Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre os esclarecimentos recebidos por parte do Ministro Luiz Fernando Furlan sobre a fusão da Perdigão com a Sadia. Comentários sobre a entrevista do presidente Lula ao programa Roda Viva, ontem, quando não soube explicar as graves denúncias que pesam sobre o seu governo.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL. ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre os esclarecimentos recebidos por parte do Ministro Luiz Fernando Furlan sobre a fusão da Perdigão com a Sadia. Comentários sobre a entrevista do presidente Lula ao programa Roda Viva, ontem, quando não soube explicar as graves denúncias que pesam sobre o seu governo.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2006 - Página 31308
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL. ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SUSPENSÃO, DENUNCIA, FUSÃO, INDUSTRIA DE ALIMENTAÇÃO, EXPECTATIVA, ESCLARECIMENTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC).
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROGRAMA, TELEVISÃO, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, AUTORIA, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), IRREGULARIDADE, EMPRESA, PROPRIEDADE, FILHO, RECEBIMENTO, DINHEIRO, CONCESSIONARIA, SERVIÇO PUBLICO.
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, AFASTAMENTO, ASSESSOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, APOIO, CANDIDATURA, SENADO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • PREVISÃO, DIFICULDADE, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PAIS, INDEPENDENCIA, NOME, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, AUTO SUFICIENCIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), AUSENCIA, REDUÇÃO, PREÇO, GASOLINA, ACUSAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CENSURA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, ontem, tratei do assunto do Ministro Luiz Fernando Furlan, que a revista IstoÉ salientou em relação à fusão da Sadia com a Perdigão.

O Ministro, com a educação que lhe é própria, telefonou-me, prestando esclarecimentos, embora dissesse que não poderia fazê-lo oficialmente por motivos relacionados à Comissão de Valores Mobiliários. Sendo assim, deixo em suspenso a denúncia que fiz, para que venha o esclarecimento posterior de S. Exª, o Ministro Furlan.

Srª Presidente, a entrevista do Presidente Lula ao “Roda Viva” apenas confirmou o que todos sabiam: ele não consegue explicar sequer as graves denúncias que pesam sobre seu Governo e sobre ele próprio. Também não sabe nada do que fez ou deixou de fazer seu Governo e, menos ainda, do que faria se fosse reeleito, o que espero em Deus não aconteça. Quando perguntado sobre os escândalos, suas respostas beiravam ao escárnio pelo tanto que afrontam a lógica e o bom senso.

Senão, vejamos: o dossiê sanguessuga - é sempre bom lembrar - foi forjado por petistas, alguns ligados por estreitos laços de amizade ao Presidente da República, com o objetivo de prejudicar a campanha do Sr. Geraldo Alckmin e de José Serra. Ainda hoje - e aqui salientou o Senador Pavan -, o Dr. Biscaia, Presidente da CPI, declarou que não há nada com o Ministro Serra e que essa foi uma ação criminosa do Partido dos Trabalhadores.

Lamento que V. Exª esteja na Presidência e tenha de ouvir essas verdades sem poder contestá-las, já que não está no plenário. Mas, certamente, se for o caso, o Senador Tião Viana as contestará.

Ora, Srª Presidente, o Presidente insistia na tese de que o dossiê prejudicou somente a ele mesmo, quando a jornalista Renata Lo Prete o interrompeu, lembrando que ele tinha sido prejudicado apenas porque a trama foi abortada e os suspeitos - soube-se depois - eram todos ligados ao PT e a ele próprio, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda em relação ao dossiê, Lula disse que Berzoini caiu porque não soube explicar-se. É inacreditável que um de seus maiores amigos, Presidente do Partido, chefe da campanha, ex-Ministro do Trabalho, não saiba explicar-se perante o Presidente da República, seu chefe por tanto tempo! E o Presidente ainda tem a coragem de dizer isso diante de milhares de espectadores.

Ora, Berzoini fez o mesmo que seu chefe Lula, Presidente de Honra do PT, vem fazendo em relação a todas, absolutamente todas, as suspeitas que pesam sobre ele: disse que nada sabia e que não poderia responder por seus subordinados.

Se o Presidente não pode responder sobre seus subordinados, quem responderá? Pergunto a este Plenário e não posso perguntar ao público que me ouve, pois eles não podem apartear: se o Presidente não tem controle sobre seus subordinados, então, tudo se pode fazer na República? Roubar de ponta a ponta? E nunca ele tem culpa, porque não pode fazer nada sobre seus subordinados. Ele disse isso ontem - está gravado. Se dúvida existe, posso mandar buscar a gravação no meu gabinete para informar V. Exªs.

