Discurso durante a 187ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância da atuação parlamentar do Senador Ramez Tebet.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.:
  • Importância da atuação parlamentar do Senador Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2006 - Página 34789
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.
Indexação
  • HOMENAGEM, RAMEZ TEBET, SENADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, SENADO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DESENVOLVIMENTO POLITICO, BRASIL, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, SAUDE.
  • REITERAÇÃO, DISCURSO, MÃO SANTA, SENADOR, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, SUPERIORIDADE, HOMICIDIO, JUVENTUDE, AUMENTO, CORRUPÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, PAIS.
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, FIXAÇÃO, LIMITAÇÃO, REMUNERAÇÃO, CONGRESSISTA, COMPARAÇÃO, SALARIO MINIMO, TRABALHADOR.
  • CRITICA, POLITICO, NEGOCIAÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTERIOS, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INVESTIGAÇÃO, CANDIDATO, MINISTRO DE ESTADO, OBJETIVO, MELHORIA, VIABILIDADE, GOVERNO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é com muito carinho que agradeço a gentileza de V. Exª, que, mais que um colega, é um irmão. V. Exª, eu e o companheiro Zambiasi estamos, de certa forma, fazendo algo que as pessoas até têm dificuldade de entender: como pessoas podem deixar de lado as suas peculiaridades para praticamente serem um Senador em três?

Venho a esta tribuna... Nem sei se deveria vir, mas estou vivendo uns dias muito difíceis na minha vida. Considero o Senador Ramez Tebet uma das pessoas mais corretas, mais puras, mais dignas que conheci na vida pública. Nós somos nós. Nós, políticos, somos... Cada um tem as suas qualidades, e boas qualidades, alguns de nós têm as suas deficiências, mas há alguns que, eu diria, se sobrepõem, estão acima, são como faróis ambulantes que, estejam onde estiverem, de noite ou de dia, na sua terra ou no outro extremo, são baliza, são orientação, são estímulo. O Tebet é um desses homens.

Nesta Casa, é impressionante como o Tebet esteve presente, e está presente, em todos os momentos difíceis, em todos os momentos complicados. É impressionante! Pela amizade e pela intimidade que tenho com ele, eu não me lembro de nenhum problema que tenha acontecido neste plenário em que o Tebet, independente de dar um aparte, independente de qualquer outra coisa, não tenha ido ao gabinete do Senador e conversado com ele, estimulando o colega, confraternizando-se, procurando ver quem ele é, quais são os problemas e como ele poderia ajudar. Eu vi isso muitas vezes.

Eu ouvi muitos apartes do Tebet na hora em que os companheiros estão na tribuna, vivendo momentos duros, principalmente nessa época em que a imprensa judiou muito de nós, algumas vezes merecidamente, mas muitas vezes injustamente. O Tebet, com sua palavra de equilíbrio e de bom senso, confortava. Quantas vezes eu vi a pessoa que falou, que recebeu trinta apartes de solidariedade, descer da tribuna e ir abraçar o Tebet, porque o Tebet é que tinha dado o aparte de conforto que tinha chegado ao fundo do seu coração.

O Tebet está doente, uma doença que o persegue há muito tempo, mas ele está dando lições fantásticas de coragem. O Tebet, desconsiderando os médicos, saiu do Instituto, botou sua roupa e veio para Brasília, porque aqui tinha uma crise. E ocupou a tribuna - todos nós, angustiados, porque ele praticamente se arrastou para chegar à tribuna - para falar, para dizer aquilo que a sua sensibilidade dizia que ele deveria falar.

Mais de uma vez, lembro-me bem, foi a palavra do Tebet que trouxe o bom senso e o equilíbrio a esta Casa. Em meio a uma das várias, quase permanentes, eu diria, crises em que vive o meu Partido, foi a ida do Tebet para o Ministério, que ele nunca pensou, nunca sonhou, para a qual nunca movimentou uma palha, que unificou a Bancada e o Senado. Ele gabaritou o Ministério. Ele foi por isso. Não conheço outra pessoa que tenha ido para um Ministério não só sem querer, mas sem se preocupar, sem saber.

