Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Engajamento de S.Exa. na Frente parlamentar do Pleno Emprego.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE EMPREGO.:
  • Engajamento de S.Exa. na Frente parlamentar do Pleno Emprego.
Aparteantes
Edison Lobão, Magno Malta, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2006 - Página 34233
Assunto
Outros > POLITICA DE EMPREGO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, COMPLEMENTAÇÃO, POLITICA, ASSISTENCIA SOCIAL, CRIAÇÃO, EMPREGO, COMBATE, ALICIAMENTO, CRIME ORGANIZADO, TRAFICO, DROGA.
  • GRAVIDADE, INDICE, DESEMPREGO, BRASIL, CONCENTRAÇÃO, JUVENTUDE, CRESCIMENTO, ECONOMIA INFORMAL, SUBEMPREGO, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • DEFESA, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, VINCULAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENCIA, BLOCO PARLAMENTAR, AMPLIAÇÃO, EMPREGO, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, ORADOR, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, COMBATE, DESEMPREGO.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, minhas senhoras e meus senhores, diz a Bíblia, a santa palavra de Deus: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado [...]”.

Não era assim no princípio, quando o homem acordou para a vida no Jardim do Éden, único paraíso que um dia existiu na Terra. No Éden, um processo natural e progressivamente exuberante produzia um ciclo auto-renovável de flores e frutos, nascidos da pujança da natureza original. O paraíso acabou por causa da cobiça. E pela cobiça ainda não surgiu nenhum outro!

Esse terrível sentimento imbatível por métodos e teorias humanas - sejam de ordem filosófica, artística ou científica -, persiste nos corações dos homens até hoje e impede que a natureza exerça a sua vocação divina: dar à luz novos paraísos, gestados em benefício de todos os homens e mulheres de boa vontade.

Desde a destruição do Jardim do Éden, a única hipótese para a perpetuação da espécie é a luta pela sobrevivência por meio do trabalho. Sim, o trabalho que tem parte da energia que produz transformada em calor, calor que se dissipa por meio do suor que pinga do nosso rosto.

Srªs e Srs. Senadores, sem trabalho não há pão! E o nosso povo sofrido bem sabe disso. Milhões de brasileiras e brasileiros não têm o pão nosso de cada dia, e a razão disso é que não há trabalho.

O Programa Fome Zero serviu e serve para mostrar ao mundo e aos brasileiros o caráter e as boas intenções de um Governo eleito e reeleito pela imensa maioria do povo brasileiro e que se tornou o fiel depositário de sua esperança. Mas não basta dar o pão, não basta dar o peixe: é preciso ensinar a pescar.

É ingênuo imaginar que poderemos construir uma sociedade mais justa e resgatar milhões de pessoas que hoje vivem no desemprego e no subemprego, reinventando um paraíso onde seja possível receber o sustento sem trabalhar. É impossível substituir, de maneira mais eficiente, a natureza, que tentou e jamais conseguiu isso permanentemente.

O povo, portanto, sabedor dessas verdades, clama por emprego digno e remunerado, capaz de garantir que os homens e mulheres decentes deste País possam conquistar seu sustento e o de suas famílias com o digno suor do seu rosto. Não há outro caminho e nunca houve.

Se não formos capazes de criar empregos para milhões de brasileiros, então será o narcotráfico que empregará uma grande parcela deles, recrutando nossos jovens para suas fileiras. Pais de família serão submetidos a estratégias obscuras na luta pela sobrevivência e muitas mulheres, ainda jovens, cairão na armadilha da prostituição. E o que dizer do futuro de nossos adolescentes, cada vez mais envolvidos com as drogas?

O bom pai não é diferente do bom governante ou do bom sacerdote. Ele sabe que só o trabalho, e mais nada, pode moldar o caráter, manter a mente ocupada com coisas úteis, despertar no ser humano o nobre sentimento do dever cumprido. Todos precisam disso: ricos ou pobres, cultos ou incultos, religiosos ou não.

Negar trabalho é negar a vida, é negar dignidade. Não há política compensatória que atenue isso.

