Discurso durante a 184ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura e comentários sobre e-mail recebido do eleitor Jorge da Cruz Silva, que solicita que os parlamentares "não subestimem a inteligência do povo", em referência ao resultado das eleições para a Presidência da República. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA SOCIAL.:
  • Leitura e comentários sobre e-mail recebido do eleitor Jorge da Cruz Silva, que solicita que os parlamentares "não subestimem a inteligência do povo", em referência ao resultado das eleições para a Presidência da República. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2006 - Página 34416
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, MENSAGEM (MSG), INTERNET, AUTORIA, CIDADÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AVALIAÇÃO, RESULTADO, ELEIÇÕES, CRITICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, UTILIZAÇÃO, TELEVISÃO, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, FORMA, CAMPANHA ELEITORAL, TENTATIVA, DEPRECIAÇÃO, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, VOTO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, ELEITOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, CIDADÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESULTADO, ELEIÇÕES, DEMONSTRAÇÃO, CONHECIMENTO, POVO, EXPECTATIVA, UNIÃO, GOVERNO, OPOSIÇÃO, PROMOÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA, POLITICA HABITACIONAL, POLITICA DE EMPREGO, CONGRATULAÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela Liderança do PT. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, quero cumprimentar os que estão nos assistindo pela TV Senado, bem como os Srs. Senadores presentes a esta sessão de segunda-feira.

Solicitei a palavra pela Liderança - estou inscrita também para falar sobre o assunto que preparei para o dia de hoje - para falar sobre um dos e-mails que tive a oportunidade de abrir no final de semana, que me chamou, sobremaneira, a atenção. O remetente, Sr. Jorge da Cruz Silva, não é do meu Estado; é do Rio de Janeiro, de Andaraí.

É um e-mail longo, em que o remetente faz uma avaliação do processo eleitoral. Ele me chamou bastante a atenção, porque inicia assim:

Vi e ouvi.

Nos últimos dois anos, acredito ter sido a pessoa que mais assistiu à TV Câmara e a TV Senado, ao vivo ou em reprise, durante todo esse tempo, vi e ouvi o que relato a seguir...:

Ele escreve três páginas relatando o que ele viu e ouviu, por meio da TV Câmara e da TV Senado.

Vou citar apenas alguns trechos do e-mail que reputo como os mais importantes.

Há alguns trechos que vou pedir a gentileza ao Jorge da Cruz Silva para omitir. Com alguns trechos eu não comungo. Talvez possam criar no plenário situações de constrangimento que eu não tenho intenção de promover.

Vou ler os que entendi como mais relevantes:

Vi e ouvi parlamentares transformando CPIs, Conselho de Ética, em palco eleitoral, com intuito de angariar votos em detrimento da busca pela verdade dos fatos, punir culpados, absolver inocentes. O povo deu a resposta nas urnas. A maioria que tentou esse caminho não se reelegeu.

Depois, ele faz uma longa citação, com vários parágrafos a respeito de episódios que considerei lamentáveis e aqui não vou reprisar, com palavras, referências, que passaram totalmente do limite da razoabilidade, do respeito que devemos ter para com as personalidades políticas e com as instituições.

Mais adiante ele diz assim:

Vi e ouvi parlamentares falarem que os votos do Presidente da República eram apenas dos analfabetos, dos menos esclarecidos. São esses preconceituosos que, durante décadas, nunca promoveram medidas para reverter esse quadro. Para que melhorar a educação, para que acabar com o analfabetismo, para que dar informação? Para esses não era interessante. Teriam os mesmos motivos para, de quatro em quatro anos, fazerem as mesmas promessas. Só que eles esqueceram que sabedoria não é apenas uma questão de escolaridade. Esqueceram que, neste governo, o povo deixou de ser massa de manobra, deixou de ter consciência ingênua e passou a ter uma consciência crítica. A esses, o povo deu a resposta nas urnas.

