Discurso durante a 186ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cobranças de recursos do governo federal para execução de obras de infra-estrutura no Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. POLITICA INTERNACIONAL. SAUDE. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Cobranças de recursos do governo federal para execução de obras de infra-estrutura no Estado do Piauí.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 17/11/2006 - Página 34656
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. POLITICA INTERNACIONAL. SAUDE. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ANALISE, POLITICA NACIONAL, DEFESA, REFORÇO, DEMOCRACIA, PODERES CONSTITUCIONAIS, REITERAÇÃO, COMPROMISSO, INTERESSE NACIONAL, ATUAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO.
  • CRITICA, POLITICA PARTIDARIA, BUSCA, COLIGAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, LOBBY, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INDICAÇÃO, CARGO PUBLICO, REITERAÇÃO, DEFESA, ETICA, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, PROCESSO, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, VISITA, ORADOR, EPOCA, VITORIA, HUGO CHAVEZ, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESPECIFICAÇÃO, DESVALORIZAÇÃO, JUDICIARIO, LEGISLATIVO, EXPECTATIVA, DIFERENÇA, BRASIL, REFORÇO, PODERES CONSTITUCIONAIS, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, SENADOR, RESISTENCIA, CORRUPÇÃO.
  • ANALISE, PROGRAMA ASSISTENCIAL, BOLSA FAMILIA, NECESSIDADE, DEBATE, REFORÇO, POLITICA DE EMPREGO, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, EDUCAÇÃO, ETICA.
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, DIVIDA, HOSPITAL, CENTRO DE SAUDE, GREVE, MEDICO RESIDENTE, SOLIDARIEDADE, ORADOR.
  • COBRANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECURSOS, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, ESTADO DO PIAUI (PI), CUMPRIMENTO, PROMESSA, PORTO, FERROVIA, USINA HIDROELETRICA, ECLUSA, PONTE, HOSPITAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Serys Slhessarenko, Presidente desta sessão de 16 de novembro, quinta-feira, Srªs e Srs. Senadores presentes nesta Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem e nos ouvem pelo sistema de comunicação do Senado, pelas rádios AM e FM e pela TV Senado, e aqueles que lêem o Jornal do Senado, aí está o Senador do Partido do Trabalhador que convida o Presidente da República, recém-reeleito, a fazer uma reflexão. Nós comungamos da mesma preocupação.

No primeiro mandato, Senador Delcídio Amaral, votamos em Lula, mas nós nos distanciamos, porque temos nossas crenças, como V. Exª, fundamentadas no estudo, no trabalho e na experiência, mostrando uma visão de futuro real. Nós nos afastamos porque acreditamos num tripé. Assim como a Igreja de Deus tem tripé - Pai, Filho e Espírito Santo, não é só um -, na democracia também se tirou a onipotência, o absolutismo dos reis, e nasceu essa força do povo que é a democracia: o Governo do povo, pelo povo e para o povo. Logo também se dividiu o poder e o dividiram em três. A inteligência do jurista Montesquieu: o Poder Legislativo, que compomos e que temos de fortalecer, o Poder Judiciário e o Poder Executivo, entregue pelo povo do Brasil ao Presidente Lula.

Todos nós queremos que este País cresça; todos nós queremos a felicidade do nosso povo, que nos mandou para cá. Mas temos de entender as coisas. A ignorância é audaciosa. Há muita gente com sede de poder. São diversos partidos. Há pouco, o PDT do Rio Grande do Sul se ofereceu para participar do Governo. Nós nos oferecemos para participar da democracia. Entendemos, Senadora Serys Slhessarenko, que foi o povo que decidiu. Quem ganhou está no Governo, tem responsabilidade de governar; e quem não ganhou, como nós, tem de ser Oposição. Entendam bem, que a ignorância é muito audaciosa.