Há famílias ricas em nossa sociedade que, por disporem de muitos recursos, tentam poupar os seus filhos do suor, fazendo-os viver confortavelmente de rendimentos financeiros supostamente inesgotáveis. A título de poupá-los da luta pela vida, em verdade os tornam cidadãos fracos, vítimas de problemas que não surgem do meio externo, mas de dentro deles mesmos, provocados pelo ócio que corrói os princípios e torna o ser humano vítima de si próprio. E é isso que temos visto, freqüentemente, em nossa sociedade.

O trabalho é a fonte da vida. Trabalho digno é questão de justiça e só ela pode produzir a paz.

Hoje, vivemos uma das maiores crises de desemprego da história de nosso País, a despeito de todo o esforço e do crescimento que esse Governo tem obtido na economia brasileira. São mais de 20 milhões de brasileiros, entre desempregados absolutos e subempregados, que levantam todas as manhãs e sentem a angústia de não ter o que fazer, a dor de não ter para onde ir. Não estando ocupados dignamente, passam o dia pelas ruas a bater em portas e a distribuir currículos. À noite, chegam em casa e não têm nada mais a mostrar para sua família do que um semblante abatido e histórias tristes de fábricas fechadas e de promessas vazias, enquanto contas se acumulam sem qualquer possibilidade de pagamento.

Nosso Brasil não pode conviver com uma taxa de desemprego (oficial) da ordem de 10%! Ainda mais se levarmos em conta que metade dos desempregados brasileiros tem entre 16 e 24 anos de idade. Estão retirando de nossos jovens qualquer perspectiva de um futuro decente. Assim, retiramos de nossos jovens até mesmo o direito de sonhar com um futuro digno e melhor.

A informalidade cresce a olhos vistos. Nossas cidades convivem, a cada dia, com mais e mais ambulantes, que lutam pelo sustento nos sinais de trânsito. Uns vendem doces, outros frutas. Outros, ainda, distribuem panfletos. Em comum, uma única certeza: a de que no fim do dia não sabem se terão ganho o suficiente para levar para casa o pão dos seus filhos.

A crise do emprego em nosso País tem como pano de fundo a recessão provocada por uma política econômica voltada exclusivamente para a estabilização da nossa moeda e o controle da inflação. São objetivos dos mais nobres, sem os quais não podemos sonhar com crescimento, mas quero repetir, agora, as palavras ditas ontem pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República de que não devemos mais procurar onde cortar, mas, sim, onde crescer. Isso nos traz de volta a esperança que durante dois anos nos embalou a alma, quando conduzíamos a Frente Parlamentar pela Política do Pleno Emprego.

Agora mesmo, digo, sem medo de errar, que todas as comunidades carentes habitadas das grandes capitais brasileiras estão sob o domínio do narcotráfico e suas populações, subjugadas a regras impostas e injustas que proíbem, por exemplo, que crianças estudem em escolas próximas, por estarem localizadas em áreas dominadas por facções rivais.

É bem verdade que nossa economia tem alcançado, na Bolsa de Valores, recorde histórico. O risco país e o dólar caem, e a balança comercial dá um show de desempenho, mas, agora, chegou o momento de essas vantagens chegarem até o povo mais humilde do nosso País.

Não podemos mais ter uma política econômica que atenda apenas ao mercado e, assim, seja socialmente perversa e desviada dos interesses das massas. Chegou a hora da virada em favor dos mais humildes.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me uma aparte, Senador Marcelo Crivella?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Já concluo e concederei o aparte a V. Exª.

Em vez de contribuir para o bem-estar do povo brasileiro como um todo, faz com que nossa riqueza não gere emprego, mas cada vez mais aplicações financeiras improdutivas, cujo lucro não retorna à atividade econômica na forma de demanda e de investimentos no setor produtivo.

Se não mudarmos a política econômica, continuaremos esterilizando nossa riqueza, ao invés de reproduzi-la e de socializá-la para que mais pessoas tenham acesso a ela.

Reza a teoria econômica que o novo investimento gera novo salário, que, por sua vez, se transforma em consumo, estimulando o empresário a fazer novo investimento. O lucro, assim, é reaplicado para atender a demanda efetiva em expansão.

Esse é o ciclo econômico virtuoso, no qual o suor do nosso rosto produz sustento e riqueza, gerando as condições necessárias para a construção de um Estado do bem-estar social que atenda a todos em suas necessidades básicas.

