Discurso durante a 187ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a reeleição do Presidente Lula e a democracia. Registro de matéria publicada no jornal O Globo, a respeito do número de mortes de jovens no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Considerações sobre a reeleição do Presidente Lula e a democracia. Registro de matéria publicada no jornal O Globo, a respeito do número de mortes de jovens no Brasil.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2006 - Página 34784
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, PEDRO SIMON, SENADOR, APOIO, RAMEZ TEBET, CONGRESSISTA, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, SAUDE.
  • ANALISE, SUPERIORIDADE, DEMOCRACIA, ELEIÇÕES, ELOGIO, HISTORIA, EVOLUÇÃO, ESTADO DEMOCRATICO, BRASIL.
  • REPUDIO, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, NEGOCIAÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTERIOS, NECESSIDADE, ELIMINAÇÃO, IMPUNIDADE, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • ELOGIO, PEDRO SIMON, SENADOR, LANÇAMENTO, LIVRO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DEFESA, CONGRESSISTA, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPARAÇÃO, VULTO HISTORICO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INEFICACIA, SEGURANÇA PUBLICA, PAIS, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, HOMICIDIO, JUVENTUDE, REDUÇÃO, FREQUENCIA ESCOLAR, ADOLESCENTE, NECESSIDADE, GOVERNO, AUMENTO, INVESTIMENTO, SEGURANÇA, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, POPULAÇÃO, FALTA, CONFIANÇA, POLITICA, JUDICIARIO, MOTIVO, AUMENTO, CORRUPÇÃO, PAIS.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, RESPEITO, TRABALHO, CRIAÇÃO, RIQUEZAS, DEFESA, ORADOR, MELHORIA, SALARIO MINIMO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, SITUAÇÃO, APOSENTADORIA, BRASIL.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, AUSENCIA, CONSTRUÇÃO, PORTO, FERROVIA, UNIVERSIDADE FEDERAL, REFINARIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), PONTE, MUNICIPIOS, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que ora preside esta sessão de sexta-feira, 17 de novembro; Senadoras e Senadores aqui presentes; brasileiras e brasileiros aqui presentes e aqueles que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, o Senador Pedro Simon, que deveria usar da palavra, está acompanhando, com muita emoção, a enfermidade do nosso querido Senador Ramez Tebet. Contudo, sem dúvida alguma, Deus saberá apoiá-lo neste momento difícil por que passa.

Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, quero, aqui, demonstrar nossas preocupações. Digo ao Brasil que o Presidente da República ganhou as eleições. No entanto, as eleições são uma pequena parte da democracia. A democracia é muito mais complexa do que as eleições. As eleições são uma partícula da democracia.

Entendo que a democracia, Senador Pedro Simon, foi a maior construção da humanidade. Pelas palavras de um pensador, Aristóteles, aprendemos que “o homem é um animal político”. Desde então, buscou-se a melhor forma de governar. De repente o povo, sábio, foi às ruas e protestou com o grito “Liberdade; igualdade; fraternidade”. Depois disso, caíram todos os reis. O governo era absolutista, uno; o rei seria deus na Terra. Disto era símbolo aquele que disse “L’état c’est moi” - o estado sou eu. Depois de 100 anos esse grito chegou ao Brasil. Cem anos! O povo, gritando, e o rei do Brasil, que veio de Portugal, disse: “Filho, bote logo essa coroa antes que um aventureiro o faça”. Esse aventureiro, Senador Pedro Simon, era Simon Bolívar, que saiu da Venezuela e andava por aí, libertando, derrubando todos os reis da América Latina. E assim ficamos: o rei passou para o filho; o filho para outro filho, depois para a filha, que escreveu a mais bela página da História.

Repito: a mais bela página da História foi escrita por uma mulher que governou este País por poucos instantes. Mas, a mulher, sempre mais sábia, mais correta, mais decente do que nós homens, em poucos instantes libertou os negros. É uma bela página! Tantos homens governaram, mas a mais bela página foi escrita por uma mulher!