Aliás, no caso do dossiê, há uma diferença grande sobre o envolvimento de Berzoini e Lula: os suspeitos são subordinados a ambos, mas são principalmente os amigos pessoais do Presidente Lula. Ora, vejam só: Freud Godoy é o homem que passeia todas as manhãs com o Presidente Lula, emagrecendo no cooper e engordando com o dinheiro que entra para o Governo. Emagrece andando e engorda na parte da tarde. E quem são os outros? Um diretor do Banco do Brasil, outras pessoas ligadas ao Presidente da República, pessoas do seu gabinete. Digo isso, sem falar nos escândalos que ocorrem desde que surgiu o Waldomiro Diniz.

O caso da Gamecorp/Telemar também foi tratado pelos entrevistadores. Foi uma negociata incrível em que a empresa de telefonia destinou, em tempo recorde, contrariando qualquer lógica empresarial, milhões de reais à firma de fundo de quintal do filho do Presidente. Mais uma vez, Lula disse que nada tem com isso. E disse que a Telemar é uma empresa privada e que ele não pode impedir que seu filho trabalhe e receba o dinheiro.

Quando falou em trabalho, o Presidente, talvez, estivesse se referindo ao acordo firmado entre a maior operadora da telefonia fixa do País e a firma minúscula e inexpressiva, cujos donos são filhos de petistas ilustres - um deles o próprio Presidente da República. O trabalho foi intermediado por outra empresa, a BDO Trevisan, cujo dono, Antonio Trevisan, é amigo pessoal do Presidente, e rendeu ao filho de Lula R$5 milhões à vista e, depois, mais R$5 milhões anuais.

Lula fingiu não saber que a Telemar é uma concessionária de serviço público e tem, entre seus sócios, o BNDES. Ou seja, o BNDES financia a Telemar, que, por sua vez, passa recursos para o filho do Presidente da República.

Lula também disse que o filho errou e que, se errou, ele que pague! É o que esperamos. Esperamos todos que o filho do Presidente - ou ele próprio - pague os milhões que chegaram da Telemar para ele.

Lula, em dado momento - não sei se posso dizer o que ele disse, mas está nos jornais, e, se saiu nos jornais, é público e notório; acho que posso dizer, pedindo desculpas aos senhores que aqui estão, principalmente nas galerias -, abusando de seu estilo “mesa de botequim”, chegou a usar termos impublicáveis, incompatíveis com a postura que se espera de um chefe de Estado.

            É natural que ele não goste de debates e entrevistas. Afinal, ele não tem como responder a tantas acusações. Ele não pode explicar, não pode dizer a cada escândalo revelado que não sabia.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Ainda tenho tempo, Excelência.

Lula não sabe explicar por que seus assessores não foram afastados, pediram afastamento, e nem por que ele próprio continua a defendê-los.

Não sei se devo dizer, talvez não diga. Ele disse que, de manhã, teria uma entrevista; de tarde tinha que ir à Folha de S.Paulo; e, à noite, teria outra na entrevista Record. Não vou dizer, Srª Presidente, porque pode ferir, mas a senhora é experimentada, então direi nos seus ouvidos e nos do Senador Tião Viana o que ele disse e que está escrito nos jornais. Mas em respeito ao público que aqui está não vou repetir.

Lula não afastou ninguém, nem mesmo Waldomiro, que hoje não passaria de um ladrão de galinhas se comparado aos delúbios, valérios e todos os mensaleiros e sanguessugas. Mais do que o poder, foi a contradição que subiu à cabeça de Lula. De um lado ele relembrou - vejam só - amargamente o debate com Collor, em 1989, e as revelações que o Collor indelicadamente fez e não deveria ter feito em relação à sua filha Lurian. Do outro lado, mal o ex-Presidente se elegeu Senador - o mesmo Collor que falou mal da filha dele, V. Exª sabe disso, Senador Tião Viana, porque foi público e notório -, Lula foi ao encalço do Senador Fernando Collor, agora, e disse que ele era uma grande figura e que iria ser um notável Senador. O mesmo homem que atacou a Lurian, sua filha, de modo inacreditável e injustificável, em 1989! Agora estão juntos, como junto ele está de tanta gente que ele atacou e que estão submetidos a processos judiciais.

De um lado afirmou não poder culpar seus correligionários e amigos. Do outro lado, disse que os afastou, o que não é verdade, já que disse se sentir traído. De um lado, negou o mensalão, negou até mesmo que tenha cooptado o PL em troca de milhões; do outro lado, chamou de abominável a negociata promovida não por ele, pelo Delúbio. Quem trouxe o mensalão não foi Lula, não foi José Dirceu, foi Delúbio.