Estava ele no Ministério quando a Bancada passou por outra crise: a renúncia do Presidente do Senado. A solução foi trazer o Tebet, que estava no Ministério. Ele teve que vir, porque unia todos, durante aquela crise gravíssima que esta Casa atravessou.

Ele é o mesmo, no Governo de Mato Grosso do Sul, como Promotor e como Procurador. Aliás, falei várias vezes para ele: “Tebet, eu te identifico muito comigo. Sou um advogado do júri”. Quando advoguei, durante muito tempo, minha especialidade era o tribunal do júri. Nunca acusei, não sabia acusar, não tinha condições de acusar. Um companheiro nosso foi assassinado brutalmente, covardemente, estupidamente, por um adversário. E, como eu era um advogado de júri conceituado, a família queria que eu fizesse a peça de acusação. E até ficou magoada comigo. Eu disse: “Não sei acusar, não está em mim, não sei acusar”.

Cristo disse, quando queriam apedrejar a adúltera: “Quem acha que não tem culpa que atire a primeira pedra”. De certa forma, sinto-me assim, não me sinto em condições de acusar.

O júri é muito importante, é tão importante quanto a Medicina, querido amigo, Senador Mão Santa. V. Exª e o Senador Mozarildo Cavalcanti, quando estão operando, têm a vida em suas mãos. É uma vida humana que está ali, que os senhores salvam. Mas, na hora do júri, não é a vida humana, mas a vida moral, a vida digna, é o cidadão. Se o paciente morre na operação, a outra vida lhe dará a devida recompensa; mas, no júri, de certa forma, é pior, porque o réu não morre, é condenado, e toda a sociedade passa a olhá-lo como assassino. E eu não sei fazer isso.

Eu perguntava ao Tebet: “Como você conseguiu ser Procurador e Promotor?” Ele me disse: “Pedro, nunca fui Promotor ou Procurador de causas pessoais. Nunca quis atingir pessoas. Eu era defensor do Estado e defendia a sociedade. Defendia a organização da sociedade. Nunca me preocupei em fazer acusação, em entrar na vida das pessoas, em querer aprofundar-me nos defeitos das pessoas que estavam sob minha análise para denunciá-las ou não”.

No MDB, Tebet tem sido uma voz maravilhosa. Quantas vezes veio a esta tribuna! De quantas reuniões da Executiva do PMDB, por insistência nossa, ele participou, assim como das Convenções! Foi o Tebet, com seu bom senso, seu equilíbrio, que nos deu uma chance de não implodir, de nos tolerarmos.

O Tebet - nós erramos muito - há dez anos já devia ter sido o Presidente do PMDB. Se tivesse sido nosso Presidente, nessas crises permanentes que estamos vivendo, já teria encontrado solução, e não viveríamos o drama que continuamos vivendo.

Conheci na vida pública alguns Tebets - poucos, infelizmente -, mas, mesmo esses, com qualidades imensas, não posso dizer que eram homens completos que nem é o Tebet.

O Dr. Ulysses foi um homem fantástico, um herói: o herói da resistência, da garra, da luta, do destemor. É uma figura que, no futuro, quando este País tiver cultura, como diz V. Exª, Senador Mão Santa, quando, em vez de se encontrar uma farmácia de dez em dez metros, encontrar-se-á uma livraria, como acontece em Montevidéu, quando o Brasil começar a cultuar a sua história e a sua gente, como dizem os positivistas, cada vez mais os vivos serão orientados pelos mortos, e esta gente terá vez: Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Mário Covas.