Está ali Rui Barbosa. O Senado tem 180 anos. Certamente o Senador Eduardo Suplicy está-se comunicando com o mundo para saber quantos Senadores já passaram por esta Casa. Senadora Serys, não sei se passaram muitas mulheres aqui como Senadoras. Mas, em 180 anos, já passaram muitos Senadores, inclusive Rui Barbosa, que foi quem mais se destacou. Vejam como a história nos ensina. Rui Barbosa foi governo; desagradou aos imperadores, levantou a bandeira da Abolição, depois a da República. Quer dizer, pouco demorou no Império. E só foi governo com Deodoro e Floriano. Foi Ministro como V. Exª, Paulo Paim; ele foi Ministro da Fazenda. Quando viu que os militares queriam continuar, no terceiro governo militar, ele disse: “Estou fora”. Saiu para fazer uma campanha civilista, como todos nós estamos querendo fazer. Aí, ofereceram-lhe um ministério. Tem gente aí pedindo, chorando. O Presidente Lula está vivendo um momento de tormento. Ele deveria chorar no ombro amigo do Paulo Paim. Eu li em seu livro, tantos anos de companheirismo com Lula. E uns que ele nem conhece estão todos ali, feito corrupião; não votaram nele, vão comprometer. Más companhias estão feito urubu em carniça; aqui e nos Estados.

Olha que vi uma carta. Calma, deixe o homem escolher com tranqüilidade e compromisso com o povo. O povo que o elegeu e lhe deu mais esse crédito de confiança que eu, infelizmente, não dei dessa vez. Mas foi por razões minhas porque, Senador Paim, tenho as minhas crenças. Creio em Deus, no estudo e no trabalho.

Tenho aqui um livro velhinho de Rui Barbosa - hoje à noite vou ler o livro do Senador Paim, que já me ofereceu. Rui Barbosa disse que lhe ofereceram o Ministério da Fazenda, o do dinheiro.

Hoje ouvi um panaca se oferecendo para ser Ministro da Fazenda. Um homem daquele é nocivo à Pátria - está nos jornais, na imprensa, ele dizendo que aceitaria. Quer a chave do cofre!

Presidente Lula, há um tal Kautilya, Senador Suplicy - não sei onde ele quer chegar com esse telefone; Suplicy, você está fazendo propaganda é da Tim ou da Claro? -, o Maquiavel da Índia, que disse: “Nunca dê os canhões nem a chave do cofre”.

Presidente Lula, não dê não. Os canhões são dos militares, e a chave do cofre é da Fazenda mesmo. Coloque lá alguém da sua confiança. O povo teve confiança em V. Exª.

Acredito em algumas coisas. Cada um leva a sua formação. O Delcídio é um homem do progresso, é um engenheiro. Os engenheiros é que fazem mesmo o progresso. Eles fazem a comunicação, fazem o telefone, fazem a ponte, fazem o avião. Cada um leva para onde vai a sua formação profissional. Sou médico, e nós temos um privilégio: quando terminamos o curso de Medicina, fazemos o juramento de Hipócrates - Pai da Medicina -, que é um código de ética, Deontologia Médica.

Não acredito neste País se não tiver ética, se não tiver decência, se não tiver honestidade. Eu não acredito. E não tem essa história de meio honesto não; é ou não é, Presidente Lula. Esse negócio é meio honesto. Está cheio de “meio”. Não, não tem não. “To be or not to be, that is the question.” E eu sou médico-cirurgião ginecologista. Ou a mulher é virgem ou não é virgem. Não há isso de meio virgem, como não há meio honesto. Ô Paim, quanto àqueles denunciados pelo Procurador-Geral, é to be or not to be, that is the question. Está ali o Suplicy. Ele gosta de telefonar, mas é honesto, como também o Paim, o Delcídio. Quer dizer, tem! Serys, eu sei quem você é e a defendi quando quiseram envolvê-la em qualquer coisa. Estou dizendo que existe. Existe virgem? Existe, mas não há meio virgem.

Esses pilantras aí do mensalão, esses não deviam ser cassados não, Paim; deviam ser era enforcados. Enforcados! Está no Livro de Deus: “A quem muito é dado muito é cobrado”. O povo já nos deu um mandato, somos privilegiados, vivemos bem, ainda vamos aproveitar de mensalão, das falcatruas, da corrupção? Não!

Então, é preciso ter ética. Não tem aquela história de pôr a poeira debaixo do tapete. É preciso ter mesmo, e vamos julgar essa impunidade. Eu me preocupo com esse protelar, Paim; sabe por quê?