De repente, chegamos à República, que é uma construção do povo. Passamos por momentos difíceis. Atentai bem: a ignorância é audaciosa! Quando vejo essa mocidade, lembro-me de Olavo Bilac, Senador Pedro Simon, que disse: “Criança, não verás país nenhum como este”. Olavo Bilac, hoje, não poderia dizer isso, porque nunca se viu tanta corrupção, tanta vergonha, tanto indignidade. E Ulysses, que foi citado no livro do Senador Paulo Paim, assim como eu, aliás, fiquei engrandecido por haver sido citado.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Os Senadores Pedro Simon e Sérgio Zambiasi também foram citados.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O Senador Pedro Simon vem desde Alberto Pasqualini, estudado por V. Exª, que foi, sem dúvida alguma, o ícone do trabalhismo e das virtudes do Senador Pedro Simon. S. Exª é o guru não só de V. Exª, que é do Rio Grande do Sul, mas de muitos.

No entanto, nem tudo está perdido meus jovens! Nem tudo! Lá mesmo, onde Aristóteles disse o que disse, outro filósofo, que andava pelas ruas escuras de Atenas, todos os dias acendia uma lamparina, Senador Mozarildo Cavalcanti, e o povo lhe perguntava: “Diógenes, o que procuras à noite?” Ele respondia: “Um homem de vergonha; um homem de vergonha”. Vejam: está ali o homem que ele procurava: Pedro Simon. Nem tudo está perdido, ainda que apenas 5% das brasileiras e dos brasileiros acreditem nos políticos! Mas está ali o Senador Pedro Simon, símbolo da virtude.

Presidente Paulo Paim, a verdade é que a mocidade é pura. Não se pode dizer que “não verás país como este”, mas, que ela é pura, é pura. Quero passar ao País o que significa Pedro Simon para esta Pátria; esta Pátria do mensalão, dos corruptos, dos desavergonhados, onde se confunde tudo.

Sr. Presidente, palestrava eu em uma universidade privada do Piauí, a Ceut, a Harvard do Piauí, exatamente naquele capítulo acontecido com o Severino. Senador Paulo Paim, V. Exª, que foi Deputado Federal, que tem uma vida parlamentar brilhante, sabe mais do que eu. Naquele momento, a mocidade indagou-me a respeito da hierarquia da sucessão. Lá estava o Lula. No PT começavam a aparecer aquelas nódoas, aquelas manchas vergonhosas, por isso, o povo pensava que Sua Excelência cairia por causa da podridão que rodeava o Alvorada. O seu Vice também, com todo o respeito, estava impossibilitado. Então, o Presidente da Câmara seria o seu sucessor. Indagado pelos estudantes, Pedro Simon, eu disse que não, que a Constituição, que o Paulo Paim defendeu dizendo que de nada adiantaria, Mozarildo, tanto trabalho, tantas lutas e tantas audiências, se ela não fosse obedecida, apresentava uma saída.

O Senador Renan Calheiros, no caso, assumiria a Presidência durante um mês e faria uma eleição indireta. No Congresso, qualquer um poderia ser votado. Então, sugeri os nomes, que não citarei, desses políticos tradicionais que poderiam ser presidente da República. Não vou citá-los, mas a mocidade permaneceu silenciosa e fria. No fim, eu disse que poderia ser qualquer um. Citei A, B e C. E a mocidade do Piauí continuava fria. Então, quando eu falei “Pedro Simon”, Senador Paim, ela levantou-se. Está aí o homem.

Essa é a crença ainda. Ele está aqui. É interessante. É como Rui Barbosa ali, que nunca foi da Mesa Diretora. O Senador Paulo Paim já foi Vice-Presidente, embora mereça ser Presidente desta Casa, Governador do Rio Grande do Sul, Ministro do Trabalho, Presidente do Brasil. Rui Barbosa também não ocupou nenhum cargo da Mesa Diretora. Ele candidatou-se a Presidente da República num foyer, mas deu um ensinamento.

Por isso, este negócio tem 180 anos. Muitos Senadores passaram por aqui, mas só Rui está ali. São 180 anos. Por que não há outro? Quando nasceu esta República, ele, que tinha contrariado os impérios pela abolição, serviu ao primeiro Presidente, Deodoro, e ao segundo. Quando quiseram colocar um terceiro militar, ele disse: “Estou fora”. E foram buscá-lo.