Mas, infelizmente, isso não é o que tem ocorrido em nosso País. O lucro tem sido esterilizado em aplicações financeiras que contribuem para aprofundar ainda mais o fosso que separa aqueles que recebem os juros altos e aqueles que devem pagá-los.

Assim, o Estado brasileiro, ao invés de atender aos anseios do povo, apenas cumpre sua meta de superávit primário de 4,25% do PIB, retirando das mãos dos brasileiros quase R$90 bilhões neste ano de 2006. O superávit primário nesses níveis acaba por privar o Brasil de escolas, hospitais, estradas, entre tantas outras obras de infra-estrutura necessárias para o País.

É preciso ressaltar que a alta taxa básica de juros, mesmo com a trajetória de queda dos últimos meses, continua a mais elevada do mundo. Os juros desestimulam o mecanismo de criação de empregos, cuja engrenagem primordial é o investimento produtivo. Somados à alta carga tributária brasileira, que beira os 40% do PIB, os juros são o maior fator de estagnação da economia brasileira, cujo crescimento será, mais uma vez, muito aquém do que esperávamos: pouco mais de 3% neste ano.

Portanto, é preciso mudar. Nosso povo, sobretudo aquelas pessoas mais humildes, clama por uma política de pleno emprego que estabeleça juros mais baixos, dispêndio do superávit primário e uma estratégia de gastos públicos com investimentos em infra-estrutura, em defesa, em ciência e tecnologia, em saúde e educação, e numa reforma agrária e agrícola que transforme as relações no campo.

Este é o Brasil no qual acredito: o Brasil do trabalho e da produção, da geração de emprego e de renda. Chega de um Brasil apenas do mercado financeiro, de um Brasil em que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres.

Tenho, Sr. Senador Edison Lobão, a profunda convicção desses fatos devido a uma situação que vivi na última campanha para o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Encontrei, em uma das comunidades do Rio, um jovem de 16 anos, soldado do tráfico, que se aproximou e me pediu emprego para poder mudar de vida. Com toda a experiência que tenho de contato direto com o povo, naquele instante, não soube o que responder. Senti, isto sim, uma profunda vergonha pela sociedade e pelo Estado a que pertencemos, indiferentes e omissos diante de situações como essa. Naquele instante, assumi um compromisso comigo mesmo: o de fazer tudo para dar àquele garoto, e a todos os garotos na mesma situação que ele, uma pequena oportunidade de vida decente, por meio do único caminho possível: o trabalho remunerado.

É por isso que me engajei na constituição da Frente Parlamentar do Pleno Emprego, que presido, suprapartidária, acima de qualquer divergência política ou ideológica, pois é uma frente comprometida com a geração de emprego e de renda para a população brasileira.

A Frente Parlamentar do Pleno Emprego é a resposta à mais grave crise social de nossa história, marcada por índices alarmantes de desemprego e de subemprego e provocada, sem sombra de dúvida, pela aplicação recorrente e sistemática, desde o início dos anos setenta, de uma política macroeconômica de extremas restrições monetárias e fiscais...

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Já permitirei a V. Exª o aparte, porque estou pronto a concluir. Falta só um pouquinho. Como diria o Senador Roberto Campos, do meu Estado, quando se trata dos acordes de uma melodia, por exemplo, de Wagner, V. Exª sabe que se ouvirá uma peça genial. Mas, quando se trata de um debuxo canhestro, de um aprendiz como eu, só ao término é que V. Exª saberá se é de alguma valia ou se deve passar para o lixo da história política deste País como algo que não mereça sua reflexão. Concluo em poucos instantes.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - V. Exª tem meu apoio quanto à primeira parte, no que diz respeito a Roberto Campos, e não o tem no que diz respeito a V. Exª. Não concordo.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado.

Portanto, Sr. Presidente, para não me delongar, quero apenas concluir meu pronunciamento, dizendo que a estabilidade social e política da Nação hoje nos permite dizer que lutamos muito com V. Exªs, com os grandes Líderes desta Casa, aos quais não posso nem sequer comparar-me. O Senador Edison Lobão foi Deputado, Governador, Senador várias vezes e nunca amargou a derrota em um pleito. Há outros que chegaram aqui pelo sucesso na sua vida profissional; há os que são filhos de eminentes políticos e cujos ancestrais hoje são nomes de rua e de cidades; há aqueles que fizeram sucesso na economia; há empresários famosos; há artistas. Eu sou apenas, como disse ao Senador Romeu Tuma, alguém que chegou com nenhum outro mandato, tendo sido apenas presidente de um centro acadêmico em uma universidade. Eu me sinto, portanto, como um peregrino que bate à porta de um templo, com pessoas tão importantes. É claro que contei com a sabedoria, tendo procurado aproximar-se de S. Exª, o Senador Edison Lobão, com quem, muitas vezes, privei, em longas viagens, de conversas, observando seu comportamento.

