Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração de 70 anos da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - ABIH.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. TURISMO.:
  • Comemoração de 70 anos da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - ABIH.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2006 - Página 34172
Assunto
Outros > HOMENAGEM. TURISMO.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, REPRESENTAÇÃO, EMPRESARIO, INDUSTRIA, HOTEL, BRASIL, REGISTRO, DIFICULDADE, SETOR, FALTA, APOIO, PODER PUBLICO, ELOGIO, RECURSOS NATURAIS, PAIS, ATRAÇÃO, TURISTA, MUNDO.
  • NECESSIDADE, FACILITAÇÃO, ENTRADA, BRASIL, TURISTA, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, REDUÇÃO, TRIBUTAÇÃO, HOTEL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO DE CLASSE, EMPRESARIO, INDUSTRIA, HOTEL.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Hoteleiros do Brasil, geralmente quem fala a partir do terceiro lugar leva a desvantagem da apropriação do discurso dos que lhe antecedem. O Senador Romeu Tuma, em sua modéstia já conhecida, falou dos dois santos: o Espírito Santo e o Mão Santa; esqueceu-se dele próprio, o Santo Tuma, formando aí a Santíssima Trindade. Mas esse é exatamente um traço da sua vida.

Srs. Hoteleiros do Brasil, já vi, nas palavras abalizadas do Senador Leonel Pavan, hoteleiro por vocação e por sobrevivência, e do Senador Romeu Tuma, que o trabalho que a minha assessoria teve iria por água abaixo. O essencial foi dito aqui. Vou tentar, em um improviso leve, dizer, como Senador da República, mas que, meu caro Gilberto Amaral, só conheceu hotelaria já crescido, porque sou daqueles que foram criados no interior do Piauí, nas pensões, em que a suíte confortável era uma rede de casal, e comecei a ver, pelo Brasil afora e, depois, pelo mundo, o que é hotelaria e o que ela significa em termos de suporte para o desenvolvimento de uma cidade, de um estado, de uma nação.

Por que quero falar de uma maneira descontraída? Porque o principal instrumento de trabalho da hotelaria é o sorriso, o sorriso com que recebe os que batem à sua porta. Não importa se por trás desse sorriso as preocupações se acumulam, pelo excesso de lotação, pela escassez de hóspedes ou pela promissória que vence; enfim, por todos os problemas inerentes. Mas se sabe que a hotel em que a recepção tem cara fechada o hóspede não volta. É esse talvez o grande instrumento de conquista que o hoteleiro guarda em sua manga.

O Brasil pode não estar entre as maiores redes de hotelaria do mundo. É possível que isso aconteça. Mas tenho certeza, meu caro Pavan, que está entre as mais eficientes em termos de acolhimento e de hospitalidade. É próprio do brasileiro.

Muitas vezes, o esforço dos hoteleiros não é correspondido pelos governos. Lembro-me, na época do “milagre brasileiro”, quando se quis impor por meio da construção de obras suntuosas de hotelaria, muitas vezes convocando para o empreendimento pessoas não vocacionadas para o setor, que foram construídos no Brasil grandes “elefantes brancos”. Erraram nas cidades, nas localizações, verticalizaram os hotéis nas praias, quando a tendência de quem vinha era querer o hotel horizontalizado. Atenderam à ganância de alguns que queriam lucros, mas esqueceram os que viviam exclusivamente do setor.

E aí está o resultado: os que se recuperaram fisicamente foram os restaurados, quando retomados por quem era do ramo. Aliás, o mais grave é que empresários que tinham sucesso em outros setores, ao entrar para o da hotelaria, que não conheciam, se perderam nos dois.

Talvez não exista nenhum país no mundo com tanta vocação para esse setor como o Brasil, por termos aqui, na diversidade de nossas paisagens, turismo para todos os tipos e todos os gostos.

É difícil você ver neste Brasil um só Estado, uma só região que não tenha alguma coisa que atraia não apenas o turista brasileiro, mas principalmente o turista do mundo. E os motivos dessa atração, que às vezes para nós, que com ele convivemos no dia-a-dia e não o valorizamos, possa aparentar banal, para quem vem de fora, enfrentando horas e horas a fio, é de grande valor.

Eu, agora, tive a oportunidade de rasgar de ponta a ponta este País, e fiquei impressionado com o mundo se curvando a Alter do Chão, lá no Pará, a Santa Catarina do nosso Leonel Pavan e do Jorge Bornhausen, ao Delta do Mão Santa e até ao saxofonista tocando valsas às margens de um rio perdido na distante Paraíba.

Vejam como o apressado come cru: a Senadora Serys Slhessarenko já fez cara feia porque eu não citei o Mato Grosso. Deixei exatamente para citar por último. E S. Exª, que vem sempre aqui, meu caro Gilberto, vestida ecologicamente, hoje está pegando fogo.

