Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamento pelo triste episódio de constrangimento contra jornalistas da revista Veja, na Polícia Federal e manifestação contra o cerceamento do exercício de qualquer profissão que seja.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Lamento pelo triste episódio de constrangimento contra jornalistas da revista Veja, na Polícia Federal e manifestação contra o cerceamento do exercício de qualquer profissão que seja.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2006 - Página 33178
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, OBSTACULO, POLICIA FEDERAL, AUTORITARISMO, RELACIONAMENTO, IMPRENSA.
  • DEFESA, LIBERDADE DE IMPRENSA, ANALISE, JORNALISMO, INTERNET, CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, IMPRENSA, ESPECIFICAÇÃO, ALEGAÇÕES, PREJUIZO, CAMPANHA, PRESIDENCIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs Senadores, é emocionante para a Casa ver esse diálogo franco e republicano entre os Senadores Tião Viana e Renan Calheiros. Fico feliz em ver que esses dois jovens Senadores procuram o entendimento visando única e exclusivamente o futuro do País. Aliás, o Senador Tião Viana voltará a ter um papel muito importante nesta Casa, uma vez que é uma ilha em termos de disposição sincera, franca e aberta para a arte do diálogo.

            Sr. Presidente Renan Calheiros, há pouco, trouxemos a esta Casa, a pedido do Senador Tasso Jereissati, episódio que envolveu jornalistas da revista Veja em São Paulo.

            Tive, ao longo de toda essa campanha, a preocupação de não atribuir culpa. Muito ao contrário, sempre defendi a atuação da Polícia Federal por ser formada por profissionais que dedicam uma vida toda ao exercício de suas tarefas.

            Infelizmente, os erros cometidos não saíram da instituição. Saíram, durante toda a campanha - é bom que se diga -, dos superiores, que não estão naquele organismo. Sempre que o Palácio e o Ministério da Justiça tentaram interferir nas ações da Polícia Federal, o resultado não foi o melhor de todos.

            É lamentável esse triste episódio que me foi relatado pelo Senador Tasso, que recebeu as informações da alta direção da própria revista.

            É lamentável porque ele ocorre ainda na ressaca de uma eleição em que o eleito se elege com vinte milhões de votos a mais e dá declarações de que irá mudar o seu comportamento no segundo governo, especialmente no que se refere ao seu relacionamento com a imprensa, o que é um ponto positivo, Senador Paulo Paim, porque é um reconhecimento de que o relacionamento não foi bom no primeiro governo, o que todos sabemos.

            A entrevista coletiva do Presidente Lula no primeiro mandato foi polêmica. Ela foi dada a uma jornalista francesa nos jardins de uma residência em Paris, embora a jornalista fosse de origem brasileira, num desprestígio à categoria. Depois, tivemos episódios como a expulsão do jornalista Larry Rohter, aquele americano que tanta polêmica causou, tivemos a tentativa de modificação da Lei de Imprensa e outros episódios lamentáveis.

            É evidente que todos nós homens públicos temos um verdadeiro rosário de queixas do comportamento de determinados órgãos de imprensa ou, especificamente, de determinados jornalistas. Mas não se justifica, em nenhum dos casos, o cerceamento da liberdade ao exercício da profissão de quem quer que seja.

            Sabemos, Senador, que, pelo País afora, instalam-se verdadeiras arapucas que recebem o nome que se quiser dar: sites, blogs, seja lá o que for. São arapucas montadas por picaretas, por jornalistas que fracassaram ou que perderam a credibilidade e que montam essas arapucas para viver única e exclusivamente “mamando nas tetas” dos governos.

            Mas esse não é o caso da convivência que nós temos na Capital Federal. Em Brasília, temos uma imprensa livre e, acima de tudo, independente sob todos os aspectos. Nós temos os blogs, os sites, nós temos, aqui, informativos - no Brasil todo, Senadora Heloísa Helena - que prestam a nós, políticos, através de informações privilegiadas, um inestimável serviço.

            Esse episódio é triste porque veio exatamente casar com declarações ressentidas, no momento de vitória, do coordenador da campanha a Presidente pelo Partido dos Trabalhadores, Sr. Marco Aurélio Garcia, que, ontem, culpou a imprensa por dificuldade de campanha, como se os fatos que a imprensa divulgou não tivessem sido divulgados por dever de obrigação profissional. O ressentimento, especialmente com determinados órgãos da imprensa, fez com que alguns militantes, movidos pela emoção, partissem, inclusive com violência física, para repórteres de televisão e de jornais que ali se encontravam. Mas o mau exemplo é assim mesmo. Quando não se corta o mal pela raiz, quando não se punem os que atentam contra liberdades, dá-se oportunidade a que outros assim procedam.

            De forma que quero apenas lamentar esse triste episódio, Senadora Heloísa Helena, na esperança de que esses fatos sejam esclarecidos. O Senador Tuma já nos trouxe, inclusive, uma nota do delegado a respeito da matéria. Mas é preciso que essa questão seja esclarecida de maneira mais profunda e que esse fato não traga mais novos constrangimentos à imprensa brasileira, que tem, na realidade, obrigação de divulgá-los.

            Na certeza de que teremos, de uma vez por todas, encerrado esse caso - sem que com isso se pare com a apuração -, acho que é fundamental, até para a própria tranqüilidade e segurança do Governo que vai se iniciar, em novo mandato, a partir de janeiro, que esses assuntos estejam todos esclarecidos até lá e que nada seja varrido para baixo do tapete.

            Feitos estes esclarecimentos, agradeço a V. Exª, Srª Presidente, pela oportunidade que me dá, na certeza de que o grande sustentáculo da democracia é, sem dúvida, a imprensa livre e temos que preservar e zelar pela que temos.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2006 - Página 33178