Menciono isso, Sr. Presidente, apenas para dizer que esse discurso, quando o compus, era exatamente para saudar ontem as palavras do Presidente da República, que fez um contraponto, diante de críticas e até dos conselhos publicados na imprensa, do Senador Aloizio Mercadante - líder valoroso que todos nós admiramos -, de que era hora do sacrifício. O Presidente disse: ”Basta, não vamos mais procurar onde cortar. Vamos procurar onde crescer”. Esse é o espírito que nos deve animar. O sacrifício que nosso povo tem feito, sobretudo os mais humildes, é comovente. Não sei como as pessoas no Brasil que vivem nas comunidades carentes se submetem ao cotidiano de tanta fome, de tanto frio, de tantas noites mal dormidas, de tantas crianças com dentes estragados. E assim vão levando suas vidas de maneira franciscana e sem reclamar.

Nos dez anos que passei na África - Malau, Zâmbia, Quênia, Madagascar agora me vêm à memória -, nunca vi os índices de miséria que vejo nas capitais brasileiras - e sei que em São Paulo não é diferente. De tal maneira que V. Exªs, que conquistaram nas ruas a democracia neste País, sem derramar sangue, tenho certeza, vão conduzi-lo agora, também sem derramamento de sangue, a conquistar não mais a democracia política, porque já a temos, mas a democracia social, para um País com renda mais bem dividida, com menos fome e com mais emprego para os brasileiros.

Concedo um aparte a V. Exª, Senador Edison Lobão e logo em seguida ao nobre Líder do Piauí, Senador Mão Santa.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Marcelo Crivella, tanto quanto V. Exª, tenho uma preocupação profunda com a situação dos nossos irmãos brasileiros desvalidos e lançados ao desemprego. Isso não apenas afeta, de maneira muitas vezes profunda, a situação existencial de cada um desses brasileiros, como também lhes causa o desânimo e o sentimento da derrota. V. Exª agora se engaja, de maneira mais efetiva, em um grupo político que visa a procurar caminhos para essas faixas da população brasileira. Manifesto meu júbilo por isso e explico por quê. Poucos são os brasileiros com uma experiência tão grande, tão larga, tão vasta nesse setor, quanto V. Exª, por ser um líder religioso, por atuar exatamente nessas camadas há tantos e tantos anos e por ser agora um líder político de grande envergadura nacional. Senador pelo grande e poderoso Estado do Rio de Janeiro, candidato majoritário duas vezes, pôde V. Exª haurir, ao longo dessas caminhadas, um sentimento de solidariedade com esses irmãos brasileiros que outros líderes não obtiveram. Senador Crivella, o Brasil tem muitos objetivos por cumprir, mas acredito, como V. Exª, que poucos são tão importantes quanto o da geração de empregos. O Brasil, no século passado, o século XX, do qual acabamos de desembarcar, foi o segundo país que mais cresceu no mundo e que, portanto, gerou empregos. O primeiro foi o Japão; o segundo, o Brasil. Estamos, agora, numa fase de escasso crescimento, de pequeno crescimento, o que significa desemprego em massa. Mais de 50% dos brasileiros em condições de trabalhar estão na informalidade, o que é decepcionante e vergonhoso para nós todos. O que busca V. Exª agora, com os estímulos também do Presidente da República, que haverá de liderar esse processo, é o crescimento e, por meio dele, a geração de empregos. Precisamos conseguir, realmente, ocupação remunerada para os brasileiros que hoje não a têm. Com isso, daremos dignidade a eles e um meio de vida. Cumprimento V. Exª por ter, portanto, decidido participar dessa Frente, que é a favor dos desvalidos. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Eu que agradeço a V. Exª, que, do alto de tanta experiência política, soma-se a mim neste pronunciamento.

