Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de desagravo ao professor Emir Sader. Comentários sobre a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no recente pleito para a Presidência da República.

Autor
Fátima Cleide (PT - Partido dos Trabalhadores/RO)
Nome completo: Fátima Cleide Rodrigues da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Leitura de desagravo ao professor Emir Sader. Comentários sobre a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no recente pleito para a Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2006 - Página 38830
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • LEITURA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TEXTO, POETA, HOMENAGEM, PROFESSOR, COMEMORAÇÃO, ORADOR, VITORIA, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AVALIAÇÃO, APOIO, POVO, CONSTRUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, JUSTIÇA SOCIAL, BRASIL.
  • COMENTARIO, RECEBIMENTO, AGRESSÃO, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE RONDONIA (RO), ROUBO, EQUIPAMENTOS, SEDE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REGISTRO, INVESTIGAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, POLICIA FEDERAL.
  • AGRADECIMENTO, LIDERANÇA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, PARTICIPANTE, CAMPANHA ELEITORAL, VOTO, ELEITOR, APOIO, PROPOSTA, POLITICA SOCIAL, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, OBRA PUBLICA, POLITICA ENERGETICA, PARCERIA, INTEGRAÇÃO, AMERICA LATINA, CONCLAMAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENTENDIMENTO, AMBITO NACIONAL.

            A SRª FÁTIMA CLEIDE (Bloco/PT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria, nesta tarde, de comentar, já que esta é a minha primeira oportunidade na tribuna após o segundo turno das eleições de 2006, a vitória do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de todos nós neste processo.

            Antes disso, também quero fazer aqui meu manifesto de solidariedade ao Professor Emir Sader lendo um poema escrito no dia 29 de outubro de 2006 pelo Sr. Pedro Tierra, oferecido ao Professor Hélio Jaguaribe. Nesta oportunidade, eu o ofereço também ao Professor sociólogo Emir Sader. O nome do poema é “Nós, os primitivos”. Passo a ler o poema.

Fomos levados ao pelourinho das palavras.

Ao açoite público sob a luz impiedosa da tarde.

Arrastados pelas ruas.

Atados às patas dos cavalos.

O sangue, o sal, a carne em postas,

exposta ao sol para o horror dos olhos:

a aterradora pedagogia do medo

gritando no alto dos postes da imensa Vila Rica.

De onde brota a sinistra raiz desse ódio?

Do édito

- que não concebe a recusa.

Dos punhos de renda

- que rejeitam a mão que a moenda mastigou.

Do senhor

- que não tolera o gesto insubmisso.

Da voz

- que arma a mão do feitor.

Essa que maneja a lava da palavra

e dissolve com seu fogo os passos que cumprimos.

Sonham, senhores e áulicos, nos converter em cinzas

e nos lançar aos ventos definitivos.

Mas dobramos a esquina e nos recompomos

na voz de um peão

que ecoa a força dos séculos

na pedra da praça e nos redime.

Sitiados pelo silêncio

- o silêncio aqui são os rios da palavra morta

ditada a diário ante os nossos olhos -

rompemos o submisso idioma do conformismo.

Invadimos a terra cercada e os espaços do mando.

Recriamos o espaço das ruas

(e das redes virtuais que a ordem não captura...),

Carregamos por elas bandeiras de liberdade.

Desafiamos o pelourinho.

Já não dobramos o dorso,

já não baixamos os olhos.

Com o corpo coberto de cicatrizes,

portando estrelas no peito,

nos olhos a invencível vocação de mar,

nós, os primitivos

voltamos

e somos milhões.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicio o meu pronunciamento com uma frase do Professor Emir Sader, retirada de um texto publicado na Agência Carta Maior, no dia 29. O texto tem o título “O direito à festa e à luta”. Diz: “Triunfamos pelo que mudamos, não pelo que mantivemos. Ganhamos porque nos mostramos diferentes e não iguais a eles”.

            É um belo texto, Sr. Presidente, que rememora a contagiante comemoração da primeira vitória do Presidente Lula, lembra a tristeza que tomou conta de muitos de nós em função da manutenção de dogmas da política econômica anterior - sofrimento que não nos abateu, muito pelo contrário - e exalta a resistência de todos que cerraram fileiras no Governo Lula, sabedores de que nele os espaços para mudanças existem, um outro Brasil está em construção e seus acertos são extraordinários.

            Os brasileiros que não quiseram trocar o certo pelo duvidoso sabem que Luiz Inácio Lula da Silva não renegou sua história. Ele mesmo disse, após ser consagrado pela montanha de cinqüenta e oito milhões de votos, no domingo: “Jamais abdicarei o lado que eu sou”. Referiu-se à sua condição humilde, de operário que conquista um segundo mandato presidencial, comprometendo-se com a obrigação, mais do que qualquer outro, de melhorar a situação dos menos favorecidos no Brasil.

            Com a esperança renovada, todos desejamos, é certo, um Brasil desenvolvimentista, com mais crescimento econômico e justiça social. As condições para isso existem, foram cautelosamente plantadas pelo Governo Lula neste primeiro mandato. 

            E o que resultou das urnas na recém-terminada eleição presidencial apresenta uma extraordinária soma de apoio político a Lula, que conta com a força de dois terços dos 27 Governadores. E, na Câmara, nosso Partido confirma a segunda maior bancada, seguida do PMDB, com o qual já se iniciaram entendimentos para a governabilidade.

