Pronunciamento de Heloísa Helena em 01/11/2006
Discurso durante a 178ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Referências aos discursos propondo a união entre os partidos políticos pelo bem do Brasil.
- Autor
- Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
- Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
LEGISLATIVO.
POLITICA PARTIDARIA.
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Referências aos discursos propondo a união entre os partidos políticos pelo bem do Brasil.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/11/2006 - Página 33302
- Assunto
- Outros > LEGISLATIVO. POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- CONTESTAÇÃO, ALEGAÇÕES, IMPOSSIBILIDADE, COMPARECIMENTO, CONGRESSISTA, SENADO, MOTIVO, GREVE, CONTROLADOR DE TRAFEGO AEREO, EXPECTATIVA, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, CATEGORIA PROFISSIONAL, AREA ESTRATEGICA.
- ESCLARECIMENTOS, ATIVIDADE, ORADOR, POSTERIORIDADE, PERDA, MANDATO PARLAMENTAR, SENADOR, RETORNO, CARGO PUBLICO, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL, ESTADO DE ALAGOAS (AL), CONTINUAÇÃO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), EMPENHO, APOIO, PROPOSTA, INTERESSE NACIONAL, COLABORAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PAIS, AUSENCIA, COMPROMETIMENTO, CONLUIO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
- NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, TRANSAÇÃO ILICITA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Não ponha a culpa nos controladores de vôo pelo vagabundismo parlamentar. Nunca faça isso! É evidente que todos nós pegamos vôos também. Não tenho jatinho, nunca tive, e sei exatamente o que vai me acontecer, porque quem anda pelo Nordeste sabe o que acontece: tem de fazer duas conexões, não sei quantas escalas e outras coisas mais.
Espero que o Governo possibilite os mecanismos necessários para resolver o problema, que é grave, porque não é uma atividade qualquer, é uma atividade estratégica, é uma atividade muito, muito importante. E ganhar R$1,1 mil não é uma coisa qualquer. Mas é claro que sabemos que a ausência dos Parlamentares não tem nada a ver com os controladores de vôo, até porque tem muita gente que anda de jatinho.
Mas, Sr. Presidente, Senador Garibaldi, já tive a oportunidade de falar - e o Senador Cristovam também - várias vezes sobre o resultado da eleição. No entanto, nesses dias tem-se tornado muito recorrente esta história de dizer que tem de estar todo mundo unido, tem de estar todo mundo num grande frentão. Esse é um tipo de discurso medíocre, ridículo. Ora, todos unidos pelo Brasil, é claro que estaremos, todos unidos pelo Brasil, pela educação, pela saúde, pelo saneamento básico, pela moradia, pelo desenvolvimento econômico, pela redução dos juros. Todos estaremos juntos. Não podemos estar juntos para sermos cúmplices da roubalheira, do banditismo político, da ausência de eficácia do aparelho de Estado e desse tipo de coisa. Mas é um discurso demagógico que realmente pega.
Senador Cristovam Buarque, como eu, V. Exª saiu dessa campanha dizendo: combati o bom combate, não perdi a fé, não perdi a esperança, continuo acreditando nas lutas do Brasil e do povo brasileiro.
É claro que o Presidente Lula teve uma vitória. Respeito humildemente o resultado das urnas, mas não sou demagoga. Não vou dizer que respeito qualquer resultado eleitoral, porque não respeito. Respeito o resultado das urnas. Eu perdi, fui derrotada. V. Exª foi derrotado, Senador Cristovam Buarque, o Senador Garibaldi Alves Filho foi derrotado, o Alckmin foi derrotado. O Lula ganhou a eleição, foi vitorioso. Mas não sou demagoga a ponto de dizer que qualquer decisão do povo é sábia e soberana. Conversa! Do mesmo modo como várias vezes fiz considerações em relação às outras candidaturas também, cheguei à conclusão dolorosa - que não vai me tirar a esperança - e triste - que não vai tirar minha capacidade de luta - de que, se eu tivesse passado oito anos roubando aqui no Congresso Nacional, sendo cúmplice da roubalheira do Presidente Lula, sendo base de bajulação do Governo passado ou chafurdando na pocilga com os porcos da política, teria tido mais chance de ser eleita. Estaria bem, pessoalmente, rica; meu filho estaria rico. Imaginem só: meu filho poderia estar com R$15 milhões da Telemar, como o filho do Lula! É uma coisa de outro mundo!
Então, não sou demagoga. Se eu disser que está tudo bem, tenho de dizer: “Que maravilha que Alagoas elegeu o Collor!”, “Que maravilha que São Paulo elegeu Maluf!”, “Que maravilha isto e aquilo outro!”. Nem sempre. Não sou demagoga. Nem sempre.
Infelizmente, existe uma banalização da corrupção, do cinismo, da mentira, da bandalheira política, e as pessoas começam a aceitar como se natural fosse.
Sei, é claro, que 67 milhões de pessoas disseram “não” a ele. Ele teve 58 milhões de votos e 67 milhões de votos que disseram “não” a ele: 37 milhões do Alckmin e 30 milhões dos que votaram nulo, branco e que não foram votar. Isso é fato.