Cheguei aqui, e determinaram que eu fosse representar esse Congresso lá na Venezuela. Foram três Deputados Federais. Como era o único Senador, fiquei como chefe. Isso ocorreu justamente na ocasião do referendo sobre o mandato de Hugo Chávez. Serys, eu senti o povo. Paim, quando voltei, eu disse: “Chávez é perigoso, é influente. Ele é líder”. Ninguém acreditou. Eu me lembro disso. Eu senti o povo. Ouça a voz rouca das ruas. Eu estava lá naquela confusão. Ele fez uma constituiçãozinha. As oposições, apoiadas por Bush, pelos americanos... Eu estava lá.

Serys, ele conseguiu. Lá, se 21% da população não estiver satisfeita, qualquer membro do Poder Executivo, seja alcaide, prefeito ou governador, pode rodar no meio do governo. É interessante. Eles conseguiram isso. E a confusão toda foi financiada pelos americanos. Eu senti isso. Coincidentemente, eu fui a um restaurante, a uma boate, estava com a Adalgisa, e vi a comemoração: eram quase todos americanos.

Mas ele chamou para a luta, que era para ser obedecido. E disse que ia ganhar, citou Bolívar... Ele tem energia, tem cultura. É coronel. Serys, a Oposição botou 50 mil num comício. Disseram que o dele tinha 300 mil, Paim. Eu digo que tinha 300 mil e dois, porque estava eu e a Adalgisa. Por curiosidade, eu estava lá. Era a maioria mesmo, e ele ganhou. As criancinhas, os pobres, diziam: “Chávez no coração”.

Atentai bem, Paim. Esta é a minha preocupação: o Poder Judiciário lá é totalmente desmoralizado. Ele o desmoralizou. O povo, Paim, faz questão de falar até da estrutura física, porque a arquitetura é um pouco diferente, mas levam ao deboche. Acabou. Desmoralizou o Poder Judiciário. Eu senti e estou dando o testemunho. Nisso é que nós temos que ser diferentes. Este País tem a nossa história. Olha, é o povo. Então, o Poder Judiciário é desmoralizado pelo povo, é o que eu senti.

E o Congresso, Paim? Era bicameral, assim como o nosso. Esta Casa aqui resistiu; ali, o negócio do mensalão virou epidemia, como a aids, uma peste, uma gripe. Gripou todo mundo. Foi um negócio ali... As votações ali eram ridículas. Votava aqui e era desmoralizado ali.

Mas aqui se resistiu. Eu mesmo vi a Serys chorar. Eu mesmo vi esse Paim, com a sua coragem, presidir esta Casa e pedir uma PEC Paralela, para minimizar. Eu votei contra, mas eu vi a Serys votando a favor, pela disciplina, mas chorando. Era como aquelas três mulheres que estavam chorando diante do Cristo crucificado, as três Marias. Foi aqui a resistência. Heloísa Helena foi para a fogueira como Joana d’Arc. Eu até disse aquela frase: três coisas a gente só faz... Eu vi... Foi aqui a resistência. Fomos nós, porque faz parte da História. O Senado é para isso. Quando Moisés quis quebrar as tábuas da Lei, quando ia desistir, ouviu a voz de Deus - ouviu, Senador Eurípedes? -, que dizia: “Busque os mais velhos, e eles o ajudarão a carregar o fardo do povo”. Buscar os mais experimentados. Daí nasceu a idéia de Senado: Senado na Grécia, Senado na Itália, na França, e aqui.

Então, foi aqui que se freou! Tanto que houve abaixo-assinados de juízes contra o Presidente do STF.

Saudades de Evandro Lins e Silva, piauiense, que lutou contra a ditadura.

Foi aqui! Mas sabe o que ele fez lá, Serys? Eu vi, eu andei, eu entrei... Havia duas Casas do Congresso, e ele fechou tudo. Se ele fechar hoje, ele ganha a simpatia do povo, porque o povo diz: “Do jeito que está aí... Só tem mensalão, não sei o quê...” Se apenas 5% das pessoas acreditam nos políticos, na hora em que ele fizer um ato desses, vão bater palmas, porque esse é o resultado. Hoje, vi uma pesquisa no comitê do Alckmin: só 5% dos brasileiros acreditam em nós, políticos. Não é bem assim, mas foi se passando. E só 30% acredita na Justiça, 30%! Devia ser... A Justiça é de Deus. As leis de Deus... “Bem-aventurados os que têm fome e sede”... Todos deviam acreditar, mas não. Os brasileiros podem fazer... Eu vi no comitê do Alckmin essa pesquisa e fiquei estarrecido.

