Discurso durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.
Aparteantes
Jonas Pinheiro.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2006 - Página 34841
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, COMISSÃO DE ETICA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, INTERESSE, REGIÃO CENTRO OESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), CONTRIBUIÇÃO, CIDADANIA, POLITICA, PAIS.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Presidente Renan Calheiros, lembro-me daquela sexta-feira - creio que era dia 10 - em que, antes do almoço que tivemos, V. Exª, o Senador Arthur Virgílio e eu, falamos ao telefone com Ramez Tebet, nosso Colega e amigo. Ele estava no hospital. Falaram V. Exª, Arthur e eu. Falei com um homem de voz somítica. Quando desliguei o telefone, comentei com V. Exª: “Acho que me despedi de Ramez Tebet”.

Durante a semana passada, acompanhei a evolução do quadro clínico de Ramez Tebet. Eu estava meio desalentado, mas esperei o milagre que tantas vezes aconteceu em relação aos cânceres que anteriormente ele curou. Desta vez, Deus o levou.

Perco um bom amigo, um amigo com quem eu não tinha uma relação de freqüentar a casa, Senador Mão Santa. Eu não ia com freqüência à casa de Ramez Tebet. É verdade que fui uma vez e fui recebido fidalgamente por D. Fairte, que nos serviu quibes muito bem feitos - a família é de origem árabe.

Não conheci os filhos de quem ele me falava. Senador Mão Santa, quando fui a Mato Grosso do Sul, convidado que fui tantas vezes por Ramez Tebet para conhecer Bonito - que conheci, com suas águas transparentes -, fui motivado pelo convite de Ramez Tebet, que me falava tanto do seu Mato Grosso do Sul, que me falava das belezas do seu Estado, do Pantanal. E eu me movi numa semana Santa, creio, para passar uns breves dias em Bonito. A pessoa que eu queria ter encontrado no aeroporto de Campo Grande era Ramez Tebet, que lá não estava. Lá estava o meu amigo Lúdio Coelho, estava o hoje Governador Puccinelli, e toda minha viajem foi organizada pelo Senador Delcídio Amaral, porque Ramez Tebet estava no hospital - naquela época, já estava no hospital.

Quando voltei, comentei com ele sobre a minha passagem por Bonito, naquelas conversas amigáveis que tínhamos, tão amigáveis que ele fazia confidências, quando me disse, por exemplo, que tinha quatro filhos: Ramez, Rodrigo, Eduarda e Simone. Simone é Prefeita, mas de quem ele me falava era de Eduarda, que é médica, Senador Jonas Pinheiro. E me dizia ele, na simpatia das nossas conversas, que assistia com interesse aos meus discursos, e eu lhe dizia que aquilo me envaidecia muito. A filha de Ramez, a médica, gostava de me ouvir falar, de me ouvir emitir opiniões. Comentava isso com o pai, e ele o comentava comigo.

Senador Antonio Carlos Magalhães, o primeiro contato que fiz com Ramez Tebet foi marcado pela simpatia dos comentários que ele fazia sobre uma figura que V. Exª conheceu muito bem: meu tio João Agripino, exemplo de político que sigo a vida inteira. Meu tio foi diretor de uma empresa privada onde Ramez Tebet trabalhou, uma construtora. Lá, conviveram amigavelmente. Dizia ele que guardava enorme carinho e respeito pela figura de tio João. Começamos uma amizade marcada pelo diálogo afável em torno de uma figura como João Agripino, que havia sido chefe dele, e que era meu tio.

Faço essas considerações, Senador Magno Malta, para lembrar alguém a quem eu queria bem, nesta hora em que presto individualmente, modestamente, mas muito sinceramente, uma homenagem. Honestamente, eu queria bem a Ramez Tebet. Era uma figura a quem eu fazia questão de cumprimentar efusivamente toda a vida. E, no fim, quando percebi que ele estava definhando, eu o cumprimentava com apreço cada vez maior, porque sentia que fazia bem a ele. E eu queria que ele tivesse o conforto dos seus companheiros no calvário em que ele vivia, com a quimioterapia a que estava obrigado, queria que ele sentisse o apreço, a amizade, o bem-querer dos seus Colegas, que tinham por ele, como cidadão, um apreço pessoal, que demonstrei o tempo todo ter por ele; porém, mais do que isto tudo: respeito pelo homem público.

E aí vai uma palavra também sincera. Senador Jonas Pinheiro, Presidente Renan, o ex-Presidente Ramez Tebet era uma figura singular, Senador Geraldo Mesquita, singular no seu Partido. Singular como? Porque quero que seja? Não, pelos fatos que aconteceram. Que fatos? V. Exª é do PMDB, como ele o foi a vida inteira. V. Exª se lembra de que ele foi Presidente do Conselho de Ética, escolhido pelo Partido e pela Casa. O Partido só indica alguém para o Conselho de Ética quando esse alguém guarda ética no seu comportamento, e só é Presidente o escolhido absolutamente infenso a acusações de qualquer defeito no padrão ético de sua conduta pessoal. Partia daí. Esse era o capital inicial dele. Mas V. Exª se lembra de que, em um dado momento, em um momento de impasse do governo passado, surgiu a necessidade de composição do governo com indicação de nomes do PMDB; e o PMDB precisava ter nomes de consenso, defensáveis; nomes sobre os quais ninguém apresentasse qualquer tipo de contestação. Escolheram quem? Ramez Tebet. Foi ele o nome de consenso para ser Ministro, numa hora de dificuldade de composição de governo, para estabelecer padrões de governabilidade. Buscaram quem? Ramez Tebet, uma reserva do PMDB. Isso acontece com muita gente. E, na hora em que o ex-Senador Jader Barbalho deixou de ser Presidente e se estabeleceu um período tampão para se eleger o novo Presidente, precisaram de alguém de consenso, também na Bancada majoritária. Foram buscar quem? Ramez Tebet, que estava Ministro e voltou para a Casa para ser candidato de consenso a Presidente da Casa. E foi eleito.

