O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, precisava agradecer ao Senador Mão Santa por conceder-me o seu tempo para que eu falasse na sua vez, mas, ao mesmo tempo, quero agradecer também ao Senador Osmar Dias, sempre tão gentil e generoso, que me permitiu também que antecipasse o meu pronunciamento.

Sr. Presidente, o Brasil todo, ontem, lamentou profundamente que uma voz se calasse no Congresso Nacional: a voz de Ramez Tebet. Como seu conterrâneo e amigo particular de muitos e muitos anos, juntamente com a sua família, recebemos emocionadamente todas essas homenagens.

Hoje recebi um telefonema de D. Fairte Nassar Tebet, esposa de Ramez Tebet, de seus filhos, Simone Tebet, Eduarda, Rodrigo e Ramez, para que aqui, desta tribuna, agradecesse a todos aqueles que homenagearam o grande brasileiro Ramez Tebet, em nome da família unida de Ramez Tebet, que, por tantos e tantos anos, sofreu junto o revés de uma doença difícil de ser suportada, com a qual é difícil de se conviver, mas que o Senador soube enfrentar com resignação, resistência emocional, vontade de viver e determinação pela vida.

Esses mais de vinte anos em que sofreu da doença certamente fizeram com que Ramez Tebet chegasse mais perto de Deus e com que sua alma se burilasse ainda mais por meio da dor e do sofrimento. Em todo esse período em que cultivava a purificação do seu espírito, ele trouxe para todos nós grandes lições de conduta, grandes lições morais, grandes lições políticas, grandes lições de convivência e de comportamento humano.

Sr. Presidente, lembro-me de que, em 1985, no último comício da minha primeira campanha para Prefeito de Campo Grande, ou seja, há vinte anos, no mês de setembro, eis que chegava Ramez Tebet ao palanque, transfigurado com aplicações químicas para debelar a sua doença. Mesmo assim, subiu ao palanque e fez um discurso inflamado de apoiamento à minha candidatura. Ali já se vislumbrava que Ramez não desanimaria e não daria trégua, de forma nenhuma, ao desânimo pela doença. Foi um momento marcante. Ninguém esperava tanta veemência e tanta eloqüência num dia em que ele se mostrava publicamente doente.

De lá para cá, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui nesta Casa principalmente, ele mostrou sempre que lutava pela vida, determinadamente, com muita vontade de viver e com muita vontade de trabalhar.

Eu gostaria, imensamente, que as gerações políticas que estão nos observando e que vão nos suceder fizessem um estudo histórico da vida de Ramez Tebet. Tenho certeza absoluta de que verão que essa vontade viver, essa determinação pela vida são qualidades que todos devemos ter, de viver para a nossa Pátria, de viver para a nossa família, de viver para o nosso trabalho, mas viver.

Quando Ramez se sentia fragilizado pela doença, ao chegar a esta tribuna, ao Senado Federal ou a qualquer Comissão, Sr. Presidente, ele se transformava, se transfigurava. Era como se a vida novamente tomasse seu corpo com toda a força e ele pudesse viver esses momentos bons que viveu no Senado Federal e em que conviveu conosco, para alegria nossa, da nossa geração e da nossa gente.

Ramez Tebet foi advogado, foi Promotor de Justiça, foi Prefeito de sua cidade, sua querida Três Lagoas, terra onde ele queria ser sepultado. Foi Deputado Estadual Constituinte, Superintendente da Sudeco e, em seguida, Senador da República. Foi Presidente do Congresso Nacional, para orgulho e honra de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Também exerceu o cargo de Ministro da Integração Nacional. Sua folha de serviços bem mostra que estamos diante de uma figura ilustre deste País.

Quando esses microfones se calam e sua voz não se faz mais ouvir, naturalmente, todos perdemos as grandes lições democráticas que Ramez ministrava a todos nós.

Uma das características fundamentais e principais da sua personalidade era a capacidade de conciliação, de fazer com que os divergentes se encontrassem, que soluções fossem buscadas por meio do consenso. Em razão disso, ele chegou à Presidência desta Casa, do Congresso Nacional, conciliando as vontades. Sabemos que para fazer democracia é necessário ter a virtude da conciliação dos contrários, e isso Ramez Tebet tinha.

Concedo um aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Juvêncio da Fonseca, em primeiro lugar, quero cumprimentá-lo pelas belas palavras e pela emoção que reflete em seu pronunciamento ao falar de um homem que deixa muita saudade no Parlamento, saudade nos brasileiros, saudade no seu Mato Grosso do Sul. Fico imaginando a dor do povo do Mato Grosso do Sul em perder uma pessoa do nível social, cultural e político de Ramez Tebet; fico imaginando a dor do povo do Mato Grosso do Sul, cas mais de 7 mil pessoas que participaram do seu sepultamento. Eu conheci o Ramez quando fui deputado federal e depois quando prefeito do Balneário de Camboriú. De vez em quando, mantínhamos contato, porque ele tinha muitos amigos em Santa Catarina, que, por sinal, são também meus amigos. Quando eu vim para o Senado Federal, sempre que tinha alguma dúvida, se tivesse que buscar algum conselho, eu procurava o Senador Ramez. E ele falava com convicção, não fazia curvas, dizia o que sentia, o que pensava e como devíamos nos comportar. Era um homem que tinha laços de amizade com todos os Senadores, com todos os Partidos políticos, com a Oposição e o Governo, sem mudar o seu estilo de ser, sem mudar o seu pensamento, sem mudar a sua opinião. Era um homem de formação correta. Como V. Exª acabou de colocar, quando ele começou a ser tratado por sua doença, achávamos que ele ia cair, e, ao contrário, ele nos dava exemplo de vida, ia para a tribuna e lutava pela sua vida e pela vida dos brasileiros. Há poucos dias, desta tribuna, ele reivindicava recursos para seu Estado, falava das rodovias do nosso Brasil e dos investimentos que deviam ser colocados à disposição para a educação e para a saúde. Ele falava como se fosse viver mais vinte ou trinta anos e dizia que gostaria de ver os resultados positivos. Ramez Tebet deixa uma saudade imensa, um espaço que talvez ninguém possa preencher. Ramez leva com ele, sem dúvida alguma, um título que cabe a poucos, de homem sério, íntegro, ético, de que o Brasil inteiro vai se orgulhar. Parabéns ao Mato Grosso do Sul por ter tido um homem como aquele e parabéns a V. Exª pelo seu pronunciamento.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Concedo um aparte ao meu amigo Mozarildo, a quem peço brevidade, porque já estourou meu tempo.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Juvêncio da Fonseca, quero dar um testemunho; à época em que o Senador Ramez Tebet foi Presidente desta Casa, eu fui 4º Secretário, portanto convivi de perto com o Senador Ramez Tebet e vi as qualidades que V. Exª frisou bem: a tolerância, a capacidade de harmonizar e aglutinar. Deixo aqui também a minha solidariedade à família e esse testemunho para a Nação.