            Senador Paim, Chávez fechou o Congresso, dizendo que era para economizar, que eram uns picaretas! Juntou as duas Casas em uma. Não sei o número exato, mas, mais ou menos, assim.

Vamos dizer, aqui nós somos 81, o que dá igualdade aos Estados. Eu sou pelo Senado. Ali é de acordo com o número da população. Isso esmaga os pequenos Estados. Nós lutamos de igual para igual. Somos esse poder moderador para corrigir essas distorções.

Mas lá ele juntou os dois, Paim. Vamos dizer, aqui somos 81 e lá são 513. Dá 594. Vamos supor que ele junte e coloque 300. Aí fica com 220 do lado dele. Pode até deixar o Mão Santa ou outro. Será minoritário. É o que está lá, eu vi, eu assisti. Eu assistia a isso na Venezuela.

Então, ele é amplamente senhor de tudo. Eu vi... Ô cabra macho! Ele é coronel, não brinque não. Ele disse que é Simón Bolívar. Ele tem uma cultura impressionante. Eu vi o discurso dele, fiquei em pé. Não eram 300 mil, eram 300 mil e mais 2, porque eu estava lá com a minha Adalgisa, e eles não contaram na pesquisa. É um negócio sério. Eu estava lá.

O homem é forte, é coronel. Todos são coronéis. O Lula, graças a Deus, não é. Sei lá o que pensam essas Forças Armadas no Brasil. Ele não é. Isso é uma vantagem.

O fato é que ele fez, diminuiu em absoluto, e eu vi, Paim. Sabe uma história? Ele começa com Cristo, citando trechos da Bíblia. Fala bem, fala bonito, impressionantemente. O Lula fala bem, mas ele fala melhor. Mas eu vou lhe dizer sobre a minha preocupação com Chávez.

Paim, eu estava - ô Suplicy - lá no Centro de Convenções, e havia um auxiliar da Embaixada acompanhando. Eu era o Presidente da Delegação, porque só havia um Senador e outros ilustres Deputados. Aí, eu vi o Vice-Presidente: ele é jornalista, Carreiro, e advogado. Discurso bonito! Mostrando bonito, fazendo propaganda mesmo! Eles fazem campanha direto! O Congresso era política mesmo!

Fiquei impressionado e disse ao funcionário do Itamaraty que queria aquele discurso, embora compreenda o espanhol. Hablo um poco! Gostei do discurso na íntegra. Ele fala muito bonito. Sabe o que disse o nosso amigo do Itamaraty?

- Nada! Quem fala bonito é o Chávez.O Chávez é muito melhor.

Eu fiquei impressionado. Achei o homem tão fluente, tão brilhante. O Vice-Presidente é jornalista e advogado. Eu o ouvi. Aí, deu-me curiosidade de assisti-lo. Realmente, ele é um orador extraordinário. Mas esse é o rumo que está lá. Agorinha, ele convidou, faz mesmo e vai ganhar fácil, como ganhou o referendo quando cumpriu.

Agora, eu acho que temos o nosso modelo. Nesse ranking da corrupção, lá está maior do que aqui - e aqui já está imensa. Pensei que não havia, porque isso é muito perigoso.

Então, é isso. A ética não pode ser abandonada, Serys. Essa corrupção está sendo esquecida. Onde estão os punidos? Se o Procurador disse que havia 40 bandidos lá, ele não é doido, ele é Procurador-Geral, um homem da Justiça. Onde está a Polícia Federal, que só algema de um lado?

Agorinha, prenderam o filho do Governador do Pará, que é do outro lado. E tanto bandido que tem também..., embora exista muita gente boa, estão aqui três maravilhosos. Mas como tem! Como tem! Ulysses disse: “A corrupção é o cupim que destrói a democracia”. Vamos acabar com esses cupins, Lula, ou a democracia vai acabar neste País.