Alguém se sentir como rei? Já vi isso aqui. Meus primeiros quatros anos de mandato foram na oposição ao Fernando Henrique Cardoso, e os outros quatros anos na oposição a Lula. Já vi o Fernando Henrique Cardoso ser rei do Brasil também. Eu já vi. O Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno e havia gente na rua: nós fizemos marcha dos 100 mil a Brasília, havia denúncia contra a privatização, contra isto e aquilo. O atual Presidente se reelegeu no segundo turno. O Presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno. Podia ser considerado um rei. Hoje, se tivesse sido candidato, não teria 3% de intenção de voto! Podia até ganhar uma eleição, mas não pelas probabilidades indicadas na pesquisa.
Então, eleição é assim: a gente ganha, a gente perde. Mas acho que o melhor é quando a gente perde a eleição mas não perde a vergonha na cara, o amor no coração, a capacidade de continuar lutando.
Então, da parte do P-SOL, estaremos... não conversando no Palácio. Quem quiser tirar retrato comigo que venha para o corredor do Congresso. Este tipo de coisa é meio ridícula: ir para lá, convocar, porque é o jogo cínico e dissimulado que ele sabe fazer muito bem. Ninguém precisa nos convidar para tirar retrato no Palácio do Planalto, mas o que for importante para o Brasil nós vamos votar. Pode ser o Fernando Henrique, o Alckmin, o Lula, o Cristovam ou a Heloísa, se é importante para o Brasil, nós votaremos favoravelmente - o Deputado ou Senador do P-SOL, do mesmo jeito. Agora, vamos acabar com esse jogo de cinismo e dissimulação, essa coisa ridícula! Isso é para promover uma operação-abafa maior ainda? Vamos acabar com esse cinismo!
Muitas coisas ainda precisam ser esclarecidas no tal dossiê. O Brasil precisa conhecê-lo. A maioria de nós já o conhece, não há nada de retumbante, mas pode ser que apareça algo que esteja em alguma gavetinha que eu não conheça. Precisamos saber de onde vem o dinheiro. Realmente, fico impressionada! Cheguei à conclusão de que, se eu tivesse passado oito anos roubando no Congresso Nacional, como muitos roubam, como o Presidente da República rouba, com certeza a vida seria muito melhor. Não tenho dúvida disso, mas, mesmo assim, consigo ficar impressionada. Não sei de onde vem tanto dinheiro! Nunca vi algo assim! São dólares nas peças íntimas do vestuário masculino, são dólares nas malas pretas de um lado para outro, são dólares que vêm do narcotráfico, do crime organizado, do jogo do bicho, são dólares que vão para o paraíso fiscal para pagar o publicitário do Presidente. E não aparece a fonte do dinheiro. Se existe alguma botija, como dizemos no interior, queremos saber o endereço para mandar o povo brasileiro ir lá. Eu realmente nunca vi tanto dinheiro sem origem que aparece para fazer o jogo sujo da relação promíscua entre o Congresso Nacional, o Presidente da República e outros setores da sociedade.
Então, eu acabei me sentindo instada a falar sobre isso mais uma vez, tanto pelas declarações demagógicas do Presidente da República, como por ter visto aqui a visível sensibilidade do Senador Garibaldi Alves Filho quando falava do que passou no processo eleitoral, de como lutou no processo eleitoral, e que está aqui, de volta a Casa. Estão de volta a Casa S. Exª e o Senador Cristovam Buarque. O Senador Efraim Morais e o Presidente não concorreram à eleição. Eu estarei na sala de aula, na Universidade Federal de Alagoas.
Claro que me sinto feliz, honrada e profundamente agradecida pelos convites que recebi de universidades do Brasil, de universidades da Europa, de pessoas sérias e importantes que queriam me dar uma oportunidade, mas resolvi não ir, Senador Cristovam Buarque, porque, se eu resolvesse ir para a Europa, para a Universidade de Paris ou para qualquer universidade das três que me convidaram, eu não iria movida pelo acesso ao conhecimento e a novas experiências. Eu iria meio com raiva, dizendo: “Não é possível! O Brasil aprovou o banditismo político, viu com naturalidade todas essas coisas”. E fica muito ruim quando se faz as coisas dessa forma.
Então, V. Exªs voltam a Casa, estarão todos aqui na Casa, e eu estarei na Universidade Federal de Alagoas, dando aula de cabeça erguida de consciência tranqüila, fazendo o bom combate, continuando na construção do P-SOL, Partido Socialismo e Liberdade, que não será seduzido nem entrará em nenhum canto do Palácio do Planalto, porque os fundadores do P-SOL fundaram o Partido, nos meses de glória do Governo, por coerência ideológica, porque não aceitaram encobrir a podridão do Governo para se vender por cargos, prestígio e poder.
É por isso que o P-SOL estará firme na oposição de esquerda, resgatando as concepções programáticas, as convicções ideológicas, a visão de mundo, necessárias não apenas para o aprimoramento da democracia representativa brasileira, não apenas para impedir o medíocre fatalismo do fim da história, do pensamento único, do modelo econômico único, da forma única de administrar o aparelho de Estado, parasitando-o, privatizando-o para máquinas partidárias, gangues partidárias e bandos políticos. Então, o P-SOL continuará a sua trajetória, como muitas outras estruturas dos movimentos sociais, estruturas partidárias que não se vendem, não se acovardam ante aqueles que ousam pensar que, porque ganham a eleição, sentam num trono para sempre, ad infinitum. E a vida objetiva - ainda bem! - se encarrega de mostrar o contrário.
Eram as breves considerações que eu queria fazer, Senador. Obrigada.