            O povo brasileiro, Sr. Presidente, foi sábio. O povo brasileiro entendeu ser necessário dar mais tempo para o Presidente Lula. Se o Presidente das privatizações, do Governo que destroçou o Estado brasileiro, teve mais tempo, por que não conceder também mais tempo ao Presidente sensível, que aumentou substancialmente os recursos para a agricultura familiar, que instituiu o maior programa de transferência de renda de todos os tempos, que concedeu ganho real ao salário mínimo, que livrou o País do FMI e que o prepara para não sofrer apagões?

            O povo brasileiro ignorou a brutalidade da grande mídia, seu terrorismo patético comprovado especialmente no episódio do dossiê, no calor dos momentos finais de campanha.

            Srªs e Srs. Senadores, não foi fácil manter a dignidade durante a campanha, de tanto que fomos agredidos, por pertencermos ao Partido dos Trabalhadores, ao Governo que tenazmente ajudamos a eleger.

            Em Rondônia, com muito orgulho, coordenei a campanha do segundo turno do Presidente Lula. Vivemos vários momentos de agressividades; vários de nossos militantes foram ameaçados inclusive com armas.

            Fui ofendida e desacatada por diversas vezes. As agressões, provocações e ressentimentos por parte de quem defendeu o candidato tucano estavam em todo lugar.

            Nossa sede do Partido dos Trabalhadores foi assaltada na madrugada de sábado, véspera da eleição. Roubaram apenas o cofre e três computadores. Não acredito em crime comum, Sr. Presidente, porque os equipamentos roubados estavam na sala de mais difícil acesso e porque levaram, única e exclusivamente, os computadores da Secretaria de Finanças e da Presidência. O Ministério Público e a Polícia Federal já trabalham no caso. Queremos que tudo seja esclarecido urgentemente.

            Vencemos apesar de todo o ressentimento que se viu Brasil afora. Até mordidas para arrancar dedo aconteceram neste pleito. Rondônia avermelhou muito mais do que no primeiro turno, quando nosso adversário obteve inexpressiva vantagem nas urnas.

            No domingo da consagração definitiva, que levou novamente milhares de militantes às ruas de todo o Brasil, Rondônia generosamente elegeu Lula com 53,88% dos votos válidos. Em Porto Velho, a nossa querida capital, o maior colégio eleitoral do Estado, Lula teve 68,56% dos votos.

            O povo expressou sua satisfação com as políticas sociais implementadas, entre elas, o ProJovem, o Bolsa Família, o ProUni, a Escola Técnica Federal, que está a caminho, e as obras do setor elétrico, estratégicas para o plano de expansão de oferta de energia para o País, que garantirão que não haverá mais apagão no Brasil.

            Orgulhamo-nos de sediar duas delas: as usinas hidrelétricas do Madeira e o Gasoduto Urucu-Porto Velho.

            Em Ji-Paraná, Vilhena, Ariquemes, Cacoal, Rolim de Moura, cidades de grande porte no meu Estado, Lula também saiu vitorioso.

            A virada em Rondônia não foi esforço único do PT. Construímos, com importantes Lideranças do PMDB, PSB, PDT e PCdoB, apoio incondicional ao Presidente Lula. Quero, nesta oportunidade, Sr. Presidente, agradecer às Lideranças de todas as legendas o engajamento no projeto que sabiam e sabem ser o melhor para o Brasil.

            E agradeço, muito especialmente, de todo o coração, aos militantes de bandeiras vermelhas, agitadas nas alegres manifestações da campanha em todos os Municípios que visitamos.

            Agradeço, com alegria e gratidão, à população de Rondônia e do Brasil. Em Rondônia, ela não se omitiu no processo eleitoral: compareceu democraticamente e fez sua opção.

            E ainda que a população não tenha muito claro o significado extraordinário desta eleição, devo dizer que esta representa a possibilidade real de impedir retrocesso nas relações com os países com os quais o Governo construiu parcerias comerciais positivas; na integração latino-americana; na tarefa de diminuir as desigualdades sociais; nas ações de educação.

            Em pronunciamento oficial, em rede nacional de televisão, o Presidente Lula garantiu ser o desenvolvimento e a educação de qualidade o foco de seu segundo mandato. Muitas obras e projetos de envergadura estão engatilhados, à espera de mais investimentos, para dar continuidade à promoção de mais empregos e geração de renda.

            Nossa vitória, a vitória do povo brasileiro, será consagrada verdadeiramente com a concretização desses propósitos, os quais dependem não apenas do Presidente Lula, mas substancialmente da força da esquerda, do movimento social e de todas as forças políticas do Brasil. Por isso, o Presidente Lula já fez o chamamento ao diálogo, ao entendimento nacional.

            Mas, Srªs e Srs. Senadores, não faz muito tempo, assinamos um manifesto pela educação, comprometendo-nos com a educação básica, com a reversão da repetência, com a erradicação do analfabetismo e com a qualidade do ensino. Conclama o Presidente reeleito a um entendimento nacional em torno desse tema. Tenho a convicção de que, somente com mais investimentos na educação de nossos jovens e crianças, vamos promover a verdadeira democracia.

            A democracia conceituada pelo lírico poeta gaúcho Mário Quintana: “Democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um”.

            Comemoremos, como diz Emir Sader, essa histórica vitória, porque nós a merecemos.

            Requeiro a transcrição nos Anais da Casa dos textos que citei, Sr. Presidente.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigada.

 

********************************************************************************

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA FÁTIMA CLEIDE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

*********************************************************************************

Matérias referidas:

“O direito à festa e à luta”;

“Nós, os primitivos”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2006 - Página 38830