A Professora Serys falou e o Delcídio me facilitou. Eu acredito é no trabalho. Eu sei que as Bolsas..., Lula teve uma visão: não é liberdade, igualdade e fraternidade, não, a necessidade. É sobrevivência. Estavam morrendo mesmo. Não vou contra, mas isso é uma caridade, é uma emergência, deu e pronto.

Lá no meu Estado são 50,9%, mais da metade da população possuem essas bolsas. É caridade. Mas isso vai acabar com a pobreza? Não. Não. Nós estamos aqui é para ensinar mesmo. Na hora em que não tivermos condições de ensinar e de guiar, acabará o sentido do Senado. Senado é para ser o pai da Pátria. Eu renunciaria.

Minha querida Serys, não acabou com a pobreza, não. Ele deu a mão, uma esmola aos pobres. E eu ficaria com o Luiz Gonzaga, que é do meu Nordeste, com as palavras dele. Não sai do meu coração, mas eu quero dizer. O Darcy Ribeiro repetia aqui. O professor Darcy Ribeiro. Sabe qual é, né? Aquele do livro, do Brasil verdadeiro. São as seguintes as palavras: “Uma esmola para um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Aquilo é uma esmola.

Olha, Serys, eu tenho minha preocupação. Não sou contra esmola. Eu dou. Olha, para um aleijado, cego, eu sempre tenho um dinheirinho para dar. Tem que dar esmola. São Paulo: “fé, esperança e caridade”. E eu não dou? Aplaudi. O povo brasileiro reconheceu. Mas isso não vai acabar com a pobreza.

A pobreza se acaba é com trabalho. É com trabalho. É com trabalho. Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Eu vou ficar com o Bolsa família e contra Deus? “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. É uma mensagem de Deus para os governantes proporcionarem trabalho. O Apóstolo Paulo, Suplicy: quem não trabalha não merece ganhar para comer. V. Exª vai discutir depois com o Apóstolo Paulo. Ele vai lá. Mas eu vou ficando com ele. Então, eu acredito que tem de ter trabalho. Trabalho é que faz a riqueza.

Senador Eurípedes, por que o Cristovam, que é o Senador seu amigo e tal, não está ali? Está é o Rui Barbosa. Vou dizer o que o Rui Barbosa disse sobre trabalho. Está aqui o livro, velhinho: A Questão Social e Política do Brasil. Mas, Paim, hoje é o último dia que vou ler este livro, porque à noite vou ler o livro de V. Exª: O Rufar dos Tambores, livro que lançou hoje.

Mas olhem o que Rui Barbosa disse, Suplicy, com todo o respeito - por isso que ele está aí. Então, vou ficar com o meu patrono. Aprendei! Trabalho de Rui Barbosa, velhinho: A Questão Social e Política do Brasil.

Só o que interessa, porque eu creio é no trabalho, na grandeza do trabalho:

O trabalho não é um castigo, é a satisfação das criaturas. Tudo o que nasce do trabalho é bom; tudo o que se amontoa pelo trabalho é justo; tudo o que se assenta do trabalho é útil. Por isso, a riqueza e o capital que emanam do trabalho são como ele providenciais, como ele necessários, com ele benfazejos. Mas, já que do capital e da riqueza é manancial o trabalho, ao trabalho cabe a primazia inconteste sobre a riqueza e o capital.

Ele quer dizer que o trabalho vem antes, o trabalho tem de ser respeitado, estimulado, ter primazia. Ele é que faz a riqueza, o capital. E é disso que precisamos. Isso fez com que o Paim escrevesse a melhor página desta Legislatura. O salário mínimo era ridículo, era de menos de 100 dólares. Quanta luta, quanta garra! E foi capitaneada por esse homem do PT, mas eu estava ao lado dele lutando, reivindicando. Hoje, o salário mínimo é de mais de 100 dólares. Então, é o trabalho. A ele a primazia, a ele o respeito. Neste País quem está ganhando dinheiro são os bancos. Para os bancos são dados 160 bilhões por ano de juros. O Senador Suplicy já me pede um aparte. Pergunto a ele qual é o valor de custeio, em dinheiro, desses 11 milhões de Bolsa Família?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cerca de 9 bilhões de reais.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nove bilhões? É muito pouco.