Há um ensinamento, Senador Pedro Simon, que ele tem de passar para esses que querem liderar o PMDB. O meu líder é Pedro. Rui Barbosa e Pedro Simoni. Eu tenho o direito de escolher. Que diabo é isso? Uns se alvoroçam e vão ao Presidente da República negociar? O PMDB, não. Eu falo em nome de Ulysses: “ouça a voz rouca das ruas”. De Teotônio. Falo em nome de Tancredo, de Juscelino, cassado, de Ramez Tebet e de Pedro Simon, se ele me permite. Mas Rui Barbosa disse: “Não troco a trouxa das minhas convicções por um ministério”. E saiu sozinho fazendo a campanha civilista. Por isso temos a República.

Eu sou orgulhoso, Senador Paulo Paim, de ser do Piauí. Ele ganhou no Piauí, em Teresina. Mas perdeu. A máquina ganhou. Ele não foi da Mesa, ele não foi Presidente. Mas eu pergunto à mocidade pura que está aí. Nós tivemos muitos presidentes. Ninguém sabe, nem eu sei o nome de dez. 

Rui Barbosa disse que só há um caminho; a justiça e a lei são a salvação. A justiça e a lei não permitem a impunidade.

Senador Pedro Simon, com toda convicção - sei que V. Exª é de Cristo, é de São Francisco -, esses deputados, esses senadores que negociaram o mensalão, que negociam empregos, que negociam vantagens, Senador Paim, eu acho que eles não deviam ser cassados, não; eles deviam ser era enforcados, Mozarildo. Eles deviam ser era enforcados.

E eu digo isso, Senador Pedro Simon, assim como a crença que eu tenho em Deus, porque eu li lá na Bíblia que a quem muito é dado, muito será cobrado. Já nos deram muito. Temos um mandato para representar o povo, somos bem remunerados, pais da pátria, príncipes nesta sociedade. Então, não admito, não admito que um parlamentar não seja exemplo de virtudes, não seja casado com a honestidade, com a ética e com a decência. Eu não admito.

O sábio homem dividiu o poder e criou aqui para leis boas e justas; o Poder Executivo, para realizar obras. Tiago disse que fé sem obras já nasce morta. Tem de haver democracia e justiça. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. A democracia é isso tudo, não é uma eleição. A eleição é uma partícula da democracia.

Senador Pedro Simon, entenda o meu raciocínio. Outro dia, nessa pátria vizinha, modelo democrático que são os Estados Unidos, vi um presidente ser reeleito. Richard Nixon foi reeleito retumbantemente, mas contrariou os princípios fundamentais da moral, da ética, da justiça. Atentai bem! Senador Paulo Paim, Richard Nixon não era um presidente comum. Ele tinha aprendido com o sofrimento. Tinha sido o vice-presidente de Eisenhower. Perderam para Kennedy e depois reconquistaram a liderança. Foi o melhor presidente dos Estados Unidos em relações internacionais. Foi ele que fez nascer Kissinger, que aproximou os Estados Unidos da Rússia, da China. Os Estados Unidos viviam uma paz e não como hoje. Mas ele faltou com os princípios da ética e foi uma falta muito menor do que a corrupção que existe no Brasil. Senador Paulo Paim! Eu pergunto, atentem bem e me digam o nome do vice-presidente de Nixon. Vejam por que a democracia lá persiste. Por que o vice-presidente não assumiu? Porque, antes dele, havia feito uma corrupção pequena em relação às que vemos aí, aquela quadrilha dos quarenta que rodearam Lula e foram indiciados e ainda não julgados. O vice-presidente dele havia sonegado, não havia declarado os impostos, o que tinha ganhado. O Senado determinou: “Nós o deixamos solto, mas não crie complicação. Vamos fazer o impeachment do presidente porque ele fez uma escuta ilegal”. Uma espécie aí desse dossiê. Isso tem um processo de demora. Senador Mozarildo, ele renunciou antes por causa de uma simples sonegação, e lá não tem a impunidade. Por isso há o respeito às leis e à justiça, que Rui Barbosa pregava.

