Discurso durante a 183ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de correspondência recebida de entidades de evangélicos a respeito de irregularidades praticadas por políticos.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO. POLITICA NACIONAL.:
  • Leitura de correspondência recebida de entidades de evangélicos a respeito de irregularidades praticadas por políticos.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/2006 - Página 34334
Assunto
Outros > RELIGIÃO. POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • LEITURA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MANIFESTO, AUTORIA, MEMBROS, IGREJA EVANGELICA, CONCLAMAÇÃO, POVO, REPUDIO, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, DEFESA, ETICA, DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS, ATENÇÃO, ESCOLHA, GOVERNANTE.
  • COMENTARIO, ALTERAÇÃO, PENSAMENTO, CRISTÃO, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, POLITICA, DEFESA, JUSTIÇA SOCIAL.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, ou, se a senhora preferir, Srª Presidenta, Srs. Senadores, Srs. telespectadores da TV Senado, Srs. ouvintes da Rádio Senado que nos assistem nessa manhã, nós, brasileiros, estamos preocupados com o índice alarmante de violência em nosso País. E recebi, Srª Presidente, um manifesto à Nação brasileira, assinado por dois pastores: Dr. Paschoal Piragine Junior, Presidente da Convenção Batista Brasileira, e Pastor Sócrates Oliveira de Souza, que passo a ler neste instante, desta tribuna.

Manifesto à Nação brasileira

O Conselho Geral da Convenção Batista Brasileira, reunido na cidade do Rio de Janeiro, decidiu manifestar sua indignação com o presente estado de insegurança que domina nosso país, especialmente as grandes cidades, e a corrupção que destrói a força política, pelo bem comum nos municípios, nos Estados e na Federação brasileira.

Conscientes de nossa cidadania, dever moral e espiritual, protestamos contra a prática de compra de votos, propinas e negociações superfaturadas feitas por gestores da coisa pública. Repudiamos a ação de políticos, independente de sua fé religiosa, que, em vez de cumprir o mandato servindo ao povo, usam do Estado para servir a interesses políticos e econômicos particulares. A corrupção crescente impede a prevalência do bom senso, da justiça, bem como da eficiência. Reconhecendo a autoridade comprometida com o bem maior como instituição divina e a necessidade do Estado que cuida da construção de uma nação, devemos fazer tudo que for possível e justo para construir uma sociedade firmada nos valores éticos e espirituais, inspirados nas Sagradas Escrituras. Por isso, conclamamos o povo a defender, ética e democraticamente, o respeito à pessoa e a garantia dos direitos individuais, para a manutenção do bem coletivo.

Conclamamos o povo a condenar e evitar a corrupção nas transações pessoais e familiares, bem como nos negócios privados e públicos realizados nas instituições. Exortamos os cristãos e as igrejas a condenarem a venda ou a troca de votos em busca de benefícios e favores dos políticos.

Conclamamos o povo a votar, escolhendo pessoas de ilibada moral, experientes na prática do bem, da retidão e da justiça, que se interessam verdadeiramente pelo bem-estar do povo no Brasil. Chegou a hora de unir a força do voto consciente para lutar contra a corrupção, a impunidade e a violência que minam as riquezas e a confiança do povo no futuro do país.

Conclamamos o povo a se unir nos lares e nos templos, em orações a favor do Brasil. A gravidade do momento requer de todos que se humilhem, reconheçam os seus pecados, busquem o perdão de Deus, reparem os seus erros e vivam de maneira justa.

Só assim veremos dias melhores e deixaremos um legado de justiça, paz e prosperidade para as futuras gerações.

Assinado o Presidente e o Diretor-Executivo da Convenção Batista Brasileira.

Srª Presidente, não sei se o meu tempo já acabou tão rápido, mas pediria a V. Exª que me concedesse apenas um pouco mais para que eu comentasse e concluísse esse pronunciamento que acabo de ler e que vem da Convenção Batista Brasileira.

É interessante notarmos que os cristãos católicos e evangélicos, as duas principais correntes do nosso País, estejam agora preocupados em níveis cada vez maiores com a política.

