Discurso durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2006 - Página 34824
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, INTERESSE PUBLICO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, Srªs e Srs. Senadores aqui presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal.

Senador Papaléo Paes, todos nós sentimos um vazio aqui, no plenário, nos corredores, nas salas de Comissão, na biblioteca, no restaurante e na tribuna: Ramez Tebet.

Senador Hélio Costa, os desígnios de Deus são insondáveis e misteriosos. Deus, que pode tudo e sabe tudo, levou o nosso Ramez Tebet. Senador Hélio Costa, a história serve para nos guiar. V. Exª que veio lá do sacrifício da Independência, o Tiradentes, o Paim dos Lanceiros Negros - sacrifício, e morte - o Senador Ramez Tebet, Rui Barbosa, da Bahia. Fico pensando que Deus é que sabe tudo. Ele deu a grande oportunidade a este Brasil, no momento mais difícil do Brasil, em que pesquisas apontam que somente 5%, Senador Renan Calheiros, acreditam nos políticos. Eu vi essa pesquisa. São 30% que acreditam na Justiça; justiça que é de Deus. Moisés recebeu de Deus a Lei. De Cristo, “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

Ministro da Comunicação, Ele não tinha esses órgãos, tinha de ir à montanha bradar.

Somente 30%. Nesse momento, Rui Barbosa, que está ali, disse: “Vai chegar o dia, de tanto ver a nulidade chegar ao poder, campear a corrupção, rir-se das honras, em que teremos vergonha de ser honestos”. Chegou. Foi nesse instante que Deus, que escreve por linhas tortas, tirou Ramez Tebet.

É, Brasil, aprendam! Pode-se ser político com dignidade. Pode-se ser político com vergonha. Pode-se ser político com honestidade.

Pode-se ser um santo na política. É o caso de Ramez Tebet. E eu falo com emoção mesmo.

Presidente Renan, esta gravata que estou usando foi um presente de Ramez Tebet. E quero dizer o seguinte: tanto é verdade que todos nós temos nossa luta. Eu publiquei um livro, Senador Heráclito Fortes, “Mão Santa, o Piauí no Senado”. Nós, orgulhosos do Piauí. Senador Renan, eu busquei para fazer o prefácio Ramez Tebet.

Em um outro pronunciamento, Senador Antonio Carlos Magalhães, essa tribuna aí era aquela. Eu vim aqui para ficar olhando. Ele está ali, ele está na nossa mente. E eu me lembro de que ele aparteava alguém e dizia: “Senador Mão Santa, V. Exª aqui tem um admirador, um colega seu que uma vez esteve no seu Estado. V. Exª era Governador e foi o suficiente para eu conhecer a sua capacidade e o seu dinamismo. V. Exª ocupa hoje essa tribuna para defender; V. Exª não está atacando. V. Exª está defendendo aquilo que entende ser justo, principalmente para o seu Estado e para a região que representa”.

Mas todos tivemos a solidariedade.

Antonio Carlos Magalhães, de repente, esse homem político, hoje santo, porque, se ele não foi para o céu, não quero nem acreditar, porque nenhum de nós irá. Então, Senador Valdir Raupp, ele foi ao Piauí quando Ministro e concluiu conosco um dos muitos açudes e nos ajudou em Salinas, em São Francisco do Piauí.

Penso que, inspirado por Deus, Senador Magno Malta, conferi a Ramez Tebet a maior comenda do Estado do Piauí, traduzindo o respeito, a gratidão e a confiança do povo piauiense naquele político, político de vergonha - a Grã-Cruz da Ordem da Renascença. Ele muitas vezes me encontrava, Senador Renan, e dizia que foi a maior homenagem que ele recebera e no meio do povo, e o povo era encantado com ele. Mas o destino é assim, Senador Renan. Lá, naquela praia, em que nos momentos difíceis V. Exª também vai descansar, no litoral do Piauí. Política é como o mar: enche e seca.

Vi o Senador Renan, numa maré seca, buscando forças nas águas verdes e olhando as brancas dunas, tostado pelo sol valente e o vento das praias piauienses. Ramez Tebet foi ao Piauí. Eu estava em uma dessas viagens e não pude recebê-lo. Aliás, ele foi ministrar um curso de Direito. Eu orientei e sugeri o nome. O meu irmão, Deputado Federal, e a minha família o receberam, Senador Renan.

Maguito, V. Exª é orgulhoso pela sua pequena cidade, pois Juscelino nela se inspirou para construir Brasília. Foi o cunhado do Maguito, o Toninho, que fez a pergunta a Juscelino. Pois, Marco Maciel, Getúlio Vargas, em 1950, em agosto, foi a Parnaíba. Eu o vi, Paim - V. Exª é gaúcho -, discursar na praça Nossa Senhora das Graças. Gregório Fortunato, de branco, e os seus, na sua guarda, e ele foi almoçar na casa de um tio meu, Prefeito do PTB, o médico João Orlando de Moraes Correa Eu tinha oito anos; ele, com charuto, roupa branca. E sei que meu tio botou na porta da Casa uma placa: “Aqui, hospedou-se, em agosto de 50, Getúlio Vargas”, que deixou o mundo em 1954.