Mas nós estamos, aqui, na democracia. Temos de estudar. Ai discordo do nosso Presidente, com todo respeito, porque, nas eleições anteriores, votei nele. Mas, Senador Paulo Paim, quando eu vejo V. Exª com entusiasmo - eu sou mais o Senador Paulo Paim do que o Presidente Lula. É um direito que me assiste. Mas, com todo o respeito ao Presidente da República, que recebeu a consagração e a legitimidade das urnas. Por quê? Porque eu acredito em Deus. Eu acredito no estudo, eu acredito no trabalho. São essas as minhas crenças. Quando ouvi o Presidente da República dizer que é melhor fazer uma hora de esteira do que ler uma página de livro, eu perdi a minha crença.

Por que admiro o Senador Paulo Paim, Senador Pedro Simon? E V. Exª estava lá. S. Exª se ufanava, ontem, do Rio Grande do Sul, na feira de livros, onde milhares, milhares de livros vendidos, milhares e milhares de gaúchos buscando o saber. O Senador Pedro Simon também lançou um livro lá.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - E sou testemunha disso, Senador Mão Santa. Para conseguir o livro do Senador Pedro Simon, eu esperei na fila, porque havia muita gente para receber o livro de S. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, o Senador Paulo Paim me deu o livro dele, e eu passei a noite lendo-o. Quero o de V.Exª

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele não conta que esteve na fila minha, porque era rápida. Agora, a dele levou cinco horas; foi madrugada adentro a fila para receber o livro do Paim.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Por isso que ele é o Senador Pedro Simon. Digo que só os grandes homens têm a humildade que ele está tendo agora.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas, a respeito dos Senadores Pedro Simon e Paulo Paim, dos escritores Érico Veríssimo e Mário Quintana, esses homens das letras, eu queria dizer o seguinte. Atentai bem ao meu raciocínio. Olha, está ruim este País, mas está mesmo.

Sou pé no chão, pois sou cirurgião, que é muito realista. Mas certas vezes dá certo. Juscelino Kubitschek era médico-cirurgião como eu, de Santa Casa, Prefeitinho, e como deu certo.

Paim, fui, há poucos dias, à Argentina. Tenho ido desde 1970, quando ia comprar livros. Casei-me com a Adalgisa e passava um mês no Rio, fazendo estágio, todo ano, Mozarildo. Fiz residência, e meus maiores companheiros eram gaúchos. V. Exª falou em Dom Pedrito e fiquei arrupiado, pois Leo Gomes, cirurgião, era de lá; Jaime Pieta, de Porto Alegre. Então, todo ano eu vinha reciclar-me como cirurgião e tirava uma semana, para ir à Argentina comprar livros na livraria El Atheneu. Naquele tempo, poucos livros em português existiam. Então, por comodidade, comecei a ler em espanhol e a adquiri-los. Por isso, tenho essa convivência. Mas, Mozarildo, vá à livraria El Atheneu, é mais bonita do que este salão; o forro parece a matriz da Santa Sé. Há dezenas, mas a matriz; vá lá, é um motivo cultural.

Mas, Paim, estamos atrasados. E estou aqui para isso. Por que estamos aqui? Por que o Brossard ficou? O que era o Brossard? Naquele tempo, havia três milhões de habitantes. Ele disse: são três. Represento um milhão. O que posso fazer? Falar eles não podem. É o que podemos fazer e o que estamos fazendo. E falava! Ele falava duas horas e meia num discurso. E Petrônio, que deu um golpe, foi ver o Regimento, que estabelecia só uma hora, não havia jeito. Ele, então, dividiu o discurso em três. Fazia como nós: falava o que o povo não podia falar. Sem dúvida nenhuma, foi um dos artífices da redemocratização.

Paim, bem ali em Buenos Aires nos surpreendeu o lado cultural. Pode-se ir a um show artístico, a um restaurante. De madrugada andamos sozinhos pela rua, eu e Adalgisa. Fomos jantar. Havia centenas de livrarias abertas às 3 horas. É bem ali, em Buenos Aires. Vimos até crianças. A Argentina cresceu agora 10%. Senador Pedro Simon, leve a Ivete. Saia de mãos dada às 3 horas. Estudei no Rio de Janeiro, sou um garoto da Praça Mauá, do Hospital dos Servidores do Estado, em Sacadura Cabral, mas não me imagino andando de mãos dadas com Adalgisa, às 3 horas, no Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor, no Centro, na Cinelândia. Quem pensaria, quem ousaria? Bem ali em Buenos Aires se pode andar.

