Discurso durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2006 - Página 34836
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, EX SENADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, REFORÇO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, os oradores que, atendendo à precedência de inscrição, ficam por último levam uma grande desvantagem, quando o homenageado é uma pessoa comum, simples.

Quando o homenageado é uma pessoa especial e tem uma vida de dedicação ao País, como é o caso de Ramez Tebet, falar sobre ele se torna inesgotável. O maior exemplo da figura que foi Ramez Tebet, durante muitos anos, nesta Casa, podemos mostrar, Sr. Presidente, pela presença maciça dos funcionários de seu gabinete, tristes, cabisbaixos, guardando o luto da perda do companheiro. Tenho por hábito ser observador, meu caro Paulo Paim,

E vi, desde o primeiro momento, o semblante de tristeza e de desolação de todos os funcionários que tiveram o privilégio de conviver com Tebet na sua vida pública. Daí por que a minha primeira homenagem ser para os familiares e para os funcionários de Ramez Tebet.

Posso dizer, meu caro Senador Geraldo Mesquita Júnior, que sou um homem de sorte Nordestino, aos cinqüenta e seis anos, vencendo todas as intempéries que a vida nos proporciona, cheguei ao Senado da República, uma Casa de oitenta e um brasileiros. Dizia Tancredo Neves que era a representação mais nobre da democracia brasileira. Pois bem. Chego aqui, e a geografia do Senado, na divisão das bancadas, me coloca para sentar atrás de Ramez Tebet. E tive, durante esses quatro anos, o privilégio do estreitamento de uma amizade que começou por uma admiração profunda. Tebet, Presidente do Senado, e eu, Líder do Governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso Nacional.

Em um episódio em que a Oposição de então quis lhe criar constrangimento em uma matéria orçamentária, eu pedi a ele:

“Presidente, não se envolva”, e tomei a defesa da questão, colocando a coisa nos seus devidos termos. Ele ficou agradecido porque poupei a figura do Presidente da Casa, e, a partir daí, estreitamos a amizade que se consolidou quando vim para cá e tive o prazer de conviver com Tebet na sua reeleição.

Sr. Presidente, poucos homens neste País viveram com tanta intensidade a vida pública como Ramez Tebet. Em suas diversas internações - e o gabinete pode testemunhar isso melhor do que eu -, ele ficava acompanhando o desenrolar das sessões do Congresso, pela TV Senado, e me ligava para comentar ou para dar sua opinião sobre o que se passava aqui. Foi e voltou tantas vezes, sempre com mais força e com mais vontade de continuar a honrar o mandato que Mato Grosso do Sul lhe deu.

Recentemente, por duas vezes, falei com ele ao telefone. A penúltima, por iniciativa dele, em que me pediu que guardasse uma vaga para que assinasse a segunda versão da CPI das ONGs, já que ele havia assinado a primeira. E a segunda, no dia do seu aniversário, há poucos dias, em que tomei a iniciativa de fazer a ligação.

E aí, pela primeira vez, vi o homem fraquejar e dar sinais de que estava sendo, infelizmente, vencido pelo mal que lhe acompanhava há vinte anos.

Com Tebet aqui, no cochicho do plenário - eu e o Senador Mão Santa tínhamos esse privilégio quase todos os dias -, conversávamos sobre os mais diversos assuntos, mas sempre de interesse público. Era uma das coisas que eu admirava muito nessa figura. E, vez ou outra, quando saía do tema, era para falar de algo que ele gostava: andar bem vestido. Perguntava quem foi o alfaiate, de onde era a roupa... Era um homem que prezava a boa aparência, e fazia daquilo um exercício permanente.

Ramez Tebet, Senador Renan Calheiros, e nós, por coincidência, temos aqui pelo menos três chegados praticamente juntos nesta Casa do Congresso Nacional. As águas rolam, e terminamos sendo testemunhas oculares de vários episódios e de várias histórias. Umas, menos importantes, carregadas pelo vento, são esquecidas. Outras não, ficam para sempre na mente de cada um de nós.

Lembro-me, Senador Renan Calheiros, que o primeiro exemplo de vitalidade, de força e de resistência que esta Casa viu foi Teotônio Vilela, conterrâneo de V. Exª e pai do futuro Governador das Alagoas, que não se dobrou, em nenhum minuto, pela doença; e o segundo exemplo foi justamente o de Ramez Tebet.

Falar com ele até há dois meses era ter a oportunidade de discutir projetos que não tinham fim. Era ver o Brasil recuperado. Era ver, acima de tudo, efetivado o combate à corrupção e à incompetência de governantes. Ramez Tebet, no começo do atual Governo, era um entusiasmado, como todos nós, eleitores ou não, com a caminhada de um trabalhador que chegou à Presidência da República. E coube exatamente a ele dar posse a esse Presidente, em uma sessão histórica para o Brasil. Talvez tenha sido um dos que mais lentamente foi mudando de opinião e se decepcionando, não diria com a figura maior do Presidente em si, caro Senador Paulo Paim, mas com uma série de fatos que começavam a ocorrer em volta de um governo que frustrava a esperança de vários brasileiros.

Ramez Tebet nunca teve a vocação do radicalismo, e isso já foi dito aqui. Era um homem que tinha uma profunda vinculação partidária de fidelidade com o PMDB, mas colocava o Brasil e o Mato Grosso do Sul acima de qualquer coisa. Bom conselheiro, homem de diálogo, não quero crer que alguém tenha tido a oportunidade de vê-lo irritado, levantando a voz ou demonstrando ódio, nesta Casa, nesta convivência. É esse o homem, é essa a imagem, é essa a lembrança deixada por esse mato-grossense.

Portanto, sem condições de competir com os oradores que me antecederam - uns, com mais convivência; outros, com mais história sobre esse grande companheiro -, seria um ato de covardia se me furtasse a participar desta homenagem. E olha que sou, Senador Mão Santa, a última pessoa com vocação para enaltecer os que foram, os que partiram. Sou tomado pela emoção, pela tristeza. Minha vida é mais de alegria, é mais de esperança, é mais de futuro, é mais de gestos alegres do que de um gesto como este. Mas fugir é uma covardia com a qual jamais admitiria conviver.

Mas saio desta tribuna com a certeza de que, com todo o sofrimento que a doença lhe impôs durante anos a fio, além de um homem otimista, Tebet era, acima de tudo, um homem alegre.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2006 - Página 34836