, de nossa gente sofrida e valente, que, nas porfias da Nação, se substancia nesta tribuna de oração nas palavras dos líderes que escolheram representá-los e traduzir em leis sua vontade soberana.

            Se a alma do povo não estiver presente nas palavras aqui proferidas, não há discurso. Se não há discurso, não há Parlamento; se não há Parlamento, não há democracia. E, se não há democracia, é o caos.

            Hoje, porém, Srª Presidente, não faço o discurso da regra clássica, do orador que se dirige ao auditório na busca de um acordo e onde funcionam os mecanismos privilegiados da retórica: a persuasão e o convencimento.

            Também, aqui, não está uma peça formal de felicitação ou de homenagem, de cuja raiz semântica do termo não gosto, já que representa a promessa de fidelidade do vassalo ao senhor feudal, o que não cabe aqui.

            Hoje, não, Srª Presidente! Hoje ocupo esta tribuna para aplaudir. É um gesto simples de aplauso, como é simples a vida de quem eles aplaudem. Não é, portanto, um discurso como o dos senhores pais da Pátria que se imortalizaram nesta tribuna. É um debuxo canhestro, como diria o ilustre Senador do meu Estado Roberto Campos, com o qual pretendo traduzir, com as limitações de um aprendiz, o sentimento que contagiou a Nação no domingo em que a tarde demorou a cair.

            Aplaudo o vencedor, mas sem esquecer de saudar a aguerrida Oposição, com os votos que cabem aos bravos, como V. Exª, que lutam, e lutam sempre, pois, como dizia Rui Barbosa, vale a pena lutar quando o dever se sobrepõe à confiança, e, em horas assim, a paixão pelo bem substitui com vantagem a garantia de vitória.

            Hoje, Srª Presidente, passadas as eleições, não há mais vencedores e vencidos. Não há e nunca haverá uma pátria dividida, porque pátria, como na parábola de Salomão, que propôs dividir o filho vivo em duas bandas e dar metade a cada uma das mães que o choravam, sim, Srª Presidente, assim como o coração da mãe verdadeira, pátria não se divide.

            Somos uma só Pátria brasileira, estamos unidos em torno da decisão de 58 milhões de pessoas que nos apontaram um rumo. Cabe-nos, a partir de agora, a cada um e a todos, com a nobreza da consciência democrática, legado maior de nossos antepassados, e com amor e ardor à Nação, que juramos defender e manter, construir o País com o equilíbrio dos Poderes e com os debates de boa-fé entre Governo e Oposição.

            Ocupo, portanto, a tribuna desta Casa para aplaudir o brasileiro simples, o retirante nordestino, o Luiz pernambucano, que é igual a muitos outros luízes, ou o joão ou o josé, como seu Vice, o mineiro José Alencar, mas que também podia ser do Nordeste, do Centro-Oeste, do Sul ou do Norte. Aplaudo-os. Eles foram reeleitos Presidente e Vice-Presidente do Brasil, nesse domingo, por mais de 58 milhões de nossos irmãos brasileiros.

            Esse Luiz não foi eleito por se tratar de um gênio, de um santo, de um puro, mas de um homem simples, com nossas virtudes e defeitos, com erros e com acertos. É um homem que, na infância, passou fome, como muitas crianças brasileiras; que foi operário de chão de fábrica; que lutou a luta dos sindicatos, das categorias profissionais, em busca dos direitos do trabalhador brasileiro.

            Esse Luiz de Pernambuco podia ser de São Paulo, do Amazonas, do Piauí. Esse Luiz do Brasil - deste Brasil que o coração arrebatado de Gilberto Freyre, perplexo, descobriu que, antes de Dom João VI, era muito mais africano e asiático do que europeu nas suas relações sociais e nos seus antagonismos - é também o Luiz do mundo, porque é parte do Brasil que recebeu da África a mestiçagem de bantus, de somalis, de etíopes, de árabes, de persas, de cingaleses, de javaneses, de chineses e de outros tantos que não sei, mas que, desde o início da era cristã, visitavam aquele continente, em especial minha querida Moçambique - onde vivi parte da minha vida - em busca do incenso, do marfim, das carapaças das tartarugas, dos chifres dos rinocerontes, das peles das panteras e do ouro - ouro do Zimbábue e ouro de Sofala, que os portugueses levaram para sua terra e deixaram de passagem no Brasil.