Paulo Paim, ouvi a Senadora Serys falando em turismo. Não vai haver turismo, se não há segurança. Todo mundo tem medo. Em Buenos Aires, pode-se andar em Puerto Madeira às 4 horas. Há muitos brasileiros lá.

E essa TV Senado é forte; sou reconhecido no meio da rua. É gaúcho, é catarinense, está tudo lá.

Pedro Simon, há um senhor tango de noite. Compra-se aquele pacote turístico. Paim, aí vai lá a van; eram cinco casais. O show é caro. Dos cinco, quatro eram brasileiros e um de Porto Rico. É muito brasileiro. Por quê? Porque se anda. É o direito de ir, de vir, de andar de mãos dadas com a mulher querida, com a família. Aqui não o temos.

Ô, Pedro Simon, não tenho coragem de sair no centro de Teresina, de mãos dadas com Adalgisa, de noite. Olha que sou tido até como homem de coragem, mas não tenho essa. E é no Brasil.

Atentai bem! Por isso que não adianta o Duda aplicar aqui o Göebbel. O Göebbel foi o comunicador de Hitler, que disse: “Uma mentira repetida se torna verdade”. Eu vim do Piauí, Pedro, e aprendi, lá, com o homem, com o caboclo verdadeiro: é mais fácil tapar o sol com a peneira, do que esconder a verdade. A verdade está aqui, na primeira página de O Globo: O Brasil é o terceiro país com mais morte de jovens, mais do que os países em guerra.

Vejam aquele negócio do Iraque, do Irã, de Israel, que besteira. É muito mais! Esse é o Brasil. Essa é a verdade. Essa é a mentira do PT. O País vai mal. Como é forte a Globo. O filho do homem da Globo, Irineu Marinho, recebeu um prêmio na Justiça e disse: “Não existe justiça sem liberdade”, porque queriam cercear a liberdade até dos repórteres. E são eles que dizem a verdade.

Pedro Simon, aqui há mais morte do que em países que estão em guerra. O Brasil é o primeiro em homicídio de jovens por armas de fogo.

São destroçadores os números citados. Além disso, “mais de 20% dos jovens não estudam, não trabalham e não fazem nada”. Este é o Brasil. Mais de 20% dos jovens não estudam, não trabalham e não fazem nada, Pedro Simon.

Permita-me, Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, dizer que é preciso estudar. Votei no Presidente uma vez e me arrependi. Ele ganhou mesmo e está aí. Mas entenda: eleição não é democracia. Democracia vem da divisão do poder do rei, que era absoluto. Isso não está moralizado.

Ô, Pedro e Mozarildo, por ocasião da campanha em que trabalhei para o Alckmin, fui ao comitê e fiquei estarrecido. Segundo uma pesquisa de opinião pública, apenas 5% dos brasileiros acreditam nos políticos. De 100, apenas 5%. Rui Barbosa não tem culpa disso. Pedro Simon não tem, nem Paulo Paim, nem Mozarildo Cavalcanti. Eu não tenho. De 100, apenas 5%! Está desmoralizado o poder político que representamos. E o Judiciário? A pesquisa mostrou 30%. Que País é este em que apenas 30% de 100% acreditam na Justiça? Justiça é uma inspiração de Deus, Paim. Foi Deus que disse: Toma, Moisés, as leis. Foi o filho de Deus, que não tinha um som, uma televisão, como esta pela qual estamos falando, um rádio, que subia às montanhas e dizia: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. De 100 brasileiros, apenas 30 acreditam na Justiça.

Eu comentava outro dia: vai lá, faz outro, que está baixando. Então, a democracia é isso tudo. A democracia não é eleição. E a minha decepção é a seguinte: se até para jogar futebol se estuda, como não se vai estudar para ser governante? Como?

Aliás, a Itália do Renascimento; a Itália de Leonardo da Vinci, de Michelangelo, de Dante Alighieri, de Rafael. Pedro Simon, a Itália do Renascimento, da bússola, da imprensa, da pólvora; a Itália até de São Francisco de Assis, que inspira o Pedro Simon: 

“(...)Onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade (...)”

A Itália nos deu Norberto Bobbio, que morreu há um ano. A Itália tem um Parlamento - e nós podíamos pensar nisso - que convida luminares a serem Senadores. Foi o caso de Norberto Bobbio, Mozarildo.