Ô, Raupp, Ramez Tebet foi ao Piauí, e minha família o recepcionou, meu irmão, Deputado Federal, minhas irmãs. Eu estava fora do País. Marco Maciel, tenho uma casinha na praia; o litoral do Piauí é o menor, com 66 quilômetros: é bem no meio, no Coqueiro. Atentai bem! E Ramez Tebet depois me contou com as fotos. Ele ficou hospedado na minha casa; acho que foi bem melhor, porque ele recebeu o calor das minhas irmãs, da minha família.

Sou o pior, eles são melhores.

Paulo Paim, vou voltar com Adalgisa a essa casa, para colocar as fotos, como meu tio, orgulhoso de ter hospedado Getúlio Vargas. Vou colocar lá, Heráclito Fortes: “Nesta casa, hospedou-se o maior político contemporâneo, ele e sua família.”

Então, Ramez Tebet é isso tudo. Também, como V. Exªs, tenho uma revista. Ramez Tebet está na minha revista. Ele diz assim: “Senador Mão Santa, V. Exª aqui tem um admirador, colega [...].” Está lá na revista, em letras grandes, porque ele era grandioso:

            Caminhei com o Senador Mão Santa por Teresina, e posso testemunhar: raras vezes vi um político tão à vontade em meio ao seu povo. O entendimento que une o cidadão Francisco de Assis Moraes Sousa e os seus co-estaduanos é tão manifesto e completo que ultrapassa as motivações puramente políticas para encontrar sua verdadeira fonte naquelas regiões mais profundas da alma popular, ali onde se plasma o carisma que é a marca dos verdadeiros líderes. Por isso, os piauienses o conduziram por duas vezes ao governo do Estado, e por isso o escolheram como seu representante no Senado da República.

Aqui vão as nossas palavras de solidariedade à esposa, Fairte Nassar Tebet; à sua filha Simone, Prefeita de Três Lagoas; à outra filha, médica, que o deixava tão orgulhoso; e aos filhos gêmeos.

Termino, dizendo, Senador Renan Calheiros, que, na véspera, Pedro Simon telefonou para ele e falou bem baixinho: “Mão Santa está do lado.” Pedro Simon, o mais brilhante orador desta Pátria, depois veio ao plenário e superou-se, ao fazer orações, quando a sessão era presidida por Paulo Paim.

Deus é que sabe. Deus viu e quis chamar a atenção do Brasil para o fato de que nem tudo está perdido, de que nem tudo é malandragem, corrupção, mensalões, sanguessugas, prostitutos da política. Ele quis chamar a atenção do País.

Então, agradeço a Deus ter tido essa convivência e tê-lo como mestre; ele nos inspirava e orientava. Paulo Paim, numa das últimas reuniões... Renan, no nosso PMDB, “tem e não tem”, eu o levava até os salões da Câmara Federal, e ele dizia: Mão Santa, vamos devagar, porque eu não posso.

Magno Malta, um quadro vale por dez mil palavras. Todos sabem da intimidade que tinha com ele. Temos o direito de escolher nossos líderes. Eu o escolhi. E um dia testemunhei sua grandeza. Sei que muitos foram os Presidentes do Senado Federal - e o nosso atual Presidente é brilhante, extraordinário, o Presidente Renan Calheiros -, mas quero falar sobre um fato: eu estava num elevador, e os funcionários desta Casa vieram, Renan, dizer que queriam homenagear o Senador Ramez Tebet, que estava em dificuldades com a doença. Os funcionários vieram pedir-me que o apoiasse, que o acompanhasse e que recebesse essa homenagem. Eles disseram, Renan Calheiros - esta é medalha maior do que a que demos no Piauí, Heráclito, a Grã Cruz da Ordem da Renascença -: ele foi o melhor Presidente, com todo respeito. Ouvi os testemunhos, em verdade, da história desta Casa.

Então, aqui estamos. Deus o colocou num farol de dignidade. O Senado não perde, engrandece. O Senado não perdeu, quando morreu Rui Barbosa: engrandeceu-se. Engrandeceu-se, porque agora temos mais um exemplo de grandeza.

Nossas palavras finais são: Deus, receba o Senador Ramez Tebet.

Sem dúvida nenhuma, ficará sua vida, sua luta e, com a ajuda de Deus, nosso desejo de acertar e nosso amor pelo Brasil. Agora, com o exemplo de Ramez Tebet, vamos levar essa pátria a um destino melhor, sempre, cada dia vivido e sonhado por Ramez Tebet.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2006 - Página 34824