Se se dá R$160 bilhões para os banqueiros, parasitas, que nada fazem, que nos empobrecem... Não sou contra. Agora, tem que haver um debate qualificado, Senador Suplicy, e estamos aqui para isso.

Fui prefeitinho; Lula não foi. Fui Governador do Estado; ele é Presidente, com todo o respeito, mas, por exemplo, no Piauí, há 51% da população, vamos reduzir isso a um terço. Se dessem emprego mesmo... Vá ser vigia, vá ser merendeira, vá ser guarda, vá exercer uma profissão qualquer, vá encaminhar-se para o trabalho, porque o exemplo arrasta. Padre Antônio Vieira, Paim, disse: “Palavras sem exemplo são como um tiro sem bala”. O exemplo arrasta.

Atentai bem, ô Suplicy! A criança imita o pai, o adolescente sem trabalhar, acomodando-se a isso, a um biscate para somar... Olhe o exemplo para os de amanhã.

Não vejo perspectiva. Vejo o trabalho. Então, gostaria de mencionar este tripé: ética, educação e trabalho. O trabalho tem que crescer. Quanto à educação, Suplicy, V. Exª terá o aparte e será o orador seguinte, só quero lhe fornecer um dado - verdade verdadeira - anunciado por uma mulher, a economista Sônia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, que saiu na Folha de S.Paulo: trinta e oito da maioria dos jovens brasileiros da zona rural não têm ensino fundamental.

No Chile, Ricardo Lago foi Ministro da Educação e o Presidente baixou uma lei determinando que todo chileno tem que ter 12 anos de escola. Antes, eram 8 anos, obrigatoriamente. Ele aumentou para 12 anos. E mais, cada chileno saberá também dois idiomas. Então, estou citando um irmão. Há que se ter essa educação.

Como a juventude vai disputar, ó Paulo Paim, desqualificado nessa competição por emprego? E está difícil, e tem que haver mudança. Vou citar um fato real para o Senador Eduardo Suplicy. Quando fui pedir voto para o Alckmin, encontrei um médico amigo, em minha casa, quase da minha idade, um pouco mais novo, na Bahia, especialista em traumatologia, ortopedia. Ele foi Prefeito e foi Deputado o Dr. Paulo Eudes Carneiro, um homem muito trabalhador, muito honrado, muito honesto. Ele disse que mudasse, sabe por quê, Paulo Paim? Ele me disse: “Dr. Mão Santa, eu tenho uma clínica de ortopedia e traumatologia. Eu só não a fecho - Senador Suplicy, leve esse dado para o Lula - porque não tenho dinheiro para pagar as causas trabalhistas dos operários. Mas ela está decadente, não tem mais condição de funcionar”. Essa é a realidade.

Senador Delcídio Amaral, veja o Incor, privilegiado, grande, de São Paulo, está devendo R$250 milhões. E nós é que vamos pagar.

Mas não é só o Incor. Há também as Santas Casas, os hospitais do povo, onde os médicos residentes estão em greve. Dá-se atenção aos controladores de vôo, porque isso é coisa de rico. Quem vai andar de avião não são os que recebem a Bolsa Família. Está um tumulto! A Aeronáutica aquartelou os controladores. Com a greve dos médicos residentes, os hospitais estão parados.

Senador Suplicy, fui médico residente. Estou fazendo quarenta anos de profissão e posso dizer, Senador Delcídio, que 70% do trabalho de um hospital grande é feito pelo médico residente. Eles preparam o doente, buscam o sangue, colocam na sala, trabalham, passam a noite acordados, têm 20 horas de serviço, preparam os doentes, e estão todos de greve. Mas os prejudicados são os pobres, porque os hospitais não estão funcionando. São os pobres que precisam dos hospitais públicos, das Santas Casas, das clínicas. Ninguém fala, e eles estão em greve. Ganham um pouco mais de R$ 1 mil, trabalham como no tempo da escravatura e não têm o que eles buscam: uma competência, um ensinamento para que eles sejam profissionais brilhantes da Medicina.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concederei o aparte, mas antes quero dizer que acredito na ética, na educação e no trabalho que levam ao crescimento.