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Muito obrigado, Senador Mozarildo.

Sr. Presidente, a família de Ramez Tebet, por meu intermédio, agradece todas as homenagens recebidas nesses dois últimos dias, desde o Presidente da República e o Presidente desta Casa até as pessoas mais humildes da sua cidade e deste País.

A família está vivendo um momento de saudade, mas confortada pela palavra de solidariedade das autoridades, das instituições e do povo brasileiro.

Em nome dessa família é que aqui estamos agradecendo a todas essas homenagens; homenagens profundas, significativas, que haverão de fazer com que a história de Ramez Tebet não se perca nunca do cenário deste País.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte.

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Juvêncio da Fonseca - peço a tolerância do Sr. Presidente -, ontem, infelizmente, por uma questão relativa aos aeroportos, não pude estar presente na sessão de homenagem, mas como V. Exª, Senador do Mato Grosso do Sul, colega e amigo do Senador Ramez Tebet, quero também fazer aqui a minha homenagem, prestar minha solidariedade e manifestar meu sentimento de pesar à sua família. Desejo registrar o quanto o Senador Ramez Tebet tão bem dignificou o povo do Mato Grosso do Sul, o povo brasileiro, em todo o seu mandato aqui, na minha convivência com ele, sobretudo quando foi Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos e como Presidente do Senado. Lembro a forma como sempre procurava defender o interesse público e também a maneira como procurava agir para que as pessoas se entendessem melhor. Quero, inclusive, registrar, Senador Juvêncio da Fonseca, que o episódio havido durante o seu funeral, o encontro que aconteceu entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns dos Senadores da Oposição - um dos quais o Senador Arthur Virgílio, que vem causando certa polêmica -, na verdade, representa muito daquilo que o Senador Ramez Tebet quis fazer ao longo da sua vida, que era aproximar pessoas no interesse maior do País; que algumas diferenças pudessem ser sobrepostas, superadas para que o interesse maior do Brasil viesse a ser sempre considerado. O diálogo entre o Presidente Lula e um dos principais líderes da Oposição, o Senador Arthur Virgílio, durante a viagem, acredito que tenha sido também um acontecimento à luz de tudo aquilo pelo que o Senador Ramez Tebet sempre propugnou, e disso somos testemunhas. Portanto, quero também me solidarizar com V. Exª e transmitir a cada um dos familiares de S. Exª, a sua senhora, a suas filhas e a seus filhos, meu abraço e minha homenagem.

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Muito obrigado, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Sr. Presidente, permita-me ouvir, como último aparteante, o Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Juvêncio da Fonseca, no momento em que V. Exª enaltece a memória dessa figura extraordinária do Parlamento brasileiro, o Senador Ramez Tebet, eu quero me somar com V. Exª e apresentar as minhas condolências à família enlutada, na certeza de que ele deixou um grande exemplo para as novas gerações e muita saudade nesta Casa. O seu espírito conciliador constitui um exemplo para todos nós, a firmeza na defesa dos interesses do Brasil e do seu Estado, a honestidade com que se conduziu à frente do Senado Federal, como seu Presidente, a transparência com que conduziu os trabalhos da Comissão de Assuntos Econômicos, tudo isso edifica e qualifica o mandato de um homem que é padrão, que é exemplo para todo o Brasil: o meu amigo Ramez Tebet. Ontem não pude fazer-lhe esta homenagem porque estava em uma viagem. Não pude comparecer à sessão de ontem. Mas hoje V. Exª me ilumina com o seu pronunciamento e estimula-me a dizer, em breves palavras, que podemos lembrar-nos sempre da personalidade edificante do meu amigo Ramez Tebet e também que ele teve o respeito do Senado e da Nação brasileira.

O SR. JUVÊNCIO DA FONSECA (PSDB - MS) - Obrigado, Senador.

Sr. Presidente, finalizando, ainda nesta tarde certamente tomará posse o suplente do Senador Ramez Tebet, já Senador, vamos dizer assim, Valter Pereira de Oliveira. Valter é um peemedebista histórico de Mato Grosso do Sul, amigo pessoal de Ramez Tebet, de longa data, companheiro das lutas e das jornadas políticas em nosso Estado. Ele desempenhará um papel importantíssimo no Senado Federal, porque é um bom aluno de Ramez Tebet, um homem da confiança do povo de Mato Grosso do Sul e uma liderança forte entre nós lá no nosso Estado.

Que Ramez Tebet esteja em descanso, como está em descanso a sua família e a família brasileira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.