Mas, se olharmos para o Ulysses, veremos que ele tinha um calcanhar-de-aquiles. Qual foi o calcanhar-de-aquiles do Ulysses? A ansiedade de ser Presidente. Se o Ulysses não tivesse essa ansiedade, em primeiro lugar, teria sido Presidente há muito tempo e o Brasil seria completamente diferente. Mas essa ansiedade complicou. Ele olhava com restrição o Leonel Brizola, o Miguel Arraes, o Teotônio Vilela, o Tancredo Neves, o Mário Covas, o Franco Montoro.

O Tebet nunca teve vaidade de nada. De nada! Nunca teve vaidade de nada! Candidato a Governador de Mato Grosso? “Não, Senador. O candidato é o que foi eleito agora. Ele é mais moço que eu; é a vez dele, não é a minha vez”. Candidato a Presidente do Partido? Nós lançamos seu nome para Presidente nacional do Partido. “Não, não é a minha vez, Pedro, eu não sou o homem para isso. Eu não tenho a garra de brigar, de lutar. Tem que ser alguém que tenha essa fibra que eu não tenho.”

            Como ele se enganava! Ele tinha, sim. Então, se olhar para toda essa gente, se olhar para o Dr. Tancredo, homem fantástico, homem de uma grandeza! Nós ainda vamos estudar sua história, vamos vê-lo, com menos de 30 anos, Ministro da Justiça de Getúlio. Quando aquele Ministério, acovardado, e aqueles militares covardemente estavam depondo Getúlio, que concordava, naquela madrugada, na reunião ministerial, em se licenciar para que apurassem, o General Zenóbio da Costa, que já tinha se entregado aos golpistas, disse: “Não, mas não é licença; eles querem a demissão definitiva”. Tancredo, um jovenzinho, Ministro da Justiça, disse: “Presidente, me nomeie Ministro da Guerra, me nomeie Ministro da Guerra que eu saio daqui e, em duas horas, prendo esses golpistas, e Vossa Excelência vai ver como não vai acontecer nada”. Getúlio, já angustiado, querendo evitar uma guerra civil, não aceitou.

Tancredo era um grande homem, mas Tancredo tinha malícia. Era um político de competência, de capacidade, de sagacidade, de jogo de cintura. Isso o Tebet não é, porque o Tebet é um homem de coração limpo. Ainda há pouco, conversei com ele pelo telefone, e a expressão, que vem de longe, baixinha, é de amor, é de carinho, é de afeto. Tebet tem essa qualidade que o Tancredo não tinha. Encontrar alguém igual ao Tebet, que seja pureza... Todas as vezes em que nos reuníamos, se havia uma vítima... Como quando íamos cassar o Senador fulano de tal, que renunciou, e estávamos todos contra; na hora em que o Senador foi para a tribuna e confessou que tinha fraudado o painel, três dias depois de ter dito que não tinha fraudado. Toda vez que caía todo mundo em cima do homem, o Tebet dizia: “Não é bem assim, não é bem assim”. E começava a fazer a defesa. Ele sempre tem uma palavra de fé.

Por isso, eu peço a Deus: Meu Deus, o Brasil vive horas tão difíceis, o Brasil vive uma hora de incerteza, o Brasil já não sabe o que está certo, o que está errado. As pesquisas mostram que a opinião pública, na hora de acompanhar uma novela, já torce pelo vilão! Não pode, meu Deus, numa hora como esta, nós não termos aqui, nestes próximos quatro anos, a contínua presença do Tebet.

Eu rogo a Deus, peço ao meu bom Deus, que tudo pode, tudo pode. É claro que os desígnios de Deus são muito maiores do que nós. Quem somos nós diante da natureza do mundo, do que existe após, para saber o que é e o que não é?

Mas eu digo: meu Deus, o Tebet é muito importante nesta hora. Ah, o Tebet! Se tu, meu Deus, que tantas vezes reconfortaste, deste mais tempo aos filhos teus, desses ao Tebet essa oportunidade, por nós...