Lembro-me como se fosse hoje, Senador Maguito Vilela - naquele corredor, eu estava atrás dele -, a satisfação, o murro no ar que ele deu quando apareceram 41 votos para Ramez Tebet. Ele havia passado da metade mais um e estava eleito Presidente do Senado. Ele era um homem singular. Na sua modéstia, na sua simplicidade, ele foi um homem singular que deixa um exemplo de comportamento nesta Casa.

É hábito, quando as pessoas se vão, se fazer o necrológio do elogio. Às vezes, o elogio é difícil de ser feito. No caso de Ramez Tebet, para mim, o elogio é fácil de ser feito, Senador Ney Suassuna, porque falo de Ramez Tebet de coração aberto, porque falo de um bom cidadão, de um bom companheiro, de um bom brasileiro e de um bom político, que deixa nesta Casa um belo exemplo de correção e de seriedade a ser seguido por todos nós.

Ouço, com muito prazer, o Senador Jonas Pinheiro.

O Sr. Jonas Pinheiro (PFL - MT) - Eminente Líder José Agripino, Sr. Presidente do Senado, Srªs e Srs. Senadores, também estou aqui para repassar um velho filme, gravado nos idos de 1975. Naquela época, o Presidente Geisel instituiu um Programa, chamado Polocentro, para ser aplicado nos cerrados brasileiros dos Estados de Mato Grosso, Goiás, do Triângulo Mineiro e no Distrito Federal. Fui nomeado - à época, eu era um jovem veterinário - para coordenar esse programa de crédito rural e assistência técnica. A região de Três Lagoas fazia parte desse programa, por isso para lá me dirigi, juntamente com uma equipe de assessores, para ali implantar o Programa Polocentro. Lá, nos reunimos - técnicos e produtores - com o gerente do Banco do Brasil. Foi de lá que veio a informação: “Jonas, você só implantará esse Programa em Três Lagoas, onde o povo é muito desconfiado e tem medo de fazer financiamento - os juros do financiamento naquela época de inflação alta eram 7% ao ano -, se conseguir implantá-lo em primeiro lugar na fazenda do Prefeito Ramez Tebet”. Fui procurar o então jovem Prefeito de Três Lagoas, Ramez Tebet, para apresentar-lhe o Programa. Imediatamente, fomos ao campo conhecer a propriedade, onde foi implantado o primeiro projeto da região de Três Lagoas. Por isso, meu Líder, o projeto foi bem-sucedido, ou seja, porque houve o exemplo dado pelo então Prefeito e produtor Ramez Tebet. A partir daí, o Programa cresceu e, mais do que isso, tivemos extraordinários resultados com o Programa, o Polocentro, Programa de Desenvolvimento do Cerrado, em Mato Grosso, em função da iniciativa do Prefeito Ramez Tebet. Evidentemente que tive muitas outras oportunidades de estar com Ramez Tebet. Quando ele ocupou o cargo de Superintendente da Sudeco, eu já era Deputado Federal, e, naquele tempo, Mato Grosso havia sido recentemente dividido. Portanto, havia, entre nós, aquela amizade de mato-grossenses e, posteriormente, nesta Casa, como Senador e como Ministro da Integração Nacional. Ramez Tebet, como todos já disseram, foi um verdadeiro conselheiro para todos nós. Portanto, ficamos todos na saudade de Ramez Tebet, sabendo que o exemplo dele é para ser seguido por todos os Senadores desta e das futuras gerações. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Jonas Pinheiro, V. Exª complementa, com a sua fala, uma lacuna em meu pronunciamento. A defesa permanente, a intransigente posição que Ramez assumia em qualquer questão que dissesse respeito ao Centro-Oeste de V. Exªs - de V. Exª, que é de Mato Grosso e dele, que era de Mato Grosso do Sul. Ramez Tebet era um intransigente quando se tratava de defender questão do Centro-Oeste - V. Exª se lembra disso. Ele era um homem de partido. No entanto, se mexessem com qualquer questão que não coincidisse com as suas convicções e se não fosse das convicções regionais, não havia quem contasse com o voto de Ramez Tebet, que era um peemedebista autêntico, mas era um homem independente. Era homem de partido, sim; mas era homem de Brasil! Se as idéias do Partido dele, no entendimento dele, em algum momento não coincidissem com as idéias que ele entendesse serem as do Brasil, ele votava “não”. Mas hora nenhuma ele votou “não” contra o interesse da região de V. Exª, Senador Jonas Pinheiro, que era a região dele. Isso era o atavismo, o reconhecimento, o compromisso, a raiz.

Por essa razão - acho que já me delonguei bastante, Presidente Renan Calheiros -, quero, dizendo a V. Exª que eu gostaria muito de tê-lo acompanhado na viagem que fizeram, no sábado - encontrava-me distante, no Rio Grande do Norte -, às exéquias do Senador Ramez Tebet, lamentar não ter podido ir dar o meu último adeus ao meu amigo Ramez, e apresentar condolências à D. Fairte, a Ramez e a Rodrigo, à Prefeita Simone, mas principalmente à médica, a quem não conheço, Eduarda, de quem Ramez me falava tanto que me ouvia: se você estiver me ouvindo, receba um abraço afetuoso de um amigo do seu pai, que o queria muito bem e tem por ele grande respeito.

Que Deus o proteja!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2006 - Página 34841