Fala da Presidência durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Senador Ramez Tebet, ocorrido no dia 17 último, na cidade de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2006 - Página 34847
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, PROMOTOR, EX GOVERNADOR, EX PREFEITO, MUNICIPIO, TRES LAGOAS (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, SUPERINTENDENTE, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO OESTE (SUDECO), EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, ESTADO DEMOCRATICO, CONTRIBUIÇÃO, POLITICA, BRASIL.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros - PMDB - AL) - Srªs e Srs. Senadores, ontem, durante o sepultamento do Senador Ramez Tebet, conversando com a imprensa, tive a oportunidade de dizer que “Morrem cedo aqueles que os deuses querem bem”. A citação obviamente não é minha, mas do maior gênio da Língua Portuguesa, o poeta Fernando Pessoa, ao lamentar a morte de seu melhor amigo, de sua alma-irmã, o também poeta Sá Carneiro, que tão precocemente deixou o convívio de seus amigos. Somente os poetas, Senador Antonio Carlos Magalhães, os grandes poetas, têm este talento, a capacidade de expressar, com eloqüência e precisão, nossos mais profundos e sinceros sentimentos.

Nestes momentos de dor e perda, eles e Deus são nossos melhores conselheiros, porque também nos lembram que, para além da perda, resta aos que aqui ficam os ensinamentos, o legado daqueles que se foram tão cedo. E, por falar naqueles que se foram tão cedo, quero lembrar o nosso querido e inesquecível Luís Eduardo Magalhães.

Sei que há aqueles que duvidam que a aridez e a tensão permanente da atividade política permitam cultivar amizades sólidas, duradouras e fraternas. Por isso, dou aqui o meu testemunho pessoal, Senador Cristovam Buarque. As perdas são muitas e para muitos. No caso de Ramez Tebet, a maior e incomparável é da família,

Dona Fairte e seus quatro amados filhos: Rodrigo, Ramez, Eduarda e Simone, que é Prefeita da cidade de Três Lagoas. Perde o Estado do Mato Grosso do Sul, perde o País, perde a sociedade brasileira. E eu, sem dúvida alguma, perco um amigo e irmão.

Mato Grosso do Sul perde um brilhante advogado, um grande promotor, um político dedicado que honrou sua terra natal e todos os cargos por que passou: desde o de Prefeito da sua querida Três Lagoas, passando pela Secretaria de Justiça, pela Sudeco, o Governo do Estado, o Senado Federal, o Ministério da Integração Nacional e a Presidência do Senado, onde deixou muitos e inestimáveis legados.

Quantos conselhos tenho memorizados, quantas lições aprendi com esse homem memorável! Mais do que a quantidade, a qualidade de seus ensinamentos me fizeram admirá-lo para sempre.

Ele e sua singular indignação - Ramez tinha esse dom. Sua indignação contra a injustiça era única, seu protesto era juvenil, por isso, contagiante. Diante das adversidades que enfrentamos juntos, e não foram poucas, via os olhos do Ramez brilharem quando uma solução lhe ocorria.

Os olhos brilhavam, ele erguia um dos dedos, e sugeria, com voz inconfundível e serena: “Renan, eu tenho uma solução”. Era um homem presente, sempre em busca de soluções, um incentivador da concórdia, muito embora não se negasse a entrar em justa disputa, se a circunstância assim o exigia.

Com Ramez, um homem de gestos sóbrios e maneiras comedidas, vi e aprendi que uma disputa não se ganha elevando-se o tom, mais ou menos como o som de um berrante que ecoa longe, cala fundo, sem agressividade. A vitória é conseqüência única da força dos argumentos e do lado em que se está na disputa. E bons argumentos e boas causas para defender Ramez Tebet tinha de sobra.

Ensinou-me que é melhor perder do lado certo a ganhar do lado errado, Senador Demóstenes Torres. Mato Grosso pode se orgulhar desse homem, o Senado pode se orgulhar desse homem. O Partido perde um homem de fibra, determinado, um trabalhador incansável, justo e equilibrado. Um equilíbrio que ele semeou no convívio com as leis e em sua busca eterna por justiça. Um homem que nunca - e minha convivência com ele me permite dizer - recusou um desafio, nunca hesitou diante de uma missão, mesmo que fosse a missão mais espinhosa.

A grandeza da alma e o desprendimento de Ramez Tebet conferiram-lhe um temperamento muito admirado por todos.