Vi e ouvi parlamentares tentando desqualificar o trabalho da Polícia Federal, ao dizerem que a sua atuação foi maior porque a corrupção aumentou. Pergunto: como aumentou, se tudo que veio à tona teve origem [na maior parte das vezes] antes mesmo deste governo? Ah... esqueci. Anos atrás, nada era divulgado. Eles eram mais competentes, abafavam.

Tentando buscar meios para novamente desqualificar o governo, vi e ouvi parlamentares tentando fazer comparações do Brasil com outros países, como China, Índia, entre outros. Eles esqueceram-se de dizer que a China tem, em média, 76% da sua população de campesinos; a Índia, 72%; o Brasil, menos de 20%.

Nesses quatro últimos anos, não houve nenhum acidente com as plataformas de petróleo, nenhuma afundou ou explodiu. Será que foi apenas coincidência?

Falou-se muito em privatizações. Cheguei a lembrar de uma época não muito distante, quando tentaram colocar um “x” no final do nome da Petrobras, o que me fez também lembrar quando tentaram retirar o “do” do nome do Banco do Brasil, como tentativa de desvalorizar a marca. Será mera coincidência?

Depois, ele se refere a uma série de outros episódios que foram bastante debatidos no plenário. Mas eu me remeto ao final do e-mail, porque acho que aí vem uma puxada de orelha muito bem dada e que me animou a pedir a palavra em nome da Liderança, para reproduzir o que o Jorge da Cruz Silva manda para todos nós da Oposição e do Governo.

Enquanto muitos achavam que a eleição para presidente estava ganha no primeiro turno, o povo brasileiro, contrariando muitos, deu mais uma lição de sabedoria. Promoveu o segundo turno pelo único meio legítimo e democrático, que é o exercício do voto, como forma de castigar e mandar um recado para que o presidente melhore suas escolhas, para que aprenda com os erros cometidos e possam contar com uma nova relação com o povo, promovendo as transformações de que o País necessita.

Que a Situação e a Oposição entendam o recado do povo brasileiro e que se unam para promover a agenda nacional visando a melhorias! Acredito serem possíveis avanços concretos na área da educação, acredito na conveniência de um ajuste fiscal e de políticas eficientes que busquem o crescimento, melhorando as condições de saúde, segurança, moradia, transporte e emprego. É preciso que entendam que fazer política é promover o ideal do bem comum. A cada melhoria, todos ganham. A existência da Oposição é democrática, é sadia. É debater idéias, criticar o que está errado, aplaudir o que está certo, sem necessariamente ultrapassar os marcos legais.

Que essa reeleição não caia na maldição que acometeu a tantas outras! Talvez um dia os historiadores possam explicar um fenômeno político chamado Luiz Inácio Lula da Silva.

Gostaria de poder cumprimentar o Presidente Lula, não pela vaidade, não pela emoção, não por um possível privilégio, mas, sim, com a certeza que, ao apertar a mão do Presidente, estarei parabenizando o povo brasileiro.

Como brasileiro que ama seu País, como cidadão carioca que cumpre suas obrigações constitucionais, não peço, EXIJO: Nunca mais subestimem a sabedoria de um povo.

Então, deixo o registro deste e-mail do Jorge da Cruz Silva que me trouxe profundas reflexões. Refleti sobre o quanto que a população que nos assiste avalia e aprecia o que fazemos no plenário, nas comissões e em nossas outras atividades parlamentares, formando sua opinião; e refleti também sobre o quanto temos a obrigação de estarmos atentos e de respondermos à altura com o nosso trabalho, seja de Oposição seja de Governo, àqueles que nos assistem e nos ouvem. Como o próprio Jorge disse, ele não pede, mas exige que não se subestime a sabedoria do povo brasileiro, porque, nessas eleições, inequivocamente, ele deu demonstrações da sua sabedoria.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2006 - Página 34416