O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que nos esforcemos, jamais seremos capazes de fazer justiça à memória do saudoso Senador Ramez Tebet.

Porém, gostaria de ressaltar que sua impressionante vontade de viver, aliada a uma dedicação inarredável aos trabalhos desta Casa, continuarão a servir de exemplo não apenas a nós, Senadores que perdemos, de maneira irremediável, o convívio ameno com nosso colega e amigo, mas também aos futuros integrantes do Senado Federal.

Os homens passam, nós passaremos, é da natureza da vida a perda e a renovação constantes. Mas o exemplo de correção ética e de compromisso com o interesse público de Ramez Tebet sobreviverá a ele, e vai continuar a nos servir de inspiração.

Um dos traços de Ramez Tebet que mais me marcaram foi o orgulho de suas origens. Sempre que podia, o Senador mencionava a cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, onde nasceu e foi prefeito, e, também, sua ascendência libanesa. Seus olhos chegavam a rutilar quando lembrava do pai, Taufic Tebet, que há quase 80 anos saiu do Líbano para abraçar nova vida e nova pátria.

Lembro-me que, ano após ano, o Senador Ramez Tebet fazia questão de celebrar, na Tribuna do Senado Federal, a data de independência da República do Líbano.

Se destaco essa particularidade da biografia do Senador Ramez Tebet, Srªs e Srs. Senadores, é porque gostaria de enfatizar perante Vossas Excelências um dos traços mais marcantes de sua personalidade: o dom da gratidão.

            Gratidão, Sr. Presidente, aos líbano-brasileiros que aqui chegaram e aqui construíram hospitais, instituições de caridade, centros religiosos e culturais.

Gratidão ao povo que acolheu com tanto carinho seu pai e sua família, e que tantas realizações lhe proporcionou durante quatro décadas dedicadas ao Mato Grosso do Sul e ao Brasil.

O Senador Ramez Tebet assumiu a Presidência desta Casa em um momento difícil, há cinco anos, em setembro de 2001. Entretanto, os momentos difíceis da vida política eram, para o Senador Ramez Tebet, oportunidade ímpar de reafirmação do povo e das instituições brasileiras, capazes, sempre, de se superar e de se aperfeiçoar.

Por outras palavras, o Senador Ramez Tebet enfrentou as turbulências políticas com a segurança de quem possuía confiança inabalável na solidez das instituições democráticas brasileiras. Seu nome foi lembrado para a Presidência do Senado Federal porque, entre as virtudes do Senador, estava a luta perene pela correção ética e pela busca do consenso.

Essas características, unidas ao idealismo e à perseverança do Senador Ramez Tebet, faziam dele um dos maiores democratas de nosso tempo.

Chamo de idealismo e de perseverança, por exemplo, a coragem de relatar, na condição de Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, uma das mais importantes e complexas reformas da legislação brasileira, a que deu origem à Lei de Recuperação de Empresas, a Lei nº 11.101, de 2005.

Vale recordar que o projeto de reforma da Lei de Falências vinha desde 1993, desde a Presidência de Itamar Franco. Somente 10 anos depois a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei e o remeteu ao Senado Federal.

A responsabilidade do Senador Ramez Tebet como Presidente da CAE não o impediu de realizar impressionante número de audiências públicas, inclusive fora do Senado Federal. Isso porque o Senador costumava confidenciar que fazia questão de escutar todos os setores da sociedade, estivessem onde estivessem.

O resultado de seu esforço foi a aprovação de uma Lei que une a segurança jurídica à dinamização da economia e ao desenvolvimento social.

Sr. Presidente, neste momento, não me parece necessário repetir a enumeração, já feita pelos Nobres Pares, dos diversos cargos públicos ocupados pelo Senador Ramez Tebet ao longo de uma vida de consagrações.

Ramez Tebet faleceu como Senador da República, cargo que exerceu com paixão ímpar, infatigável, na defesa das prerrogativas e da importância de uma Casa cuja história se confunde com a história deste País.

Modesto, Ramez costumava dizer que Deus lhe havia concedido muito mais do que poderia haver acalentado em vida.

Premido pela lembrança e pela saudade do querido colega e amigo, agradeço a Deus a oportunidade de haver convivido com um homem da envergadura política e moral de Ramez Tebet.

Muito obrigado.