Como ele me dizia, a sua senhora é uma santa. É uma pessoa fantástica, como os seus filhos. E o orgulho que ele tem de sua filha Prefeita? Ele estava me contando os exemplos que ela já deu com a sua maneira de agir: “Pedro, minha filha me falou que estava acontecendo isso, assim, assim, e perguntou o que eu pensava. Eu disse a minha opinião. Mais tarde, vi que ela fez, como Prefeita, tudo diferente do que eu havia dito. Eu tinha recomendado calma, que ela fosse devagar, pois estava começando. Não era hora de fazer aquilo, e ela foi radical. Tomou posição, agiu e extinguiu o fato delituoso. Eu perguntei: Minha filha, mas por que tu fizeste isso? Então, por que me consultaste? Ela respondeu: ‘Eu te consultei, pai, porque não faço nada sem falar contigo’. Retruquei: Sim, mas tu falas comigo e fazes diferente? E ela disse: ‘Eu fiz diferente, pai, porque tenho certeza de que tu vais me dar razão. Eu estou começando. Se eu não tomo uma decisão firme, para mostrar como vai ser o meu Governo, aquilo vai se repetir a cada semana. Agora, tenho certeza de que, feito o sacrifício que foi feito, ele marca o que vai ser o meu Governo’”. O Tebet contava isso com orgulho: “Pois a minha filha é melhor do que eu; a minha filha me deu um exemplo fantástico!”.

Feliz com a família. É impressionante, há dois anos, o pai dele morreu, não sei... Ele falava do paizinho dele com uma meiguice, com carinho, com afeto! O pai dele era libanês. Contava a maneira como o pai lhe ensinava, quando o pai estava vivo. Que respeito ele tinha por aquele pai, e que nós, descendentes de libaneses, temos! Nosso pai é uma espécie de representante de Deus na nossa casa.

Eu peço a Deus, que tudo pode, que dê mais um tempo de vida ao Tebet, para que ele esteja aqui na hora de escolhermos o futuro Senado, para que ele esteja na Bancada do PMDB na hora de decidirmos o que vamos fazer. Que ele possa pedir uma audiência ao Lula, com a grandeza de quem passou pelo que ele passou, e, quase como um emissário de Deus, que ele possa dizer ao Lula: “Pense bem, Lula. É raro na vida haver uma segunda chance em caso tão importante como este. Tu estás tendo”. O Lula, cercado, nunca, no fundo, pode saber qual é o interesse, qual é o grau de sinceridade da pessoa que está falando com ele. Com o Tebet, ele vai ver que é a própria palavra divina que está falando com ele.

Permita, meu Deus, que o Tebet fique conosco. Ele vai ficar a eternidade Contigo! A eternidade! O que é um dia para Deus? O que estamos pedindo para Deus são alguns instantes, quatro anos, para que o Tebet, vindo como mensageiro de Deus, possa nos orientar.

Meu amigo Tebet, rezo por ti, peço por ti a Deus, mas peço por ti para que tu estejas vivo conosco. E peço a Deus que Ele tenha misericórdia com o povo brasileiro.

Olha, meu Deus, nessas eleições, tantas pessoas que não imaginávamos que pudessem estar aí! Uns voltando, outros ficando. Tão pouca gente boa que possa significar esperança! O Tebet é a esperança, o Tebet é a fé, o Tebet é um sentimento de amor em meio a esses conflitos. Não se pode mais abrir o jornal: roubou, matou, e isso e aquilo. O Tebet é o amor; é o amor, é a verdade, é a paz, é o carinho.

Meu Deus, tenha piedade do Brasil!

O Tebet já tem como encerrada sua missão de maneira magnífica. Não é o Tebet, não é sua família que, graças ao que foi o Tebet, está tranqüila ao seu lado. O Tebet, que podia estar em um hospital melhor, com os melhores médicos em São Paulo, largou tudo e foi para casa dele. Está em Campo Bom.

É por isso que, se o Tebet estiver conosco, foi Deus quem o mandou. Deus tudo pode!