Até hoje, eu me recordo do desafio para o qual fui chamado. E é importante registrar que ele foi sempre convocado para missões do Partido. Até hoje, eu me recordo, Senador Antonio Carlos Magalhães, do espanto dele quando foi convocado para presidir o Senado Federal em um momento tão tempestuoso da vida nacional. Ele estava há três meses no Ministério da Integração Nacional. Seu espanto não era derivado da crise, não era derivado do temor. Seu assombro vinha da sua alma, que era muito simples e sem vaidades, que era imune à cobiça. Por isso, ele era um homem das vilas, dos povoados, do pantanal, e não um admirador de palácios. O PMDB pode se orgulhar desse homem.

Perco um amigo, um irmão, um parceiro leal, brilhante, solidário, acima de tudo, um incomparável patriota, que tanto se preocupou com a defesa do Estado brasileiro, um político cuja sensibilidade social é admirada por seus pares e por seus conterrâneos. Poucos lhe superaram em fibra, coragem e pujança, mas se há uma única e coletiva lição na atividade política, esta é, sem dúvida, a transitoriedade das coisas. Todos sabemos disso, mas a atividade política nos introjeta esse conceito quase que diariamente.

As coisas são fugazes, e tudo passa tão rápido. A eternidade em nós está na crença em Deus, na alma e nos amigos que semeamos por onde passamos. E é isso que Ramez Tebet fez sobejamente. Ele manteve muitos amigos, e deixa órfãos os muitos amigos. Agora, sua ausência soará estranha entre todos os que ficam; uma ausência triste, que vai se eternizar no juízo, cristalizar na alma. Nesses momentos, é sempre muito difícil para quem fica, mas Deus, em sua sabedoria, o manterá ao Seu lado e cuidará bem do nosso irmão que de lá continuará, sem dúvida, zelando por todos nós.

Eu me orgulho de ter sido um amigo muito próximo do Senador Ramez Tebet. Há três dias - há pouco os Senadores José Agripino e Arthur Virgílio também tiveram a oportunidade de dizer - falamos com Ramez Tebet ao telefone. Durante uma parte da conversa, ele me pediu para promover um encontro entre ele, que queria vir pessoalmente, o Presidente da República, o Governador eleito do seu Estado, André Puccinelli e sua filha Simone, Prefeita de Três Lagoas.

Quando contei, emocionado, ao Presidente que Ramez Tebet queria vir aqui para conversar com ele, Sua Excelência me disse que ligou para a família de Ramez, pois fazia questão de ir a Três Lagoas.

E marcou exatamente para esta segunda-feira a fim de que pudéssemos ir pessoalmente visitá-lo. Pediu-me que convidasse todos os Senadores, indistintamente de Partido, que quisessem visitar Ramez Tebet, porque ele fazia questão de ir pessoalmente a Três Lagoas visitá-lo.

Não houve essa segunda-feira com Ramez. O infortúnio aconteceu antes, no sábado. Mas nós fomos ao seu sepultamento. Eu tive a preocupação de representar indistintamente todos os Senadores do Senado Federal, e o sepultamento do Ramez, como a sua vida toda, serviu para que se encontrassem pessoas que há muito não se encontravam; serviu para que conversassem pessoas que há muito não conversavam. Isso é também uma lição, é um legado que o Ramez deixa para o Brasil.

Como disse o nosso querido Senador Antonio Carlos Magalhães, há uma unanimidade nesta Casa no que diz respeito a Ramez Tebet, pelo homem público correto que ele representou e que representará para sempre. Como disse aqui o Senador Marco Maciel, lembrando Joaquim Nabuco, os grandes homens públicos são telúricos. Assim era Ramez Tebet. Por isso orgulhou a todos nós, seus contemporâneos, e orgulhará para sempre este Senado Federal.

Como lembrou aqui também o Senador Arthur Virgílio, a cada dia o Senador Ramez Tebet mais nos surpreendia pela bravura e valentia com que enfrentou a própria doença, o câncer. E seus amigos que trabalharam com ele o sabem. Vejo ali o Sr. Eustáquio, em nome de quem saúdo a todos. Quantas vezes o Senador Ramez Tebet saiu do hospital e veio diretamente para este Senado, para, da tribuna, defender o que acreditava! Idéias que ficarão para o Brasil.

O Senador Ramez, disse o Senador Paulo Paim há pouco, sintetiza esta Casa e todos nós. Era um republicano; um abolicionista. Era uma das melhores referências que nós tínhamos no Senado Federal. Quero aqui subscrever todas as palavras - que foram ditas a respeito do Senador Ramez Tebet - dos Senadores Alvaro Dias, Maguito Vilela, Romero Jucá, Heráclito Fortes, José Agripino, Magno Malta, Paulo Octávio e Roberto Saturnino.

O Senador Ramez era um guerreiro. Salve o guerreiro que o Senador Ramez simbolizava! O seu legado, como já disse, e seus ensinamentos ficarão para sempre. Essa é a verdadeira homenagem que deve ser prestada por este Senado Federal.

Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2006 - Página 34847