Quando criança, lembro-me de que nas igrejas se corria o dizer de que política era do diabo. E assim afastavam-se tantos homens de bem que poderiam ter participado, homens heróicos que viveram como missionários no sertão, na Amazônia do Senador Mozarildo Cavalcanti, no Nordeste do Senador Mão Santa, homens que desbravaram o Centro-Oeste de V. Exª, Srª Presidente - e um deles, o avô de minha esposa, fundador da cidade de Cristianópolis, em Goiás - e que consideravam a política como uma coisa de interesseiros, de ladrões, vigaristas, vagabundos interessados em fazer negócios com o dinheiro público para auferir ganhos pessoais.

Hoje, a coisa mudou e graças a Deus por isto. Esse manifesto é muito importante. É importante, também, para que a religião deixe de ser instrumento de poder das elites. Quantas vezes ensinaram aos cristãos que o caminho do céu é a pobreza e a miséria e que o verdadeiro cristão não deve reclamar das injustiças porque rico vai para o inferno e pobre vai para o céu e, assim, cantávamos desde crianças:

Eu sou pobre, pobre, pobre,

De marré, marré, marré,

Eu sou pobre, pobre, pobre,

De marré, deci.

Essa era a cantiga de igrejas, de ruas, de aldeias perdidas no sertão onde achávamos que a pobreza é bonita porque Cristo também foi pobre e miserável. Hoje é diferente. Hoje os cristãos estão discutindo desigualdade social, estão querendo saber do investimento público, das políticas de economia. Por que um País tão rico tem um povo tão pobre? E é evidente. E quando eu falo de evidência, Senador Mão Santa, faço-o com humildade porque muitas coisas evidentes no passado hoje estão relegadas ao museu das galhofas. Nossos antepassados achavam que era evidente que o sol se movimentava ao redor da terra, porque o viam nascer de um lado e morrer do outro. Era evidente. Achavam também que era evidente que, quanto mais perto do sol, mais calor. Hoje qualquer passageiro que viaja daqui para o Piauí a 10 quilômetros de altura sabe que a temperatura lá em cima é de menos 60 graus. As evidências enganam. Evidências muitas vezes são, como diz uma palavrinha em inglês, eu me permito aqui esse pecado, outsmart, uma maneira de Deus nos ensinar a humildade e mostrar que é preciso ter sabedoria para olhar além das aparências.

Às vezes, quando lemos uma manchete de jornal que diz o seguinte: Governo reafirmou ontem compromisso com ajuste fiscal. A Nação ouve isso no Jornal Nacional e, com evidência, diz o seguinte: o Governo - coisa séria -, reafirmou - ora, quem reafirma é quem mantém a palavra, disse ontem e diz hoje -, compromisso - ato de gente séria -, ajuste - tornar a coisa justa -, mas, por trás de uma manchete dessas, temos de cortar recursos da merenda escolar para pagar juros tão altos a rentistas.

Acho extraordinário que os cristãos - batistas, católicos, evangélicos, metodistas, presbiterianos - se levantem e busquem a politização de seu povo. Para isso, propus-me a um mandato parlamentar. Fui às ruas e consegui chegar a esta Casa.

Quero parabenizar o pastor Dr. Paschoal e o pastor Sócrates e dizer a eles que, após fazer a leitura do Manifesto à Nação brasileira, à Igreja Batista, faço um requerimento à Srª Presidenta para que o faça constar dos Anais da Casa não só pelas palavras, pelas críticas, mas também por um segmento importante da nossa sociedade que hoje procura ver além das evidências e buscar a verdade, que, como sabemos, só pode ser construída com uma vida pautada segundo os ensinamentos da palavra de Deus. É assim, com essa revolução espiritual...

(Interrupção do som.)

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Já concluirei, Srª Presidente.

É assim, com essa revolução, que passa pelo exemplo de seus políticos, de seus governantes, que precisam conhecer melhor a palavra de Deus, temê-la e praticá-la, para que todo o povo, dos mais humildes estratos da nossa sociedade até as elites, encontre um caminho de maior igualdade social, de maior justiça e de paz. E, afinal, venhamos a ver, Senador Mão Santa, Presidente, realizadas e efetivadas as palavras de Moisés, o grande estadista, o autor dos cinco primeiros livros da Bíblia. Ele disse há quase quatro mil anos: a paz é fruto da justiça e a segurança se estabelece como direito.

Que essas palavras sejam as últimas do meu pronunciamento.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/2006 - Página 34334