Eu ia chegar, em sua homenagem, exatamente ao seu Pantanal: o Pantanal das chalanas, o Pantanal dos mistérios. Saiba, Senadora Serys Slhessarenko, que talvez seja a Amazônia o que mais atrai a curiosidade do mundo inteiro.

           Mas este é o Brasil. É o Brasil que está nas mãos dos Senhores que comemoram hoje 70 anos de existência, representados por essa Associação. Este é o Brasil que luta, independente de apoio público ou não, para cumprir a sua missão e o seu papel no desenvolvimento do País. Daí por que eu me solidarizar nesta justa homenagem aos hoteleiros brasileiros, por dois motivos: primeiro, pela história, pela luta e pelo sucesso; depois, porque é preciso que no Brasil também se cante as vitórias e o sucesso das pessoas. E que a concorrência se restrinja apenas à capacidade de cada um de, da melhor maneira que julgar conveniente, ocupar os seus espaços vazios, mas que se restrinja a isso e se una na confraternização que vemos hoje. Talvez esse espírito de confraternização é que tenha feito essa instituição sobreviver por 70 anos, cada vez mais forte. Daí por que eu me juntar e me unir, meu caro Pavan, a todos vocês, que, aliás, trabalham talvez na atividade mais sensível que conheço. O médico tem a sensibilidade restrita ao corpo humano; o hoteleiro, além de conviver com a sensibilidade do homem, do bom humor, do mau humor, de ter de adivinhar os pensamentos dele, tem de conviver com as secas, as intempéries, as cheias, a violência urbana, a greve dos aviões, a chuva.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E, vejam bem os senhores, chamado que sou pelo meu Presidente e obediente que quero ser, vou encerrar as minhas palavras dizendo que os hoteleiros do Brasil estão de parabéns.

Hoje, pela manhã, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, participei de uma sessão em que se discutia um protesto brasileiro quanto à colocação daquele muro, separando a fronteira mexicana da americana. E eu, na minha maneira franca e clara, ponderei que nós não tínhamos condições de fazer esse protesto, porque fui surpreendido, em momento recente, com um muro na praia de Salvador. Naquela praia, limitava-se a área do povo à área restrita, o que contraria a Constituição, que diz que a praia é do povo. Talvez a praia seja o único divertimento gratuito do povo brasileiro, Gilberto. Mas eu acho que essa forma de protesto é pequena e insuficiente. Se o Brasil quer protestar, que o faça de maneira efetiva, trazendo divisas por meio da abertura dos vistos, para facilitar a entrada de estrangeiros ao País. (Palmas.)

Talvez os gigantes poderosos não se sensibilizem com esse gesto, mas o mundo vai ver que esse é um tapa de luva na prepotência, na arrogância e, acima de tudo, numa medida sem nenhum objetivo prático, porque, depois que o homem criou asas, na intenção genial de um brasileiro, não temos mais fronteiras.

Poderíamos também, de outro lado, diminuir a carga tributária na hotelaria brasileira; já não digo competir com as grandes potências, mas pelo menos competir com igualdade com a Argentina e países vizinhos.

Seria bom que esses 70 anos não ficassem apenas no discurso, mas que fosse o plantio de uma semente; que esta Casa, criadora de leis, começasse a trabalhar nesse sentido, nessa direção. Aliás, a carga tributária não atrapalha somente os hoteleiros, mas os que querem vir para o Brasil, se hospedar nos hotéis e investir na nossa Pátria, mas que recuam diante da realidade que nos castiga, enquanto os arrecadadores, os verdadeiros caça-níqueis, acham que cofre cheio é o que está ao seu lado e não o que circula invisivelmente por todos os quadrantes da Pátria.

Por fim, quero confessar a vocês minha ignorância com o setor. Senti-me acanhado em falar numa sessão presidida por esse expert, que é o nosso Leonel Pavan, hoteleiro de Santa Catarina.

            Eu sou apenas um curioso. O que aprendi de hotelaria foi convivendo com o Eron, que está ali, quando teve a coragem de, neste Planalto Central, mudar ou iniciar a mudança da feição da hotelaria de Brasília. O Eron era o professor; meu mestre era o Eraldo. Somos mais ou menos da mesma idade. (Palmas.)

E, ao vê-lo hoje presidindo esta entidade, saio daqui confortável, com a certeza de que a persistência e a luta compensam. Eu que, menino, aqui cheguei, vi a sua luta. Ele, menino, levando carão do tio, que investiu muito, e o mandou para a Suíça. Ele chegou aqui achando que conquistaria Brasília primeiro pelas moças, que queriam casar com o sobrinho do Eron. Mas o Eron puxava-lhe as orelhas e lhe dizia: cuida do hotel. Gilberto é testemunha disso.

Ao ver todos aqui, sob a Presidência desse já não tão jovem Eraldo, felicito-os pela coragem, acima de tudo, de lutar contra as marés. 

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2006 - Página 34172