Senador Mão Santa, ouço V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Marcelo Crivella, atentamente, eu e o País estamos ouvindo o discurso de V. Exª. Primeiro, é um prêmio de Deus ter aqui um representante d’Ele e também do povo. V. Exª traz a esta Casa e ao País fé e esperança - caridade o Lula trouxe, com o Programa Bolsa-Família. Mas me permita lembrar o que disse Deus: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Esta é uma mensagem de Deus aos governantes, a Lula! Ó Lula, é Deus! Então, é uma mensagem de Deus para os governantes propiciarem trabalho. O caminho é esse. E digo mais, com energia: o apóstolo Paulo, que propagou o cristianismo mais do que o próprio Jesus, que viveu pouco, que não escreveu, disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”. E sairia daí, dos terrenos de Deus para os nossos - para o nosso Nordeste, Senador Edison Lobão. Senador Lobão, o nosso Nordeste! Luiz Gonzaga... porque V. Exª há de convir que a música comunica muito mais, daí Davi dedilhar sua harpa e compor o salmo “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”.

Pois bem, Luiz Gonzaga disse que a esmola humilha e vicia o cidadão.V. Ex.ª falou no Wagner alemão, mas quero falar no Fagner do Ceará, o nosso compositor. Ele tem uma música com Gonzaguinha, “Guerreiro Menino”, em que diz que o menino guerreiro é um herói, ele tem o seu sonho. O sonho do homem guerreiro, do menino guerreiro, é o trabalho. Se lhe castram o seu trabalho, ele mata, ele morre; não pode ser feliz! Essa é a mensagem. Não tem outra saída. E creio no Deus que V. Exª está representando, no estudo e no trabalho; esse é o caminho. Essa conversa de dizer que Lula não estudou mas sabe mais do que os que estudaram, nela não creio, não acredito. Ele tem de ter humildade e buscar aquilo que o País precisa: crescer para gerar emprego e trabalho ao seu povo.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Mão Santa, e, antes de concluir, concedo um aparte ao nobre Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Assim que me sentei aqui, o Presidente fez um gesto para mim, quando olhei para ele, dizendo que eu teria o aparte de V. Exª.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado. Peço a V. Exª apenas que seja breve, porque a sessão está por findar e ainda há mais um orador inscrito.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Mas tenho certeza de que o Presidente, benevolente como é, generoso como é, principalmente pelo tratamento tão carinhoso de filho que dá a mim, além do fato de V. Exª estar tratando de um tema tão importante como esse, certamente, se precisar, prorrogará a sessão por um pouco mais de tempo. Senador Marcelo Crivella, eu estava ouvindo V. Exª no gabinete e não me contive; tentei aparteá-lo pela televisão, vi que não dava e resolvi vir ao plenário. V. Exª merece ser abraçado por todos nós. Nós, o Brasil e o Rio de Janeiro, conhecemos bem a sua natureza e o seu sacerdócio. Como bem dizia o Senador Lobão, não é pelo fato de V. Exª tão-somente ser religioso - conhecemos religiosos que nada têm a ver com o sofrimento humano, muito pelo contrário, e alguns que religiosos não são mas que têm a ver com o sacerdócio -, mas pela sua natureza, somada ao seu ministério sacerdotal, e pelo fato de conhecer, conviver e sofrer a dor dos nossos irmãos que estão abaixo da linha da pobreza e da miséria. Porém, há um ponto sobre o qual quero discordar - e não estou discordando de V. Exª. Falei com o Presidente Lula hoje à tarde sobre essa questão. Eu acho que ainda não existe um programa ou uma força política neste País capaz de enfrentar o Bolsa-Família, e acho que vai demorar muito para surgir exatamente pelo que dizia o Senador Mão Santa. Quando Jesus ia ensinar à multidão, Ele a alimentava, porque “saco vazio não pára em pé”, e o indivíduo com fome não tem a capacidade do raciocínio, do aprendizado. Olha, eu sou filho de faxineira e sei o que é ir para a escola com pouca comida. Não é desonra ser pobre; Jesus disse: “Os pobres, sempre os tereis convosco”; desonra e humilhação é ser miserável. E impuseram a uma faixa da população do Brasil a miséria. E alguns já sofreram tanto na miséria, que não aprenderão a pescar. Eles precisam receber o peixe na mão mesmo; e é preciso dar o peixe na mão mesmo, porque poucos ganharam muito e muitos não ganharam nada. Nos próximos dez anos, teremos um grupo de pessoas neste País que tem de receber o peixe na mão porque não aprenderão a pescar pelo fato de não terem sido incluídos. A eles foi dado só o desprazer de serem humilhados, de serem incluídos no sofrimento. É verdade que, em se tratando de exclusão social, e agora estamos preocupados também com a exclusão digital, com a exclusão na escola, com a falta de investimento em educação, quem sabe nos próximos dez ou quinze anos surja uma geração para a qual não precisaremos dar o peixe na mão e sim ensiná-la a pescar; e se ensina a pescar com educação. Mas há ainda uma faixa neste País que tem de receber o peixe na mão, porque foi a eles imposto um sofrimento que eles não pediram. O que todos queriam era ter carne, arroz, feijão na mesa, de manhã, de tarde e de noite, ter café, ter livro para dar aos filhos e condições de mandar o filho bem vestido para a escola, mas não puderam fazê-lo porque lhes foi imposto o sofrimento. Por isso, tive de vir aqui apartear V. Exª, porque usar como retórica o discurso do sofrimento humano é muito fácil, entretanto V. Exª é parte disso por causa da vocação sacerdotal. Sou parte disso porque sou filho dessa faixa da população brasileira à qual foi imposto o sofrimento. Sou filho de Dadá, sofrida; de Ameliano, sofrido; sou irmão de Antônio, sofrido; os meus familiares vivem nas periferias de São Paulo, sofridos. Sou dessa faixa da população brasileira porque nasci e fui criado ali, com as necessidades impostas a nós, sem que tivéssemos o direito de sermos incluídos. Por isso, apaixonei-me pela fala de V. Exª e vim correndo para aparteá-lo. Não podemos fazer um discurso demagógico e até, num determinado momento, querer desmerecer o Bolsa-Família do Presidente Lula. Com todo o respeito, para aqueles a quem foi imposto o sofrimento, é preciso dar-lhes o peixe na mão mesmo, porque o sofrimento já foi tão grande que eles não aprenderam a pescar.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Agradeço a V. Exª o aparte e já vou concluir, Sr. Presidente.