Creio que, numa hora como esta, não se sabe o que dizer, nem o que falar. Não tenho vindo a esta tribuna nos últimos tempos, porque quero saber o que está acontecendo para ver o que vou falar. Não posso combater para, depois, pedir desculpa. Não posso defender para, depois, dizer que estive errado. Então, estou aguardando. E muita gente está assim.

De repente, na semana que vem, vem o Tebet falar desta tribuna. É um sinal em que podemos confiar.

Há tanto tempo que dizemos que essa história de dizer que Deus é brasileiro não é bem assim. E tem razão. Erramos tanto, cometemos tantos equívocos, mas também dá para dizer que o destino não tem sido muito amigo nosso, dos brasileiros: Tancredo não precisava ter morrido; se Mário Covas tivesse ganhado aquela eleição para Presidente da República, não teria acontecido nada disso que aconteceu; se o PMDB, no auge, com Tancredo, Teotônio, Ulysses, Arraes, Mário Covas, Montoro, tivesse tido um mínimo de entendimento, nada disso teria acontecido.

Bota incompetência na classe política brasileira!

Olha, tenho vergonha de mim mesmo, tenho vergonha quando vou me deitar. O que fiz? Não fiz nada! Em que colaborei? Em coisa nenhuma! É como diz a Bíblia: vaidade, vaidade, tudo é vaidade! O sol nasce pela manhã, levanta-se e baixa-se. É outro dia, e tudo permanece igual. Estamos aqui - e eu já estou há 24 anos. É só vaidade! Não há nada de positivo, nada de construtivo.

Não é possível que, com tantas pessoas de bem, o Brasil seja o que é, como diz o Senador Mão Santa, recordista em mortes por arma de fogo. Ocupa o terceiro lugar no mundo. É recordista do mundo em roubalheira, em bandalheira, em vigarice. É o primeiro País do mundo na divisão entre os que são mais ricos e têm tudo e os que são mais pobres e não têm nada. E nós estamos aqui, tranqüilos, vendo as coisas acontecerem. Dormimos tranqüilamente.

Lá, em Porto Alegre, a Justiça está exigindo, batendo na mesa, porque tem direito a determinada porcentagem de aumento. Enquanto uma professora ganha R$400,00!

Fazemos a mesma coisa, nós, Parlamentares. Quem de nós se compara ao que ganham os milhões de pobres deste País?

Tenho um projeto que está em andamento. Ele estabelece que um Parlamentar não pode ganhar mais do que vinte vezes o valor do salário mínimo. Olha, quase fui agredido. “Mas o senhor é um demagogo! Como que um Senador vai viver com vinte salários mínimos?”. Eu disse ao colega: “Acho que há um engano. A pergunta não é essa. A pergunta é: como um operário vive com um salário mínimo? Eu estou propondo que um Senador viva com vinte salários. V. Exª acha que é uma loucura, não dá. E como é que um trabalhador vive com um salário?”. E isso é natural; é tudo natural. E vamos sendo guiados pelas novelas de televisão, em que, a cada dia, o bandido sai ganhando. Cada um tem três mulheres, fica rico da noite para o dia. Agora, até na novela, há uma novidade, porque se queixavam que não havia negro na novela, agora colocaram um negro lá, e tem negro malandro que nem os brancos. Quer dizer, na hora de aparecer, em vez de colocarem os negros com dignidade, não, colocaram os negros malandros como os brancos. Identificaram até nisso. Não pode, não pode.

Ganhou as eleições o Presidente da República. E há essa briga em torno de quem será o Presidente da Câmara e o Presidente do Senado, quantos Ministros, quantos não Ministros. Não pode!