O que ele deixou escrito, algo que todo o mundo democrático estuda e eu li? Ele disse o seguinte, Senador Pedro Simon: o mínimo que se precisa exigir de um governo é segurança. É o mínimo! Este País tem segurança? Segurança para a vida. Quem está seguro? Os homens de bem estão se enjaulando, sendo presos. Na campanha política, quando eu andava por Teresina, um comerciante, querendo trabalhar, disse-me que havia sido assaltado onze vezes. É! Segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

Esta aqui: “Mais mortos que em países em guerra”. Senador Paulo Paim, a taxa de homicídios de jovens negros é o dobro da de brancos.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, concederei a V. Exª mais cinco minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Tenho admiração pela raça negra. Nunca tive esses tabus, o meu maior amigo é um moreno como V. Exª: Paulo Evangelista de Carvalho, que foi presidente da Câmara de minha cidade, ilustre Vereador, ferroviário. Um ensinamento muito bom que ele me deu - disse que o pai dele lhe ensinara - foi o seguinte: “Amigo não bota o outro em dificuldades”. Quer dizer, eu não tinha isso, mas reconheço o problema e, por isso, rendo homenagem a V. Exª.

“Taxa de homicídios de jovens negros é o dobro da de brancos, periferia tem maior...”. Aqui a psicóloga ou socióloga diz: “As causas dessa diferença são a desigualdade econômica e social”. Hoje eu entendo a ansiedade de Paulo Paim, a ansiedade do Rio Grande do Sul seguindo a do Nordeste, de Zumbi, dos Lanceiros Negros.

Senador Pedro Simon, esta é a verdade de nosso País: nós temos muito a melhorar, nós temos muito a comemorar também, nem tudo está perdido. Senador Pedro Simon, eu posso confessar minhas crenças: creio em Deus. Está escrito que Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Eu entendo que é uma mensagem de Deus aos governantes para propiciar o trabalho. Trabalho! Rui Barbosa disse que trabalho é que tem de ter primazia, ele deve vir antes, tudo o que vem dele é bom, ele é que gera a riqueza, o capital, ele é que tem de ser respeitado. Daí eu estar com o Senador Paulo Paim em suas lutas pelo trabalhador, pelo salário mínimo, pela estabilidade, pela defesa dos aposentados, que trabalharam tanto e tanto se sacrificaram.

A música, Pedro Simon comunica mais do que os discursos. Nos Salmos se encontra: “Deus é o meu pastor e nada me faltará.” Luiz Gonzaga, Mozarildo Calvalcanti, disse em música: “Uma esmola que se dá há um homem são mata de vergonha ou vicia o cidadão.” Nós acreditamos no trabalho e na educação.

Pedro Simon, como está dito aqui nas pesquisas, 38% dos jovens não têm o ensino fundamental. No Chile, Senador, eram oito anos obrigatórios de estudos - aqui 38% dos jovens não têm o ensino fundamental -, mas o governante anterior, antes de sair do governo, aumentou para doze anos a obrigatoriedade do saber. E mais, Pedro Simon: está nas leis que todos os chilenos têm a obrigação de saber dois idiomas, o espanhol deles e, normalmente, o inglês - a maior parte das pessoas escolhe o inglês, que é a língua mais forte e universal.

Acredito na educação, no trabalho e na ética. Não acredito em um país sem ética.