            Portanto, Srª Presidente, falo de um Luiz que é também parte desse mundo, como todos nós, na gênese da Nação que somos e que jamais deixaremos de ser. Foi assim que Gilberto Freyre ditou a lição: “É urgente que se comece a ver o Brasil de fora para dentro e a ligá-lo ao resto do mundo”.

            Aplaudo o Luiz que fez isto: que viu o Brasil de fora de sua perspectiva histórica e que uniu o País a este mundo que é tão nosso e que está tão perto do que fazemos, muitas vezes inconscientemente, como bater palmas diante de uma casa para chamar o dono, costume que herdamos dos nossos pais, e eles, dos indianos. São costumes que, como muitos outros que nos unem à África, à Índia e à China, andaram longe da pauta das políticas de relação exterior, que, por muito tempo, só enxergavam os grandes centros da Europa e da América do Norte.

            Por isso, Srª Presidente, escolhi aplaudir - e aplaudir de pé - esse Luiz que integrou o Brasil a esse mundo de outrora, de China, de África e de Índia, que seu conterrâneo Gilberto Freyre, dotado dessa capacidade de explicar o presente por meio do passado, virtude que, ao que parece, Deus, com primazia, concedeu aos pernambucanos como eles, imortalizou depois de seu périplo às antigas colônias portuguesas, enxergando ali tantas coisas que hoje vemos aqui.

            Aplaudo, e de pé, esse Luiz que acreditou que era possível, no mesmo País em que os bancos não quebram e em que empresas com papéis em bolsa obtêm lucratividade recorde, fazer também uma rede de amparo social para os carentes, com 192 programas, sobressaindo-se entre eles o Bolsa-Família, que alcança mais de 40 milhões de brasileiros. Que se distribua renda! Que se confira ao salário mínimo um valor que rompa, que rasgue e que arrebente a barreira de US$100, que, por décadas, prevaleceu como intransponível e que é símbolo do nosso subdesenvolvimento e da desigualdade social!

            Carlos Lacerda, também do meu Estado, dizia que a política econômica do Governo Castello Branco conseguia a perfeição, pois matava igualmente pobres e ricos: os pobres, de fome; e os ricos, de raiva. Talvez, nesse tempo fosse popular o adágio que diz: “Alegria de pobre dura pouco”. Hoje, Srª Presidente, a alegria dos pobres dura mais - e, certamente, durará mais quatro anos -, e a alegria dos ricos não se desvanece. Não se morre de fome nem de raiva. No Brasil, pela primeira vez em muitos anos, cresce - ainda que pouco - a economia sem crescer a inflação.

            Aplaudimos, a Nação e eu, o Luiz do sertão, das ruas, do chão de fábrica; o Luiz do sindicato; o Luiz da liberdade; o Luiz Presidente. Aplaudo-o de pé, tendo no rosto ainda a luz do sol que, no domingo que anoitecia, continuava a brilhar no céu da Pátria e no coração dos brasileiros.

            Vá em frente, Luiz, Presidente, que venceu as forças da calúnia que se manifestaram por setores da mídia e que tentaram deter a vontade do povo brasileiro, esses decapitadores ávidos em mergulhar a vida alheia no que elas têm de mais sagrado, que é a própria honra, para oferecerem à degradação pública seus homens de Estado, os que lutaram e que lutam para o engrandecimento da Pátria!

            Srª Presidente, determinei à minha consciência não me deixar levar pelas mágoas e pelos ressentimentos, por mais justos que fossem, nem assumir postura crítica, porque errei demais para gostar de criticar.

            Cristo ensinava: “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus”. E amar a Deus é amar também o povo. Portanto, para quem ama o povo e por ele sofre, tudo passa e tudo coopera, até as calúnias.

            O Chanceler Adnauer dizia que o maior dom que Deus pode conferir a um estadista é dar-lhe couro de elefante.

            Ao Luiz do couro de elefante, que deu a outra face; ao Luiz pequeno, que se fez gigante; a ele, que conduziu a marcha dos humildes pela sua própria sobrevivência e que não se intimidou, mas que enfrentou os desafios que a história lhe cometeu com a bravura de quem vence a mentira com a verdade, o ódio com o amor e a disposição tempestuosa dos adversários com a paz; sim, a esse Luiz, que a tudo isso se sobrepôs e que venceu pela razão e pela fé, o aplauso de pé, as honras do coração deste aprendiz e, tenho certeza, desta Nação!

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2006 - Página 33146