Aliás, eu diria ao Presidente uma coisa, e tenho certeza de que, se o Tebet ficar bom - e vai ficar - e vier a esta tribuna - e vai vir - será uma das primeiras coisas que o Tebet dirá ao Presidente: “Presidente, saiu na imprensa que o PT criou uma espécie de SNI para apurar o que acontece com os adversários. Tudo bem, tudo bem! O senhor tem de criar um setor dentro de seu Partido, dentro de seu Governo para investigar a pessoa que o senhor vai nomear para seu Ministério. Não pode nomear alguém que não conheça”.

Aconteceu isso no Governo do Itamar. Fui Líder do Governo Itamar e, de repente, nomeamos um Ministro da Agricultura que, durante cinco anos, foi Presidente da Federação da Agricultura de Brasília. Quando ele foi nomeado, o Correio Braziliense publicou que o tal cidadão havia matado duas pessoas. Ele sofreu todo o inquérito, foi pronunciado, marcada a data do júri, e há vinte anos o júri não saía. Ele estava fugindo. Mas era fugitivo aqui em Brasília, e ocupava o cargo de Presidente da Federação da Agricultura. Foi demitido no dia seguinte, e até hoje ainda não foi julgado. Essas coisas acontecem. O Itamar nomeou para a Secretaria de Transporte do Rio de Janeiro uma engenheira excepcional. Mas, ao ver que ela era esposa do proprietário da empresa que fazia o serviço do pedágio da ponte Rio-Niterói, ele a demitiu no dia seguinte. Se não me engano, foi o PT quem nomeou não sei quem no Nordeste, um membro do Exército, que havia sido o torturador de um religioso. O PT o demitiu. Mas, para essas pessoas, não precisava haver demissões, sequer poderiam ser nomeadas.

A primeira coisa que o Sr. Lula tem de fazer para mostrar que quer ser um bom Presidente é colocar no jornal a folha corrida de todos os homens que ele vai nomear. O Brasil tem direito à folha corrida. Por exemplo, se vai nomear o Paim, mostra a folha corrida do Senador Paulo Paim para ver se ele tem alguma multa de trânsito. Isso tem de ser feito. Mas não como os jornais estão dizendo: que tem gente indiciada outro dia no Supremo Tribunal Federal - indiciada, não, pronunciada, com inquérito aberto - e que está para ser escolhida ou para a Presidência da Câmara, ou do Partido ou para Ministro de Estado. Assim não bate!

Por isso, falta o Senador Ramez Tebet aqui. Se o Tebet estiver aqui, ele tem autoridade, mais do que eu, pelas mil qualidades a mais do que eu que ele tem, mas especialmente por uma. Eu já vim, bati, denunciei, gritei; mas eu, falando, eles dizem: “É coisa do Simon”. O Tebet, não. Ele tem o bom senso, o equilíbrio, a serenidade, de tal maneira que, ao falar, ninguém colocará em dúvida que há outro motivo para ele falar senão o de esclarecer a verdade.

Por isso, peço aos senhores que estão em casa que rezem um “Pai Nosso”. Façam uma mensagem ao nosso Deus, o Deus dos católicos, dos cristãos, dos mulçumanos, o Deus inclusive daqueles que dizem não serem católicos, mas que acreditam em Deus. Façam uma mensagem ao nosso Deus: “Meu Deus, deixa o Tebet ficar mais um tempo conosco. Não é por ele, nem pela família, é pelo Brasil. Deixa, meu Deus! O Senhor fez tantos milagres! Tantas e tantas vezes, o Senhor ressuscitou os que morreram! Faça isso, meu Deus!

E este Brasil, onde ninguém acredita em mais nada, de repente vai olhar o Tebet nesta tribuna. Com a minha humildade, com os meus pecados, eu não tenho direito a nada, minha voz de um humilde pecador não significa nada, mas eu sou um brasileiro e falo pelos milhões de brasileiros que passam fome, que estão na miséria e que não têm culpa, meu Deus, que não têm culpa se nasceram lá, no lodo; eles não têm culpa se até agora ninguém foi olhar por eles. É em nome deles que eu peço: dê saúde ao nosso querido Tebet!

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2006 - Página 34789