Com a palavra um dos homens de maior probidade da República do Brasil, em homenagem ao Dia da Proclamação da República, que transcorreu ontem.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Suplicy, farei um apelo a V. Exª. Como V. Exª é o próximo inscrito, peço que seja o mais breve possível. Assim, o Senador Mão Santa concluirá o seu discurso, e concederei a palavra a V. Exª, pelo tempo necessário para concluir o seu pronunciamento.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Com respeito aos médicos residentes, amanhã, em São Paulo, na parte da tarde, marquei uma audiência com inúmeros representantes dos médicos residentes que nos solicitam, a nós, Senadores, o acompanhamento, com atenção, do projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados para a resolução do problema dos médicos residentes. O Deputado Arlindo Chinaglia está acompanhando o projeto de perto. Nos próximos dias, logo depois que a Câmara apreciá-lo e votá-lo, será a vez de o Senado voltar-se para essa matéria, que, obviamente, será importante para todos nós.

De qual Município do Piauí V. Exª foi Prefeito, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Na cidade em que nasci.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Qual a cidade?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Parnaíba.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Parnaíba, que fica no delta, para onde V. Exª tem me convidado a ir.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Tenho convidado V. Exª e sua esposa a irem ser felizes lá.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Formulo um convite a V. Exª: que, de fato, tenhamos um debate sobre o tema que V. Exª está trazendo aqui, relativamente aos programas de transferência de renda, à questão do trabalho e do direito de todas as pessoas partilharem da riqueza da Nação. Gostaria de, em breve, aceitar o seu convite para irmos ao Piauí e lá, no Parnaíba, em meio ao seu povo e também em Guaribas... V. Exª se lembra de que, certo dia, me disse que o Presidente Lula não teria um resultado tão bom em Guaribas.

Saiba V. Exª que Sua Excelência obteve 90% dos votos da cidade de Guaribas, onde, em 2003, foi lançado o Programa Fome Zero. Tive a oportunidade de visitar Guaribas e Acauã e explicar para os beneficiários do cartão-alimentação que melhor ainda seria o dia em que tivermos o direito de toda e qualquer pessoa receber uma renda básica de cidadania. Mas, atendendo ao apelo do Senador Paulo Paim, nosso Presidente, quero transferir esse debate para fazê-lo, com todo o carinho e respeito, na companhia de V. Exª e na sua terra, no Piauí. É o compromisso que quero selar com V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Será um prazer. Já havia convidado V. Exª para passar até uma lua-de-mel em uma das ilhas do delta.

Agradecemos e entendemos que deve haver um debate qualificado do Programa Bolsa-Família para melhorá-lo, aprimorá-lo. Creio que já surgiu no Senado uma idéia de dar o 13º mês. É até justo porque, já que há um fato, a lei vem depois. Mas tem que haver um debate qualificado para aprimorarmos a questão e encaminharmos esse povo para uma qualificação profissional para entrar no mercado de trabalho.

Vamos dizer, então, nossas últimas palavras. Agradecemos a V. Exª. O Piauí tem mais da metade da população recebendo o Bolsa-Família. Queremos mais.

Queremos mais: que V. Exª vá lá e leve o Presidente da República. Ele disse que o Porto do Piauí seria concluído em quatro anos, mas ainda faltam US$10 milhões. Ele prometeu uma ferrovia ao Dr. Alberto Silva, ligando Teresina a Parnaíba e a Maurício Corrêa. Disse que ia fazer cinco hidrelétricas, e não fez nenhuma. Quero que, pelo menos, termine as eclusas da que existe lá. Uma ponte em Teresina deveria estar pronta por ocasião de seus 150 anos de aniversário. Teresina já tem 154 anos. O Pronto-Socorro Municipal, que o Presidente da República e o Governador do PT prometeram, ainda não está pronto. No entanto, agora, tenho certeza de que, com a presença de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, serão carreados os recursos necessários para o Piauí.

            Essas são as nossas palavras.

            Agradeço ao Presidente Paulo Paim a compreensão pelo tempo que usei.


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