Sr. Presidente, permita a presença de Mozarildo em meu discurso, que tem dado grande contribuição ao País: foi o primeiro a ter coragem de denunciar as ONGs de falcatruas, que agem no Brasil para promover a corrupção.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mão Santa, V. Exª, até por ser médico, está enfocando algo que nos preocupa a todos. Vê-se que é grande o índice de mortalidade em decorrência de violência. E aí são duas vertentes: a violência que resulta em homicídio e a violência que resulta em morte no trânsito, elas atingem de maneira forte a população jovem do Brasil - colabora, inclusive, para que a nossa população fique mais velha, já que os mais jovens estão morrendo e os mais velhos, que escaparam dessa faixa, estão sobrevivendo mais tempo. Há também um ingrediente perverso a mais: é que a juventude hoje não tem interesse, por exemplo, em terminar o ensino fundamental. Por quê? Porque ela vê o seguinte: terminar o segundo grau por terminar o segundo grau não a coloca em situação de vantagem na disputa do mercado de trabalho. Como não há ensino profissionalizante adequado de nível médio para todos, ou pelo menos para aqueles que precisam entrar mais cedo no mercado de trabalho porque a família é pobre e eles precisam aumentar a renda familiar, nós temos aí três situações que são muito ruins para a nossa juventude. Primeiro, a violência no trânsito e o homicídio, principalmente nas cidades mais pobres. Detectou-se, inclusive, que os homicídios até caíram, na maioria dos casos nas cidades grandes, mas aumentou muito nas periferias e nas pequenas cidades e aumentou também nas regiões mais pobres. No trânsito o aumento da morte de jovens se deu de maneira quase generalizada. Então, observando essas três vertentes, vemos que a nossa juventude precisa ser mais bem assistida. O Governo precisa ter políticas que estimulem o jovem efetivamente a fazer um curso de nível médio profissionalizante. Se ele posteriormente quiser cursar o ensino superior, não há problema. Em Roraima, por exemplo, temos a felicidade de ter hoje um Cefet, que, antes, era uma escola técnica. A maioria dos que são aprovados no vestibular da Universidade Federal de Roraima vêm da escola técnica. Aqueles que, por uma razão ou por outra, não quiserem dar prosseguimento a seus estudos e fazer um curso superior, têm uma profissão. Então, espero que a abordagem que V. Exª fez possa servir para que aprofundemos essa discussão, Senador Paulo Paim, não só na Comissão de Assuntos Sociais como na Comissão de Educação, a fim de que se mude essa tendência, verificada até bem pouco tempo, de proibição da abertura de escolas técnicas e agrotécnicas federais. Agora mesmo, em meu Estado, o Cefet está criando uma unidade descentralizada de ensino e tendo dificuldades para concluir a parte de alojamentos e de infra-estrutura, recebendo, inclusive, a colaboração do Governo do Estado. Devemos ficar mais atentos a essa questão. Se não investirmos na infância e na juventude, que país de futuro seremos nós?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª e incorporo o seu aparte ao meu pronunciamento.

Essa é a razão de eu ter elogiado O Rufar dos Tambores. O Senador Paulo Paim, que traz para cá sua vivência, é brilhante, encontrou forças no ensino profissionalizante. Ele é, como o Presidente da República, ex-aluno do Senai. No seu livro, ele conta a sua experiência, a sua experiência, a sua convivência. Há um filósofo que diz: “por maior que seja o saber encerrado no seu cérebro, ele será sempre ridículo se não for útil”. Essa é a filosofia, e o Paim defende essa tese.

Então, estamos aqui. Mas somos otimistas, como Juscelino Kubitschek, médico como eu, cirurgião como eu. Foi de santa casa, teve sua passagem nos organismos militares, foi prefeitinho e governador. Foi até cassado. E ele disse: é melhor ser otimista. O otimista pode errar, Pedro Simon, mas o pessimista já nasce errado e continua.

E eu queria, então, nesse otimismo ver o livro de Deus, que diz: Pedi e dar-se-vos-á. Ao Presidente da República: o meu Piauí vive muitas dificuldades. E o povo acreditou, elegeu o Presidente e o Governador. Mas consciente de que eles seriam a forma.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E eu queria lembrar que falta o Porto de Luís Corrêa, no Piauí, que ele prometeu. A estrada de ferro que ele conquistou, Alberto Silva, e prometeu. Disse que era em 60 dias. Já vai de rumo de quase um ano e nada sai. A Universidade do Delta, os tabuleiros, a refinaria da Petrobrás em Paulistana, para integrar, porque ela se aproxima de todas as capitais. A Transcerrado, para a nossa produção de grãos. A ponte que foi prometida pelo Presidente da República para comemorar os 150 anos de Teresina - Teresina já fez 154 e ela não saiu. O hospital, o pronto socorro municipal que funciona ainda, e é o que construí como Governador, o hospital universitário. Temos muito a pedir e acreditar, sobretudo, no livro de Deus que diz: “Pedi e dar-se-vos-á”.

Esta é a voz rouca do Piauí em um crédito ainda ao Presidente da República.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2006 - Página 34784