Sr. Presidente, a vida é assim mesmo. O programa de ontem permitiu mais uma vez desnudar a farsa em que o Governo de Lula está metido. Serviu também para mostrar que foi e é conivente com tudo o que aconteceu. Por isso, ele mostrou-se confuso, inseguro e irritado, razão pela qual se esconde da imprensa e de todos.

O fato é muito significativo. Ele não pode responder as perguntas. O programa Roda Viva de ontem não foi uma entrevista. Foi um interrogatório. Se foi ruim para o Presidente, foi muito bom para a sociedade brasileira, que teve mais uma oportunidade de conhecer a face verdadeira de um dos piores Presidentes que o País já teve em todos os tempos.

Muito mais poderia ser dito e perguntado não apenas sobre os escândalos, como o novo megamensalão, acionado para cooptar o Governador Blairo Maggi, ou a respeito da origem criminosa de R$1,7 milhão do dossiê, conforme avaliação do Deputado Antônio Carlos Biscaia, do PT. Mas devemos salientar que o caso do megamensalão Blairo Maggi é realmente algo que deveria ser justificado perante a Justiça Eleitoral.

O Ministro Marco Aurélio Mello, que é um dos homens mais dignos que este País possui, deveria saber que o Sr. Blairo Maggi conversou com o Senhor Presidente da República e saiu com R$1 bilhão para tratar do agronegócio em Mato Grosso - R$3 bilhões para o grupo todo e R$1 bilhão para o seu Estado. Esse foi o preço da cooptação aberta, à vista de todos e, portanto, à vista do Tribunal Superior Eleitoral.

O outro Marco Aurélio, o Marco Aurélio Garcia, chegou a salientar que este Governo - não sei se foi ele ou Jaques Wagner - investiga tudo, da Daslu aos dólares da cueca. Peço aos petistas que expliquem o caso dos dólares na cueca, pois até agora não foi explicado. Ele existiu ou não? Por que não se trata desse assunto? Por que a televisão não trata desse assunto? Por que o meu candidato não trata? Não entendo.

Não é o que pensa, entretanto, o Marco Aurélio decente, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que lamenta a demora nas investigações e alerta que o eleitor não pode ser subestimado.

O que ele quer dizer com isso é que o eleitor brasileiro não pode ser escamoteado com a verdade pelo ocultamento do caso pela Polícia Federal ou pelo Ministério da Justiça, do meu prezado amigo Márcio Thomaz Bastos.

Para não dizer que apenas tratou de crimes deste Governo, os entrevistadores poderiam ter-lhe perguntado por que os investimentos cresceram 29% no mundo e caíram 17% no Brasil. Sempre V. Exªs falam em número e por que não dizem que os investimentos no mundo inteiro cresceram 29% e caíram 17% no Brasil e que, para o ano, teremos um ano, qualquer que seja o Presidente, economicamente dificílimo. Quem negar isso estará negando a verdade, seja Lula, seja Alckmin. Será um ano difícil, e nós aqui temos de ter muita consciência para saber o que faremos para dar vida a este País.

Essa festejada auto-suficiência em petróleo, cujo pico começou, digamos a verdade, no Governo Fernando Henrique e terminou no Governo Lula, não favoreceu nenhum brasileiro, ninguém que está aqui, pois estamos pagando a mais cara gasolina do mundo, 11% mais do que qualquer país do mundo - pelo menos 11% mais em relação ao segundo.

Poderíamos pedir que o Lula listasse alguma PPP firmada pelo Governo Federal. O Presidente deveria ter aproveitado para dizer o que pensa da liberdade de imprensa e de opinião; ele que exigiu o afastamento do jornalista que o incomodava, como foi o caso de Boris Casoy; ele que estabeleceu a censura pura e simples, como aconteceu com o Jornalista Arnaldo Jabor; ele que se vale de outra forma não menos odiosa de censura, que é o corte de verba publicitária que vem fazendo com a revista Veja. O Presidente perdeu mais uma oportunidade de explicar aos olhos do povo todas essas falcatruas realizadas nos casos valerioduto, mensalão e sanguessuga.

Faltam poucos meses, se Deus quiser, para o Brasil mudar de situação.

Nós queremos justiça, Sr. Presidente. Se houver justiça, haverá uma ação muito séria em relação ao próprio Senhor Presidente da República.

Temos alternativa? Temos. Vamos eleger Geraldo Alckmin, pois, se assim fizermos, estaremos mudando a face do Brasil e permitindo que um Presidente decente acabe com todas essas roubalheiras e, sobretudo, dê a dignidade indispensável para um País como o Brasil.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2006 - Página 31308