O fato é que nós que conquistamos a democracia política sem derramamento de sangue haveremos de conquistar a democracia social com a democracia política que nossos antepassados nos legaram.

Sr. Presidente, o Bolsa-Família é um programa consagrado e que tem sustentado vidas por todo este País. Mas é o momento agora de, com uma economia que cresça 5%, 6% - o sonho de todos nós -, gerar emprego, o que é realmente a grande aspiração do povo brasileiro.

Mas, é claro, há aqueles que são os nossos excepcionais - temos 20 milhões de deficientes -, os que não andam, os que não ouvem, os que não conseguem enxergar, aqueles que são deficientes mentais. Há também os idosos, que não foram abrangidos na Previdência e na seguridade. A eles, sim, o País deve sustentar.

Aos demais, Sr. Presidente, o emprego, o trabalho, o suor do rosto, a dignidade do homem de bem.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Marcelo Crivella, V. Exª cometeu uma injustiça contra si mesmo, que foi corrigida primeiramente, pelo Senador Edison Lobão, depois pelo Senador Mão Santa e pelo nosso Senador Magno Malta.

Tenho acompanhado e, no meu ponto de vista, talvez seja mais difícil reconhecer que eu vim a esta Casa. Mas ninguém vem aqui se não for pela vontade de Deus, e aqueles que o traem pagarão caro este preço de virem sem que Ele tenha dado a mão e reconhecido o seu trabalho. Portanto, V. Exª é um homem que tem trabalhado em benefício dos que mais sofrem; não é só aqui, tenho acompanhado as suas viagens na busca de uma esperança para aqueles que vão buscar uma melhoria fora da nossa geografia brasileira e que perdem provavelmente a esperança, e o sofrimento começa a acabar com a sua tranqüilidade e provavelmente com a vida, e V. Exª corre e estende a mão e os socorre.

Então, não pratique mais injustiça contra V. Exª. Olhe no espelho e V. Exª verá que Jesus Cristo estará do seu lado.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2006 - Página 34233